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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Documentos dos EUA apontam que Roberto Marinho (Rede Globo) foi principal articulador da Ditadura Militar





Por Wagner Francesco*, publicado originalmente em JusBrasil.


Em telegrama ao Departamento de Estado norte-americano, embaixador Lincoln Gordon relata interlocução do dono da Globo com cérebros do golpe em decisões sobre sucessão e endurecimento do regime.



No dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública. A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão golpista.
Documentos dizem que Roberto Marinho Rede Globo foi principal articulador da Ditadura MilitarSegundo relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou renovação do mandato do ditador Castelo Branco.
No início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.
No encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça. Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de jornais.
Documentos dizem que Roberto Marinho Rede Globo foi principal articulador da Ditadura MilitarNo dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.
Lincoln Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho.
O histórico de apoio das Organizações Globo à ditadura não dá margens para surpresas. A diferença, agora, é confirmação documental.
Wagner Francescoteólogo e acadêmico de Direito.
Página no Facebook: https://www.facebook.com/escritor.wagnerfrancesco

sexta-feira, 29 de março de 2013

TV Cidade Livre de Brasília debate Golpe Militar de 64

Enviado por Beto Almeida

A TV Cidade Livre de Brasília,  canal 8 da Net, vai debater o Golpe de 64, que neste domingo completa 49 anos. O programa , ao vivo, contará com as presenças do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-Ministro do Governo Lula, do Embaixador Arnaldo Carrilho ( foi representante do Brasil na China e na Coréia do Norte), e do jornalista e escritor Leite Filho, autor , entre outros, dos livros "Quem Tem Medo de Hugo Chávez?" e  "O Caudilho - Perfil Biográfico de Leonel Brizola". 
 
 O debate será ancorado pelo jornalista Beto Almeida, diretor da Telesur e tem por objetivos extrair lições daquele golpe de estado para a atualidade, especialmente porque as forças mais conservadoras da sociedade que, naquela época, se organizaram para interromper violentamente as reformas que o Brasil realizava, agora, também, se organizam com o intuito de travar, impedir e paralisar o processo de transformações que  o país experimenta deste a eleição de Lula, processo continuado pela eleição de Dilma Roussef à presidência.
 
Um olhar especial será lançado sobre o papel golpista desempenhado pelos meios de comunicação que, em 1964, participaram editorial e praticamente da organização política do golpe ditatorial,  sustentando suas  trágicas consequências para a vida política nacional, a destruição da vida democrática, a asfixia da arte e da cultura, o esmagamento dos sindicatos e das organizações estudantis, a entrega das riquezas nacionais aos poderes externos.
 
Hoje, quando o Brasil volta a priorizar o atendimento das legítimas reivindicações de sua população mais pobre, quando amplia os direitos trabalhistas, quando redistribui a renda nacional e valoriza o salário, quando pratica uma política externa soberana e pautada pela integração solidária com os povos que lutam por um mundo de cooperação, registram-se movimentos em segmentos conservadores, políticos e midiáticos, sempre em sintonia com os poderosos interesses imperiais, visando desestabilizar e  intimidar o governo de Dilma Roussef.
 
O programa  terá início as 11 horas da manhã e pode ser captado pelo Canal 8 da Net pelos assinantes de Brasília. Pela internet, o programa poderá ser assistido pelo site da TV Cidade Livre que é   www.tvcomunitariadf.com.br
 
TV Cidade Livre de Brasília, 15 anos democratizando a informação!!!!!

domingo, 15 de julho de 2012

E a liberdade de expressão no Paraguai?

Por Altamiro Borges, em Carta Maior
Os golpistas do Paraguai censuram, demitem jornalistas e fecham rádios comunitárias com a cumplicidade da mesma mídia – local e mundial – que adora clamar cinicamente por “liberdade de expressão”. Nesta semana, a Federação Internacional dos Jornalistas (FIP) divulgou nota denunciando que “os trabalhadores da imprensa sofrem ameaças em seus postos de trabalho em função das opiniões que assumem publicamente” e que “o temor de perder o emprego opera mais forte do que a pior das censuras”.

