O jornal britânico The Guardian divulgou nesta semana documentos que comprovam que o principal grupo midiático do México, a Televisa, fez campanha para projetar a candidatura do conservador Enrique Peña Nieto, do PRI, e para desgastar Manuel López Obrador, do PRD de centro-esquerda. A reportagem reforça os protestos de rua contra a manipulação da mídia nas vésperas da eleição presidencial.
Estratégia para detonar o "esquerdista"
Os documentos também explicitam a estratégia do império midiático para ocultar e atacar o candidato “esquerdista”. Uma das ações propõe “desmanchar a percepção pública de que López Obrador é um mártir e salvador”. Até um programa de sátiras, "El Privilégio de Mandar", teria recebido instruções para representar o líder de esquerda como “desajeitado e incompetente”.
O plano de marketing teria sido elaborado pela empresa Radar, que pertence ao vice-presidente da Televisa, Alejandro Quintero. Diante da grave denúncia, o império midiático divulgou comunicado negando a reportagem do jornal britânico. Já o comando de campanha de Peña Nieto se apressou em afirmar que “nunca existiu contrato desse tipo durante seu mandato de governador”.
Protestos contra o golpismo midiático
Mas parece que muitos mexicanos já não acreditam mais nas manipulações da Televisa. Nos últimos dias, mobilizados pelas redes sociais, jovens realizaram vários protestos de rua contra a cobertura eleitoral do império midiático – que controla dois terços da programação dos canais abertos do México. E as últimas pesquisas indicam uma guinada à esquerda nas eleições presidenciais.
A pesquisa mais recente, do jornal Reforma, aponta uma disputa apertada. Lopes Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), saltou de 27% para 34% das intenções de voto; Peña Nieto, do PRI, caiu de 42 para 38%; e Josefina Vázques, do governista PAN, despencou para 29 para 23%. As eleições presidenciais, marcadas para 1º de julho, podem resultar numa derrota das forças conservadoras, aliadas incondicionais dos EUA e adeptas do neoliberalismo, e da mídia manipuladora.
Risco de novas fraudes
Mas, como alerta o sociólogo Emir Sader, “a direita fará tudo para impedir que isso aconteça... O processo eleitoral mexicano é especialmente deformado, porque não há segundo turno e o presidente tem mandato de seis anos, mesmo que ganhe com evidências de fraude, como foi o caso de Calderon. A disputa final deve ser acirrada. Se Lopez Obrador não conseguir abrir uma vantagem significativa, pode ser vítima, novamente, da fraude que lhe tirou a presidência há seis anos. O grande fator de mudança a seu favor vem das belas manifestações estudantis, a que se opõem as campanhas de difamação da velha mídia mexicana”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário