No Brasil, 48% acham que os órgãos de imprensa não reportam diferentes posições sobre as questões políticas do debate público.
Publicado
originalmente em El Pais
O brasileiro
quer uma mídia imparcial, mas quando comparado aos cidadãos de outras
nacionalidades, é um dos povos com maior tolerância ao viés partidário da
imprensa, segundo pesquisa realizada pelo Pew Research Center. Apesar das
diferenças nos meios de comunicação e estruturas políticas, três quartos dos
entrevistados em 38 países concordam que nunca é aceitável para uma organização
de notícias favorecer um partido político em detrimento de outro.
O Brasil
ficou abaixo da média mundial: 60% dos participantes rejeitam o partidarismo da
imprensa, um resultado que só é maior do que o registrado no Vietnã (57%),
Filipinas (52%), Israel (47%) e Índia(25%).
Mesmo entre
os brasileiros com maior nível de escolaridade (ensino médio ou mais), a
porcentagem dos que não aceitam o partidarismo (72%) é mais baixa do que a média
global (75%). E essa tolerância fica maior entre os entrevistados com menos
estudo: 50% rejeitam o viés partidário.
A maior
rejeição ao viés partidário da mídia foi identificada nos países europeus
pesquisados. Espanha (89%), Grécia (88%), Polônia (84%) e Suécia (81%) são os
países que apresentam uma oposição mais forte. Apesar de uma rejeição ainda
alta, os europeus que censuram menos o partidarismo são os italianos (74%) e os
franceses (76%).
Há uma
tendência mundial em achar que a imprensa não cobre de maneira equilibrada os
temas políticos. Na América Latina, esse aspecto é acentuado: na média, 54%
acham que os órgãos de imprensa não reportam diferentes posições sobre as
questões políticas do debate público. Na Argentina, 55% acham que a imprensa
falha neste ponto. No Brasil, o índice atinge 48%.
Os dados são
resultado de uma pesquisa com quase 42.000 pessoas realizada entre fevereiro e
maio de 2017 e publicada nesta quinta-feira. No consenso global contra o viés
da mídia, há exceções em países como Índia, Israel e Filipinas, onde quatro em
cada 10 entrevistados consideram aceitável que um meio de comunicação, às
vezes, favoreça um partido político. 27% dos brasileiros também aceitam o partidarismo
"as vezes", um percentual superior ao da média mundial de 20%.
O trabalho
diário da mídia, para leitores e espectadores, também foi abordado pela
pesquisa. O estudo
identificou uma satisfação geral em relação ao desempenho da mídia impressa, rádio
e televisão –, 73% dos entrevistados consideram que a mídia faz um trabalho bom
na cobertura de grandes acontecimentos. Mas o grau de satisfação muda em
diferentes regiões pesquisadas, sendo os latinos são os mais críticos em
relação à qualidade da cobertura de grandes eventos da imprensa.
Para uma
parte dos chilenos (43%), argentinos (41%) e colombianos (41%), a mídia não faz
uma cobertura adequada. Há apenas dois países em que a maioria dos
entrevistados disse que a mídia não faz um bom trabalho no quesito
acontecimentos: Grécia (57%) e Coreia do Sul (55%). No Brasil, 28% dos
entrevistados afirmam que a imprensa não faz uma boa cobertura; 66% afirmam que
a imprensa tem uma cobertura boa ou muito boa.
Embora sejam
moderadas na maioria dos casos, as maiores críticas estão em relação a membros
dos governos. Os gregos e os sul-coreanos são os mais críticos: 72% consideram
que seus meios de comunicação não informam bem sobre o desempenho do Executivo
e seus membros. A avaliação dos holandeses (82%), indonésios (85%) e
tanzanianos (89%) nesse aspecto é mais positiva: a grande maioria considera que
a imprensa faz seu trabalho “bem” ou "muito bem".
Entre os
brasileiros, 37% criticam o trabalho de supervisão do Governo, enquanto 57%
elogiam.
O estudo
também avaliou o tipo de informação que é mais seguida. Mais de duas em cada
três pessoas entrevistadas seguem notícias locais ou nacionais, uma proporção
menor quando se trata de informações internacionais (com uma média de 57% em
todo o mundo). O interesse informativo dos habitantes de outros países em
relação aos Estados Unidos, a grande potência mundial, é ainda mais baixo:
apenas 48% na média global.
A América
Latina é a região com menor interesse nos EUA 32%, contra 53% da Ásia, 52% da
África e 51% da Europa.
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