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terça-feira, 2 de julho de 2013

'Mídia Ninja’ cresce com as manifestações e se contrapõe aos meios tradicionais, afirmam professores da UFMG

Da agência de notícias da UFMG

No cenário configurado pelas manifestações políticas que se espalharam pelo Brasil ao longo das últimas semanas, as redes sociais e outras mídias colaborativas têm sido fundamentais na tarefa de assegurar ao público outro tipo de acesso às informações sobre os protestos. Isso porque a transmissão feita pelos veículos tradicionais, detentores da maior audiência, é superficial e carregada de interesses.
Essa é a opinião compartilhada pelos professores da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG Carlos D’Andrea e Joana Ziller, que participaram de debate sobre o tema na semana passada, na Fafich.
“Na cobertura tradicional, o processo produtivo é massivo, pois há a necessidade de estar sempre no ar, ainda que não haja nada de interessante ou enriquecedor a ser divulgado. Além disso, as rotinas são frágeis e as coberturas ruins. Na maioria dos sites convencionais, inexiste a revisão do conteúdo; o editor só vê o texto quando já foi para a rede”, argumenta D’Andrea.
Para Joana Ziller, os meios tradicionais camuflam uma opinião moralista. “A TV mostra um embate entre polícia e manifestantes, quando na verdade se trata de um massacre imposto pelas autoridades. Recria-se uma paisagem na qual as manifestações são criadouros de vândalos. Fala-se de demanda difusa ou mesmo de luta sem causas, em vez de retratar a multiplicidade de reivindicações”, exemplifica.
A professora também observa que as ações pacíficas perdem foco para as violentas na mídia convencional, embora as últimas sejam absolutamente minoritárias. “Não convém à grande mídia divulgar quando tudo corre bem”, reflete.
Nas palavras de D’Andrea, nessa "batalha comunicacional", a superexposição da violência tem o intuito de deslegitimar os protestos. “Muitas vozes políticas que influenciam os meios de comunicação aproveitam-se do cenário de conflitos e fazem com que as impressões sobre o movimento caminhem para uma direção oposta, conforme seus interesses”, argumenta.

Liberdade de expressão absoluta

Além dos dois professores, o debate contou com a participação de representantes dessa mídia que constitui um movimento conhecido pela sigla Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação.
A PósTV é uma das principais experiências protagonizadas pela mídia Ninja. Trata-se de um projeto de emissora livre, criado em São Paulo, que utiliza a tecnologia do streaming (transmissão de vídeo pela internet) para fazer frente à mídia tradicional.
“Ao contrário das TVs comerciais, a PósTV baseia-se na liberdade de expressão absoluta, já que não temos anunciantes nem padrinhos”, explica o jornalista Rafael Vilela, presente ao debate.
A emissora promove debates em estúdio e nas ruas. “Como estamos na internet e sempre ao vivo, a interatividade contribui para o sucesso da iniciativa. Os telespectadores mandam comentários e perguntas e, às vezes, participam do papo via skype”, descreve.
Telespectadora da emissora alternativa, Joana Ziller relata episódios que acompanhou durante a cobertura das manifestações em Belo Horizonte no dia 26 de junho. “A PósTV mostrou quando um membro da Guarda Municipal adentrou o galpão de uma empresa invadida por manifestantes. Por recomendação de um elemento desse grupo, o guarda foi poupado de qualquer violência. Em outro momento, os radicais interromperam o ataque a um pequeno comércio, atendendo à súplica da proprietária. Isso a mídia tradicional não mostra, porque interessa a ela apenas estabelecer a ‘dicotomia emburrecedora’ entre vândalos e não vândalos”, analisa.

Sucesso instantâneo

Mais de 90 mil usuários do Facebook recebem atualizações da comunidade virtual BHnas Ruas . Trata-se de cobertura interativa das manifestações que ocorrem na capital mineira organizada por estudantes de Comunicação Social e outros colaboradores. Para o aluno de jornalismo da UFMG Gustavo Magalhães, o "Caçamba", um dos criadores da página, a rápida popularização do veículo foi surpreendente.
“Criamos um meio somente para reunir as informações que circulavam entre os estudantes. Mas a ideia se propagou de maneira tão vultosa que ficou até difícil administrar”, comenta ele. O perfil foi criado em 16 de junho e no dia seguinte seus idealizadores já estavam nas ruas cobrindo a segunda manifestação de rua da atual leva de protestos em Belo Horizonte.
Segundo "Caçamba", o grupo de internautas que dinamiza o BH nas Ruas conta com muito mais colaboradores do que os veículos tradicionais entre os que acompanham a situação pela rede e os que vão atrás das notícias in loco, no seio das manifestações. “Durante os protestos, chegou a 400 o número de colaboradores que nos enviaram informações, dicas e fotos de todas as partes da cidade”, descreve.
Embora a linguagem e identidade visual da página guardem semelhanças com veículos consolidados – a ponto de a BH nas Ruas já ter sido cogitada como um "braço" da Rede Globo –, "Caçamba" conta que a experiência ainda é incipiente e sem estrutura. “Certa vez, fiquei fora do ar porque a bateria do equipamento esgotou. O público ficou preocupado, temeroso de que algo havia me acontecido”, relata.

“Caçamba” admite que a ficha ainda não caiu. “Somos um simulacro dos meios tradicionais, sem experiência e know-how suficientes. Confesso que estou tentando entender esse fenômeno”, afirma o estudante.

Um comentário:

Aurélio Veloso disse...

Conheço a dona deste pequeno estabelecimento, através de uma prima.
A loja dela fica ao lado de uma concessionária de automóveis e ela implorou chorando aos bandidos e nenhum policial, ou bombeiro - a concessionári estava em chamas- quis atend~e-la em socorro, pois todo o quarteirão podia ir pros ares.
Se interessar meu e-mail é alljorn@gmail.com.
bom dia!