Segundo Vicente Páez, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Paraguai, “os meios de comunicação privados reduziram os espaços dedicados às mobilizações contra a ruptura da ordem democrática”. Notícias sobre protestos em várias partes do país são censuradas e o governo e a mídia golpista vendem a imagem de que reina a paz. Já antes do golpe, a imprensa tentou criar um clima de pânico na sociedade. “As corporações midiáticas expressaram sua complacência com a destituição de Lugo”, afirma Páez.

Por sua vez, Alcides Villamayor, representante da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc) no Paraguai, tem alertado que para o risco de um “cerco legal” contra estas emissoras. Em recente entrevista, Carlos Gómez Zelada, novo chefe da Comissão Nacional de Telecomunicações, anunciou que “200 rádios perderão as suas concessões”. Villamayor, que também é dirigente da Associação Paraguai de Comunicação Comunitária, garante que a liberdade de expressão está em perigo no país.

Um dos alvos principais dos trogloditas que usurparam o poder é a TV Pública do Paraguai. No mesmo dia da deposição de Lugo, em 22 de junho, Christian Vázquez, jagunço dos golpistas, visitou a sede da emissora, em Assunção, e exigiu que fosse tirado do ar o programa “Micrófono Abierto”. Ele não obteve êxito porque os trabalhadores resistiram e, na sequência, várias populares se concentraram na sede, que virou um dos principais polos de resistência ao golpe.

Gustavo Granero, vice-presidente da FIP, lembra que, além das constantes ameaças à TV Pública, a Rádio Nacional do Paraguai também deixou de exibir a sua programação habitual. Programas de organizações sociais, como a dos jovens e a dos migrantes no exterior, foram tirados do ar. Para ele, “é muito preocupante o que ocorre no Paraguai”. Governo e empresários censuram e a mídia monopolizada tornou-se o principal partido dos golpistas. Ele alerta para a urgência da solidariedade internacional.

Para o jornalista Washington Uranga, do diário argentino Página 12, não há mais liberdade de expressão no Paraguai. “Dezenas de repórteres, comunicadores sociais e produtores estão sendo demitidos da Rádio Nacional, da Televisão Pública, da agência de notícias oficial IP Paraguay e da Secretaria de Informação e Comunicação (Sicom). As demissões, sem causa justificada, apoiam-se em argumentos ideológicos e políticos. Além disso, os correios eletrônicos de muitos jornalistas sofreram inexplicável bloqueio”.

Com a perseguição aos meios públicos e comunitários de comunicação, a única voz que impera é a dos barões da mídia privada. “Os diários de maior circulação no país, ABC Color e Ultima Hora, foram permanentes instigadores do julgamento político contra Lugo e suas páginas justificam o golpe institucional. ABC pertence ao grupo Zuccolillo, tradicional aliado do Partido Colorado, que patrocinou o golpe e aspira chegar ao poder nas eleições de abril do próximo ano. Ultima Hora é do grupo Vierce, dono também da Telefuturo, La Tele e de dez rádios espalhadas por todo o país. Todos estes veículos atacaram, de maneira infundada, a Lugo”.

Diante deste quadro dramático, nenhuma corporação midiática – do Paraguai, do Brasil e da maior parte do mundo – condena os atentados à democracia e à liberdade de expressão. A direitista Sociedade Americana de Prensa (SIP) não dá os seus costumeiros chiliques, sempre dirigidos contra os governos progressistas da região. Os “calunistas” amestrados da TV Globo, Veja, Estadão ou Folha não se pronunciam sobre a censura, a demissão de jornalistas e o fechamento das rádios comunitários. São uns hipócritas!

terça-feira, 27 de março de 2012

TV Cidade Livre - DF analisa golpe de 64

A TV Cidade Livre de Brasília, canal 8 na Net, vai promover debate sobre o Golpe Cívico-Militar de 31 de Março de 1964, contando com a participação de João Vicente Goulart, filho do Presidente Jango, do jornalista Mauro Santayana, então repórter do Jornal Última Hora; do escritor e professor Ronaldo Conde Aguiar, autor dos livros "Vargas, a vitória na derrota" e "Almanaque da Rádio Nacional", e, também, do jornalista Leite Filho, biógrafo de Leonel Brizola.
 
