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terça-feira, 15 de junho de 2010

Cinema: mostra do CCBB recupera documentários brasileiro

CINEASTAS E IMAGENS DO POVO é a mostra realizada pelo CCBB que recupera obras fundamentais da linguagem documental no Brasil. Um total de 38 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens com a essência do documentário brasileiro será apresentada na mostra que vai até 27 de junho em Brasília.

Foi com base no livro CINEASTAS E IMAGENS DO POVO, trabalho de Jean-Claude Bernardet (que se transformou numa espécie de Bíblia para todos os que decidem conhecer o universo documental brasileiro), que foi concebida a mostra de cinema que leva o mesmo título do livro.

Esta é a primeira vez que se reúnem os títulos citados e analisados por Jean-Claude Bernardet. Segundo o curador, Simplício Neto, a iniciativa quis propiciar um encontro entre espectador e obras referenciais, que são citadas por estudiosos, mas permanecem inacessíveis a grande parte da população. Vários dentre os títulos precisaram passar por um cuidadoso trabalho de restauração antes de chegar às telas.
“Muitos só foram exibidos em cineclubes ou dentro de apartamentos na época da ditadura, tornando esse acervo praticamente inédito em salas de exibição”, analisa o curador. Segundo ele, a realização da mostra é também uma homenagem “ao francês mais brasileiro que conhecemos e a sua obra e dedicação ao cinema, como jornalista, professor, escritor, roteirista e ator, que em 2009 completou 73 anos”.

Debates

Nesses documentários, além da apresentação do desenvolvimento da linguagem, pode-se perceber a evolução do nível de debate sobre as grandes questões sociais e políticas nacionais. Além das exibições, serão realizados dois debates, com cineastas cuja obra está contemplada na mostra.
No primeiro, marcado para sábado, dia 19 de junho, o curador recebe o documentarista Vladimir Carvalho, que participa da programação com os filmes A pedra da riqueza: ou a peleja do sertanejo para desencantar a pedra que foi parar na lua com a nave dos astronautas e Brasília segundo Feldman. O segundo debate, no dia 26 de junho, trará a Brasília o realizador Aloysio Raulino, que assina três títulos da mostra: Tarumã, Jardim Nova Bahia e O porto de Santos. Os debates têm entrada franca e começam sempre às 20h30.

Curiosidades

- Na programação, os primeiros filmes de grandes cineastas e técnicos que farão a história do cinema brasileiro, no momento mais radical de suas carreiras: os documentários de resistência à ditadura, as experimentações de linguagem de nomes como João Batista de Andrade, Eduardo Coutinho, Leon Hirszman, Maurice Capovilla, Silvio Tendler, Vladimir Carvalho e Arnaldo Jabor.

- Sessões paralelas com filmes mais recentes que assumem a influência dos filmes citados por Bernardet, e dialogam com eles diretamente, como O PRISIONEIRO DA GRADE DE FERRO, de Paulo Sacramento, que chamou Aloysio Raulino (diretor de JARDIM NOVA BAHIA) para refazer a experiência de passar a câmera para as pessoas em foco no documentário, como Raulino havia feito duas décadas antes. E PEÕES, de Eduardo Coutinho, que registra como veteranos operários das greves do ABC reagem ao rever filmes como BRAÇOS CRUZADOS MÁQUINAS PARADAS, de Roberto Gervitiz, GREVE, de João Batista de Andrade, e LINHA DE MONTAGEM, de Renato Tapajós.

- Muitos filmes têm trilha sonora de grandes nomes da MPB dos anos 60. PASSE LIVRE, de Oswaldo Caldeira, por exemplo, tem trilha de Gilberto Gil, Novos Baianos e Jards Macalé. Um filme para quem gosta de futebol e a contracultura musical brasileira dos anos 70. O personagem principal, o jogador do Botafogo Afonsinho, era considerado o “hippie dos campos”, barbudo e cabeludo, quebrou padrões e era amigo dos músicos tropicalistas. Gil dedicou-lhe a musica “Meio de campo”, que cuja letra começa com o verso “Prezado amigo Afonsinho...". Há no filme uma performance completa de Gil tocando esta música. O filme mostra o litígio do Botafogo com o mítico Afonsinho, que adquiriu a posse de seu próprio passe na Justiça, feito raramente alcançado. A questão do passe se discute até hoje no Futebol. Depoimentos de Afonsinho, Zagallo, João Saldanha e Flávio Costa, entre outros.

