Por César Fonseca, publicado originalmente em Pátria Latina
Com base nas previsões, nos chutes, nos furos dos 100
analistas financeiros, todo o jornalismo econômico, ancorado em pura abstração,
fez o jogo, claro, dos especuladores.
A economia iria para o buraco porque estava o governo gastando
excessivamente mais do que arrecadando, como se tivesse jogando fora, não
levando a economia adiante.
A inflação saíra do controle, somente sendo possível um
remédio, a elevação da taxa de juro, que, claro, eleva os preços, reduz os
investimentos e cria situação negativa.
Deu tudo errado: os investimentos, a agropecuária e os
serviços etc cresceram, garantindo o PIB de 2,3%.
É baixo?
Claro, é, mas vai ver as grandes economias, Estados Unidos,
Europa, Japão, que apostaram na financeirização econômica global?
Estão no chão, puxando o mundo para baixo, dispondo de moeda conversível,
que estabelece as relações de trocas a favor delas, não se sabe até quando.
O BC, com sua pesquisa Focus, chegou a prever recessão!
O jornalismo econômico, cuja fonte de informação são os
economistas do mercado financeiro, embarcou na furada do mercado financeiro que
enganou o jornalismo antiinvestigativo.
Economias regionais, como as do Sul, Santa Catarina, Paraná,
Rio Grande do Sul tiveram avanço do PIB superior a 6%, crescimento chinês.
Só se ficou sabendo disso, agora, porque o jornalismo
econômico não foi à luta para saber o que estava acontecendo, esperando sair
pesquisas de laboratório para confirmar tais tendências, quando isso poderia
estar sendo visualizado em reportagens competentes, algo inexistente.
O Nordeste, onde a renda dos mais pobres aumentou, graças à
melhor distribuição da renda, da mesma forma, registrou performance
surpreendente.
Cuidou-se o poder midiático tão somente de martelar que a
opção pelo consumo fracassou.
Mas, consumo é produção, produção é consumo, ou não?
Claro, a indústria nacional, que enfrenta a taxa de juro maior
do mundo para investimento, não puxou a região sudeste, onde está o grosso da
industrialização brasileira.
Isso mostra a necessidade de se tratar a indústria como se
trata a agricultura, concedendo a ela juro baixo ou negativo, descontada a
inflação, para novos investimentos serem realizados.
Por que não?
O agronegócio brasileiro explodiu porque o governo, a partir
de 1994, passou a usar parte do depósito compulsório (dinheiro do povo),
canalizado para os agricultores.
O Consenso de Washington, sob governo FHC, articulou essa
saída, para o Brasil produzir commodities baratas para exportar, a fim de
levantar dinheiro para pagar juros da dívida, que não seriam pagos por meio da
produção industrial, visto que os concorrentes não queriam um Brasil
industrializado e competitivo para agregar valor ao produto primário.
O agronegócio fortalecido, com a grana do povo, aumentou a
oferta capaz de atender a demanda e os preços se equilibraram, ao mesmo tempo
em que bombaram as exportações.
Ou seja, quem combate a inflação é o dinheiro do povo
canalizado para a produção, minha gente!
Enquanto isso, as indústrias tiveram sobre si políticas creditícias
criminosas, juros elevados, que inviabilizaram investimentos suficientes para
aumentar a produção e atender a demanda interna a preços sustentáveis e
equilibrados.
Precisou, nesse período, de lançar mão das importações, no
contexto de deterioração dos termos de trocas, contrários aos interesses
nacionais, cujos resultados, no ambiente da crise internacional, detonadora,
pelos países ricos, de guerra cambial, foram importações maiores do que
exportações, responsáveis por elevar os déficits em contas correntes do balanço
de pagamentos.
O dinheiro do povo não foi canalizado para a indústria, mas
para o bolso dos banqueiros, para esfolar o povo no crediário.
