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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Livro: Jornalista lança Sobrevivência e resistência. Tempo de pandemia e utopia

 

Os textos, diz o autor, analisam a indiferença da sociedade diante da necropolítica do governo federal, que tem causado a perda de milhares de vidas. Apesar disto, o que se vê é a falta de alteridade com a dor das vítimas e uma ausência de disposição por parte das forças de esquerda no enfrentamento à política governamental, liderada por um ex-capitão, expulso do exército. 

 

Sobrevivência e resistência: Tempo de pandemia e utopia, o 16º livro do jornalista, escritor e poeta Pedro César Batista, reúne uma coletânea de artigos escritos a partir de 15 e março, começo da pandemia da Covid-19 e será lançado durante a edição do Fórum Social Mundial de 2021, que acontecerá entre os dias 23 e 31 de janeiro.

Os textos, diz o autor, analisam a indiferença da sociedade diante da necropolítica do governo federal, que tem causado a perda de milhares de vidas. Apesar disto, o que se vê é a falta de alteridade com a dor das vítimas e uma ausência de disposição por parte das forças de esquerda no enfrentamento à política governamental, liderada por um ex-capitão, expulso do exército. O chefe do Planalto lidera uma facção das Forças Armadas, especialmente alguns generais, da ativa e reserva, que negam o coronavírus, a ciência e propagam a Covid-19, a principal causa das mais de 210 mil mortes no Brasil.

Como explicar a desmobilização, apatia e desarticulação das forças de esquerda com centenas de milhares de mortes, a retirada dos Direitos Sociais, a destruição do Meio Ambiente, o desmonte e a entrega do Patrimônio Nacional ao capital internacional? Estes pontos permeiam os textos de Pedro.

Nunca foi do desconhecimento público os crimes do ex-deputado Bolsonaro, os quais se tornaram mais frequentes e duros após a sua eleição para a Presidência, entretanto, como explicar que em dentro do Estado Democrático de Direito, mesmo com pouco tempo de duração, uma pessoa com tantos crimes fosse eleita para o cargo mais importante do país.

Qual o papel desempenhado pelas das forças de esquerda no atual momento histórico? Devem atuar em busca de uma nova composição com as elites, aceitar todas as contrarreformas que retiraram direitos da classe trabalhadora? Organizar-se somente em busca de um bom resultado eleitoral em 2022? Buscar hegemonia no campo popular e democrático, sem atuar para construir uma unidade estratégica com um programa efetivamente popular e de esquerda?

Não é um livro para acadêmicos – diz Pedro César Batista -, apesar de poder lhes interessar, já que os artigos tratam do distanciamento dos debates teóricos e das direções de esquerda das bases populares, a falta de formação ideológica da militância, o desconhecimento e negação das experiências revolucionárias no processo civilizacional, especialmente na atual fase em que os setores indentitários buscam o protagonismo, negando a luta de classes.

Sobrevivência e resistência: Tempo de pandemia e utopia é um conjunto de artigos que serve à militância e para gente do povo, que precisa realizar esse debate sobre a ruptura com o capitalismo, única forma de avançar na construção da dignidade humana.

O autor começou a publicar há mais de 40 anos, mesmo tempo que se dedica a militância por democracia, justiça social e a dignidade humana. O conjunto de sua obra é formado por poesia, contos, romance e pesquisas jornalísticas.

Dados sobre o autor:

Pedro César Batista é jornalista profissional há mais de 30 anos, poeta e romancista que, segundo ele mesmo diz, tem por prioridade a luta por uma sociedade igualitária e socialista. Estudou Letras, Direito e tem especialização em Antropologia e Educação Ambiental. Nasceu em Alvares Florence, interior de São Paulo. Antes de completar dois anos de idade sua família seguiu para o interior do Pará, onde viveu dentro da floresta, na cidade de Paragominas. Aos dez anos transferiram-se para Belém. Morou em muitos lugares. Um migrante permanente. Vive desde 2002 em Brasília (DF).

Suas primeiras publicações foram Tudo tem (1979), E aí? (1980), Poesia matutaí (1981), Letras livres (1982) e Coração de boi (1984), folhetos com poemas publicados no mimeografo. Participou das Coletânea(s) de poetas em Ilhéus (Bahia - 1980) e de Enluadonovo (1983). Neste período atuou na criação da União dos Poetas do Pará – UPOP e da seção paraense da UBE – União Brasileira de Escritores. Em 1991, publicou Conivência e impunidade (CEPE-SP).

