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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Argentina: Desenhos animados explicam ditadura para crianças

Por Marsílea Gombata da Carta Capital online, publicado anteriormente no Pátria Latina
O desenho "A Surpreendente Excursão de Zamba" mescla aventura com história para falar de episódios como a Guerra das Malvinas

Em uma viagem pelo tempo até a ditadura, a principal missão é resgatar o amigo das mãos militares e fazer a democracia voltar ao país com a ajuda das “urnas mágicas”. A ficção dá o tom fantasioso à aventura vivida pelo personagem Zamba, mas o roteiro do desenho animado La Asombrosa Excursión de Zamba (A Surpreendente Excursão de Zamba) tem um contexto amargo do passado argentino: o regime militar que vigorou entre 1976 e 1983.
Voltado para crianças de 6 a 12 anos, a série de animações é uma aposta do canal estatal argentino Paka Paka para ambientá-las a temas geralmente relegados aos livros de história nas salas de aula. Além do capítulo sobre a ditadura, entram no repertório episódios emblemáticos como a Guerra das Malvinas, no qual um soldado argentino explica ao pequeno Zamba que “há países que se sentem os reis do mundo” ao se referir à Grã Bretanha.
Zamba convida as crianças a fazerem perguntas e refletirem sobre o que veem”, explica Cielo Salviolo, ex-diretora e atual consultora do canal Paka Paka. “São temas mais complexos, que não são contestados muito nas escolas, mas que quisemos contar em um formato mais atrativo e inovador para as crianças”, explica ela sobre a estética de videogame presente na animação - que até agora possui 14 capítulos.




No episódio sobre a ditadura, o menino José, cujo apelido é Zamba, tem contato com o regime militar durante uma excursão à Casa Rosada. Ainda dentro da sede de governo, seu amigo desaparece e, ao dizer que precisará voltar no tempo para resgatá-lo, o busto que remete ao classicismo e representa a “República” explica que a ditadura começou em 1976 com os militares tomando o poder e “disseminou o terror por todo o País”. Zamba precisará voltar à “época mais escura” da história argentina para ajudar seu amiguinho, mas sem a “República” por lá para defendê-lo. Depois do contato com os militares – que falam ao telefone com os EUA para garantir que o “plano de ditadura em toda a América Latina será um êxito” – Zamba é detido, mas consegue sair vitorioso com com a ajuda das urnas eleitorais, símbolo das eleições diretas. No final do episódio, Zamba, seus amigos e até mesmo as “Mães de Maio” celebram o fim do período repressor.


Regionalismo. 
Além de resgatar passagens da história argentina, o desenhos traz características comuns a qualquer criança – como o sonho de ser astronauta – e uma série de elementos regionais. No início de cada capítulo, o protagonista explica que vive na cidade de Clorinda, na província de Formosa, e que sua comida preferida é o chipá, cuja massa é semelhante ao nosso pão de queijo. Ele tem como animal de estimação uma capivara, e na escola interage com outras crianças e com a professora, que veste o clássico avental branco.
O projeto, explica Cielo, surgiu pela necessidade do Ministério da Educação em fazer um desenho pensado para meninos e meninas argentinas. “Temos um problema comum a todos os países da América Latina. Tínhamos nos canais daqui produções feitas nos EUA para México, Brasil, Argentina. O ministério resolveu apostar em uma produção nacional como política de educação e cultura para as nossas crianças”, conta. O canal funciona desde 2010. Para alcançar a verossimilhança com o universo argentino, a produção conta com a supervisão de historiadores e educadores.
Desde que começou a produzir e distribuir as animações nas escolas públicas do país, o canal estatal se viu envolto em polêmicas e críticas. Historiadores e sociólogos acharam precoce tratar determinados temas entre os pequenos. Alguns condenaram a “versão oficial” contida na animação, feita pela produtora Perro en la Luna e dirigida por Sebastián Mignona.

Os produtores rebatem as críticas. “Na verdade, mostramos que é possível contar uma história de maneira divertida e reflexiva. E isso sempre gerará polêmica”, avalia Cielo. “Mas o importante é não subestimarmos as crianças e lembrarmos que elas também são capazes de compreender os processos históricos.”

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