Informações falsas, informações deturpadas, boatos e promessas não são um fenômeno nascido no que se convencionou chamar de fake news. Elas existem há muito tempo e têm por objetivo desacreditar alguém, ou empresas, ou instituições ou governos ou, ainda, obter ganhos financeiros. Já as promessas, geralmente feitas em época de campanha eleitoral, têm o objetivo de conquistar o eleitor com informações de interesse daquele público-alvo. Essas promessas não se concretizam. As redes sociais, por sua rapidez de comunicação e, no Brasil, especialmente o WhatsApp, catapultaram o raio de ação das fakes news.
Notícia é coisa séria
Por
definição, a notícia/news não poderia vir acompanhada da expressão fake/falsa,
popularizada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que escolheu
a imprensa não alinhada para atacá-la com a expressão “fake news”. A notícia é
uma informação apurada por um jornalista, ouvindo as partes relacionadas no
tema, e publicada em um veículo de comunicação que tem nome, endereço e CNPJ. A
notícia pode ter sido mal apurada, ou conter algum erro. Mas, falsa, ela não
será. Além disso, quem se sentir prejudicado com a informação divulgada, sabe a
quem recorrer. No mínimo, pode enviar uma carta ao veículo pedindo retratação,
correção ou direito de resposta.
No caso da desinformação intencional, na maior parte das vezes, não há a quem recorrer. A desinformação é divulgada em rede social sob perfil falso, quem desinforma não se identifica e não há anexos ou links que possam confirmar aquele conteúdo. Mas o conteúdo é apelativo, tem emoção, e essa emoção é a isca que fará com que a desinformação seja compartilhada.
A mentira tem apelo emocional
No Brasil, o
WhatsApp é o principal veículo de divulgação de desinformação. Isso acontece
porque o usuário continua recebendo mensagens nesta rede social mesmo que
esteja sem pacote de dados. A pessoa recebe uma mensagem/vídeo apelativo como,
por exemplo: mulher chorando, sem identificação de nome e local, dizendo que
foi agredida por militante de partido político de esquerda e que ainda foi
roubada, ela pede justiça e pede que o vídeo seja compartilhado. Esse é um caso
típico, não informando onde o caso aconteceu, o vídeo pode ser utilizado em
todo o país, porque pode ter sido em qualquer lugar. É perfeito. Tem emoção e
tem uma vítima indefesa. O que fazer?
Já sabemos
que esse vídeo tem elementos comuns de uma fake news. Mas, se houver dúvida,
podemos checar. Primeiro, “jogue” essa história no Google pra saber se algum
veículo de imprensa tem essa “história”. Se não encontrar nada, procure nos
sites dedicados a checagem de informações.
Você percebe que precisará, no mínimo, fazer uma busca na web. Se você não tiver internet, não conseguirá fazer. É disso que se valem aqueles que disseminam fake news. Sabem que a maioria das pessoas não irá checar a informação porque não está familiarizada com esse mecanismo ou porque ela não tem internet. Mesmo fakes news que estejam acompanhadas de links, como forma de dar um aparente suporte à mentira, publicam links de sites não respeitáveis, ou links “quebrados”. Na dúvida, ou se você não conseguir checar uma informação, não compartilhe.
As mentiras sofisticadas
Há outras
formas de embrulhar uma mentira para presente. Circula na internet um vídeo de
um suposto diretor científico de um laboratório farmacêutico. Essa pessoa diz
que foi diretor por dois anos da área de pesquisa do laboratório, ele fala
algumas coisas sobre a pandemia e como ela é natural e vai sumir e não
recomenda a vacina contra covid-19.
Esse vídeo
circula desde 2020. O laboratório já desmentiu esse “diretor”, que na verdade
foi um simples funcionário do laboratório, mas o vídeo ainda circula na rede
porque ele tem elementos de credibilidade: uma pessoa vestida com jaleco,
identificada como pesquisador de um laboratório famoso e falando corretamente
sobre a pandemia. Para checar, essa desinformação exige mais trabalho. É
necessário pesquisar no Google e no portal do laboratório. Também há recurso de
fazer pesquisa por tema nos portais de checagem.
Há também as mentiras que se apoiam em algum traço de verdade. São desinformações que se apropriam de algum trecho de texto, áudio ou vídeo para concluir algo completamente diferente. Há, ainda, áudios e vídeos que têm seu tempo alterado para que a voz ou a imagem da pessoa pareça bêbada ou drogada. Também há vídeos que acrescentam elementos à imagem de alguém. Isso aconteceu com Manuela D’ávila, que recebeu “olheiras” e “tatuagens” (de Guevara e Fidel) que a caracterizaram como alguém drogada e de extrema esquerda. Ou seja, uma pessoa perigosa e não confiável.
Sites de checagem
A checagem de um conteúdo exige muita pesquisa, principalmente se ele for novo e ainda não constar do “menu” dos sites de checagem. Abaixo, os principais sites de checagem no Brasil (a maioria trabalha em parceria com portais estrangeiros):
- Agência Lupa
- Aos Fatos
- Fato ou Fake
- Projeto Comprova
Algumas
instituições públicas também têm serviço de checagem, como TSE, Fiocruz, STF e
CNJ. A maioria orienta o interessado por um número de WhatsApp.
* Fátima Sousa é Enfermeira sanitarista, professora associada do Departamento de Saúde Coletiva, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade de Brasília.
* Márcia Turcato é Jornalista e Escritora
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