Durante a pandemia publicou nas redes o conto Noite Longa e, agora, a coletânea de 30 artigos, com textos produzidos durante o período de isolamento, Sobrevivência e resistência. Tempo de pandemia e utopia.

Serviço

Lançamento - 29 de janeiro, às 18h, no Fórum Social Mundial 2021, com debate virtual com os prefaciadores, Marcos Fabrício Lopes da Silva, Doutor e professor em Literatura e José Lima da Silva Filho, advogado e romancista, autor de Tocaieiro Sanguinário, e o autor, Pedro César Batista.

Editora ArtLetras
Preço: R$ 20,00 (E-book)
Informações: pcbatis@gmail,.com ou pelo fone 61 98322 9805

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Livro: "Jornalistas Engajados" é o título mais recente sobre jornalismo na França

Organizado por Sandrine Lévêque e Denis Ruellan, acaba de ser lançado na França a obra Journalistes engagés (Jornalistas Engajados).

O trabalho coletivo reúne oito artigos que versam sobre temas variados: desde a transformação nas relações entre jornalistas e polítcos até a profissionalização das Midas alternativas.

O livro foi lançado pela PUR – editora da Universidade de Rennes - e custa 15 euros. Veja abaixo, em francês, a relação de temas e autores.

  • · RUELLAN, Denis, "Des reporters en plein paradoxe. Représentations au cinéma (1975-1988)"
  • · SAITTA, Eugénie, "Les transformations des rapports entre journalisme et politique. Une comparaison France/Italie depuis les années 1980"
  • · KACIAF, Nicolas, "Engagement journalistique et bipolarisation de l'espace partisan. Le cas des services Politique de la presse écrite française (1968-1981)"
  • · SOURP-TAILLARDAIS, Marie-Laure, "Un travail de conversion au journalisme. Désengagement militant des journalistes politiques de presse écrite généraliste: le cas des rubricards Front National"
  • · HUBE, Nicolas, "La 'professionnalisation' sous contrainte de la presse alternative. L'introduction d'une hiérarchie à Libération et à la Tageszeitung"
  • · FERRON, Benjamin, "Le journalisme alternatif entre engagement et distanciation. Les stratégies médiatiques des mouvements sociaux dans la 'bataille de Cancun' contre l'OMC (2003)"
  • · AUBRET, Camille, "Les journalistes politiques libanais, entre engagements professionnels et militants. Quelques usages des convictions politiques chez les journalistes de presse au Liban"
  • · FRISQUE, Cégolène, "Des militants du journalisme ? Les journalistes 'critiques' comme militants de l'autonomie professionnelle"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Rodolfo Walsh e o jornalismo militante

Por Silvia Adoue*, publicado em Brasil de Fato

“Não me deixem sozinho, filhos da puta”. Através da persiana do seu quarto, o jornalista ouvia a súplica do soldado agonizante. Dessa vez, a violência se apresentava bem em frente de sua casa, transformada em trincheira dos confrontos. Quem mandou morar em frente a um quartel? Um golpe de Estado surpreendeu Rodolfo Walsh, naquela noite de 9 de junho de 1956, enquanto ele jogava xadrez. O levante pretendia restaurar o governo legalmente eleito do general Juan Domingo Perón, derrubado no ano anterior. Na manhã seguinte, a ditadura militar derrota os rebeldes e fuzila seus líderes.

O jornalista, 30 anos, tradutor e autor de novelas policiais, inveterado jogador de xadrez, casado, duas filhas pequenas, procurou esquecer o acontecido e continuar sua pacata vidinha. “Perón não me interessa, a revolução não me interessa. Posso voltar ao jogo de xadrez? Posso. Ao xadrez e à literatura fantástica que leio; aos contos policiais que escrevo; ao romance ‘sério’ que planejo para daqui a uns anos, e mais algumas outras coisas que faço para ganhar a vida e que chamo jornalismo, embora não seja”.

Nariz na porta

Uns meses depois, um amigo lhe desliza uma informação: “Tem um fuzilado que vive”. Naquela noite de 9 para dez de junho, um par de horas antes da decretação da lei marcial, a polícia provincial levou treze homens para um lixão e os fuzilou. O jornalista decide investigar.

