A pesquisa foi encomendada ao Ibope Inteligência, empresa contratada em 2013 por meio de licitação, com a metodologia testada entre setembro e outubro e os dados coletados em novembro deste ano. Trata-se da segunda versão da mesma consulta (
ver aqui a primeira versão da pesquisa), planejada para mostrar como o brasileiro usa os meios de comunicação, a frequência de acesso, as motivações e a credibilidade de cada um deles. Como a metodologia foi aprimorada entre as duas primeiras versões, ocorre uma descontinuidade em alguns dados, como a intensidade de uso da internet.
Uma das curiosidades, que contraria em parte o senso comum, é a pujança do rádio: em 2013, 21% dos brasileiros haviam declarado ouvir rádio todos os dias; nesta última pesquisa, esse número subiu para 30%.
Diante da pergunta sobre qual meio de comunicação o entrevistado usa mais, 42% citaram a internet, e destes 76% a acessam todos os dias, com uma exposição média de 4 horas e 59 minutos por dia, entre segunda e sexta-feira, e de 4 horas e 24 minutos nos finais de semana.
Os gráficos revelam, principalmente, que o uso dos meios de comunicação segue o padrão de consumo determinado pela renda, escolaridade e faixa etária: o uso diário e mais intenso da internet é maior entre os jovens com até 25 anos (65%), enquanto entre os adultos com mais de 65 anos essa proporção cai para 4%.
No grupo dos entrevistados com renda familiar de até um salário mínimo, 20% declararam acessar a internet pelo menos uma vez por semana, enquanto nas famílias com renda superior a cinco salários mínimos, 76% têm acesso à rede digital.
Diferenças sociais
A análise dos números deve considerar algumas intercorrências, como a mudança na questão referente à intensidade de uso da TV, do rádio e da internet. Períodos em que a opinião pública sofre intensa mobilização tendem a aumentar a busca por informações através dos meios imediatos, com o uso complementar de múltiplos veículos – o que, de certa forma, contribui para uma maior audiência da televisão, do rádio e da internet.
Embora não esteja contemplado na análise original da pesquisa, deve-se levar em conta, por exemplo, que as entrevistas foram feitas no mês seguinte às eleições que foram consideradas as mais acirradas do período da restauração democrática. Além disso, é preciso considerar que as eleições foram realizadas apenas três meses depois de encerrada a Copa do Mundo, evento que também mobilizou intensamente a sociedade brasileira.
Os resultados tendem a mostrar um quadro restrito ao período mais próximo ao das entrevistas, mas as duas primeiras versões da pesquisa já permitem observar a evolução de tendências no ambiente midiático. No entanto, alguns aspectos, como a mudança na natureza da mediação e o uso complementar de várias mídias, podem não estar contemplados ou explicitados nas conclusões do estudo. Por exemplo, se a primeira informação é obtida na internet ou no rádio e consolidada na leitura de um jornal ou no noticiário da televisão, que encerra o dia, o usuário é induzido a considerar os meios que consolidam a informação como mais confiáveis.
Na grande diversidade de elementos proporcionados pela pesquisa, pode-se destacar a urgência de acelerar a redução das diferenças sociais, por seu efeito na desigualdade de acesso à informação, que, por outro lado, afeta as chances de universalização do bem-estar. A defasagem entre os brasileiros com ensino superior e aqueles que só completaram a 4ª série, por exemplo, pode ser de 87% para 8% na questão da familiaridade com as tecnologias digitais.
Conclusão: democratizar a comunicação é fundamental para a democracia.
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Apresentação
Pesquisa Brasileira de Mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. Brasília: Secom, 2014.
[intertítulos do OI]
Maior levantamento sobre os hábitos de informação dos brasileiros, a “Pesquisa Brasileira de Mídia 2015” (PBM 2015) revela que a televisão segue como meio de comunicação predominante, que o brasileiro já gasta cinco horas do seu dia conectado à internet e que os jornais são os veículos mais confiáveis. Encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM) para compreender como o brasileiro se informa, a PBM 2015 foi realizada pelo IBOPE com mais de 18 mil entrevistas.
De acordo com a pesquisa, 95% dos entrevistados afirmaram ver TV, sendo que 73% têm o hábito de assistir diariamente. Em média, os brasileiros passam 4h31 por dia expostos ao televisor, de 2ª a 6ª feira, e 4h14 nos finais de semana, números superiores aos encontrados na PBM 2014, que eram 3h29 e 3h32, respectivamente.
O tempo de exposição à televisão sofre influência do gênero, da idade e da escolaridade. De 2ª a 6ª feira, as mulheres (4h48) passam mais horas em frente à TV do que os homens (4h12). Os brasileiros de 16 a 25 anos (4h19) assistem cerca de uma hora a menos de televisão por dia da semana do que os mais velhos, acima dos 65 anos (5h16). O televisor fica mais tempo ligado na casa das pessoas com até a 4ª série (4h47) do que no lar das pessoas com ensino superior (3h59).
O rádio continua o segundo meio de comunicação mais utilizado pelos brasileiros, mas seu uso caiu na comparação entre a PBM 2014 para a PBM 2015 (de 61% para 55%). Em compensação, aumentou a quantidade de entrevistados que dizem ouvir rádio todos os dias, de 21% em 2014 para 30% em 2015.