Entre outros temas, serão abordados, o papel da imprensa na organização do golpe, a ingerência dos EUA em sua realização, as razões de não ter havido resistência aos golpistas, a importância das reformas de base  do presidente João Goulart, derrubado com 73 por cento de apoio popular;  o papel do Congresso Nacional na operação golpista; , a desnacionalização da economia a partir do golpe e a adoção de medidas anti-populares, etc
 
O debate será ao vivo, no sábado, dia 31 de março, às 16 horas, com transmissão pelo canal 8 da Net, e também pelo site www.tvcomunitariadf.com.br
 
Os interessados em enviar perguntas aos debatetores podem utilizar-se do telefone 3344-5626 ou do e-mail tvcomdf@gmail.com

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Radiodifusão: 50 anos da Rede da Legalidade

Do portal Rádio Legalidade

“A Cadeia Radiofônica da Legalidade, formada à raiz da crise de A 1961, constituiu-se na primeira manifestação politica dos radialistas gaúchos, realizada de forma coletiva, e serviu como fator impulsionador da construção do Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul”, afirma Lauro Hagemann, noticiarista do Repórter Esso, e que se transformou na voz do movimento, depois dos discursos de Leonel Brizola.

Hagemann, artigo publicado no livro Lealidade 20 anos, está convicto de que a Cadeia da Legalidade teve como conseqüências, entre outras, o início do processo de criação do Sindicato dos Radialistas do Rio Grande do Sul. É que naquele tempo, como recorda, a categoria vivia dispersa, atuando profissional e politicamente no âmbito dos vários prefixos existentes em Porto Alegre, sem falar no interior do Estado, onde o número de estações já era bem avultado. As esparsas manifestações políticas de alguns integrantes da categoria eram feitas em nível individual, muito embora a história registre a presença de radialistas nos Parlamentos municipais e estadual desde longa data. “A bem da verdade”, diz o radialista, “a partir do processo de redemocratização do País em 1945 que os diversos partidos vislumbram a possibilidade de arrecadar votos contando com a participação de radialistas em suas nominatas, aliás como ocorre atualmente, só que agora acontece de forma mais intensa, devido, até mesmo, a situaçöes políticas geradas pelo golpe de 64 e pelo desenvolvimento dos meios de comunicação de massa”.

“Voltemos a 1961, mês de agosto, dia 25 e subseqüentes. Os episódios ainda são lembrados, especialmente por aqueles que deles foram participantes. Deflagrada a tentativa de golpe com a renúncia de Jânio Quadros, então Presidente da República, e a ameaça de não se respeitar o preceito constitucional de substituir o Presidente renunciante pelo seu Vice, monta-se no Rio Grande do Sul a resistência àquela manobra. O então governador Leonel Brizola manda instalar no Palácio Piratini um equipamento radiofônico e requisita, ao mesmo tempo, uma das nossas emissoras, mais precisamente a Rádio Guaíba, para servir de ponto de partida ao movimento que empolgaria o Estado e mesmo o Pais, em defesa da legalidade. O papel que essa providência desencadeou na evolução dos acontecimentos ainda não foi suficientemente analisado, assim como muitos outros aspectos da questão. Entretanto, nossa preocupação é enfocar a importância do rádio e, conseqüentemente, dos radialistas naqueles acontecimentos de suma importância para a vida nacional.

