Em Brasilia, o livro, será lançado por Belisa Ribeiro no dia 06/04, no Restaurante Carpe Diem.
O ano de 2015
foi especialmente doloroso para os jornalistas brasileiros: houve registros de
mais de 1400 demissões no país, em veículos impressos, online, de TV e
rádio. Neste cenário de mudanças nos
meios de produção, de fechamento de veículos, de predomínio do digital, uma
coisa parece certa: o jornalismo, como função social e profissão, não pode e
não deve acabar. É essa a impressão que “Jornal do Brasil – Memória e
história”, de Belisa Ribeiro, deixa ao leitor.
O livro registra depoimentos de alguns dos mais importantes jornalistas
brasileiros que, em épocas diferentes, marcaram a trajetória do jornal e
contribuíram para torná-lo um dos maiores de seu tempo. O JB, que em março
completa 125 anos e foi criado para defender a monarquia, passou pela fase popular de jornal de classificados e pelas reformas
editoriais que modernizaram a imprensa, foi trincheira muitas vezes para o
combate à censura, para a denúncia de corrupção e maus feitos com o dinheiro
público, má administração e outras mazelas da República. Foi também veículo de
vanguarda, ditando moda, descobrindo tendências e revelando culturas.
Em suas 400 páginas, a jornalista Belisa
Ribeiro conta histórias de edições corajosas, como a que noticiou a morte do
presidente chileno Salvador Allende na primeira página inteira do jornal (sem
manchete, como mandara a censura); de grandes reportagens, como a que revelou a
reunião, no interior do Rio, de um grupo nazista, ou a que desvendou a farsa
militar da bomba no Riocentro; e um pouco da trajetória de alguns de seus
jornalistas.
A ideia para escrever o livro surgiu de um dos encontros dos
jotabeninos, como se chamam os profissionais que lá trabalharam. Durante um ano
e meio, Belisa manteve no ar um site para recolher depoimentos:
“Ouvindo
os colegas relembrarem seus “feitos”, os casos do passado, as reportagens
históricas, decidi escrever não somente sobre a história do Jornal do Brasil,
mas sobre as memórias de quem tornou o veículo inesquecível. E contar também
quem são ou quem foram essas pessoas.”
O livro, que teve patrocínio da Petrobras,
chega às livrarias, pela editora Record, será lançado por Belisa Ribeiro em
Brasilia, no dia 06/04, no Restaurante Carpe Diem.
A Orelha do livro é assinada por Alberto Dines
Um jornal não muda o mundo, diz Belisa Ribeiro no seu prólogo. Está
certa. Mas ao longo deste verdadeiro filme Belisa sutilmente comprova o
contrário: aqueles doidos e doidas envolvidos na preparação do jornal do dia
seguinte são possuídos pela mesma obsessão – fazer daquela edição algo único,
especial, capaz de transformar o leitor, movimentar sua vida, alterar o seu
olhar, enfiá-lo na história.
A “última profissão romântica” foi assim definida por conta da penosa
dualidade que sujeita as emoções do relato à frieza da razão. No caso do
jornalismo, a contradição se manifesta entre a imutável, implacável rotina
diária e a sensação de transcendência que vai se filtrando, infiltrando à
medida que as circunstâncias captadas tornam-se palavras, relatos, imagens,
percepções.
As edições marcantes deste livro poderiam ser outras – jornadas
grandiosas ou deprimentes.
Os
protagonistas poderiam ser diferentes, também as plataformas e páginas onde
ficariam hospedadas. De qualquer forma, persistiria a cruel ilógica deste
romantismo que tenta fazer do cotidiano algo trepidante, nobre, memorável,
ajustando-o ao dever de torná-lo apenas justo e verdadeiro.
