Vamos sonhar um pesadelo irreal e imaginar que o programa Big Brother passasse na TV Brasil. E que os irmãos Roberto Marinho, em vez de donos da Globo, fossem Ministros da Dilma. Como estaria sendo a cobertura da Rede Globo no episódio da investigação de estupro de vulnerável?
O "ministro Roberto Marinho" estaria sendo implacavelmente cobrado pelo "malfeito" à moça, diariamente no Jornal Nacional, e nos outros telejornais.
Willian Bonner levaria ao ar reportagens de 10 minutos ou mais, com:
- reconstituição da cena e simulação em 3D;
- com o delegado falando tudo o que foi cortado na entrevista coletiva;
- com entrevista dos inspetores e peritos que fizeram diligências nos estúdios;
- as entrevistas seriam na porta da emissora, com a logomarca compondo o cenário;
- cenas da polícia entrando e saindo da emissora seriam exibidas com destaque;
- cenas da apreensão da cueca, calcinha, edredom e roupa de cama para perícia também seriam destaque;
- um laudo do perito Molina seria encomendado para atestar o sono profundo da suposta vítima;
- a opinião "em tese" do Dr. Gurgel, do Dr. Peluso ou de Gilmar Mendes seria colhida;
- a opinião do bispo dom Luiz Gonzaga Bergonzini, do pastor Silas Malafaia, e do rabino Henry Sobel iriam ao ar;
- a opinião de médicos sobre o grau de intoxicação alcoólica da moça, com direito a infográfico;
- e, claro, a opinião dos senadores e deputados demos-tucano Álvaro Dias (PSDB/SP), Duarte Nogueira (PSDB/SP) e ACM Neto (DEM/BA).
Na Globonews, mesas-redondas:
o com advogados criminalistas e civis fazendo testes de hipóteses sobre penas, tentativa de obstrução da justiça e ocultação de provas, manter testemunhas e suposta vítima em situação de confinamento controlado por advogados da emissora (haveria quem insinuasse cárcere privado), omissão de socorro, apologia do abuso de álcool, indução a comportamentos sexuais agressivos, indenizações milionárias, ações penais e ações civis cabíveis, danos individuais e danos coletivos, responsabilidade da emissora, do diretor, da produção.
o com especialistas em comunicação, filosofia e ética para atestar violação dos termos da concessão da TV;
o com lideranças e ativistas de movimentos sociais pelos direitos da mulheres;
o com psicólogos e médicos forenses;
o com deputados da oposição;
o com jornalistas da casa para discutir a cobertura pela emissora, ocultando os fatos do telespectador no domingo e no telejornalismo da segunda-feira.
Jô Soares reativaria um "meninas do Jô" especial.
- Lúcia Hippolito atestaria que a moça estaria tão vulnerável quanto ela quando viu o microfone de um tal de Lolito piscando.
- Arnaldo Jabor diria que a emissora expulsou o "brother" por "mau comportamento na suruba".
- Ali Kamel contestaria Boninho e diria que não somos racistas.
- "Bill" Waack diria que até a imprensa internacional ficou indignada.
Todos exigiriam a retirada do programa do ar, punição máxima à emissora, demissão do "ministro Roberto Marinho" e do diretor do programa, etc, etc, etc. Pois se o que se passou no BBB acontecesse na TV Brasil, a TV Globo estaria certa em fazer quase tudo isso aí cima. Mas aconteceu na Globo, e não vemos nem realidade, nem show de notícias, para uma emissora que tem a exclusividade sobre diligências policiais ocorridas dentro de seu estúdio.
O noticiário sobre o fato na Globo é o mínimo necessário para não parecer omissão maior do que já se nota. Parece editado pelo departamento jurídico da empresa, seguindo aquela regra de não produzir provas contra si.
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