Temos um problema anterior e um posterior.O anterior é sobre a exigência do diploma. O STF decidiu, então não é mais problema.
O problema posterior é essa decisão.
Quanto ao anterior, o defunto, vale dizer que um dos motivos de dar no que deu é que faltou à Fenaj e aos sindicatos a coragem de promover, de fato, um grande debate nacional sobre a profissão. As discussões ficaram entre os iguais, os mesmos, os que defendiam o diploma. Então não era debate - era encontro de iguais. Mas a Fenaj e etc. diziam que estavam fazendo o debate público. Público? Conversa.
Na verdade, eu penso maior. Pensei maior: por que não foi deflagrado um grande debate nacional com a população sobre a prática do jornalismo? Porque a única coisa que os sindicatos, o nosso do DF, inclusive, defendia era ocorporativismo. Qualidade de jornalismo não vale.
Nesse momento em que está tão clara a mediocridade do jornalismo nos grandes meios, por que isso não foi feito? Por que deixou isso a cargo de alguns espaços menores (no sentido de alcance, claro), como o “Observatório daimprensa” ou a “Campanha contra baixaria na TV”?Porque a Fenaj e sindicatos não estão preocupados com o jornalismo, mas com o corporativismo. Com oburocratismo institucionalizado. Se o jornalismo é tão importante assim para sociedade como dizia a Fenaj, porque não discutiu isso com a sociedade?
Vários autores (Wolf, Traquina e Vuton, são os que lembro agora) falam que o jornalista está se lixando para o seu leitor. Olha o que eu disse? Sabe a frase ridícula daquele deputado? É quase a mesma coisa.
A questão é: nós jornalistas pouco estamos nos lixando para o nosso público? Creio que sim. Não eu, claro. Emais outros e outros. Mas a maioria é assim mesmo.E agora?Agora que o diploma caiu vamos defender o que? Que médico precisa de diploma, advogado idem... Então jornalista também? Mas por quais razões? Éticas? Conversa: a prática de um jornalismo ético não é questão de academia.
Diploma não dá honestidade a ninguém (parodiando um samba famoso). Qualidade? Pode ser. Mas aí o mercado é que vai selecionar. Pelo menos no que se entende por qualidade hoje. Muito bem. Perdemos o bonde. Fenaj e sindicato ficaram defendendo o corporativismo, os umbigos, quando poderiam defender a profissão, a atividade, a missão do jornalista.
A Fenaj já divulgou nota dizendo que não morreu. Acho que ela morreu antes. Morreu ao defender a institucionalidade.Quanto aos anos de luta da categoria. A história já me ensinou que isso não quer dizer nada. As grandes conquistas do jornalismo não estão no salário, mas nos bons trabalhos feitos por bons profissionais - isso éque dá valor á profissão. Ver um bom trabalho. Encontrar um jornalista que não se vendeu. A luta salarial é importante. Mas é pequena. Isso não garante qualidade e muito menos honestidade nojornalismo. E é isso, insisto, que dá valor a profissão. O resto é confundir com qualquer outra atividade -pelo bem e pelo mal.
Mas a Fenaj acha que um bom jornalista é aquele que tem diploma...A Fenaj e os sindicatos sustentaram a luta pela burocracia, pelo atrasado, e perderam. Poderiam ter avançado, aproveitado a circunstância para lutar por algo maior. Mas não; ficaram ao rés do chão. Há cerca de um ano sugeri: vamos transformar os sindicatos - sem perder de vista algumas outras batalhas - numa ouvidoria da sociedade. E qual foi a resposta dos tais: o silêncio. É possível que não tenham entendido. Afinal, como disse, para estes o povo que se lixe.
E vocês viram quantas barbaridades a imprensa (o jornalista!) tem cometido nesses últimos anos? Jornalistas picaretas (formados ou não) sujaram a nossa categoria com matérias vagabundas e a Fenaj e os sindicatos fizeramo quê? Nada. Nada.
Eu, como tantos e tantos outros jornalistas honestos, que erram, mas tentam acertar, mas não nos confundimos com os picaretas, não fomos protegidos pelas entidades. Sabe por quê? Porque a violência desses jornalistas não nos atinge, mas somente a sociedade! Agredir a sociedade pode! E o que a Fenaj e sindicatos aprenderam com isso? Nada. Nada. Nada.
Amanhã vão continuar com a mesma briga pelo diploma. Quanto à qualidade do jornalismo, isso é o de menos. Agora o barco afundou. Mas atenção, o barco que afundou foi o da exigência do diploma e não o jornalismo.
Ainda continuo brigando porbons cursos universitários, por boas formações, por um bom jornalismo (honesto, decente, investigativo, quepense no todo...). Talvez os sindicatos se acabem. Mas o jornalismo não acabou! Não se esqueçam disso.
E os bons cursos também não devem acabar. Por vários motivos. Entre eles o mercado. Porque as empresas decomunicação vão continuar pedindo a todo trabalhador (de faxineiro a engenheiro de segurança) a qualificação. E ela vai valorizar aquele que tiver cursos e experiências; isto é, quem tem diploma sai na frente. Isso vale para qualquer profissão. Não garante a ética e a honestidade da profissão – como o diploma não garantia – mas garante o emprego.
Dioclécio Luz é jornalista e mestrando da UnB, autor dois livros sobre rádios comunitárias.
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