- Em OPINIÃO PUBLICA, de Arnaldo Jabor, vemos o jovem Jerry Adriani servindo de exemplo de cantor popular, no auge de sua fase de ídolo da Jovem Guarda.

- LAVRA-DOR, de Joel Rufino e Ana Carolina é baseado no livro homônimo de Mario Chamie, poeta de vanguarda dos anos 60, o líder do movimento da Poesia Práxis, iniciado com esse livro, que teria influenciado Chico Buarque na letra de “Construção”. O filme é uma colagem de imagens da luta pela reforma agrária em cima de textos de Chamie lidos pelo ator Jofre Soares.

- Filmes integralmente censurados pela ditadura serão exibidos na mostra, como LIBERDADE DE IMPRENSA, de João Batista de Andrade, feito logo após o golpe de 64, que mostra uma entrevista com Carlos Lacerda mostrando seu afastamento dos militares que antes apoiara, chamando o regime já em 66 de semi-ditadura, e TARUMÃ, de Aloysio Raulino, que é o registro de um contundente depoimento de uma trabalhadora rural. Ambos filme ficaram censurados por décadas.
- Pela primeira vez no Brasil poderão ser assistidos em conjunto um grupo de filmes que registrou as Greves do ABC no final dos anos 70. São filmes imprescindíveis para se entender a redemocratização do Brasil e o inicio da chamada Era Lula, como GREVE, de João Batista de Andrade, BRAÇOS CRUZADOS MÁQUINAS PARADAS, de Roberto Gervitz e LINHA DE MONTAGEM, de Renato Tapajós. Vemos o líder sindical e futuro presidente em suas primeiras atuações públicas, e todas as emocionantes imagens de luta dos operários.

- O artista plástico Antônio Manuel fez CULTURA E LOUCURA em 1973, sua incursão no cinema documentário de vanguarda. Com participação de Rogério Duarte, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Luiz Saldanha e Caetano Veloso, o filme é construído por tomadas fixas de seus participantes em três planos – frente, perfil e costas –, de modo semelhante aqueles utilizados em fichas policiais.

PROGRAMAÇÃO

16 de junho, quarta-feira
18h30 - PROGRAMA 17 – DIÁLOGO COM “A ENTREVISTA” - Jorjamado no cinema (Glauber Rocha), Memória do cangaço (Paulo Gil Soares)

20h30 - PROGRAMA 12 – A ENTREVISTA - Casa de cachorro (Thiago Villas Boas), À margem da imagem (Evaldo Mocarzel)

17 de junho, quinta-feira
18h30 - PROGRAMA 16 – DIÁLOGO COM “FILMAR A HISTÓRIA” - São Paulo Sinfonia e Cacofonia (Jean-Claude Bernardet), Isto é Noel (Rogério Sganzerla)

20h30 - PROGRAMA 10 – FILMAR A HISTORIA 1 - Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho)

18 de junho, sexta-feira
18h30 - PROGRAMA 5 – O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO 1 - Tarumã (Mario Kuperman), Mito e metamorfoses das mães nagô (Iya-Mi-Agbá - Arte sacra negra II) (Juana Elbein dos Santos)

20h30 - PROGRAMA 11 – FILMAR A HISTÓRIA 2 - Os anos JK, uma trajetória política (Sílvio Tendler)

19 de junho, sábado
16h30 - PROGRAMA 1 – A VOZ DO DONO - Maioria absoluta (Leon Hirszman), Subterrâneos do futebol (Maurice Capovilla), Passe Livre (Oswaldo Caldeira)

18h30 - PROGRAMA 4 – VERTENTES OUTRAS - Aruanda (Linduarte Noronha), A pedra da riqueza: ou a peleja do sertanejo para desencantar a pedra que foi parar na lua com a nave dos astronautas (Vladimir Carvalho), Brasília segundo Feldman (Vladimir Carvalho), Cultura & loucura (Antônio Manuel)

20h30 - DEBATE com Vladimir Carvalho

20 de junho, domingo
20h30 - PROGRAMA 2 – O ESPELHO PERTURBA O MÉTODO - A opinião pública (Arnaldo Jabor)

