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sábado, 1 de janeiro de 2011

Violência: Repórteres sem Fronteiras divulgam balanço da violência contra jornalistas no Mundo em 2010

Do Repórteres sem Fronteiras

Confira os números de 1010 referet à violência contra jornalistas

  • 57 jornalistas mortos (-25% em relação a 2009)
  • 51 jornalistas sequestrados
  • 535 jornalistas presos
  • 1374 agredidos ou ameaçados
  • 504 meios de comunicação censurados
  • 127 jornalistas fugiram de seu país
  • 152 blogueiros ou net-cidadãos presos
  • 52 agredidos
  • 62 países afetados pela censura na Internet

Menos mortos em zonas de conflito


Em 2010, 57 jornalistas foram mortos no exercício de seu trabalho. Comparando com os 76 de 2009, observase uma redução de 25%. Menos jornalistas foram mortos em zonas de guerra no decorrer dos últimos anos. No entanto, tornase cada vez mais difícil identificar os assassinos entre diferentes grupos mafiosos, armados ou religiosos, e os Estados. “As zonas de guerra foram menos mortíferas para os jornalistas que em anos anteriores.

Os profissionais da mídia são principalmente vítimas de criminosos e traficantes de vários tipos. As máfias e as milícias constiuem os primeiros assassinos de jornalistas no Mundo. No futuro, o desafio consistirá em diminuir esse fenómeno. As autoridades dos países afetados têm uma responsabilidade direta na luta contra a impunidade que rodeia esses crimes. Se os governos não fazem tudo ao seu alcance para castigar os assassinos dos jornalistas, tornamse seus cúmplices”, declarou Jean-François Julliard, secretário-geral de Repórteres sem Fronteiras.

O jornalista, moeda de troca


O ano de 2010 se caracterizou também pelo aumento significativo do número de sequestros : 29 casos em 2008, 33 em 2009 e 51 em 2010. O jornalista é cada vez menos encarado como um observador exterior. Sua neutralidade e sua missão já não são respeitadas. “Os sequestros de jornalistas são cada vez mais frequentes e atingem um número crescente de países. Este ano, pela primeira vez, nenhum continente escapou a esse flagelo.

Os jornalistas converteramse numa verdadeira moeda de troca. Os raptos permitem aos sequestradores financiar suas atividades criminosas, obrigar os governos a ceder a suas reivindicações e difundir uma mensagem junto da opinião pública, assegurando assim uma forma de publicidade para os grupos envolvidos. Também aqui, é necessário que os governos se empenhem mais na identificação desses grupos para que estes possam ser levados perante os tribunais. Se não for esse o caso, os repórteres – nacionais ou estrangeiros – já não se atreverão a deslocarse a determinadas regiões, abandonando as populações locais à sua sorte”, declarou Repórteres sem Fronteiras.

Em 2010, os jornalistas foram particularmente expostos a esse tipo de risco no Afeganistão e na Nigéria. O sequestro de Hervé Ghesquière, Stéphane Taponier e seus três acompanhantes afegãos, desde 29 de dezembro de 2009, é o mais longo da história do jornalismo francês desde o final dos anos 80.

Nenhuma região do mundo poupada


Em 2010, 25 países diferentes viram jornalistas serem mortos. Desde que Repórteres sem Fronteiras publica seu balanço anual, é a primeira vez que tantos países são afe- tados. Cerca de 30% desses países se situam no continente africano (Angola, Camarões, Nigéria, Uganda, República Democrática do Congo, Ruanda e Somália, ou seja, 7 países dos 25).

Mas a região mais letal continua a ser, de longe, a Ásia, com 20 casos, devido aos números muito elevados do Paquistão (11 jornalistas mortos em 2010). De um total de 67 países que contabilizaram assassi- natos de jornalistas nos últimos dez anos, quase dez de eles (Afeganistão, Colômbia, Iraque, México, Paquistão, Filipinas, Rússia e Somália) não sofreram nenhuma evolução positiva. Nesses países, a cultura da violência contra a imprensa parece terse banalizado.