“O governador Brizola não foi inédito na utilização do rádio como fator de mobilização de massas. É preciso, porém, ressaltar-se a rápida percepção do que poderia e deveria ser feito naquele momento e o emprego dos meios mais eficientes para brecar a tentativa golpista. A escoIha do rádio foi, então, a opção mais acertada para comandar a resistência que se formava contra a tentativa golpista. Num País com alto índice de analfabetos e com a precaridade dos meios de comunicação impressa. o rádio era – e ainda o é – o meio mais eficaz de comunicação massiva e, por isso, continua tendo um papel muito importante no processo de conscientização e de libertação do povo brasileiro. Não é por outra razão que o sistema autoritário pós 64 dedicou tantos cuidados ao rádio no Brasil. E é, também, pela mesma razão, que a próxima Constituição deve se preocupar com o assunto, fixando regras bem definidas para a utilização democrática desse poderoso instrumento.

Quando o Governo do Estado requisita a Rádio Guaíba para servir de emissora-mãe e a ela se agregam, também requisitadas, as demais emissoras da capital e, numa seqüência já espontânea, a maioria das estações do Estado e do País, os serviços de transmissão, isto é, a operação do equipamento, a escolha das músicas, a redação dos comunicados e boletins e a leitura desse material, eram feitos por pessoas que, na sua maioria, pertenciam aos quadros do próprio Palácio, isto é, por sua Assessoria de Imprensa, como ainda era chamada naquela época. Esta situação, é claro, configurava, para a audiência, a partidarização do movimento, o que, dadas as peculiaridades do nosso Estado, poderia não ser bem recebido pela população. A programação das emissoras fora alterada completamente e os profissionais viram-se sem função imediata. Compareciam as suas sedes apenas para cumprir um ritual, porque a

transmissão estava encadeada e era gerada no Palácio, mais precisamente no “Porão da Legalidade”, como ficou conhecido o local pelos que lá trabalhavam. Enquanto isto, a vida na cidade fluía tensa e angustiada. A boataria não conseguia ser suplantada pela emissão dos “boletins oficiais” que, justamente por sua origem palaciana, eram recebidos com reservas, contribuindo para gerar um clima de terrificante expectativa na população. Este era o pano-de-fundo sobre o qual tomei uma decisão naquele agosto de 61.

Não gosto de falar na primeira pessoa do singular, mas como me foi solicitado um depoimento pessoal sobre o episódio, não posso fazer o relato sem me incluir nos fatos sucedidos. Eu era o locutor titular do “Repórter Esso” da Rádio Farroupilha — um dos monstros sagrados da radiofonia do sul do País — ouvido e conhecido por vastas extensões do território nacional e até dos nossos vizinhos de fronteira. Meu contrato de exclusividade com a emissora e o patrocinador poderia até me eximir legalmente de tomar a atitude que tomei: me ‘apresentar voluntário para trabalhar na “Cadeia da Legalidade”. Não foi um gesto emocional. Tive plena consciência do passo dado. Compreendi logo a natureza do movimento, tanto de um lado como de outro, e me posicionei. Não havia muito tempo que eu deixara a direção de entidades estudantis e desde então me orientava para uma participação popular, democrática e sobretudo desvinculada do imperialismo, do qual eu sabia ser uma face visível (indireta). Mas eu vendia meu trabalho, não vendia a minha cabeça. E eu ainda não havia ingressado no PCB… Quando aquela voz conhecida apareceu nas emissões, tenho certeza de que algo mudou na cabeça das pessoas. Em seguida. outros companheiros radialistas, também muito conhecidos, foram se somar à “Cadeia da Legalidade”. Alguns sabidamente não alinhados ao estilo e pensamento do então Governador e outros indiferentes, mas todos desinibidos e desejosos de colaborar naquele momento que compreendiam de transcendental importância para a vida do País. Foi no meu entendimento — a primeira manifestação coletiva da categoria a nível político. Daí, me atrevo a dizer, começou a germinar a idéia da necessidade de termos um instrumento de classe para a congregação de nossos interesses e essa idéia partia. naturalmente, de um sindicato.