22 de junho, terça-feira
18h30 - PROGRAMA 12 – A ENTREVISTA - Casa de cachorro (Thiago Villas Boas), À margem da imagem (Evaldo Mocarzel)
20h30 - PROGRAMA 11 – FILMAR A HISTÓRIA 2 - Os anos JK, uma trajetória política (Sílvio Tendler)

23 de junho, quarta-feira
18h30 - PROGRAMA 4 – VERTENTES OUTRAS - Aruanda (Linduarte Noronha), A pedra da riqueza: ou a peleja do sertanejo para desencantar a pedra que foi parar na lua com a nave dos astronautas (Vladimir Carvalho), Brasília segundo Feldman (Vladimir Carvalho), Cultura & loucura (Antônio Manuel)

20h30 - PROGRAMA 18 – DIÁLOGO COM BERNARDET - Iracema - Uma transa amazônica (Jorge Bodanzky e Orlando Senna)

24 de junho, quinta-feira
18h30 - PROGRAMA 7 – OPERÁRIOS 1- Greve (João Batista de Andrade), Os queixadas (Rogério Corrêa), Chapeleiros (Adrian Cooper)

20h30 - PROGRAMA 19 – DIÁLOGO COM A FICÇÃO - O homem que virou suco (João Batista de Andrade

25 de junho, sexta-feira
18h30 - PROGRAMA 15 – DIÁLOGO COM OPERÁRIOS - Peões (Eduardo Coutinho)
20h30 - PROGRAMA 9 – OPERÁRIOS 3 - Linha de montagem (Renato Tapajós)

26 de junho, sábado
16h30 - PROGRAMA 3 – EM BUSCA DA VOZ DO DOCUMENTARISTA - Liberdade de imprensa (João Batista de Andrade), Migrantes (João Batista de Andrade), Lavra-Dor (Paulo Rufino), Congo (Arthur Omar)

18h30 - PROGRAMA 8 – OPERÁRIOS 2 - O porto de Santos, (Aloysio Raulino), Braços cruzados, máquinas paradas (Sérgio Toledo Segall e Roberto Gervitz)

20h30 - DEBATE com Aloysio Raulino

27 de junho, domingo
16h30 - PROGRAMA 5 – O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO 1 - Tarumã (Mario Kuperman), Mito e metamorfoses das mães nagô (Iya-Mi-Agbá - Arte sacra negra II) (Juana Elbein dos Santos)

18h30 - PROGRAMA 6 – O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO 2 - Jardim Nova Bahia (Aloysio Raulino), Gilda (Augusto Sevá), Destruição cerebral (Carlos Fernando Borges, Joatan Vilela Berbel, José Carlos Avellar, Nick Zarvos e Paulo Chaves Fernandes)

20h30 - PROGRAMA 13 – DIÁLOGO COM “O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO” - O prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento)
SINOPSES

PROGRAMA 1 – A VOZ DO DONO
. Maioria absoluta [Leon Hirszman, 1964] 35 mm [exibição em beta], p&b, 18 min, 14 anos
Estatísticas, entrevistas e informações históricas sobre a problemática do latifúndio na estrutura agrária brasileira. Depoimentos de camponeses e imagens do Palácio do Planalto e do Congresso em Brasília. A alfabetização pelo método Paulo Freire.

. Subterrâneos do futebol [Maurice Capovilla, 1964/65] 16 mm [exibição em beta], p&b, 30 min, livre
Episódio do longa Brasil Verdade (1968). O futebol brasileiro analisado a partir de seus subterrâneos; as práticas e a festa fora do campo; o torcedor que só deseja a vitória de seu time “pra esquecer que tem que pagar a prestação e está sem dinheiro”. Acompanha jogadores no gramado e crianças sem escola que começam a se apaixonar pela prática. O futebol no Brasil como ópio do povo.

. Passe livre [Oswaldo Caldeira, 1974] 16 mm [exibição em beta], cor, 75 min, livre
A problemática geral do jogador de futebol profissional brasileiro, com base numa visão crítica do caso de Afonsinho que, após litígio com o Botafogo, ganhou na Justiça o direito de dispor de seu passe. Os problemas das equipes juvenis e dos craques velhos, as relações de trabalho entre jogadores e dirigentes de clubes, o fascínio do futebol sobre as crianças.