Redes sociais
Praticamente a metade dos brasileiros, 48%, usa internet. O percentual de pessoas que a utilizam todos dos dias cresceu de 26% na PBM 2014 para 37% na PBM 2015. O hábito de uso da internet também é mais intenso do que o obtido anteriormente. Os usuários das novas mídias ficam conectados, em média, 4h59 por dia durante a semana e 4h24 nos finais de semana – na PBM 2014, os números eram 3h39 e 3h43 –, valores superiores aos obtidos pela televisão.
Mais do que as diferenças regionais, são a escolaridade e a idade dos entrevistados os fatores que impulsionam a frequência e a intensidade do uso da internet no Brasil. Entre os usuários com ensino superior, 72% acessam a internet todos os dias, com uma intensidade média diária de 5h41, de 2ª a 6ª feira. Entre as pessoas com até a 4ª série, os números caem para 5% e 3h22. 65% dos jovens na faixa de 16 a 25 se conectam todos os dias, em média 5h51 durante a semana, contra 4% e 2h53 dos usuários com 65 anos ou mais.
O uso de aparelhos celulares como forma de acesso à internet já compete com o uso por meio de computadores ou notebooks, 66% e 71%, respectivamente. O uso de redes sociais influencia esse resultado. Entre os internautas, 92% estão conectados por meio de redes sociais, sendo as mais utilizadas o Facebook (83%), o Whatsapp (58%) e o Youtube (17%).
Atenção exclusiva
Permaneceu estável o percentual de brasileiros que leem jornais ao menos uma vez por semana entre as duas rodadas da PBM: 21%. Apenas 7% leem diariamente, sendo a 2ª feira o dia da semana mais mencionado pelos leitores (48%), e o sábado o menos mencionado (35%). A escolaridade e a renda dos entrevistados são os fatores que mais aumentam a exposição aos jornais: 15% dos leitores com ensino superior e renda acima de cinco salários mínimos (R$ 3.620 ou mais) leem jornal todos os dias. Entre os leitores com até a 4ª série e renda menor que um salário mínimo (R$ 740), os números são 4% e 3%.
O uso de plataformas digitais de leitura de jornais ainda é baixo: 79% dos leitores afirmam fazê-lo mais na versão impressa, e 10% em versões digitais. Piauí, Ceará e Paraná são os estados com maior adesão às versões on-line dos periódicos, respectivamente, 39%, 25% e 22%. Amapá, Amazonas e Rio Grande do Sul, os estados com menor adesão, respectivamente, 2%, 3% e 3%.
Encontrou-se um cenário semelhante ao dos jornais em relação às revistas: 13% dos brasileiros leem revistas durante a semana, número que cresce com o aumento da escolaridade e da renda dos entrevistados. As versões impressas (70%) são mais lidas do que as versões digitais (12%). Maranhão, Piauí e Ceará são os estados com maior adesão às versões on-line, respectivamente, 29%, 22% e 21%. Acre, Roraima e Paraíba, os estados com menor adesão, respectivamente, 0%, 3% e 3%.
Mesmo que sejam baixas a frequência e a intensidade de leitura de jornais e revistas, eles são os meios de comunicação com maior nível de atenção exclusiva. Entre os leitores de jornal, 50% disseram não fazer nenhuma outra atividade enquanto o consome. Entre os de revista, 46%.
Representatividade nacional
Cresceu a confiança dos brasileiros nas notícias veiculadas nos diferentes meios de comunicação. Os jornais continuam como os mais confiáveis: 58% confiam muito ou sempre, contra 40% que confiam pouco ou nunca. Na PBM 2014, esses valores eram de 53% e 45%. Televisão e rádio encontram-se em empate técnico. No caso da TV, 54% confiam muito ou sempre, contra 45% que confiam pouco ou nada. No caso do rádio, 52% confiam muito ou sempre, contra 46% que confiam pouco ou nunca.
Dentre os veículos tradicionais, a revista é o único que inverte essa equação: 44% confiam muito ou sempre, contra 52% que confiam pouco ou nunca. Já em relação às novas mídias, reina a desconfiança. Respectivamente, 71%, 69% e 67% dos entrevistados disserem confiar pouco ou nada nas notícias veiculadas nas redes sociais, blogs e sites.
Dentre as formas oficiais de comunicação do Governo Federal, o programa “A Voz do Brasil” é a mais conhecida pelos brasileiros: 57%. Além disso, o conteúdo do programa é bem avaliado por quem o conhece: 45% consideram-no “ótimo ou bom”; 20%, “regular”, e 12%, “ruim ou péssimo”. O trabalho de campo da PBM 2015 ocorreu entre os dias 5 e 22 de novembro de 2014, por meio de entrevistas domiciliares pessoais face a face, quando 300 entrevistadores aplicaram 85 perguntas a 18.312 pessoas maiores de 16 anos, em 848 municípios. Como principal característica, manteve-se a representatividade nacional da pesquisa de 2014, com uma amostra que retrata adequadamente cada um dos 26 estados e o Distrito Federal. O banco de dados que resultou do trabalho tem cerca de 2 milhões de células. Apenas um extrato dessas informações compõe a presente publicação, que, naturalmente, não esgota os cruzamentos e as análises possíveis.
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