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domingo, 9 de março de 2014

Opinião: PIB/2013: derrota do jornalismo econômico

Quem conduz a cabeça do jornalismo
econômico brasileiro na atualidade
é a pesquisa Focus. São ouvidos
100 analistas do mercado financeiro,
semanalmente, pelo Banco Central.
Taí porque, também, o BC, apoiado
nessa manipulação escandalosa,

tem errado feio nas projeções do PIB.
Os 100 analistas, todos ligados aos
bancos, projetaram, ao longo de 2013,
previsões pessimistas, negativas,
catastrofistas etc.
Quando chegou final de ano,
o país estava estressado de pessimismo,
negativismo, pronto para receber
uma ferrada monumental das
agências classificadoras de crédito,
predispostas, graças às pesquisas
fajutas da Focus, a rebaixarem
a nota da economia brasileira.

Por César Fonseca, publicado originalmente em Pátria Latina

Com base nas previsões, nos chutes, nos furos dos 100 analistas financeiros, todo o jornalismo econômico, ancorado em pura abstração, fez o jogo, claro, dos especuladores.
A economia iria para o buraco porque estava o governo gastando excessivamente mais do que arrecadando, como se tivesse jogando fora, não levando a economia adiante.
A inflação saíra do controle, somente sendo possível um remédio, a elevação da taxa de juro, que, claro, eleva os preços, reduz os investimentos e cria situação negativa.
Deu tudo errado: os investimentos, a agropecuária e os serviços etc cresceram, garantindo o PIB de 2,3%.
É baixo?
Claro, é, mas vai ver as grandes economias, Estados Unidos, Europa, Japão, que apostaram na financeirização econômica global?
Estão no chão, puxando o mundo para baixo, dispondo de moeda conversível, que estabelece as relações de trocas a favor delas, não se sabe até quando.
O BC, com sua pesquisa Focus, chegou a prever recessão!
O jornalismo econômico, cuja fonte de informação são os economistas do mercado financeiro, embarcou na furada do mercado financeiro que enganou o jornalismo antiinvestigativo.
Economias regionais, como as do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul tiveram avanço do PIB superior a 6%, crescimento chinês.
Só se ficou sabendo disso, agora, porque o jornalismo econômico não foi à luta para saber o que estava acontecendo, esperando sair pesquisas de laboratório para confirmar tais tendências, quando isso poderia estar sendo visualizado em reportagens competentes, algo inexistente.
O Nordeste, onde a renda dos mais pobres aumentou, graças à melhor distribuição da renda, da mesma forma, registrou performance surpreendente.
Cuidou-se o poder midiático tão somente de martelar que a opção pelo consumo fracassou.
Mas, consumo é produção, produção é consumo, ou não?
Claro, a indústria nacional, que enfrenta a taxa de juro maior do mundo para investimento, não puxou a região sudeste, onde está o grosso da industrialização brasileira.
Isso mostra a necessidade de se tratar a indústria como se trata a agricultura, concedendo a ela juro baixo ou negativo, descontada a inflação, para novos investimentos serem realizados.
Por que não?
O agronegócio brasileiro explodiu porque o governo, a partir de 1994, passou a usar parte do depósito compulsório (dinheiro do povo), canalizado para os agricultores.
O Consenso de Washington, sob governo FHC, articulou essa saída, para o Brasil produzir commodities baratas para exportar, a fim de levantar dinheiro para pagar juros da dívida, que não seriam pagos por meio da produção industrial, visto que os concorrentes não queriam um Brasil industrializado e competitivo para agregar valor ao produto primário.
A anti-realidade mecanicista, construída em
laboratório dos economistas do 
mercado
 financeiro, enganou o jornalismo
 antiinvestigativo que tomou conta da
mídia nacional, comprometida com os 
interesses do capital especulativo, que
conspiram contra a economia
 brasileira, para impedir o seu
crescimento sustentável.
O agronegócio fortalecido, com a grana do povo, aumentou a oferta capaz de atender a demanda e os preços se equilibraram, ao mesmo tempo em que bombaram as exportações.
Ou seja, quem combate a inflação é o dinheiro do povo canalizado para a produção, minha gente!
Enquanto isso, as indústrias tiveram sobre si políticas creditícias criminosas, juros elevados, que inviabilizaram investimentos suficientes para aumentar a produção e atender a demanda interna a preços sustentáveis e equilibrados.
