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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Para reduzir despesas, Portugal extingue assessoria de imprensa na sua embaixada no Brasil

Com base no Portugal Digital

 Dentre as medidas de corte de gastos para o enfrentamento da crise econômica em que se encontra, o governo português decidiu extinguir o serviço de imprensa que operava em sua embaixada em Brasília e que estava sob responsabilidade do veterano Jornalista Carlos Fino, nome conhecido do Jornalismo Internacional, tendo sido um dos primeiros repórteres a noticiar o bombadeio de Bagdad, quando atuava para a Rádio e Televisão de Portugal.
A decisão portuguesa já trouxe resultados negativos. Pedidos de entrevistas e de informações ficam sem respostas. A extinção do serviço de imprensa e o, consequente cancelamento da contratação de Carlos Fino, que exercia as funções há cerca de seis anos -, gerou uma reação de acadêmicos e jornalistas em todo o Brasil, que decidiram enviar uma carta de protesto ao chefe de Estado português.
É inédita em Brasília a existência de uma embaixada com a importância de Portugal sem o funcionamento de um serviço de imprensa. A medida só contribui para reduzir o já pequeno espaço noticioso concedido pela imprensa brasileira aos temas lusitanos.
Vale ressaltar, que há pouco tempo, a Lusa, agência estatal de notícias, também reduziu seu contingente no Brasil, fechando alguns escritórios.
O noticiário Portugal Digital publicou na íntegra a carta enviada por dezenas de professores, jornalistas e intelectuais brasileiros e portugueses ao governo português em protesto contra a extinção da função der conselheiro de imprensa da Embaixada de Portugal em Brasília 


Exmo. Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas,

O ano de 2012 é estratégico para as relações luso-brasileiras, na medida em que a partir de setembro será celebrado o ano de Portugal no Brasil e vice-versa, momento adequado para o lançamento de bases de uma cooperação cada vez mais permanente que transforme retórica em práticas e atitudes.

Nesse sentido, nós, abaixo-assinados, gostaríamos de contar com a decisão de Vossa
Excelência no sentido de manter a presença do jornalista Carlos Fino à frente das
atividades como Conselheiro de Imprensa na Embaixada de Portugal em Brasília.

Uma eventual saída de Carlos Fino, agora, precisamente quando se prepara aquele
evento, poderia colocar em risco uma série de esforços e articulações, umas já em curso, outras em começo de projeto, promissoras de impactos humanos, científicos e económicos positivos no relacionamento entre os dois países.

Ao longo dos últimos sete anos, pudemos testemunhar o esforço de Carlos Fino em abrir espaço para a relação luso-brasileira nos órgãos de comunicação social, destacando sua atividade na assessoria da imprensa e na série de programas "Lá e Cá", trabalho realizado em parceria da RTP com a TV Cultura, que tem plenas possibilidades de prosseguir, agora numa nova série em acordo com a TV Brasil.

Cumpre relatar também que, como atestam os jornalistas que recorreram à Embaixada em busca de informação, é importante destacar a eficiência, o profissionalismo e a extrema correção com que ele sempre desempenhou sua tarefa. Na prática, isso também colaborou para o aprofundamento das relações bilaterais, na medida em que os meios de comunicação passam a veicular mais informações e abrir mais espaço sobre Portugal.

Ademais, são incontáveis as colaborações de Carlos Fino ao intercâmbio entre Brasil e Portugal, por meio de sua presença em encontros audiovisuais (a exemplo do Festlatino, em Pernambuco), eventos acadêmicos (LUSOCOM, em São Paulo), palestras, cursos (como o por ele realizado na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro e também em São Paulo, na Bienal Internacional do Livro e sob os auspícios da Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa - FJLP) promoção de acordos de cooperação e participação em debates com estudantes, pesquisadores e professores de graduação e pós-graduação de prestigiosas instituições de ensino brasileiras, tais como, entre outras, Universidade de Brasília, Universidade Católica de Brasília, Universidade de Fortaleza, Universidade de São Paulo, Itaú Cultural, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, e portuguesas como Universidade do Minho, Universidade Lusíada, Universidade de Coimbra, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade Portucalense.

Sabemos que o momento econômico português exige medidas de contenção que
sacrificarão necessariamente muitas iniciativas e comprometerão muitos planos
anteriormente definidos. No entanto, julgamos que, mesmo neste contexto, a ligação de Portugal ao Brasil deve não só ser protegida como até fortalecida. Numa altura em que as notícias dão abundantemente conta da intensificação dos fluxos de emigração de Portugal para o Brasil, apelamos à especial sensibilidade do Governo Português, no sentido de, com este gesto, encorajar uma relação entre dois países a que não faltam razões para reforçar os seus laços.

São motivações de ordem histórica, económica, política e simbólica que fundamentam o nosso entendimento de que a presença de Carlos Fino em Brasília, pelo menos até ao termo do Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal, se traduziria em ganho efectivo para ambos os países, em termos de visibilidade, ação e promoção de uma cooperação cada vez mais alicerçada e com resultados que podem ser aferidos.

Encerrar o posto de conselheiro de imprensa na embaixada e afastar uma pessoa que desfruta de reconhecido prestígio junto dos media e dos meios universitários da comunicação no Brasil, e que, além disso, tem dado provas de grande empenho no fomento das relações bilaterais, não será certamente, Senhor Ministro, a melhor forma de começar o Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal.

Estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos.

