Por Mariana
Della Barba e Camilla Costa, da BBC Brasil
Uma
análise da atividade dos brasileiros no Twitter durante a onda de protestos que
atingiu o país no mês de junho fornece um "mapa" da intensidade dos
protestos e revela detalhes sobre a mobilização das pessoas por meio das redes
sociais.
Pesquisadores
do Labic (Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura), em Vitória, no
Espírito Santo, analisaram as conexões criadas entre usuários do Twitter nos
principais dias de protesto e as palavras de ordem mais ecoadas na internet.
Os posts
de usuários do Twitter, o segundo site de rede social mais acessado no Brasil,
mostram a pluralidade de temas relacionados aos protestos e a evolução do
debate sobre as manifestações em palavras-chave e hashtags ─ desde
"tarifa" a "Dilma".
As redes
sociais foram consideradas o motor dos últimos grandes protestos de massa em
países como a Turquia, com os protestos contra a destruição do Parque Gezi; a
Espanha, com o movimendo dos indignados em 2011, e nos Estados Unidos, com o
movimento Occupy Wall Street, em 2010.
No
Brasil, boa parte dos atos de protesto foi organizada em páginas de eventos no
Facebook e acompanhada em tempo real por depoimentos, fotos e vídeos postados
no Twitter, pelos celulares dos manifestantes. Em comum, eles tinham hashtags
como #vemprarua e #ogiganteacordou.
"A
emoção gerada nas ruas entra na internet, via celular, e causa comoção,
solidariedade. E isso vai sendo disseminado, contaminando os seguidores de quem
compartilhou ou deu um deu um RT (retweet) na mensagem", disse Fabio
Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do
Labic, à BBC Brasil.
"E
isso fica tão intenso que gera uma mobilização e volta para as ruas, já que
mais gente resolve sair para protestar. Assim, o ciclo recomença. É algo que se
retroalimenta."
Agitação crescente
Gráficos
que mostram o debate no Twitter em torno das tarifas de transporte público em
São Paulo no dia 13 de junho mostram a ativação da rede social minutos antes e
logo após o início do confronto dos manifestantes com a polícia ─ tido como o
episódio que "espalhou" os protestos pelo resto do país.
"O
retrato dessa rede é a genealogia, o momento inicial do conflito no Brasil.
Acho que é a partir daí que se multiplicam as hashtags e o conflito em outros
estados. No momento do confronto, a rede se intensifica e as pessoas começam
dar seus depoimentos e compartilhar depoimentos sobre o que estava
acontecendo", afirma Malini.
Assim que
o confronto começa, os relatos de violência policial ganham a rede na forma de
tweets ─ muitas vezes acompanhados por fotos e vídeos, naquela ocasião,
incluindo manifestantes e jornalistas feridos ─, e a temperatura da discussão
online aumenta.
A partir
do dia 13, segundo Malini, o nome da presidente Dilma Rousseff passa a ser mais
mencionado no site, ao mesmo tempo em que manifestantes e defensores dos
protestos começam a dizer que a luta não era somente por R$ 0,20, mas também
por melhores serviços públicos e contra a corrupção.
No dia 17
de junho, quando aconteceram cerca de 30 manifestações em todo o país, a
análise do Labic já mostra "aglomerados" de pessoas que apoiam e que
criticam o governo federal, além do papel da mídia dentro do debate.
"A
mídia aparece aqui mais como difusora de informações do que associada a um dos
lados. As notícias colocadas no Twitter são compartilhadas por ambos os lados
para enfatizar seus argumentos", explica o pesquisador.
Além de
críticas e defesas do governo, outro grupo de usuários "verbaliza pautas
que os dois grandes grupos (de oposição e apoio ao governo) não mobilizam, como
a questão dos índios e dos grandes projetos de desenvolvimento, a questão da
mobilidade urbana e a crítica aos gastos da Copa".
Celulares
Entre 16
e 19 de junho, a participação no Twitter atinge seu ápice ─ quase 170 mil
perfis participam das discussões. Também no Facebook, segundo um levantamento
da consultoria Serasa Experian divulgado pelo jornal Valor Econômico, a
taxa de participação (perfis de usuários que tiveram atividade) dos brasileiros
chegou a 70%, o terceiro maior índice do ano.
A partir
de então, o levantamento do Labic mostra uma queda acentuada no número de
tweets e de usuários falando sobre protestos. Mas, longe de indicar o fim da
mobilização política, a análise mostra somente que o foco do debate mudou após
a diminuição dos protestos, de acordo com Fabio Malini. "O universo vocabular
tem mudado para (palavras como) assembleia, plebiscito e greve geral."
Um
retrato do papel dos celulares na difusão dos protestos também aparece na
análise do Labic.
Malini
chama a atenção para o fato de que o mapa da distribuição de tweets sobre os
protestos no território nacional ─ feito com cerca de 10% da amostra, que
continha dados de localização ─ tem uma configuração muito semelhante ao mapa
da banda larga no país (Clique e veja aqui),
criado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
"O
acesso à internet 3G era fundamental para registrar e dar visibilidade ao
protesto", diz o pesquisador. "Os movimentos sociais aprenderam que a
internet é estratégica para dar força de comoção às suas lutas. Em compensação,
todo um conjunto de protestos foi eclipsado pela falta de acesso a banda
larga e rede 3G de qualidade."
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