Os seus motivos? “Não sei o que me atrai em toda essa história difusa, distante, cheia de improbabilidades”. Quer dar um furo jornalístico, depois lembrará. Ou talvez recorde a voz do soldado morto, naquela noite, sem que tivesse feito nada para ajudá-lo. Ou porque sente vergonha, como depois confessará, ao se encontrar com Livraga, “o fuzilado que vive”, quando este desabotoa a camisa para mostrar a marca da bala. O fato é que se apressa a escrever, temendo que alguém saia na frente dele. Mas, depois, percorre os jornais de circulação nacional e dá com o nariz na porta. Termina publicando numa folha sindical que fi cava pendurada nos quiosques.

Os fuzilados daquela noite não tinham qualquer relação com o levante. Tornaram-se suspeitos de rebelião apenas por serem trabalhadores (e peronistas). Mas aquele putsch pegou quase de surpresa a todos. Quem mais sabia dele era o próprio governo. Dois oficiais legalistas do Exército e alguns civis reuniram uma espécie de “armada Brancaleone”. Os sindicatos tinham sido arrancados das mãos dos trabalhadores, e estes estavam completamente desorganizados. Os treze fuzilados de 9 de junho, longe dos acontecimentos políticos, estavam reunidos na casa de um vizinho, num subúrbio de Buenos Aires, apenas para ouvir a transmissão radiofônica de uma luta de box.

Repercussão

O governo reconhece os fuzilamentos dos líderes, que ocorreram após a promulgação da lei marcial, mas nada diz do outro massacre: o do lixão. A folha sindical começa a circular com as poucas informações reunidas. Timidamente, outras testemunhas vão se aproximando. A grande imprensa é obrigada a se pronunciar. E o governo, através dela. O fuzilamento foi ilegal. Estava fora, inclusive, da própria legalidade do governo militar, pois o massacre aconteceu antes da decretação da lei marcial.

O jornalista é ameaçado. Abandonando sua vida pacata, esconde-se num subúrbio, consegue um documento falso e passa a andar com uma arma de pequeno calibre. À primeira matéria, soma-se outra e mais outra. Cada nova folha sindical é esperada nos quiosques, como um novo capítulo da novela, pelos trabalhadores que, naquela noite, também tinham ouvido a transmissão da luta de box e, agora, pensam que aquilo que aconteceu com os treze bem podia ter acontecido também com eles. A “novela” vai crescendo. Em março de 1957, um editor se atreve a publicar a reportagem de investigação, num livro que o jornalista e escritor Rodolfo Walsh chama de Operação Massacre.

O texto é, ao mesmo tempo, uma descrição dos acontecimentos, um diário de investigação, uma peça de acusação do crime de Estado e o relato da conversão do jornalista. Walsh disse: “Operação Massacre mudou minha vida. Escrevendo-a, compreendi que, além das minhas perplexidades íntimas, existia um ameaçante mundo exterior”.

Ritmo vertiginoso

Na primeira parte – “Os personagens” –, um retrato de cada um dos treze fuzilados, alonga-se no seu cotidiano de trabalhadores suburbanos, na jornada de 9 de junho, até o momento em que se reúnem, na noite, em torno do aparelho de rádio. Quando chega à segunda parte – “Fatos” –, o texto passa a ter um ritmo vertiginoso, com frases curtas e em tempo presente. A escrita é “ofegante”. O ponto de vista é aquele dos fuzilados. Na hora do massacre, um subtítulo anuncia: “Tempo se detém”. A experiência é vivida como uma alucinação, perde-se a noção do tempo, que é, justamente, a prova do crime de Estado. A terceira parte – “Evidências” – é o relato da batalha das versões. O crime de Estado é duplo: assassina e oculta o assassinato. A tarefa do jornalista-detetive é construir a história com os relatos fragmentados dos sobreviventes e das testemunhas, desmontando as sucessivas versões ofi ciais.

