A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) constata a permanência
de conflitos de interesse na mídia brasileira e segue preocupada com os atos de
violência perpetrados contra os jornalistas no país
O Brasil se encontra agora na 104a posição no
Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa estabelecido pela Repórteres sem
Fronteiras, publicado no dia 20 de abril de 2016. Essa posição, entre os 180
países que aparecem no ranking, não está à altura de um país que deveria ser
uma referência regional. É o quinto ano consecutivo de queda do Brasil na
classificação da RSF. Em 2010, o país se encontrava na 58a posição.
Quais são os motivos por detrás desse tombo? O aumento de
casos de violência contra os jornalistas e a ausência de vontade política para
desenvolver mecanismos de proteção mais eficientes para os comunicadores estão
entre as principais razões. Não se trata de uma queda relativa à situação dos
outros países presentes no ranking, mas sim uma piora em absoluto.
Seu índice
de desempenho passou de 25,78 em 2014 a 31,93 em 2015, o que corresponde à uma
importante degradação. Ainda assim, o gigante da América Latina continua na
frente de países como o Equador (109a), a Guatemala (121a)
e ainda bem acima da Colômbia (134a), da Venezuela (139a),
do México (149a) e de Cuba (174a).
Liberdade de Imprensa
No Brasil, os principais obstáculos à liberdade de imprensa,
assim como o clima de desconfiança em relação aos jornalistas, se aprofundaram
ainda mais com a recessão econômica e a instabilidade política que atravessa o
país.
O cenário midiático continua caracterizado pela grande
concentração da propriedade dos meios de comunicação, nas mãos de algumas
poucas grandes famílias e industriais, que em muitos casos têm relações
estreitas com políticos ou ainda que detém eles mesmos, direta ou
indiretamente, cargos eletivos, como governadores e parlamentares.
Assim, o
fenômeno do “coronelismo eletrônico”, descrito pela RSF no seu relatório “O país dos 30
Berslusconis” (2013), segue como uma realidade premente no cenário
brasileiro.
Como consequência, existe uma forte dependência dos meios de
comunicação em geral em relação aos centros de poder.
A cobertura midiática da crise política, em particular a
partir do início do ano, evidencia essa situação. Os principais meios de
comunicação nacionais agem de forma a incitar suas audiências a precipitarem a
saída da Presidenta Dilma Rousseff do poder.
É difícil para os jornalistas de
grandes conglomerados de comunicação trabalharem de forma serena, sem sofrer
influências de interesses privados e partidários. Esses conflitos de interesse
permanentes são evidentemente prejudiciais à qualidade da informação difundida.
A ausência de mecanismos nacionais de proteção aos
jornalistas ameaçados e o clima de impunidade, alimentado por uma corrupção
onipresente, também ajuda a explicar a queda do país no ranking da RSF.
O
Brasil é o terceiro país mais mortífero das Américas para os jornalistas, atrás
apenas do México e de Honduras. Em 2015, sete jornalistas foram assassinados no
país. Todos eles investigavam temas sensíveis, como a corrupção local ou o
crime organizado.
O grau de violência em algumas regiões, em particular as mais
distantes dos grandes centros urbanos, torna a cobertura desses assuntos ainda
mais perigosa. A impunidade que prevalece na maioria desses casos favoriza a
multiplicação desses crimes.
Finalmente, as ações violentas perpetradas por agentes da
polícia militar contra jornalistas durante manifestações também persistem. Os
jornalistas locais, assim como os correspondentes internacionais que cobrem
essas manifestações são frequentemente insultados, ameaçados e detidos
arbitrariamente, quando não se tornam alvos dos próprios manifestantes que os
associam aos proprietários dos meios de comunicação para os quais trabalham.
Publicado desde 2002 pela Repórteres sem Fronteiras, o
Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa mede o grau de liberdade dos
jornalistas em 180 países a partir de uma série de indicadores (pluralismo,
independência dos meios de comunicação, ambiente e autocensura, quadro
legislativo, transparência, infraestrutura e violência).
Entenda a metodologia e encontre o Ranking da Liberdade de
Imprensa de 2016 no site RSF.org.
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