Faltaram e, ainda, faltam decisões políticas e lideranças
empresariais fortes capazes de produzir movimentos no Congresso de modo a
reverter essa situação, com apoio popular, em favor do interesse nacional.
Predominam, infelizmente, lideranças empresariais frágeis, que
preferem ser sócias menores do capital internacional, do que ancorar-se nas
forças internas nacionais.
Não será sofrendo crescente deterioração nos termos de troca,
produzida por política macroeconômica conduzida pelos especuladores, que
determinam dependência econômica nacional eterna da poupança externa, que o
país se libertará da ganância especulativa.
O capital nacional existe para ser mobilizado, desde que haja
decisão política, como aconteceu em relação à agricultura.
Na Coréia do Sul, por exemplo, esse movimento de mobilização
política das forças nacionais se deu em torno da indústria, e o país se
transformou em grande potência industrial, visto que a agricultura coreana
inexiste.
Como os concorrentes do Brasil, no campo das manufaturas, não
interessavam pelo desenvolvimento da indústria, como se interessou pelo
desenvolvimento da agricultura, a fim de comprarem commodities baratas, para
produzir manufaturas caras, impondo, assim, deterioração nos termos de troca,
via políticas cambiais, não pode o setor industrial nacional desenvolver-se,
sustentavelmente.
Conseqüentemente, as tensões inflacionárias advêm dessa lógica
da dependência que somente será superada por nacionalismo econômico e melhor
distribuição da renda nacional, apoiando-se no mercado interno, como se tenta
fazer, ainda, insuficientemente, os governos petistas nos últimos dez anos.
Dominada pelo pensamento neoliberal, a grande mídia nacional
está a serviço do aprofundamento dessa dependência e não do esclarecimento de
suas razões, em favor da educação política do povo.
Os governos Lula e Dilma erraram feio ao não apoiar uma mídia
nacionalista como fez Getúlio Vargas.
Getúlio criou a rádio nacional, a tevê nacional e financiou o
capital privado para editar um jornal popular, o Última Hora.
Não teve medo das ameaças.
Os governos petistas tiveram medo de serem ousados.
Por isso, o que se vê, hoje, é um tremendo oligopólio
midiático conservador e reacionário, com a Rede Globo à frente, promotor de
coberturas jornalísticas parciais, tipo programas de debates, como o de William
Waack e da Globonews, todos se ancorando em gráficos com números arranjados
pelo mercado financeiro, onde o contraditório passa longe.
Todo mundo escravizado pelo pensamento neoliberal.
Leia-se, por exemplo, nos jornais dessa sexta feira a
cobertura econômica sobre o PIB 2013 e não se vê opinião dos representantes dos
setores produtivos, mas, apenas, do mercado financeiro.
São eles que estão plenamente disponíveis, a serviço da
permanente especulação contra os interesses nacionais, para darem suas opiniões
parciais, calcadas em interesses de classe.
Não há o jornalismo verdadeiro, para ouvir e analisar as duas
partes da notícia, no ambiente do contraditório, necessário à formação crítica
social.
A realidade é dual: masculino-feminino, singular-plural,
claro-escuro, yin-yang, positivo-negativo, cara-coroa etc, interagindo-se
dialeticamente, no ritmo da circularidade, tal como parafuso, para frente e
para o alto.
O jogo do jornalismo brasileiro atual é o de bater na cabeça
do prego, enterrando-o em barra de sabão, visão mecanicista.
Os agentes da economia, para o jornalismo brasileiro atual,
são aqueles que não trabalham, apenas, especulam, em cima de modelos
matemáticos, ciência que se desenvolve ao largo do real concreto em movimento,
sem poder determiná-lo, como disse Hegel.
Não se ouve o empresário, não se ouve o trabalhador, agentes
da produção e do consumo, para se fazer uma avaliação isenta etc.
Só a direita financeira opina.
O resultado é o que se viu, agora, tiro nágua da turma do
periodismo neoliberal acrítico, esquizofrênico, alienado.
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