Foram longos os dias que passamos enfurnados no porão do Palácio. Um estúdio improvisado, apenas com duas portas, sem ventilação direta. Foi nosso local de trabalho durante o tempo em que Jango levou para chegar a Brasília e tomar posse no dia 7 de setembro daquele ano. Praticamente, a partir da nossa decisão de integrar a “Cadeia da Legalidade”, não vimos mais nada do que acontecia na superfície, com raras fugidas para ver a família. A transmissão durava as 24 horas e chegou

quase no final a ter uma programação normal de qualquer emissora, com horários determinados para o noticiário e a música. O público passou a ter a sensação de ordem e tranqüilidade que o momento exigia, e para isso foi decisivo o papel do rádio.

Menos de um ano se passara e os radialistas gaúchos já tinham sua carta sindical (14 de julho de l962), num movimento que contou com a unanimidade da categoria. Em janeiro de 1963, o jovem Sindicato patrocinou, aqui em Porto Alegre, o 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores em Radiodifusão. No último dia do encontro, o governador Brizola, que encerraria seu mandato dali aiguns dias, chamou os participantes do Congresso ao Palácio e lá, no “Porão da Legalidade”, num ato solene, foi inaugurada uma placa de bronze (onde estará?) em que manifestava seu reconhecimento pela colaboraçäo recebida.

Em fins demarço de 1964, a Constituição brasileira começa a sentir novas arremetidas golpistas e, mais uma vez, se quis apelar para o rádio como remédio salvador. Entretanto, os inimigos do povo haviam aprendido o suficiente no ensaio geral de 1961 e, habilmente, conseguiram seu intento. Com a queda de Jango, a reação se instalou no Pais e deu no que estamos assistindo… Antes disso, porém, o Sindicato dos Radialistas sofreu duas intervenções e eu, cassado, fui destituído de sua Presidência.

A história é o grande reitor das ações humanas. Esperamos que ela nos tenha ensinado algo de útil neste episódio.

Veja ainda:

Vídeo-entrevista de Lauro Hagemann à RBS

LAURO HAGEMANN, em 6 1 era locutor da Rádio Farroupilha. Atuou em várias emissoras da cidade. Foi também vereador.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Documentário: O Dia que durou 21 anos estreia na TV Brasil

Os que viveram a ditadura militar brasileira, os que passaram por ela em brancas nuvens e os que nasceram depois que ela acabou. Todos podem conhecer melhor e refletir sobre esse período, a partir da nova série "O Dia que durou 21 anos", que a TV Brasil exibe nos dias 4, 5 e 6 de abril, às 22h.


Em clima de suspense e ação, o documentário apresenta, em três episódios de 26 minutos cada, os bastidores da participação do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 que durou até 1985 e instaurou a ditadura no Brasil. Pela primeira vez na televisão, documentos do arquivo norte-americano, classificados durante 46 anos como Top Secret, serão expostos ao público. Textos de telegramas, áudio de conversas telefônicas, depoimentos contundentes e imagens inéditas fazem parte dessa série iconográfica, narrada pelo jornalista Flávio Tavares.


O mundo vivia a Guerra Fria quando os Estados Unidos começaram a arquitetar o golpe para derrubar o governo de João Goulart. As primeiras ações surgem em 1962, pelo então presidente John Kennedy. Os fatos vão se descortinando, através de relatos de políticos, militares, historiadores, diplomatas e estudiosos dos dois países. Depois do assassinato de Kennedy, em novembro de 1963, o texano Lyndon Johnson assume o governo e mantém a estratégia de remover Jango, apelido de Goulart. O temor de que o país se alinharia ao comunismo e influenciaria outros países da América Latina, contrariando assim os interesses dos Estados Unidos, reforçaram os movimentos pró-golpe. A série mostra como os Estados Unidos agiram para planejar e criar as condições para o golpe da madrugada de 31 de março. E, depois, para sustentar e reconhecer o regime militar do governo do marechal Humberto Castelo Branco. Envergando uma roupa civil, ele assume o poder em 15 de abril. Castelo era chefe do Estado Maior do Exército de Jango.