PROGRAMA 2 – O ESPELHO PERTURBA O MÉTODO
. A opinião pública [Arnaldo Jabor, 1967] 35 mm [exibição em DVD], p&b, 78 min, 14 anos
Por meio de depoimentos de estudantes, a classe média carioca é retratada de maneira a salientar seus gestos, seus gostos, e sobretudo sua distância frente à realidade brasileira.

+ PROGRAMA 3 – EM BUSCA DA VOZ DO DOCUMENTARISTA
. Liberdade de imprensa [João Batista de Andrade, 1967] 16 mm, p&b, 24 min, livre
Aspectos do problema da liberdade de imprensa no Brasil nos anos 1964/67. Desde os aspectos ideológicos até os relativos ao poder econômico, capital estrangeiro e censura política. Um painel da época, no qual imagens dos principais acontecimentos alternam-se com entrevistas com especialistas e políticos.

. Migrantes [João Batista de Andrade, 1972] 16 mm, p&b, 7 min, livre
Moradores e comerciantes do Parque Dom Pedro reclamam da presença de “marginais” que se abrigam sob os viadutos. Entrevista com seu Sebastião, chefe de uma dessas milhares de famílias de migrante. Um diálogo entre seu Sebastião, que explica os motivos de sua migração, e um paulistano, que o aconselha a voltar para o campo.

. Lavra-Dor [Paulo Rufino, 1968] 16 mm [exibição em beta], p&b, 11 min, livre
A situação dos lavradores diante das promessas de reforma agrária veiculadas até meados da década de 1960; e o desânimo e o medo provocados pelo golpe militar de 1964, que amordaça os sindicatos rurais brasileiros. Cenas de arquivo, fotos em table top, remontagem de poemas de Mário Chamie orquestram uma realidade explicitamente representada como cinema.

. Congo [Arthur Omar, 1972] 16 mm, p&b, 11 min, livre
O tema de Congo é a congada, um auto dramático popular. Quase todo construído com letreiros que ocupam o lugar das imagens, Congo se propunha como um “filme em branco”. Uma crítica do olhar colonizador da Antropologia, a qual reduziria a violência inerente às práticas populares a simples descrições científicas, conceitos, discursos.

+ PROGRAMA 4 – VERTENTES OUTRAS
. Aruanda [Linduarte Noronha, 1960] 35 mm [exibição em beta], p&b, 21 min, livre
O antigo quilombo existente na Serra do Talhado, Paraíba. A população permanece totalmente marginalizada da vida socioeconômica do país, vivendo do artesanato de cerâmica vendido nas feiras ao pé da serra. A música sublinha a angustiosa repetição de uma vida estagnada.

. A pedra da riqueza: ou a peleja do sertanejo para desencantar a pedra que foi parar na lua com a nave dos astronautas [Vladimir Carvalho, 1976] 35 mm [exibição em 16 mm], p&b, 15 min, livre

Documentário sobre os garimpeiros que extraem e tratam a xilita nas minas do Nordeste brasileiro, consideradas as mais importantes do mundo. As rudimentares condições de vida desses trabalhadores, que desconhecem o próprio sentido de sua ação. A pedra da riqueza retira dessa realidade os pontos principais para enfocar sua denúncia: a exploração do homem.

. Brasília segundo Feldman [Vladimir Carvalho,1979] 35 mm [exibição em 16 mm], cor, 21 min, livre
Ao material documental da construção de Brasília, filma do pelo designer americano Eugene Feldman, são sobre postos os depoimentos dos pioneiros Athos Bulcão e Luiz Perseghini.

. Cultura & loucura [Antonio Manuel, 1973] 35 mm [exibição em beta, telecine feito pela mostra], p&b, 9 min, livre
Fragmentos e registros sobre o que seriam a loucura e a cultura, a partir de um debate realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1968.

+ PROGRAMA 5 – O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO 1
. Taruma [Mario Kuperman, 1975] 16 mm [exibição em beta, telecine feito pela mostra], cor, 13 min, livre
O dramático depoimento de uma trabalhadora rural da região oeste do estado de São Paulo, entrevistada em Tarumã, sobre as condições de vida de sua família e de sua classe social. A marginalização, a que está sujeita imensa parcela da população que vive nos campos, é evidenciada pela descrição que esta mulher faz de seus problemas.

