Milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo eu própria, receberam nos últimos dias uma mensagem simpática do Facebook, informando sobre mudanças na sua política de dados e de privacidade a partir de 1 de janeiro do próximo ano. s agradáveis explicações dadas pelos gestores da rede social incluem novidades como “novos controles para ajudar você a tirar mais partido do Facebook”; “para melhorar a experiência”; “para tornar mais fácil de compreender”; “para controlar os anúncios que vê”; exortando também a “descobrir o que se passa à sua volta”; “e a tornar as compras mais cómodas”.
A mídia generalista escreveu profusamente
sobre as novas alterações, descrevendo as novas funcionalidades, “para ajudar
os usuários a controlarem melhor sua privacidade”.
Mesmo nas questões complexas da publicidade
e da geolocalização, a mídia limita-se a informar que os usurários poderão
controlar os anúncios que querem ver e que a geolocalização é utilizada para
direcionar os anúncios.
“Proteger as informações das pessoas e
prover controles significativos de privacidade são o motor de tudo o que nós
fazemos”, diz a empresa.
Na questão difícil de perceber como a rede
social utiliza a enorme quantidade de dados de cada usuário (e a forma como
esses dados são alegadamente vendidos), o Facebook tem uma resposta também
agradável: “"Nós ajudamos os anunciantes a alcançarem as pessoas com
anúncios relevantes sem dizer para eles quem é você”. Podemos, portanto, ficar
descansados.
Tudo parece claro, simples e cor-de-rosa.
Mas a verdade não é essa ou, pelo menos, não é só essa.
Comecemos por alguns detalhes que nem todos
conhecem.
Os amigos-fantasma
Você já deve ter reparado que, das centenas
de amigos que tem e das dezenas de páginas de que é fã, só recebe notícias de
uma parte deles. Ultimamente, até parece serem sempre os mesmos. Por isso, o
seu círculo de amigos na verdade está se reduzindo e os temas postados não
variam muito. Onde estão os outros então? Você não recebe posts ou mensagens
deles e começa a duvidar se não terão desaparecido ou simplesmente bloqueado
você. Mas não, eles continuam lá, só que tendem a não aparecer no seu Feed de
Notícias. São os chamados amigos-fantasma.
Por é que isso acontece? Simplesmente, o
Facebook decide ele próprio que as publicações destes amigos não interessam a
você. Por outras palavras, faz uma triagem dos posts exibidos.
Grande parte das publicações dos amigos ou
de páginas é excluída do seu Feed de Notícias. E as poucas que restam também
nem todas são mostradas. Há um segundo nível de triagem, que classifica as
publicações que cada usuário pode ver segundo um complexo algoritmo (o EdgeRank
algoritm). De forma resumida, este mede a relevância dos posts segundo três
critérios: a afinidade (quanto mais um usuário interage com outro, maior é a
probabilidade de os posts dele aparecerem no Feed de Notícias desse usuário); a
novidade do post; o tipo de conteúdo (textos, fotos ou vídeos são tratados de
forma diferente, em várias proporções). Há ainda mais dois critérios, o chamado
story bumping (um post pode voltar a aparecer no seu Feed de Notícias, caso
tenha muitos comentários e você tenha interagido muito com o seu autor) e o
last actor (que atribui mais importância às 50 últimas interações que você
fez).
Usuários e acionistas
O Facebook tem vários tipos de público,
cujos interesses não parece ser fácil de conciliar: os usuários, os anunciantes
e os acionistas.
Se os simples usuários se mostram
frustrados por muitos de seus amigos “desaparecerem”, as empresas anunciantes
ficam simplesmente furiosas com isso, já que querem chegar a um maior número
possível de pessoas.
Quando uma atualização (texto, imagem ou
vídeo) é publicada, apenas 16% dos seguidores a conseguem visualizar.
Para que essa percentagem aumente e alcance
os restantes 84%, as empresas e anunciantes estão dispostas a pagar. Eles
fazem-no através de duas formas de publicidade disponíveis na rede: os Posts
Promovidos e as Histórias Patrocinadas. O objetivo dos Posts Promovidos é
alcançar mais pessoas que gostam de uma determinada página, assim como os seus
amigos.
Pode ser promovido qualquer tipo de
publicação, incluindo atualizações de estado, fotos, ofertas, vídeos e
perguntas, mediante um preço.
As Histórias Patrocinadas atingem os amigos
daqueles que já são seguidores de uma página e que indicam ter o mesmo tipo de
interesses.
Os especialistas em marketing em redes
sociais operam com conceitos como Taxa de Cliques (CTR), Alcance Viral, Alcance
Orgânico, etc.
Um estudo publicado em março passado mostra
que o alcance, ou seja, o número de pessoas que o Facebook pode alcançar com
suas mensagens, caiu para metade nos últimos seis meses. "Seria apenas uma
questão de tempo antes que as páginas perdessem toda a visibilidade
natural" (leia-se, livre de pagamento), diz a este respeito o moderador de
um site especializado.
Com a última mudança de algoritmo, o
Facebook pretende que os seus principais usuários, sejam empresas ou pessoas
individuais, comecem a utilizar mais regularmente o novo serviço de Posts
Promovidos e de Histórias Patrocinadas. Como compensação para quem o fizer e,
logo, se tornar um usuário pagante, terá maior visibilidade, aumentando a
probabilidade de seus conteúdos serem mais vistos, daí gerando maior retorno.
Pelo contrário, quem quiser se manter como até agora, com utilização gratuita,
deverá ter algum tipo de penalização, que é precisamente ter os seus conteúdos
menos visíveis.
Resumindo: se quiser que mais pessoas vejam
o que você publica, vai ter que pagar. Não se esqueça que a rede é uma empresa
e, logo, o que mais lhe interessa é gerar lucro para seus acionistas.
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