Como a imprensa trata editorialmente a temática racismo quando tratada no parlamento brasileiro? A resposta está nos resultados da pesquisa
“Parlamento e Racismo na Mídia”, lançada em 20/3, pelo
Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e a pela Andi: comunicação e
direitos traz um retrato da cobertura jornalística sobre a questão racial. O
estudo avaliou 401 matérias jornalísticas que vinculam a questão do racismo ao
Parlamento de 45 jornais diários, sendo cinco de abrangência nacional e 40
regionais/locais.
O
jornal A tarde, da Bahia, se destacou como o veículo que mais puxa o debate
sobre parlamento e racismo na mídia no País. O jornal publicou 51 textos (12,7%
do total de notícias analisadas). Em seguida ficaram os veículos de abrangência
nacional: O Estado de S. Paulo, com 46 textos (11,5%); o Correio Braziliense,
com 32 (8,0%), O Globo,com 25 (6,2%), a Folha de S. Paulo, com 19 (4,7%) e o
Jornal do Brasil, com 16 (4,0%).
Segundo
Eliana Graça, assessora política do Inesc, o mais importante não é a quantidade
das matérias que o jornal publica sobre a temática, mas a qualidade das
informações. “O jornal A tarde surpreende por conquistar a melhor posição em
quantidade de matérias e por ser um dos que mais abriram espaço para lideranças
que afirmavam a existência da discriminação racial contra a população negra. Do
outro lado, temos O Estado de S.Paulo que apesar de estar em segundo no quadro
de quantidade se destacou negativamente ao empalidecer a ideia de uma sociedade
marcada pelo racismo”, afirma.
Racismo
O cenário da falta de representação
do/a negro/a no parlamento já é desolador. Embora representem mais de 50% da
população brasileira, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de 2010, os/as negros/as são minoria no Parlamento
brasileiro, representando menos de 10% do total de parlamentares. De acordo com
levantamento realizado pela União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), dos/as 513
deputados/as federais, somente 43 se reconhecem como negros/as. Dos/as 81
senadores/as, apenas dois são negros/as.
Se por um lado existe uma ausência dos
negros/as no legislativo, a pesquisa demonstra também a dificuldade da mídia em
tratar o tema racismo. Mais da metade dos 401 textos analisados (56,1%) não
menciona o conceito de racismo. As notícias afastam-se do debate histórico,
filosófico, sociológico e antropológico sobre o fenômeno, ainda que abordem
mecanismos de combate ao racismo (tais como cotas e legislação na área).
Embora parte significativa das
notícias (35,4%) admita a existência do racismo, a grande maioria (83,4%) do
noticiário trata de maneira geral a questão da igualdade/desigualdade racial, o
que não é o mesmo que tratar de racismo.
Principais temas
abordados
A pesquisa também
aponta que as temáticas mais abordadas pelo noticiário sobre Parlamento e
Racismo na Mídia foram a política de cotas para ingresso de negros em
instituições do ensino superior (23,2% de todos os textos) e as comunidades
quilombolas (14,5% do total de notícias).
O estudo também
traz uma seção especial, que aborda 74 textos, capturados nos dois dias
subseqüentes à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial na Câmara dos Deputados
e no Senado Federal. O objetivo foi examinar o comportamento da imprensa escrita
brasileira em relação ao processo de construção e aprovação da lei nas duas
casas legislativas.
Saiba
mais sobre a pesquisa: A
pesquisa tem o intuito de alimentar o debate em torno da sub-representação
política dos/as negros/as e de identificar como esse segmento participa do
noticiário sobre racismo e igualdade racial publicado pela imprensa no Brasil.
Ela analisa 401 textos jornalísticos selecionados do universo de 1.602 matérias
da pesquisa Imprensa e Racismo, desenvolvida anteriormente pela Andi.
As matérias são de 45 veículos, sendo cinco de abrangência
nacional e 40 de abrangência regional/local. Veja a pesquisa completa aqui
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