Os três países mais violentos para os jornalistas no decorrer da última década foram o Paquistão, o Iraque e o México. No Paquistão, onde os anos passam mas os riscos persistem, os jornalistas sofreram, em 2010, um número recorde de 11 assassinatos, atacados por grupos islamitas ou vítimas colaterais de atentados suicidas. O Iraque regressou aos piores anos, e regista um total de 7 mortos em 2010, após 4 em 2009. A maioria deles foi assassinada após a retirada das tropas americanas no fim de agosto de 2010.

Os jornalistas se encontram encurralados entre os diferentes atores que lhes negam sua inde- pendência (poderes locais, grupos corruptos, movimentos religiosos, etc.). No México, a ultra-violência dos narcotraficantes ameaça o conjunto da população e, simultaneamente, os jornalistas, uma profissão especialmente ameaçada. Esta situação influencia a forma como a atualidade é tratada, já que os repórteres reduzem ao mínimo sua cobertura dos casos criminosos de forma a limitarem os possíveis riscos.

Na América Central, as Honduras registam 3 mortes relacionadas com a profissão (num total de 9 no país). A violência política na sequência do golpe de Estado de 28 de junho de 2009 veio juntarse à “tradicional” violência do crime organizado, um fenómeno marcante nessa re- gião do Mundo. Na Tailândia, onde os jornais gozam de uma relativa independência apesar dos reiterados atropelos em ques- tões de liberdade de imprensa, o ano foi muito complicado. Dois jornalistas estrangeiros, Fábio Polenghi (Itália) e Hiroyuki Muramoto (Japão), foram mortos em Bangkok durante os confrontos entre os “camisas vermelhas”, apoiantes do antigo Primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, e as forças da ordem, em abril e maio de 2010, muito provavelmente devido a balas do exército.

Assassinatos de jornalistas no espaço europeu

Dois assassinatos de jornalistas ocorreram no espaço europeu, na Grécia e na Letónia, e ainda não foram elucidados. A instabilidade social e política pesou sobre o trabalho da imprensa na Grécia, onde Socratis Guiolias, da rádio Thema 98.9, foi abatido por uma arma automática em frente da sua residência no sudeste de Atenas, a 19 de julho de 2010. A polícia suspeita de um grupo extremista de esquerda que surgiu em 2009 com o nome de Sehta Epanastaton (Seita dos Revolucionários). Na Letónia, um país que goza de um ambiente mais calmo para a imprensa, Grigorijs Ņemcovs, diretor e edi- tor-chefe do jornal regional Million e proprietário de um canal de televisão local com o mesmo nome, foi morto com duas balas na cabeça quando se dirigia a uma reunião, a 16 de abril de 2010.

A internet deixa de ser um porto seguro

Repórteres sem Fronteiras continua investigando so- bre a morte, em junho de 2010, no Egito, do jovem net-cidadão Khaled Mohammed Said, espancado até à morte por dois policiais à paisana após ter sido interpelado num cyber café. As informações que circulam sobre o caso sugerem que sua morte estará relacionada com um vídeo colocado na internet incriminando a polícia num negócio de droga. Os relatórios da autópsia atribuíram seu falecimento a uma overdose. Porém, as fotos de seu cadáver desmentem essa hipótese.

O número de detenções e de agressões de net-cidadãos permaneceu relativamente estável em 2010. As pressões sobre blogueiros e a censura da internet se generalizam. A filtragem já não é um tabu. A censura adota novas formas : uma propaganda em linha mais agressiva e o recurso cada vez mais frequente aos ciberataques como meio de silenciar os internautas mais incómodos. Outra evolução relevante : a censura poderia deixar de ser apanágio apenas de regimes repressivos, na medida em que as democracias promovem projetos de lei inquietantes para a liberdade de expressão em linha.

A derradeira alternativa : o exílio

Perante a violência e a opressão, muitos profissionais da mídia vêemse obrigados a abandonar seus países (127 jornalistas em 2010, de 23 países). O êxodo dos profissionais dos meios de comunicação social prossegue no Irã, de onde provém, pelo segundo ano consecutivo, o maior contingente de jornalistas em fuga (30 casos contabilizados por Repórteres sem Fronteiras este ano).

O Corno de África continua vendo fugir seus jornalistas (cerca de quinze profissionais da mídia abandonaram a Eritreia e a Somália no último ano). O exílio forçado de 18 jornalistas cubanos presos em março de 2003, enviados para Espanha logo após sua libertação, constitui outro acontecimento marcante de 2010.

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