. Mito e metamorfose das mães nagô (Arte sacra negra II) [Juana Elbein dos Santos, 1979] 16 mm [cópia nova feita pela mostra], p&b, 51 min, livre

Um mito cosmogônico da cultura nagô; o papel das mães ancestrais; penas e escamas: o corpo materno. Os objetos do ritual, vestes litúrgicas, cores, gestos, danças. A intangibilidade do sagrado.

+ PROGRAMA 6 – O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO 2
. Jardim Nova Bahia [Aloysio Raulino, 1971] 35 mm [cópia nova feita pela mostra], cor e p&b, 15 min, livre
Depoimento prestado por Deutrudes Carlos da Rocha, baiano de 24 anos, lavador de automóveis, que vive em São Paulo. Em sua primeira parte, o depoimento de Deutrudes é alternado com aspectos de outros baianos da sua mesma condição. Na segunda parte, ele próprio empunha a câmara, exprimindo-se livremente, sem qualquer interferência do realizador.

. Gilda [Augusto Sevá, 1977] 35 mm, cor, 13 min, livre
“Minha história é um romance... porque fiz o filme Gilda”. Jovina de Oliveira, moradora de Campinas, SP, vive num mundo fantasioso povoado de estrelas do cinema norte- americano, imagina ter sido a vedete do filme Gilda (Rita Hayworth do filme de Charles Vidor, de 1946), ter sido amante de astros... Pessoa ou personagem, metáfora de algo bem maior do que eles: a dominação cultural.

. Destruição cerebral, esmagamento craniano, precipitação, fraturas generalizadas [Carlos Fernando Borges, Joatan Vilela Berbel, José Carlos Avellar, Nick Zarvos, Paulo Chaves Fernandes, 1977] 16 mm [exibição em beta, telecine feito pela mostra], cor, 40 min, 14 anos

Bom pai de família, conceituado operário da Volkswagem e militante sindical rompe com tudo e faz uma viagem pelo Brasil, que o leva inicialmente a Brasília, imagem do poder; depois a Belém, onde se suicida espetacularmente. É uma viagem em busca de um absoluto indefinido, em total oposição ao sistema.

+ PROGRAMA 7 – OPERÁRIOS 1
. Greve [João Batista de Andrade, 1979] 35 mm [exibição em 16 mm], cor, 37 min, livre
Os principais acontecimentos da greve dos metalúrgicos do abc, ocorrida em março de 1979. Naqueles dias, o sindicato esteve sob intervenção, e Lula e outros dirigentes haviam sido afastados. Entre outras cenas, o filme entre vista e mostra o cotidiano dos operários, documenta assembléias, e entrevista o interventor do sindicato.

. Os queixadas [Rogério Corrêa, 1978] 16 mm, cor, 30 min, livre
Queixada é um animal de pequeno porte que, quando se sente ameaçado, junta-se em bando para enfrentar o perigo. Esse apelido foi dado aos operários da Companhia de Cimento de Perus (SP) quando, em 1962, organizaram uma greve por atrasos de salários e falta de condições de trabalho. O documentário é uma reconstituição dramatizada pelos próprios operários que participaram do movimento, 16 anos depois.

. Chapeleiros [Adrian Cooper, 1983] 16 mm, cor, 24 min, livre
Flagrantes de trabalhadores de uma fábrica de chapéus. A singular entrada na fábrica, o contacto direto com os chapéus, o ritmo das máquinas, o ritmo dos trabalhos manuais, o horário precioso do almoço, as silhuetas dos corpos.

+ PROGRAMA 8 – OPERÁRIOS 2
. O Porto de Santos [Aloysio Raulino, 1979] 35 mm [cópia nova feita pela mostra], p&b, 19 min, livre
Por meio de planos densos de ambiguidade, uma descrição poética do Porto de Santos e seus trabalhadores – doqueiros, prostitutas, marinheiros, um capoeirista –, provavelmente envolvidos numa paralisação grevista.