Precisou, nesse período, de lançar mão das importações, no contexto de deterioração dos termos de trocas, contrários aos interesses nacionais, cujos resultados, no ambiente da crise internacional, detonadora, pelos países ricos, de guerra cambial, foram importações maiores do que exportações, responsáveis por elevar os déficits em contas correntes do balanço de pagamentos.
O dinheiro do povo não foi canalizado para a indústria, mas para o bolso dos banqueiros, para esfolar o povo no crediário.
Faltaram e, ainda, faltam decisões políticas e lideranças empresariais fortes capazes de produzir movimentos no Congresso de modo a reverter essa situação, com apoio popular, em favor do interesse nacional.
Predominam, infelizmente, lideranças empresariais frágeis, que preferem ser sócias menores do capital internacional, do que ancorar-se nas forças internas nacionais.
Não será sofrendo crescente deterioração nos termos de troca, produzida por política macroeconômica conduzida pelos especuladores, que determinam dependência econômica nacional eterna da poupança externa, que o país se libertará da ganância especulativa.
O capital nacional existe para ser mobilizado, desde que haja decisão política, como aconteceu em relação à agricultura.
Na Coréia do Sul, por exemplo, esse movimento de mobilização política das forças nacionais se deu em torno da indústria, e o país se transformou em grande potência industrial, visto que a agricultura coreana inexiste.
Como os concorrentes do Brasil, no campo das manufaturas, não interessavam pelo desenvolvimento da indústria, como se interessou pelo desenvolvimento da agricultura, a fim de comprarem commodities baratas, para produzir manufaturas caras, impondo, assim, deterioração nos termos de troca, via políticas cambiais, não pode o setor industrial nacional desenvolver-se, sustentavelmente.
Conseqüentemente, as tensões inflacionárias advêm dessa lógica da dependência que somente será superada por nacionalismo econômico e melhor distribuição da renda nacional, apoiando-se no mercado interno, como se tenta fazer, ainda, insuficientemente, os governos petistas nos últimos dez anos.
Dominada pelo pensamento neoliberal, a grande mídia nacional está a serviço do aprofundamento dessa dependência e não do esclarecimento de suas razões, em favor da educação política do povo.
Os governos Lula e Dilma erraram feio ao não apoiar uma mídia nacionalista como fez Getúlio Vargas.
Getúlio criou a rádio nacional, a tevê nacional e financiou o capital privado para editar um jornal popular, o Última Hora.
Não teve medo das ameaças.
Os governos petistas tiveram medo de serem ousados.
Por isso, o que se vê, hoje, é um tremendo oligopólio midiático conservador e reacionário, com a Rede Globo à frente, promotor de coberturas jornalísticas parciais, tipo programas de debates, como o de William Waack e da Globonews, todos se ancorando em gráficos com números arranjados pelo mercado financeiro, onde o contraditório passa longe.
Todo mundo escravizado pelo pensamento neoliberal.
Leia-se, por exemplo, nos jornais dessa sexta feira  a cobertura econômica sobre o PIB 2013 e não se vê opinião dos representantes dos setores produtivos, mas, apenas, do mercado financeiro.
São eles que estão plenamente disponíveis, a serviço da permanente especulação contra os interesses nacionais, para darem suas opiniões parciais, calcadas em interesses de classe.
Não há o jornalismo verdadeiro, para ouvir e analisar as duas partes da notícia, no ambiente do contraditório, necessário à formação crítica social.
A realidade é dual: masculino-feminino, singular-plural, claro-escuro, yin-yang, positivo-negativo, cara-coroa etc, interagindo-se dialeticamente, no ritmo da circularidade, tal como parafuso, para frente e para o alto.
O jogo do jornalismo brasileiro atual é o de bater na cabeça do prego, enterrando-o em barra de sabão, visão mecanicista.
Os agentes da economia, para o jornalismo brasileiro atual, são aqueles que não trabalham, apenas, especulam, em cima de modelos matemáticos, ciência que se desenvolve ao largo do real concreto em movimento, sem poder determiná-lo, como disse Hegel.
Não se ouve o empresário, não se ouve o trabalhador, agentes da produção e do consumo, para se fazer uma avaliação isenta etc.
Só a direita financeira opina.

O resultado é o que se viu, agora, tiro nágua da turma do periodismo neoliberal acrítico, esquizofrênico, alienado. 

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