O governo norte-americano estava preparado para intervir militarmente, mas não foi necessário, como ressaltam historiadores e militares. O general Ivan Cavalcanti Proença, oficial da guarda presidencial, resume: “Lamento que foi um golpe fácil demais. Ninguém assumiu o comando revolucionário”.

Do Brasil, duas autoridades americanas foram peças-chaves para bloquear as ações de Goulart e apoiar Castelo Branco: o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon; e o general Vernon Walters, adido militar e que já conhecia Castelo Branco. As cartas e o áudio dos diálogos de Gordon com o primeiro escalão do governo americano são expostas. Entre os interlocutores, o presidente Lyndon Johnson, Dean Rusk (secretário de Estado), Robert McNamara (Defesa). Além de conversas telefônicas de Johnson com George Reedy Dean Rusk; Thomas Mann (Subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos) e George Bundy, assessor de segurança nacional da Casa Branca, entre outros.

Foi uma das mais longas ditaduras da América Latina. O general Newton Cruz, que foi chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e ex-comandante militar do Planalto, conclui: “A revolução era para arrumar a casa. Ninguém passa 20 anos para arrumar uma Casa”.

Em 1967, quem assume o Planalto é o general Costa e Silva, então ministro da Guerra de Castelo. Da linha dura, seu governo consolida a repressão. As conseqüências deste período da ditadura, seus meandros políticos e ideológicos estarão na tela. Mortes, torturas, assassinatos, violação de direitos democráticos e prisões arbitrárias fazem parte desse período dramático da história.

O jornalista Flávio Tavares, participou da luta armada, foi preso, torturado e exilado político. Através da série, dirigida por seu filho Camilo Tavares, ele explora suas vivências e lembranças. E mais: abre uma nova oportunidade de reflexão sobre o passado.

O Dia que durou 21 anos é uma coprodução da TV Brasil com a Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares. Roteiro e entrevistas de Flávio e Camilo.


Primeiro Episódio:

As ações do embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, ainda no governo Kennedy, são expostas neste primeiro capítulo. O discurso do presidente João Goulart pregando reformas sociais torna-se uma ameaça e é interpretado pelos militares como uma provocação. Nos quartéis temia-se uma movimentação de esquerda e a adoção do comunismo, que poderia se espalhar por outros países latinos. Entrevistas e reportagens da CBS são reproduzidas, bem como diálogos entre Gordon e Kennedy. O documentário expõe a efervescência da sociedade brasileira naquele período. Para evitar que Goulart chegasse forte às eleições de 1965, foi criado o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), que teria dado cobertura às ações dos Estudos Unidos para derrubar João Goulart.

Segundo Episódio:


Cenas da morte de John Kennedy e a posse de Lyndon Johnson abrem este capítulo, dando sequência à estratégia dos Estados Unidos de impedir ao que o ex-presidente americano chamou de “ um outro regime comunista no hemisfério ocidental”. “Vamos ficar em cima de Goulart e nos expor se for preciso”, diria Jonhson.

Imagens focam no discurso de Jango na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, que foi considerado uma provocação pelos arquitetos do golpe. Os americanos já preparavam o esquema, enviando suas forças militares para o “controle das massas”, como se refere um dos entrevistados. Paralelamente, articulações para levar Castelo Branco ao poder estavam sendo engendradas.


As forças americanas não precisaram entrar em campo. João Goulart pegou o avião, foi para Brasília e depois para o sul do país. Por que Jango não reagiu”? É uma questão posta na tela. O general Cavalcanti, oficial da guarda presidencial, resume: “Lamento que foi um golpe fácil demais. Ninguém assumiu o comando revolucionário”.


Os Estados Unidos estavam mobilizados para, em caso de resistência, fazer a intervenção militar pela costa e assim ajudar os militares. As correspondências de Lincoln Gordon com o primeiro escalão da Casa Branca são mostradas ao público, explorando as ações secretas junto às Forças Armadas, a reação da imprensa e dos grupos católicos no Brasil. Os Estados Unidos reconhecem o novo governo e imagens da vitória e manifestações de rua entram em cenas.