Rodolfo Walsh havia comemorado o golpe que derrubou Perón e, como a maioria dos intelectuais da época, detestava os peronistas. Havia escrito dois artigos a favor da ditadura militar. Mas ouviu o soldado que não morreu gritando, como ele esperava, “Viva a pátria!”. Morreu defendendo, obrigado, as posições do governo. Alguma coisa não encaixava, e o jornalista queria entender. Aproximou-se das testemunhas, visitou suas casas, viu de perto a vida que os trabalhadores peronistas levavam. Não eram “heróis” de cinema. Como o próprio Walsh, eram homens e mulheres que se atreviam a denunciar a ditadura. Operação Massacre, a investigação e a escrita, é também a história da transformação do seu autor.

Militância

Walsh tornou-se um jornalista e escritor militante. Abandonou o gênero policial para se dedicar à investigação de crimes de Estado, como o assassinato de um advogado, ponta visível de uma guerra interna das Forças Armadas pelo controle dos grandes jornais. Mas nunca abandonou a literatura ficcional. Continuou escrevendo, mesmo não publicando. Para ele, a literatura ficcional era um espaço de experimentação e refl exão, um método de conhecimento. Os seus achados formais migraram da fi cção para o jornalismo e vice-versa, na procura para encontrar o tom justo, o ritmo necessário, a palavra mais adequada para dar conta da realidade, para provocar um efeito de leitura. A literatura é, dizia ele, “um avanço laborioso através da própria estupidez”.

A convite de Jorge Ricardo Masetti, um dos homens de confi ança de Ernesto Guevara, Walsh foi a Cuba para se integrar à recém-fundada agência de notícias Prensa Latina. Sem querer, num plantão da agência, descobriu uma mensagem cifrada, que chegou por engano, para a máquina de telex. Com a ajuda de um pequeno manual, conseguiu decifrá-la: continha informações sobre a invasão à Baía dos Porcos. De alguma maneira, continuou fazendo tarefas de inteligência e contrainteligência.

Comunicação popular

Voltou para Argentina, onde dirigiu o semanário CGT, da central combativa dos trabalhadores, com correspondentes em todos os locais de trabalho. Já à frente de uma rede popular de informação, investigou outro crime, a morte de um sindicalista pelego, que revelava toda uma trama que associava dirigentes sindicais, empresários e o aparelho repressivo do Estado. Essa investigação e sua divulgação contribuíram para a formação de uma corrente socialista no movimento sindical. Na central dos trabalhadores, redigiu, em 1973, o Programa da CGT: fundamentais para derrubar a ditadura e erigir um governo popular. Nesse contexto, entrou para a organização Montoneros, onde se ocupou do setor de comunicação, de inteligência e contrainteligência.

Na noite de 24 de março de 1977, um ano exato depois do golpe de Estado e uns poucos meses depois da morte da sua fi lha mais velha, também jornalista e militante, num enfrentamento com as Forças Armadas, Walsh escreveu uma carta e um conto. Ele já vinha questionando a crescente orientação militarista e o abandono do trabalho de base pela direção dos Montoneros.

Começou a produzir cartas que assinava pessoalmente e colocava nas caixas de correio. Já não podia falar em nome de um coletivo, falava em nome próprio e assumia o risco. No conto que escreveu naquela noite, Juan se iba por el río, um gaúcho atravessava o rio da Prata a cavalo durante uma maré baixa excepcional. O relato acaba com Juan no meio do leito e a maré subindo.

Profecia

A carta era um balanço do primeiro ano do governo militar. Não coincidia com a avaliação de Montoneros. Walsh via a repressão como parte de uma estratégia para desmontar a economia nacional e submeter as forças produtivas aos interesses imperialistas. Era um diagnóstico precoce do que aconteceria ao longo dos anos seguintes. Termina o texto “sem a esperança de ser escutado, com a certeza de ser perseguido”.

No dia seguinte, foi emboscado na rua. Respondeu com uma arma de pequeno calibre, que mais servia para evitar que o aprisionassem vivo. Seu corpo e os seus escritos inéditos desapareceram. As cartas pessoais procuravam recuperar aquilo que ele tinha experimentado com Operação Massacre: queria se dirigir não aos heróis de cinemas, mas aos homens e às mulheres comuns que ousassem um gesto de liberdade.

Operação Massacre acaba de ser publicada em português. A sua leitura é uma oportunidade para que nos apropriemos dos procedimentos de investigação de Walsh e da sua escrita de alta efi ciência literária e militante.

Silvia Adoue é argentina radicada no Brasil,
mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo,
doutora em literatura latinoamericana pela FFLCH-USP e
professora da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF).