BRAÇO DE
NEGÓCIOS DA EDITORA DE ROBERTO CIVITA, A REVISTA EXAME CONDENA A “MÃO PESADA”
DA PRESIDENTE DILMA EM SETORES COMO BANCOS, AUTOMÓVEIS, ENERGIA E ATÉ HOTÉIS; PLANALTO
SERIA EXCESSIVAMENTE INTERVENCIONISTA, COMO SE DILMA SEGUISSE MAO OU STÁLIN; A
POPULAÇÃO, PORÉM, ESTÁ FELIZ
Em reportagem de capa, a edição desta quinzena da revista Exame, braço de economia e negócios da Editora Abril, faz um contundente ataque à política econômica adotada pela presidente Dilma Rousseff. Intitulada “A mão forte da economia”, a reportagem defende uma mudança de rumo urgente. E diz ainda que Dilma, ao suceder Luiz Inácio Lula da Silva, subiu alguns degraus numa política intervencionista que já vinha crescendo desde a chegada do PT ao poder, em 2003.
Numa retranca à parte, Exame lista ainda os setores onde esta “mão pesada” estaria mais presente. E faz uma provocação ao estilo duro da presidente ao dizer que “grito não resolve”. De acordo com a publicação de Roberto Civita, o intervencionismo estaria se manifestando, por exemplo, no setor bancário, onde instituições públicas, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, vêm sendo usadas para induzir bancos privados a também reduzirem seus spreads. Outro exemplo seria o do setor hoteleiro, onde, graças à intervenção do governo federal, foi possível reduzir as tarifas que seriam cobradas na Rio+20 – várias comitivas internacionais estavam decidindo não vir ao Brasil, em função dos preços.
Exame menciona ainda o setor automobilístico, afirmando que o governo brasileiro tem a intenção de forçar as montadoras a baixar os preços dos carros no Brasil – que, por sinal, são os mais caros do mundo, e não se cansam de receber incentivos tributários. Outro exemplo de “mão pesada” seria a energia elétrica, onde, para substituir a espanhola Iberdrola, que está de malas prontas, o governa tenta fazer com que seus negócios em distribuição de eletricidade sejam assumidos por um grupo brasileiro – e não por uma empresa chinesa.
Estado versus mercado
A discussão sobre mais ou menos intervenção na economia existe há séculos. E é inegável que, desde a crise financeira de 2008, o pêndulo tem se virado na direção mais Estado – e menos mercado. O que não significa que a adoção de políticas de um “capitalismo de Estado” devam ser permanentes.
No entanto, o Brasil tem hoje a oportunidade de corrigir distorções em sua economia. Como o país ficou, de certa forma, protegido em relação à crise internacional e tem a menor dívida pública de sua história (35,7% do PIB), há espaço, sim, para reduzir impostos e exigir contrapartidas do setor privado. No caso dos automóveis, por exemplo, se há tantos incentivos, por que os veículos continuam tão caros? Na energia e nas telecomunicações, Dilma já solicitou estudos aos ministros das respectivas áreas para que apontem o impacto de eventuais reduções tributárias nas tarifas. Afinal, por que razão o Brasil deve ter as contas de energia e telefone mais altas do mundo, e serviços tão precários?
O caso dos bancos, então, é evidente de uma distorção que persistia há décadas na economia brasileira, com taxas mais próximas da agiotagem do que da intermediação financeira.
O que Exame classifica como “mão pesada”, na verdade, é apenas uma tentativa de aproximar o Brasil do resto do mundo. Não há nenhuma razão para que tudo aqui seja tão caro – e muitas vezes ineficiente. E a população, ao que tudo indica, aprova.
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