Terceiro Episódio:


O cargo de presidente é declarado vago pelo presidente do Senado, Auro Moura de Andrade. O presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, é empossado.


No dia 15 de abril, o chefe das Forças Armadas, marechal Castelo Branco, toma posse. Castelo tinha relações amistosas com Vernon Walters, adido da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Depois de suas conversas com Castelo, ele se ocupava em enviar telegramas para os Estados Unidos, relatando o teor da conversa. Os textos dos telegramas são revelados no episódio.


O governo Castelo Branco recrudesce e dá início aos atos institucionais. O de número 2 extingue os partidos políticos e torna as eleições indiretas. E mais: prorroga o seu mandato. Em 1967, ele é substituído pelo general Costa e Silva, da chamada linha dura do Exército. O AI 5 é decretado no ano seguinte, e o Brasil entra no caos, “O AI5 foi uma revolução dentro da revolução”, declara o general Newton Cruz.

A repressão e a tortura dominavam o país. Militares e estudiosos falam desse período. O brigadeiro Rui Moreira Lima, da Força Aérea Brasileira, declara: “Eu conheci um coronel, filho de um general, que veio de um curso de tortura no Panamá. Ele chegou e disse: agora estou tinindo na tortura, pega aí um cara pra eu torturar”.


Os Estados Unidos continuam em campo e Lincoln Gordon pede para o governo fortalecer ao máximo o regime militar brasileiro. O orçamento da embaixada cresce, como registra o historiador Carlos Fico, da UFRJ, um dos entrevistados de Flávio Tavares.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Honduras: um ano depois do golpe de estado, o quadro é de violação dos direitos e das liberdades públicas

A ong Repórteres sem Fronteiras, a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (AMARC) e o Comité pela Livre Expressão (C-Libre) decidiram pronunciar-se juntos, um ano depois do golpe de Estado de 28 de junho de 2009. Este acontecimento constituiu provavelmente um dos maiores fracassos das liberdades fundamentais num país – em particular a de informar e de ser informado – ao ponto de ter relegado as Honduras ao nível das piores nações no que respeita à segurança dos jornalistas.
Destacam-se dois principais períodos nestes acontecimentos. O primeiro – que vai da derrocada de Manuel Zelaya pelo exército até à tomada de posse de Porfirio Lobo Sosa, no passado dia 27 de janeiro – caracterizou-se a nível mediático por atos de censura, sabotagens, brutalidades e militarizações de meios de comunicação conhecidos pela sua linha de oposição ao golpe. Foi o caso de Canal 36 Cholusat, da Radio Globo, Radio Progreso e Radio Uno, assim como de meios comunitários como a rádio garífuna Faluma Bimetu (Radio Coco Dulce), devastada por um incêndio de origem criminosa a 6 de janeiro e em cuja reconstrução participaram as nossas três organizações. A censura e a sabotagem também afetaram a imprensa estrangeira desde os primeiros momentos do golpe de Estado, nomeadamente a canais tão diferentes como CNN Espanhol e Telesur, da qual uma dezena de jornalistas foram expulsos do país.
O segundo período, post-golpe de Estado, vai da tomada de posse presidencial a este primeiro “aniversário”, e caracteriza-se pelo assassinato de oito profissionais da mídia de março a junho de 2010:
- Joseph Ochoa, do Canal 51, a 1 de março
- David Meza Montesinos, do canal Abriendo Racha e da rádio El Patio, a 11 de março
- Nahúm Palacios, do canal Televisora de Aguán – Canal 5, a 14 de março
- Bayardo Mairena, do Canal 4, a 26 de março
- Manuel Juárez, da Radio Excélsior, a 26 de março
- Luis Antonio Chévez, da rádio W 105, a 11 de abril (locutor)
- Georgino Orellana, da Televisión de Honduras, a 20 de abril
- Luis Arturo Mondragón, do Canal 19, a 14 de junho