Alberto Dines
Lista de depoimentos colhidos pela autora
Affonso Romano de Sant’Anna, jornalista e escritor,
Rio de Janeiro
Aguinaldo Ramos, fotógrafo, Rio de Janeiro
Alberto Dines, jornalista, Rio de Janeiro
Alberto Jacob, fotógrafo, Rio de Janeiro
Armando Strozenberg, jornalista, Rio de Janeiro
Carlos Lemos, jornalista, Rio de Janeiro
Chico Caruso, chargista, Rio de Janeiro
Cristina Lemos, jornalista, Marselha, França
Edilson Martins, jornalista, Rio de Janeiro
Elio Gaspari, jornalista, São Paulo
Emília Silveira, jornalista, Rio de Janeiro
Esdras Pereira, fotógrafo, Campos, Rio de Janeiro
Evandro Teixeira, fotógrafo, Rio de Janeiro
Fernanda Pedrosa, jornalista, Rio de Janeiro
Iesa Rodrigues, jornalista, Rio de Janeiro
Ique, chargista, Rio de Janeiro
Jamari França, jornalista e crítico musical, Rio de
Janeiro
Janio de Freitas, jornalista, Rio de Janeiro
Jorge Antônio Barros, jornalista, Rio de Janeiro
José Carlos Avellar, diagramador e crítico de
cinema, Rio de Janeiro
José Carlos de Assis, jornalista e professor de
economia, Rio de Janeiro
José Silveira, jornalista, Rio de Janeiro
Luiz Morier, fotógrafo, Rio de Janeiro
Luiz Orlando Carneiro, jornalista, Brasília
Malu Fernandes, jornalista, Rio de Janeiro
Marina Colasanti, jornalista e escritora, Rio de
Janeiro
Norma Couri, jornalista, São Paulo
Paulo Henrique Amorim, jornalista, São Paulo
Ricardo Boechat, jornalista, São Paulo
Roberto Quintaes, jornalista, Rio de Janeiro
Tânia Malheiros, jornalista, Rio de Janeiro
Tarcísio Baltar, jornalista, Rio de Janeiro
Walter Fontoura,
jornalista, São Paulo
Wilson Figueiredo, jornalista, Rio de Janeiro
“No cursinho do JB, com
o Mauro Santayana, ele falou: “Vocês estão pensando que vão fazer jornalismo e
vão dar a metade da vida de vocês? Não, vocês vão dar muito mais da metade das
suas vidas, se não derem a vida inteira.” Nunca esqueci disso e ele tinha
razão. Porque jornalismo é uma coisa que toma conta de você. Sempre que algum
pai, alguma mãe me pede: “Tira essa coisa da cabeça da menina, a gente está
falando para ela fazer administração de empresas, em que ela vai ter trabalho,
vai ganhar dinheiro”, eu respondo para a filha: “Vai ser jornalista, por favor,
vai, é a melhor coisa que você pode fazer.” Eles procuram a pessoa errada,
porque eu acho que jornalismo é uma profissão maravilhosa.”
(Norma Couri)
“O Jornal do Brasil me
deu uma ideia de como o jornalismo é muito mais do que fazer jornal. O
jornalismo é uma maneira de você viver e você conceber o todo. É uma maneira
tolerante, é uma maneira ampla, é uma maneira democrática de ver o mundo.” (Wilson
Figueiredo)
“O jornal me fez jornalista. Eu
me fiz escritora no jornal, aprendi a escrever no jornal, para o jornal. Mudou
a minha vida. Além de me dar um marido. Era muito emocionante, porque nós nos
sentíamos farejando o tempo inteiro, como uma raposa, como um animal farejando.
A colheita era muito viva, muito intensa. Não era um trabalho de funcionário
público, não era uma marcação de ponto, era uma entrega vital. Foi muito bom.”
(Marina Colasanti)
“Era muita gente de alto
quilate. Houve um momento em que essas pessoas, esses corações e mentes se
juntaram e fizeram do Jornal do Brasil o jornal de referência nacional e
internacional. Nós passamos a ser o The New York Times do Brasil. O
jornal se consolidou com pessoas criativas que se uniram. E foi isso que fez um
grande jornal. As pessoas. Corpo e alma. É muito difícil explicar. Muito mal
comparando... Como é que surgiu o universo? É muito fácil dizer que foi o Big
Bang. Mas quem é que apertou aquele negócio para dar o Big Bang?”
(Luiz Orlando Carneiro)
“O Jornal do Brasil era
um dos jornais mais importantes do mundo. Era o símbolo do jornalismo moderno
no Brasil. E nós tínhamos 45 fotógrafos, era um negócio de louco. Eu acho que
viajei o mundo inteiro fazendo Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, moda em Paris.
Mas tinha porrada, também. Ditadura, passeata. Emoção. Esse romantismo, esse
jornalismo sério, o jornalismo investigativo, nada disso existe mais. O que é
uma pena, mas o mundo não acabou. Estamos vivendo outras épocas e vamos tocar o
barco para a frente. A fotografia para mim sempre valeu a pena e vale a pena. O
jornal acabou para mim, morreu. Mas eu estou vivo, estou fotografando.”
(Evandro
Teixeira)
Sobre Belisa Ribeiro
Belisa Ribeiro começou sua carreira como estagiária no Jornal
do Brasil, na década de 70 e voltou ao jornal 30 anos mais
tarde como editora de Cidade. Testemunhou o fechamento da sede da Av. Brasil e
mudou-se para Brasília, onde chefiou a sucursal e foi titular da coluna Informe
JB, no início dos anos 2000.
Na imprensa escrita, trabalhou em O Globo, Gazeta
Mercantil e revista Época, sempre como repórter. Na TV, foi a
primeira mulher a ser comentarista econômica, na TV Globo, onde se tornou
também pioneira na apresentação de telejornais, integrando a primeira bancada
de âncoras jornalistas, no Jornal da Globo, em 1981.
Escreveu o livro Bomba no Riocentro, esgotado em suas
duas edições, a primeira no ano do atentado, 1981 e a segunda, na ocasião da
primeira reabertura do inquérito, em 1999.
Filha de mãe professora de português e pai desportista e
sambista, adora escrever, caminhar cercada pela natureza e ouvir música. É mãe
coruja de dois cantores e compositores, Gabriel o Pensador e Tiago Mocotó, que
lhe deram quatro netos. Os únicos com quem admite dividir o computador.
Um comentário:
Muito honrada de estar no blog, pela importância de Cico como jornalista e também por sua brilhante participação nas áreas académica e literária. Muito obrigada.
Postar um comentário