Como definir a imensa variedade de pessoas envolvidas no que se convenciona chamar por “blogosfera”? Qual a sua presença no cenário político brasileiro e mundial? Qual o seu nível de enfrentamento contra a informação divulgada pela mídia corporativa? E, mais ainda, qual o real peso das chamadas novas mídias, ou mídias sociais, nos protestos que ganham o mundo e até o momento pedem por mais democracia?
Por certo, o I Encontro Mundial de Blogueiros Progressistas trouxe algumas chaves para enfrentar as questões relacionadas a essas transformações nas sociedades. Blogs, vídeos no youtube, convocatórias para marchas e atos via twitter e facebook tiveram expressão nas revoltas árabes, no movimento dos indignados da Espanha, em Wall Street, no Chile.
No caso brasileiro, de acordo com Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, a conformação de uma blogosfera teve uma particularidade, pois obteve uma certa organicidade, respeitando a diversidade. Para chegar a este encontro, ele afirma, aconteceram dois encontros no Brasil, além de 14 encontros estaduais e 2 regionais – muitos deles reunindo um público de mais de 300 pessoas. Realizado em Foz do Iguaçu, no Parque Tecnológico Itaipu (ITI), nos dias 27, 28 e 29 de outubro, a etapa mundial reuniu 468 ativistas digitais, entre militantes, jornalistas, acadêmicos de 23 países e 17 estados brasileiros.
Na definição de Borges, trata-se de um movimento que deve evitar qualquer tipo de verticalidade. “É um ativismo muito individual também, que se quiser cumprir alguma estrutura hierárquica, na minha opinião explode”, analisa. No entanto, passa a cumprir uma função importante ao se vincular cada vez mais aos movimentos sociais, suas lutas. “Cresce se os movimentos sociais usarem como a sua arma de construção. Esse casamento de blogueiros, ativistas digitais com os movimentos sociais ele é fundamental”, vaticina. No encontro, houve a participação dos movimentos social e sindical, caso da turma do curso latino-americano da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).
O repórter da revista Carta Capital, Leandro Fortes, define que as novas ferramentas digitais ampliam a relação do comunicador com o leitor, que já não é apenas uma relação passiva. “Estranhos entraram numa seara que era só dos jornalistas, a blogosfera e movimentos sociais tiraram a exclusividade dessa informação”, afirma.
Ao final do encontro, além de uma carta final posicionando-se pelas bandeiras de democratização da comunicação, acesso à banda larga e neutralidade da rede, entre outros pontos, foi aprovada a realização do II Encontro Mundial de Blogueiros, em novembro de 2012, na cidade de Foz do Iguaçu.
Ferramentas no mundo
O encontro recebeu blogueiros/ativistas diretamente ligados aos movimentos de protestos que toma conta do mundo árabe – onde, em reação, quatro países chegaram a ter a conexão de internet cortada, como aconteceu no Egito.
O comunicador Ahmed Al Omran narrou que na Arábia Saudita há sinais de mobilização surgindo, embora o ativista digital descarte a possibilidade de um levante popular a curto prazo. Naquele país, mulheres lutam, entre outras questões, pelo direito de dirigir automóveis, mobilização que contou com a convocatória das ferramentas digitais.
No Paquistão, em que pese a repressão e controle que tomam conta do país de cerca de 186 milhões de pessoas, ficamos sabendo, pelo ativista Farhan Janjua, que 10% da população é usuária de internet, uma minoria. Existem 3,4 milhões de blogueiros e um por cento da população usa o twitter.
O que não impede o governo de aplicar a censura e remover vídeos do youtube com denúncias de corrupção. “A mídia social tem provado que fala sobre democracia, sempre se provou uma boa alternativa quando há uma proibição da mídia tradicional”, afirma.
Andrés Conteris há seis anos contribui na construção do site e programa televisivo Democracy Now, em versão latino-americana. De certa forma, Conteris sintetiza o espírito comum a muitos blogueiros presentes ao encontro, do Paraná a Wall Street.
“A democracia participativa é indispensável. Mais além da fachada do que vemos, ela não se pratica nos EUA de verdade, apenas a 'eleitocracia”, denuncia, ressaltando que 2500 pessoas foram presas durante o movimento de ocupação da praça financeira.
Democratização na América Latina
Na América Latina, no período recente, uma das experiências mais significativas de democratização da comunicação ocorreu com a Ley de Medios na Argentina, que define a nova distribuição do espectro radioeletrico naquele país. Com isso, os movimentos sociais têm acesso a um terço do sinal. Trata-se de uma discussão puxada por rádios comunitárias e que contou com ampla participação social, nas ruas, onde cerca de 25 mil pessoas acompanharam a aprovação do projeto de lei.
Na voz de Martin Granowsky, do jornal argentino Página 12, a Lei de Meios representa a conquista da “liberdade de expressão, a conquista das liberdades; é um projeto popular. Os grandes meios influíam na política, e agora estamos fazendo”, diz.
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