Por Venício Lima,
A partidarização como estratégia de sobrevivência e a adoção acrítica da narrativa do poder estão acelerando a desconstrução de modelos superados de jornalismo e, inclusive, de modelos de negócios. Insistir neste caminho significa, para a grande mídia, abreviar seu próprio fim.
Robert Fisk, premiado jornalista inglês, correspondente no Oriente Médio do “The Independent”, em discurso no V Fórum Anual da emissora árabe de televisão Al Jazeera (publicado originalmente no site “Vi o Mundo” e também nesta Carta Maior) recoloca uma questão fundamental: como jornalistas incorporam acriticamente o que ele chama de “palavras do poder”, isto é, palavras e expressões deliberadamente criadas nos laboratórios do poder hegemônico para falsear a realidade que aparentam significar.
O tema, por óbvio, não é novo. No clássico “1984”, de George Orwell, a edição que estava sendo preparada do Dicionário da Novilíngua daria à língua a sua forma final não pela invenção de novas palavras, mas, sobretudo, pela destruição de palavras existentes.
Estudos sobre a difusão mundial da idéia de globalização no final do século XX, por exemplo, apontaram para a "violência simbólica" praticada pela introdução de palavras/expressões como flexibilização, governabilidade, nova economia, fragmentação, tolerância zero paralelamente à desqualificação sistemática de conceitos como capitalismo, classe social, dominação, exploração, desigualdade, dentre outros.
O famoso consultor do Partido Republicano e ex-assessor do presidente Bush, Frank I. Luntz, explicou publicamente, em 2003, a eficiência da substituição de palavras/expressões nas campanhas eleitorais e na sustentação da imagem positiva de governos, nos Estados Unidos: "aquecimento global" vira "mudança climática"; um "programa de desmatamento" vira "florestas sustentáveis"; "privatizar" vira "personalizar"; "invasão” vira "guerra contra o terrorismo" – e assim por diante.
Para ler a continuação deste artigo, clique aqui.
As opiniões aqui expressas são de responsabilidade de seus autores
Nenhum comentário:
Postar um comentário