O jornalista Paulo Miranda, presidente da Abcom, levou à CDH as preocupações do setor com o financiamento dos canais comunitários. |
Fruto do processo de digitalização da TV no Brasil, o Canal
da Cidadania poderá ser um passo importante na democratização da comunicação,
com a construção de um sistema público plural que inclui TVs não-estatais. O
assunto foi discutido na segunda-feira (23) pelos participantes de uma
audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
(CDH), que debateu os desafios da comunicação pública e dos direitos humanos
nas TVs abertas e por assinatura.
O governo prevê a implantação do Canal da Cidadania até 2019
nas cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Ele vai fazer uso da
multiprogramação possibilitada pela TV digital. Serão quatro faixas de
conteúdo: a primeira, para municípios; a segunda, para estados; e outras duas
para associações comunitárias.
— O Canal da Cidadania é uma revolução. Agora as prefeituras
e as comunidades locais vão poder falar na TV aberta. Essa sempre foi a nossa
batalha — disse o superintendente-executivo de Relacionamento Institucional da
Empresa Brasil de Comunicação (EBC), André Barbosa.
Além do Canal a Cidadania, também serão criados os Canais do
Poder Executivo, da Educação, e da Cultura.
Pola Ribeiro, da Secretaria do Audiovisual (SAV) do
Ministério da Cultura, disse que uma maior disseminação dos canais
estatais e públicos vai ajudar a diversificar a informação recebida pela
população.
— A comunicação privada tem papel importante, mas ela não
pode sozinha dar conta da comunicação do país. Não temos que bater altos
índices de audiências, mas de referência — disse.
Integrante da Coordenação Executiva do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação, Bia Barbosa espera que os novos canais incluam a
participação de diversos setores da sociedade.
— Se a programação do Canal da Educação for uma programação
desenhada e organizada integralmente pelo MEC, a gente está falando de mais um
canal estatal e não público — apontou.
De acordo com o representante do Ministério das
Comunicações, Otávio Pieranti, o decreto de criação dos canais já prevê
mecanismos de participação social na programação. Até hoje, 378 municípios
solicitaram a outorga do Canal da Cidadania. Desses, 25 já estão em fase de
apresentação de projeto técnico. Após essa etapa, informou, o Ministério
encaminhará os pedidos de outorga ao Congresso Nacional, que dará a palavra
final.
Veja a reportagem sobre o debate dos desafios da comunicação pública e dos direitos humanos na TV
Financiamento
Outro assunto que mereceu atenção durante a audiência
pública foi a sustentabilidade das rádios e TVs comunitárias. O presidente da
Associação Brasileira de Canais Comunitários, Paulo Miranda, propôs que o
financiamento das TVs estaduais, universitárias, comunitárias e de órgãos
públicos deve seguir modelo semelhante ao adotado na lei que criou a EBC
(Empresa Brasil de Comunicação).
Além de recursos orçamentários da União, a EBC
recebe verbas da publicidade institucional do governo, doações e recursos do
Fistel (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações).
Outros representantes de rádios e TVs comunitárias sugeriram
que o governo federal destine ao menos 10% da verba gasta com publicidade para
veículos de comunicação pública e comunitária. Em 2014, a administração pública
federal gastou R$ 2,32 bilhões em publicidade.
— Esse bolo é do nosso imposto, é do nosso recurso e nós
temos direito de dizer para onde deve ir — disse Paulo Miranda.
Alessandro Godinho, da Secretaria de Comunicação da
Presidência da República, pasta que é responsável pela destinação das verbas de
publicidade estatal, afirmou que o governo amentou o número de veículos que
recebem verbas nos últimos 10 anos. Segundo ele, a audiência é um critério
importante, mas não o único considerado.
— O governo evoluiu de um patamar de cerca de 200 veículos
programados para quase 4 mil veículos. Somos sabedores que temos um campo para
avançar. O recurso é finito e não conseguimos atender às expectativas de todo
mundo — assinalou Godinho.
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