. Braços cruzados, máquinas paradas [Sérgio Toledo Segall e Roberto Gervitz, 1979] 16 mm, p&b, 76 min, livre
A atual estrutura sindical brasileira, com trechos de filmes da época em que foi criado o Estado Novo. Mostra a campanha eleitoral, em maio de 1978, para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e as greves que eclodem durante a campanha. Discute o movimento grevista, a legislação sindical, as propostas das chapas; e as reações dos setores governamentais e empresariais ao movimento. Documenta as eleições sindicais e seu desfecho.

+ PROGRAMA 9 – OPERÁRIOS 3
. Linha de montagem [Renato Tapajós, 1981] 16 mm [exibição em 35 mm], cor, 90 min, livre
Investigação sobre a gênese do movimento sindical de São Bernardo do Campo entre os anos de 1978 e 1981, quando se produziram as maiores greves de metalúrgicos na região, desafiando a repressão do final da ditadura militar. Radiografa-se a cidade no calor da grande efervescência das assembléias no estádio da Vila Euclides.

+ PROGRAMA 10 – FILMAR A HISTORIA 1
. Cabra marcado para morrer [Eduardo Coutinho, 1964/84] 35mm, cor e p&b, 119 min, 12 anos
Em fevereiro de 1964, inicia-se a produção do filme, que seria de ficção baseado em fatos reais da história política do líder da Liga Camponesa de Sapé (Paraíba), João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. Com o golpe de 31 de março de 1964, as forças militares cercam a locação e interrompem as filmagens. Dezessete anos mais tarde, Eduardo Coutinho sai em busca da viúva, Elisabeth Teixeira, e a encontra com outro nome, vivendo na clandestinidade.

+ PROGRAMA 11 – FILMAR A HISTÓRIA 2
. Os anos JK, uma trajetória política [Sílvio Tendler, 1980] 35 mm [exibição em beta], cor, 109 min, livre
A história política brasileira de 1945 até o início da década de 1980, tendo como personagem central o presidente Juscelino Kubitschek, a partir de imagens e sons de cinejornais, filmes de pequenos produtores e realizadores independentes, além de farto material pesquisado em estações de TV e cinematecas. Uma discussão sobre um dos períodos mais democráticos da nossa sociedade.

+ PROGRAMA 12 – A ENTREVISTA
. À margem da imagem [Evaldo Mocarzel, 2002] 35 mm, cor, 72 min, livre
O cotidiano dos moradores de rua da cidade de São Paulo, principalmente da região central. Nesta área os moradores têm acesso a produtos e materiais descartados pelos escritórios, bancos e estabelecimentos comerciais. Com esses restos essa população vem criando uma “arquitetura” e uma cultura própria que, ao mesmo tempo, expressam sua identidade e uma forma de resistência de métodos alternativos e espontâneos de viver numa grande cidade.

. Casa de cachorro [Thiago Villas Boas, 2001] MiniDV [exibição em beta], cor, 26 min, livre
Era uma vez o melhor lugar do mundo para se morar... Sob o viaduto ao lado do Ceagesp, em São Paulo, algumas famílias constroem casas de cachorro com a madeira dos caixotes abandonada pelos comerciantes do entreposto. Habituados ao local – poluído, cheio de trânsito e perigoso –, os moradores vão ter de enfrentar a Prefeitura de São Paulo, que quer desalojá-los.

+ PROGRAMA 13 – DIÁLOGO COM “O SEGREDO DA VOZ DO OUTRO”
. O prisioneiro da grade de ferro [Paulo Sacramento, 2004] 35 mm, cor, 123 min, 16 anos
Documentário que pretende retratar e refletir sobre a realidade do sistema carcerário brasileiro, em um momento em que suas contradições se exacerbam, beirando os limites da aceitabilidade.

+ PROGRAMA 14 – DIÁLOGO COM “O ESPELHO PERTURBA O MÉTODO”
. Pacific [Marcelo Pedroso, 2009] DVcam [exibição em beta], cor, 74 min, 10 anos
Uma viagem de sonho em um cruzeiro rumo a Fernando de Noronha. As lentes dos passageiros captam tudo a todo instante. E eles se divertem, brincam, vão a noitadas. Desfrutam de seu ideal de conforto e bem-estar. E, a cada dia, aproximam-se mais do tão sonhado paraíso tropical...

