Jornalista não rima com diplomata. A sílaba tônica lis só tem um parentesco com a sílaba tônica ma: ambas ocupam o mesmo lugar na palavra – a penúltima sílaba. Mas o som, que caracteriza a rima, está longe de aproxima-las.
Se as palavras se mantêm distantes, as profissões se aproximam. Uma e outra exigem cultura, conhecimento diversificado, domínio da língua, de línguas estrangeiras, habilidade no trato das informações. E, sobretudo, talento e muita curiosidade.
Não falo aqui das qualidades morais. A ética é exigência de qualquer profissão. O médico, o advogado, o professor têm seu código moral. Respeitá-lo ou não é questão de foro íntimo. Independe de diploma. Todos estamos em estado de choque com a descoberta do comportamento de um dos mais conceituados pediatras do país. Com certeza, ele conhecia o código de ética do médico.
Também não falo da qualidade dos cursos. Bons e maus cursos existem em todas as especialidades. Nos concursos para juiz e procurador da República, só para citar um exemplo, sobram vagas. Não por falta de candidatos, mas por falta de competência dos concorrentes. Não falo, tampouco, da importância do curso superior. Alisar os bancos da universidade tem vinculação muito estreita com o pensar, o refletir, o criticar – indispensáveis ao bom profissional, sobretudo ao jornalista.
O autodidata pode chegar lá? Claro que sim. A imprensa brasileira está cheia de exemplos. Cláudio Abramo não tinha o curso primário. Castelinho não tinha curso superior. E, para não ficar só nos que se foram, lembro Mauro Santayana, que nunca freqüentou a universidade. Os três – e muitos outros – se fizeram com esforço próprio. Na geração mais moderna deve haver gente de primeiro time. Mas não creio que a oferta seja abundante. A razão é simples. As escolas fundamental e média têm perdido qualidade. Com um primário malfeito, como diziam nossas vovós, é difícil andar sozinho.
Não falo das exigências éticas, não falo da qualidade do ensino, não falo da importância de se cursar uma faculdade. Os três itens se impõem. Sem eles, hoje, dificilmente alguém terá vez no mercado para ingressar na profissão. Depois, a história é outra.
Estudar só acrescenta
O que digo é que a profissão de jornalista se assemelha à de diplomata. Ambas são muito abrangentes. Abarcam amplo espectro de conhecimento. Precisam do saber de todas as áreas. Consciente da importância da profundidade na diversidade, o Itamarati recruta profissionais de todas as especialidades. Qualquer pessoa que tenha diploma de curso superior pode se inscrever no vestibular. Vale qualquer curso – Educação Física, Direito, Pedagogia, Letras, Medicina, Jornalismo, Economia, Artes, Música. O aprovado faz o curso profissionalizante.
O mesmo vale para o jornalista. A abertura do mercado de jornalista é exigência dos tempos atuais. Existem muitas especialidades que despertam enorme interesse dos leitores. É o caso de ciência e saúde. Dificilmente um profissional oriundo do curso de Comunicação Social, por mais talentoso que seja, fará matéria sobre saúde melhor que um médico. Ao ler uma reportagem assinada por Dráuzio Varela e outra por Carlos Chagas ou por mim, o leitor acreditará mais nas informações do médico.
Claro que não é suficiente ser médico. Dráuzio Varela tem de saber traduzir o conhecimento em palavras. Médico e comunicador são habilidades diferentes. Mas não opostas. É possível conciliá-las. Com a especialização, muitos talentos poderão enriquecer os quadros da mídia. O talento é soberano. Dificilmente a empresa deixará de contratar um profissional qualificado – seja de que área for – para contratar um medíocre. É suicídio.
Se o eleito tem o curso de Comunicação Social, ótimo. Se não, ótimo. O que conta é a qualificação profissional.
(*) Dad Squarisi, jornalista, diplomata, editora de Opinião do Correio Braziliense, apresentou este texto no debate Jornalismo: diploma em questão, organizado pela UnB e pelo Sindicato dos Jornalistas de Brasília
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