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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Jornalistas chineses entram em greve contra censura

Do Opera Mundi*

Quase 100 jornalistas de um dos maiores e mais liberais jornais da China, o Semanário do Sul (Nanfang Zhoumo), entraram em greve nesta segunda-feira (07/01) em protesto contra censura ao veículo e pressão de autoridades. A insatisfação teve início quando o editorial de Ano Novo, que pedia a garantia de direitos constitucionais, foi transformado por oficiais da propaganda chinesa em um elogio ao PCCh (Partido Comunista Chinês).


Reprodução/@wenyunchao
Cartaz da manifestante a favor do jornal diz: "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo"


É a primeira vez em mais de duas décadas que o grupo editorial de um grande jornal iniciou uma greve contra a censura estatal. Em meio a dizeres como “Queremos liberdade de imprensa, constitucionalismo e democracia” e “Liberdade de expressão não é um crime”, centenas de leitores do jornal se reuniram hoje fora da sede da redação em Cantão, capital da província, no sudeste do país.
Reprodução/@aqiang
Protesto contra censura ao jornal atrai centenas de apoiadores perto da sede do Semanário do Sul em Cantão 
Funcionários do jornal escreveram uma carta na semana passada pedindo que o chefe de propaganda da província e ex-jornalista econômico, Tuo Zhen, fosse deposto, inclusive por ser “ditatorial” em uma época de “abertura crescente”.  Outra carta, escrita por proeminentes acadêmicos chineses, também defendia a queda de Zhen e pedia mais liberdade de imprensa.

“O grupo Nanfang [que edita o jornal] está relativamente disposto a falar a verdade sobre a  China, então precisamos defender sua coragem e apoiá-lo agora”, diz à agência Reuters Ao Jiayang, um dos manifestantes. O jovem acrescenta: "Esperamos que por meio disso possamos lutar pela liberdade de imprensa na China. O comparecimento de hoje reflete o fato de que cada vez mais pessoas na China tem consciência cívica".

Outra onda de revolta surgiu por causa do blog do jornal, que publicou neste domingo (06/01), sob a assinatura de editores chefes, que os “rumores online eram falsos” e que o editorial não foi modificado por censura.

Semanário do Sul é conhecido por levar a cabo duras investigações contra o governo e por testar os limites da liberdade de imprensa. O jornal já abordou temas sensíveis, como as condições nas fábricas da Foxconn e a propagação de AIDS em áreas rurais. Apesar disso, e como todos os meios de comunicação, o jornal é supervisionado pelos departamentos de propaganda, que muitas vezes mudam o conteúdo de acordo com a ideologia do partido. Por isso, outros grandes veículos chineses foram forçados a se submeter à linha governamental, isolando-o como opositor.

Já o jornal Tempos Globais, ligado ao órgão oficial Diário do Povo, afirmou em editorial desta sexta-feira (04/01) que “não importa se eles estão contentes ou não, pois com a realidade social e política chinesa, é impossível ter o tipo de meios de comunicação livres como os sonhados. Os veículos não se converterão, de nenhuma maneira, em uma área política especial, e perderão sem nenhuma dúvida caso lutem contra o governo”. O editorial não consta na versão do veículo em inglês.

A polêmica em volta do caso é vista como teste para o PCCh, que trocou de cúpula em novembro passado e apontou como secretário geral Xi Jinping, defensor de um governo mais aberto e que tomará posse como presidente em março. O novo governo já apontou que pretende desmantelar os campos de reeducação, medida há muito exigida por grupos de direitos humanos.

Também está em foco a reação do novo chefe da província de Guangdong, Hu Chunchua, em ascensão na política chinesa e tido como futuro líder do país. A província que governa é a mais liberal e desenvolvida, principalmente por causa da proximidade com Hong Kong, e foi berço do processo de abertura a partir da década de 1970. 
* Com informações da BBC e El País

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