Com os melhores cumprimentos,

Prof. Dr. Fernando Oliveira Paulino

Faculdade de Comunicação

Universidade de Brasília


Os signatários

1) Fernando Oliveira Paulino, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB)
2) Vera Souto, jornalista, Editora -TV Globo
3) Rogério Santos, professor da Universidade Católica Portuguesa
4) Madalena Oliveira, professora da Universidade do Minho
5) Giovana Teles, jornalista
6) Moisés de Lemos Martins, presidente da Associação Portuguesa de Ciências da
Comunicação (SOPCOM), e também da Federação Internacional de Comunicação
Lusófona (LUSOCOM)
7) Dad Squarisi, jornalista
8) Laurindo Leal Filho, professor da Universidade de São Paulo
9) Zélia Leal Adguirni, professora da Universidade de Brasília
10) Lúcio Flávio Vale da Silva, Coordenador Externo da Escola Internacional de Futebol
da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - EIF-CPLP-FEF-UnB
11) Humberto França, vice-presidente para Relações Internacionais da Fundação
Biblioteca Brasileira de Nova York e Presidente e fundador do Movimento Festlatino
12) Ricardo Noblat, jornalista
13) Francisco Câmpera, repórter da TV Bandeirantes
14) Samy Leal Adguirni, repórter da Folha de S. Paulo, correspondente em Teerã
15) Paulo Markun, jornalista
16) Antonio Hohlfeldt, Presidente da INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação
17) Dione Moura, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília
18) Luiz Martins da Silva, prof. da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília
19) Viviane dos Santos Brochardt, mestranda da Faculdade de Comunicação da
Universidade de Brasília
20) Guiomar de Grammont, professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais
21) Pedro Rafael Vilela Ferreira, mestrando da Faculdade de Comunicação da
Universidade de Brasília
22) Luana Spinillo Poroca, mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília
23) Rodrigo Garcia Vieira Braz, doutorando da Faculdade de Comunicação da UnB
24) Eduardo Hollanda - Revista Brasileiros - Editor Especial
25) Márcia Marques, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade de
Brasília
26) Roberto Petti, Gestão de Direitos e de Beneficiamento de Conteúdo TV Globo
27) José Carlos Torves, Diretor executivo da Federação Nacional de Jornalistas
28) Rolemberg Estevão de Souza, Conselheiro da Carreira de Diplomata do Ministério das Relações Exteriores
29) Sylvia Moretzsohn, professora de jornalismo na Universidade Federal Fluminense (Niterói/RJ)
30) Leyberson Lelis Chaves Pedrosa, jornalista e mestrando em Comunicação Social pela Universidade de Brasília.
31) José Eduardo Barella, jornalista
32) Paulo Caruso, Revista Época e Fundação Padre Anchieta - TV Cultura , São Paulo
33) José Brandão Coelho, Presidente Honorífico,Câmara de Comércio Brasil Portugal-Paraná
34) Sérgio Dayrell Porto, professor da Faculdade de Comunicação da UnB
35) Alfredo Prado, jornalista, diretor dos portais Portugal Digital e África21 Digital
36) Kátia Cubel, jornalista, presidente do Prêmio Engenho de Comunicação – O Dia em que o Jornalista Vira Notícia
37) Carlos Manuel Pedroso Neves Cristo, Diretor da "Flecha de Lima Associados"
38) Alexandre Jorge Cavalcanti Ayres, médico do Hospital Universitário de Brasília
39) Humberto Netto, Assessor de Imprensa da Delegação da União Europeia no Brasil
40) Alcimir Antonio do Carmo, secretário executivo da Federação dos Jornalistas de
Língua Portuguesa – FJLP
41) Osvaldo Ferreira, Maestro Titular - Orquestra Sinfônica do Paraná, Programador
Musical - Allgarve 2011, Director Artístico - Oficina de Música de Curitiba
42) Ana Elisa Santana, jornalista e funcionária da TV Escola
43) Carlos Alberto Ribeiro De Xavier - Assessor Especial do Ministério da Educação
44) Manuel Fernando Lousada Soares, Diretor da LS – Net, Ex Secretário de Estado
Adjunto de Tecnologia Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
45) Liziane Guazina, Professora da Faculdade de Comunicação da UnB.
46) Ana Lúcia Prado Reis dos Santos, professora da Universidade da Amazônia, Belém-Pará e doutoranda da Universidade Fernando Pessoa, Porto-Portugal.
46) Victor Gentilli, jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo
47) Rogério Christofoletti, professor da Universidade Federal de Santa Catarina
48) Luiz Egypto de Cerqueira, jornalista, redator-chefe do Observatório da Imprensa (Brasil)
49) Ray Cunha, escritor e jornalista
50) Fábio Henrique Pereira, professor da Faculdade de Comunicação da UnB.
51) Flávia Rocha, jornalista
52) Walter Guimarães, jornalista
53) Paulo Victor Chagas, estudante e extensionista do Programa Comunicação
Comunitária
54) Emily Almeida Azarias, estudante de Comunicação da Universidade de Brasília
55) Luiz Motta, professor da Faculdade de Comunicação da UnB, ex-secretário de
Comunicação do Distrito Federal
56) Francisco Sant'Anna, jornalista, editor responsável do programa Diplomacia da TV Senado.
57) Lúcia Helena Alves de Sá, Presidente da Associação Casa Agostinho da Silva
58) Amândio Silva, Presidente da Associação Mares Navegados
59) Silvestre Gorgulho, Jornalista e ex-secretário de Estado de Cultura do Distrito Federal
60) Mariana Martins de Carvalho, doutoranda do Programa de Pós Graduação da
Universidade de Brasília

Um comentário:

Cláudia Guerreiro disse...

Simplesmente absurda esta medida. Quem vai à frente das políticas portuguesas desconhece a importância e o significado de um assessor de imprensa para uma embaixada estratégica como a brasileira. Todos perdemos, mas, sobretudo, perde Portugal assim como os esforços de aproximação entre dois países umbilicalmente ligados, porém desconhecidos um do outro.

Cláudia Guerreiro
E-correspondente da Agência Lusa em Brasília