Juntam-se a esta lista defensores dos direitos humanos, como Walter Tróchez, sequestrado e assassinado em dezembro. É possível que nem todos os assassinatos estejam relacionados com a violência política que afeta o país há um ano. Mas esta possibilidade não justifica de nenhuma maneira a atitude das autoridades, que consiste em excluir sistematicamente e a priori qualquer vínculo entre estes casos e a dita violência. Porém, é sabido que Nahúm Palacios Arteaga denunciou as perseguições frequentes de que era vítima por parte do exército antes de ser morto.
Georgino Orellana expôs-se pessoalmente ao abandonar por motivos editoriais as redações de La Prensa e de Televicentro, dois meios de comunicação favoráveis ao golpe de Estado. Joseph Ochoa, por seu lado, foi alvo de um atentado destinado à sua colega do Canal 8, Karol Cabrera, refugiada no Canadá desde o incidente por ter apoiado o golpe de Estado.
Como se pode negar a persistência da violência política contra a mídia depois do incrível assalto levado a cabo, no passado dia 3 de junho, por militares e policiais contra a recém-criada rádio comunitária La Voz de Zacate Grande, lançada por uma comunidade rural em conflito com o magnata da agro-indústria Miguel Facussé?
Como interpretar a nomeação como presidente da empresa pública de telecomunicações Hondutel, a 8 de março, do general reformado Romeo Vásquez Velásquez, instaurador da censura nos instantes posteriores ao golpe de Estado? Como entender o silêncio das autoridades após duas recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos pedindo a proteção física dos jornalistas de Radio Progreso e de seu diretor, Ismael Moreno, ameaçados de morte?
A reintegração das Honduras na Organização de Estados Americanos (OEA), da qual se encontram suspensas há um ano, depende da vontade das autoridades atuais para responder de maneira concreta a esta situação. Até agora, limitaram-se a confirmar a lógica nascida com o golpe de Estado.

No âmbito das suas competências, as nossas organizações solicitam:
-A criação de uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos permanente para as Honduras, enquanto não se registar uma melhoria notável no exercício da liberdade de expressão.
-Que uma comissão de investigação civil independente, constituída com o apoio da OEA, possa exercer sem constrangimentos um poder de observação sobre as investigações relativas aos assassinatos e agressões de jornalistas cometidos durante o primeiro semestre de 2010, assim como a verificação do cumprimento das medidas de segurança oferecidas aos meios de comunicação e aos seus profissionais.
-Que esta missão permita a criação de autênticos mecanismos de proteção destinados aos profissionais da mídia e de investigações que identifiquem os responsáveis e ponham fim à impunidade em que se encontram os assassínios e as agressões contra jornalistas e suas redações.
-Que sejam inventariados e restituídos os equipamentos dos meios de comunicação vítimas de ocupação militar desde 28 de junho de 2009, com base em critérios democráticos que garantam a pluralidade e a diversidade informativa para os setores comercial, público e comunitário.
-Que se leve a cabo um censo das frequências audiovisuais, junto com uma reestruturação de seu sistema de atribuição.
-Que a legislação hondurenha em matéria de acesso à informação, de delitos de liberdade de expressão, de diversidade nos meios de comunicação e de pluralismo se adapte quanto antes aos princípios jurídicos internacionais e às normas da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Opinião: O esforço de Arias e o golpismo da mídia

Por Argemiro Ferreira, da Carta Maior, em 21/07/2009

Figuras de uma foto amplamente divulgada na mídia, feitas de fibra de vidro, parecem saídas de um desfile de escola de samba. O regime do golpe diz que estavam num jardim da casa presidencial e representam o presidente deposto (Zelaya) ao lado de heróis da independência no século XIX. Um presidente não precisa necessariamente ter bom gosto, mas seria ridículo ver nisso "prova" de que era ditador - estapafúrdia alegação dos golpistas.
O artigo completo de Argemiro Ferreira, você confere na Carta Maior.

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