Um canal de TV conhecido por reportagens investigativas agressivas está à beira de ser fechado depois que legisladores israelenses rejeitaram um pedido para adiar suas pesadas dívidas - um movimento que críticos veem como a mais recente salva em uma campanha para amordaçar a imprensa, perseguir grupos liberais e tornar as cortes mais amigáveis aos governantes nacionalistas.
Os principais jornalistas de Israel recentemente se reuniram para uma conferência de alerta do que chamam de uma blitz antimídia pelo governo linha-dura. A ação incluiu nomeações políticas para o sistema de radiodifusão pública de Israel, a marginalização de críticos proeminentes e legislação antidifamação que poderia coibir o trabalho de repórteres investigativos.
Nesta atmosfera, o Canal 10, uma das duas estações de TV comerciais de Israel, está na iminência de sair do negócio e deixar o país com apenas um canal que tem noticiário independente.
O Canal 10 tem enfrentado dificuldades financeiras ao longo dos seus dez anos no ar, acumulando perdas de mais de US$ 340 milhões. Com seus proprietários principais recentemente cortando financiamento, a estação pediu ao Parlamento que lhe concedesse uma extensão de um ano em uma conta de royalties de US$ 11 milhões devido ao Estado até 31 de dezembro enquanto seus acionistas tentam levantar dinheiro.
O comitê financeiro do Parlamento de Israel rejeitou os pedidos nesta semana, com todos os membros da coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu votando contra a extensão.
A estação diz que será forçada a fechar, deixando o rival Canal 2 como o único canal de transmissão privado do país. O Canal 10 enfrentou dificuldades para ganhar participação de mercado desde o início parcialmente porque no início era restrito à transmissão por satélite e por TV a cabo.
Netanyahu não falou publicamente sobre o assunto. Seus aliados dizem que a decisão foi puramente financeira.
- O comitê financeiro não é um fundo de resgate - disse Carmel Shama Hacohen, presidente do comitê. - Estamos interessados em que os espectadores tenham mais de um canal, mas o Canal 10 que necessita de favores não é um canal no qual estejamos interessados.
Os donos da estação de TV são o magnata israelense Yossi Maiman, o produtor israelense de filmes de Hollywood Arnon Milchan e o bilionário americano Ron Lauder, que já teve laços próximos com Netanyahu, mas hoje o relacionamento esfriou. Os homens, cansados de injetar capital em um empreendimento que perde dinheiro, têm se desgastado com a relutância do governo em trabalhar com eles.
Mas executivos da estação, junto com comentaristas na mídia, acreditam que as motivações são mais profundas. Eles dizem que o govenro, que já adiou dívidas para outras companhias em dificuldade, está usando uma tecnicalidade para eliminar a fonte de críticas.
O jornalista veterano Motti Kirshenbaum disse que quando ele viu Shama Hacohen e outros legisladores do partido do governo Likud celebrando após a votação do comitê, ele se convenceu que segundas intenções estavam em jogo.
- Essa é uma manobra política vingativa - disse Kirshenbaum, que apresenta um programa popular no Canal 10. - O canal está em dificuldades e eles viram uma oportunidade de nos pegarem.
Nos meses recentes, a nova divisão da estação tem exibido diversas reportagens investigativas que foram extremamente embaraçosas para o primeiro-ministro.
Raviv Drucker, o principal repórter de política do canal, fez uma reportagem em março sobre os gastos de viagem de Netanyahu e sua mulher no exterior nos dez anos entre seu primeiro e segundo mandato como premier. A reportagem, que acusa Netanyahu de viajar em voos, se hospedar em hotéis caros e ter refeições pagas por ricos associados, levou a uma investigação da controladoria do Estado sobre o assunto. Netanyahu negou as alegações e entrou com um processo contra Drucker que ainda está pendente.
O Canal 10 disse que os funcionários do governo de Netanyahu recentemente insinuaram que o governo facilitaria as dívidas da estação se a TV demitisse Drucker. O gabinete do primeiro-ministro disse que as acusações são "sem fundamento".
O principal parceiro de Netanyahu na coalizão, o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, do partido Yisrael Beitenu, ainda está enfurecido com o canal por exibir um vídeo de um de seus principais ministros entrando na casa de sua suposta amante e saindo na manhã seguinte.
O novo chefe da estação pediu demissão em setembro depois que foi forçado a pedir desculpas por uma reportagem crítica ao magnata dos cassinos americano Sheldon Adelson - um aliado próximo de Netanyahu que também havia ameaçado processar o canal. Adelson é dono do jornal gratuito líder do país, "Israel Hayom, que é solidário com o primeiro-ministro. Ao contrário das estações de TV, os jornais não devem royalties ao Estado.
Yuval Karniel, um especialista em legislação e comunicação no Centro Interdisciplinar Herzliya, uma universidade próxima de Tel Aviv, disse que a desculpa para Adelson foi um divisor de águas porque expôs a vulnerabilidade do Canal 10 e permitiu que os políticos atacassem.
- Não há dúvida de que os políticos identificam o momento no qual eles podem enfraquecer a mídia e deixar que eles saibam quem é que manda - ele disse.
Karniel espera que um compromisso seja alcançado para salvar o canal, que emprega cerca de 550 pessoas, mas disse que isso poderia vir ao custo de mudar o tom de críticas.
- O fato de que os políticos estão batalhando contra a imprensa livre em todos os fronts, tentando enfraquecê-la e impedir as críticas - isso é um perigo real para a democracia - ele disse.
A batalha da imprensa surge enquanto leis avançam sob o governo de Netanyahu que críticos acusam de tentar sufocar o pluralismo.
Entre as leis estão aquelas que dariam ao Parlamento mais influência quanto à escolha dos juízes da Suprema Corte e dramaticamente limitam o financiamento estrangeiro de organizações não governamentais.
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