+ PROGRAMA 15 – DIÁLOGO COM OPERÁRIOS
. Peões [Eduardo Coutinho, 2004] 35 mm [exibição em DVD], cor, 85 min, livre
A história pessoal de metalúrgicos do ABC Paulista que tomaram parte no movimento grevista de 1979 e 1980, mas permaneceram em relativo anonimato. Suas origens, a participação no movimento e os caminhos que suas vidas trilharam desde então; a militância política no âmbito familiar, e as visão pessoais de Luiz Inácio Lula da Silva e dos rumos do país.

+ PROGRAMA 16 – DIÁLOGO COM “FILMAR A HISTÓRIA”
. São Paulo, sinfonia e cacofonia [Jean-Claude Bernardet, 1994] Beta, cor, 29 min, 14 anos
Filme-montagem composto de diálogos entre fragmentos de filmes paulistas de diversas épocas. Ode de amor e ódio à cidade de São Paulo.

. Isto é Noel [Rogério Sganzerla, 1991] Beta, cor e p&b, 42 min, livre
Os últimos dias da vida de um compositor famoso como Noel Rosa, vítima de uma dupla pneumonia, vagando sozinho pelas ruas do Rio de Janeiro durante o carnaval. Carnaval que, para ele, “nada mais era do que uma amostra na terra de como será o inferno no céu”. “Não fui feito para durar para sempre”, dizia.

+ PROGRAMA 17 – DIÁLOGO COM “A ENTREVISTA”
. Jorjamado no cinema [Glauber Rocha, 1979] 16 mm, cor, 51 min, 10 anos
Entrevista com Jorge Amado em sua casa no Rio de Janeiro. O escritor fala sobre sua obra e sua carreira literária, seus livros adaptados para o cinema, particularmente Tenda dos Milagres, Os pastores da noite, Dona Flor e seus dois maridos.

. Memória do cangaço [Paulo Gil Soares, 1965] 35 mm [exibição em DVD], p&b, 30 min, 14 anos
As origens do cangaço, movimento armado de bandoleiros no Nordeste entre 1935 e 1939, com entrevistas de alguns sobreviventes da luta, policiais e cangaceiros.

+ PROGRAMA 18 – DIÁLOGO COM BERNARDET
. Iracema, uma transa amazônica [Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974] 35 mm, cor, 90 min, 18 anos
Em contraste com a propaganda oficial da ditadura, que alardeava um país em expansão com a construção da Transamazônica, uma câmera sensível revelava os problemas que essa estrada traria para a região: desmatamento, queimadas, trabalho escravo, prostituição infantil. Misturando documentário e ficção, o filme narra a história da jovem Iracema e do motorista Tião Brasil Grande, emblemática da realidade brasileira.

+ PROGRAMA 19 – DIÁLOGO COM A FICÇÃO
. O homem que virou suco [João Batista de Andrade, 1979] 35 mm, cor, 97 min, 16 anos
Deraldo, poeta popular recém-chegado do Nordeste a São Paulo, sobrevivendo de suas poesias e folhetos é confundi do com o operário de uma multinacional que mata o patrão na festa em que recebe o título de operário símbolo. O filme aborda a resistência do poeta diante de uma sociedade opressora, esmagando o homem dia a dia, eliminando suas raízes.

+ PROGRAMA 20 – NOVAS IMAGENS DO POVO 1
. Uma avenida chamada Brasil [Octávio Bezerra, 1988] 35 mm, cor, 85 min, 16 anos
A Avenida Brasil, uma das principais vias de acesso do Rio de Janeiro, é o palco de muitas histórias de diversos personagens anônimos. Acidentes de tráfego, assaltos a banco, engarrafa mentos ou um animado jogo de futebol de domingo num terreno baldio. Em seu entorno crescem bairros pobres e favelas, largados à violência e sujeitos à omissão dos governos.

+ PROGRAMA 21 – NOVAS IMAGENS DO POVO 2
. Aboio [Marília Rocha, 2005] 35 mm, cor, 73 min, livre
No interior do Brasil, adentrando as extensões semiáridas da caatinga, há homens que ainda hoje conservam hábitos arcaicos, como o costume de tanger o gado por meio de um canto de nome aboio. Um filme sobre a música, a vida, o tempo e a poesia dos vaqueiros do sertão.

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