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sexta-feira, 30 de julho de 2021

Livro: A Vida em Primeira Pessoa - um romance narrado por jornalista

Livro da professora da UnB e jornalista Thaïs de Mendonça mistura experiências de personagem jornalista com panorama brasileiro

 

Os bastidores da política e o exercício do poder no Planalto Central são o pano de fundo para uma história de amor pontuada por contrastes, controvérsias e incertezas, no novo livro de Thaïs de Mendonça, lançado na quinta-feira, 29/7. Tecnicamente, A Vida em Primeira Pessoa pode ser considerado um roman à clef, característica dos romances que possuem um contraponto na realidade, a partir da qual a autora brinca com o espaço público, misturando eventos passados e presentes. Os personagens são deslocados de contexto para compor uma trama inteligente e dramática.

A vida íntima da jornalista, tão agitada quanto a profissional, é contada com muito humor, em capítulos bem amarrados que vão conduzindo o leitor até o desfecho. O que é o amor, afinal? Um dos temas que o livro discute, será que é possível definir onde o amor começa e onde ele acaba? Assim como a religião e o suicídio, esses três temas vão sendo desenvolvidos a par com a trajetória da personagem principal, a jornalista Martina Mirabella, mineira de Belo Horizonte.

O candidato eleito para o mandato, um jovem político paranaense desconhecido do cenário nacional, Nelson Bastos, no passado um playboy cabeludo, vai aos poucos se adequando ao figurino popular. Guiado por sua agência de publicidade, o novo presidente é talhado à medida para encarnar a figura mítica do herói salvador. Com um discurso genérico, sem proposta clara, ele consegue envolver a população com uma vaga proposta de não-ideologia, como se ele próprio fosse uma pessoa de fora do sistema. Carismático e populista, obtém votação recorde, derrotando vários adversários de uma só vez.

Assassinatos acontecem sem que as autoridades investiguem. Alguns morrem sem causas definidas. A jornalista, encarregada da cobertura política pela revista Fatos, vai aos poucos se afirmando no cenário competitivo de Brasília, para onde ela se muda depois de uma carreira em Belo Horizonte. Martina, descendente de italianos, é uma mulher bonita e sensual que ostenta, além da beleza, um caráter forte e muita força de vontade. Entretanto, ela convive mal com a própria solidão.

O romance alterna páginas escritas em primeira pessoa – como se fossem fragmentos do diário de Martina –, levando o leitor ao desfecho, ao mesmo tempo dramático e surpreendente. Eis um trecho da obra:

“Entro pela primeira vez na sala de imprensa do Palácio do Planalto. É uma sala ampla, aos fundos do saguão principal do térreo. A revista me credenciou e eu logo descubro qual é a mesa da Fatos. Fico a um canto, sem querer aparecer muito. Noto uma mulher a me observar. Ela sorri e se apresenta. Chama-se Ana Paula e trabalha para uma rádio.

Como a todos os novatos, os colegas tentam me pregar uma peça, usando a Ana Paula. A brincadeira é a seguinte: o jornalista que chega é convidado a ir à sala do Dr. Cecin Sarkis. O nome soa estranho, mas Very Well – o sempre solícito funcionário do Comitê de Imprensa – dá a indicação de que a sala do doutor coronel fica no terceiro andar, logo à direita do elevador. ‘Ele quer conhecer todo mundo que aparece na sala de imprensa’, convence o repórter que passa o recado ao neófito. Os que acabam de chegar à capital caem na armadilha, para descobrir depois que Cecin Sarkis é o nome de uma loja de materiais elétricos da cidade e a sala indicada é a do sistema de força do palácio. Quando o novato volta com cara de tacho, os colegas se divertem. É uma espécie de ritual de iniciação.” 

Sobre a autora

Thaïs de Mendonça é jornalista e professora da Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou no Jornal do Brasil, O Globo, O Tempo, Correio Braziliense, dentre outros. Tem vários livros publicados na área do jornalismo: “Manual do foca. Guia de sobrevivência para jornalistas”; “Mutação no Jornalismo. Como a notícia chega à internet”; e “Viver o jornalismo. A entrevista no dia a dia da profissão”. Na área da psicologia, é coautora de “Dieta da Mente. 101 perguntas e respostas para emagrecer”.

Lançamento

Live/ entrevista de Claudinei Vieira, editor da Desconcertos, com a autora
Data: 29/7/2021
Horário: 20h
 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Saudade da minha terra. O adeus a Jaime Sautchuk

Jaime (de gravata) acompanha discurso de Aldo Arantes.
Ao fundo, à esquerda, Fernando Tolentino,
Estela Landim e Haroldo Lima.
Foto: Arquivo pessoal Fernando Tolentino.


São muitas as lembranças. Nas lutas pela retomada do Sindicato dos Jornalistas, do Clube da Imprensa, do Movimento de Defesa da Amazônia, pela Constituinte (ampla, geral e irrestrita), por Diretas Já, por eleições em Brasília, na campanha de Aldo Arantes (em 1982), na campanha em que fui candidato a deputado federal (por que não?). E também seus vários livros, as diversas redações em que brilhou, até finalmente a Xapuri, a reserva ambiental Linda Serra dos Topázios, que criou em Cristalina, para se recolher nos anos mais recentes, como que deixando entender que "não adianta viver na cidade".

Por Fernando Tolentino

A despedida de tantos amigos queridos havia sido no Campo da Esperança. Ali se encontraram dezenas de colegas do primeiro time do jornalismo brasileiro, não poucos camaradas do PCdoB e companheiros da esquerda em geral.Encontraram-se, falaram das inesquecíveis experiências de convivência com Jaime Sautchuk. E dos "causos".

Muitos choraram e abraçaram-se, talvez pouco lembrados da pandemia, talvez muito confiados na vacina. Afinal, valia a pena se abraçarem. A lembrança comum de Jaime justificava.

São muitas as lembranças. Nas lutas pela retomada do Sindicato dos Jornalistas, do Clube da Imprensa, do Movimento de Defesa da Amazônia, pela Constituinte (ampla, geral e irrestrita), por Diretas Já, por eleições em Brasília, na campanha de Aldo Arantes (em 1982), na campanha em que fui candidato a deputado federal (por que não?). E também seus vários livros, as diversas redações em que brilhou, até finalmente a Xapuri, a reserva ambiental Linda Serra dos Topázios, que criou em Cristalina, para se recolher nos anos mais recentes, como que deixando entender que "não adianta viver na cidade".

Por isso, foi a chance de se marcarem novos encontros, inclusive com os que não puderam comparecer e não se desculpavam. Como a velha base dos jornalistas do PCdoB, com a declarada intenção de reunirem-se com a assumida intenção de reafirmar a presença de Jaime.

Uns poucos insistiram em levar Jaime à despedida final. Sua família e amigos que não conseguiram se afastar antes do último momento.

"De que me adianta viver na cidade.
Se a felicidade não me acompanhar."

A pedido da filha Rosa, o meu celular entoou pianíssimo, a canção preferida de Jaime, "Saudade da Minha Terra", de Goiá.