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terça-feira, 19 de maio de 2015

Religiões afrobrasileiras ganham direito de resposta na Rede Record


A Rede Record de Televisão e a Rede Mulher, ambas de propriedade do Bispo Edir Macedo, terão que ceder quatro horas (no mínimo) de suas respectivas programações para exibir o direito de resposta das religiões afro-brasileiras.
De acordo com o site “Yahoo”, as emissoras de televisão do Bispo Macedo foram condenadas a produzir e exibir, cada uma, quatro programas de televisão, a título de direito de resposta às religiões de origem africana, em razão das ofensas proferidas contra elas em suas programações. Cada programa deverá ter a duração mínima de uma hora e as rés empregarão seus respectivos espaços físicos, equipamentos e pessoal técnico para produzi-los. A decisão é do juiz Djalma Moreira Gomes, da 25ª Vara Federal Cível em São Paulo/SP.
São consideradas religiões afro-brasileiras, todas as religiões que foram trazidas para o Brasil pelos negros africanos, na condição de escravos. Ou religiões que absorveram ou adotaram costumes e rituais africanos, como:
Candomblé – Em todos os estados do Brasil
Umbanda – Em todos os estados do Brasil
Babaçuê – Maranhão, Pará
Batuque – Rio Grande do Sul
Cabula – Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Culto aos Egungun – Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
Culto de Ifá – Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
Encantaria – Maranhão, Piauí, Pará, Amazonas
Omoloko – Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo
Pajelança – Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas
Quimbanda – Em todos estados do Brasil
Tambor-de-Mina – Maranhão, Pará
Terecô – Maranhão
Xambá – Alagoas, Pernambuco
Xangô do Nordeste – Pernambuco
O Ministério Público Federal (MPF), o Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira (INTECAB) e o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e da Desigualdade (CEERT) ajuizaram a ação civil pública contra as emissoras, alegando que as religiões afro-brasileiras vêm sofrendo constantes agressões em programas por elas veiculados, o que é vedado pela Constituição Federal, que proíbe a demonização de religiões por outras.
Djalma Gomes explica que a um prestador de serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens é um “longa manus (executor de ordens) do Estado no desempenho dessa atividade, e como o próprio Estado deve se comportar no cumprimento das regras e princípios constitucionais legais”.
O juiz cita algumas passagens da Constituição Federal (CF) que tratam destes serviços que devem ser “prestados visando à consecução dos fins da República Federativa do Brasil, entre eles a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” e que o Estado deve garantir a todos “o pleno exercício dos direitos culturais, protegendo as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras” e “em caso de ofensa, é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo”.
“Os fatos imputados na inicial estão comprovados e são, ademais, incontroversos”, afirma o juiz, acrescentando que as emissoras sequer os negaram, apenas procuraram extrair a “conotação de ofensivos”, atribuída pelos autores.
O magistrado transcreve um trecho da liminar proferida na ação, pela juíza federal Marisa Cláudia Gonçalves Cucio, que mostrou relatos de pessoas que se converteram à Igreja Universal, mas antes eram adeptas às religiões afro-brasileiras, eram tratadas como “ex-bruxa”, “ex-mãe de encosto” e acusadas de terem servido aos “espíritos do mal”.
“Este tipo de mensagem desrespeitosa, com cunho de preconceito […] tem impacto poderoso sobre a população, principalmente a de baixa escolaridade, porque é acessada por centenas de milhares de pessoas que podem recebe-la como uma verdade”, explicou, na ocasião, Marisa Cucio.
Tanto a Rede Record quanto a Rede Mulher deverão exibir cada um dos quatro programas em duas oportunidades (totalizando oito exibições por emissora), em horários correspondentes àqueles em que foram exibidos os programas que praticaram as ofensas. Além disso, deverão realizar três chamadas aos telespectadores na véspera ou no próprio dia da exibição. A decisão não cabe recurso.
Leia aqui a íntegra da decisão

terça-feira, 16 de abril de 2013

“A cobertura da imprensa brasileira sobre as religiões" é o tema do programa “Jornalismo em Debate”, na Rádio Ponto UFSC, hoje


Matéria produzida por Guilherme Longo, graduando em Jornalismo da UFSC 


“Jornalismo em Debate” retorna à programação da Rádio Ponto UFSC, nesta terça-feira, dia 16, a partir das 16h, com o tema “A cobertura da imprensa brasileira sobre religiões: fé da imprensa ou mídia laica?”. Nesta primeira edição do ano de 2013, os convidados vão debater como a fé e as manifestações religiosas são retratadas pela imprensa em um país definido como laico pela sua Constituição.

Todas as religiões praticadas no Brasil têm espaço nas emissoras de rádio, canais de televisão ou mídias impressas do país?  Como se comportou a imprensa brasileira na recente cobertura da eleição do Papa Francisco I? Estas e várias outras questões sobre o tema vão ser abordadas no programa desta terça-feira.

Já estão confirmados para a mesa de debates o jornalista da TV Senado Chico Sant’Anna, o jornalista e professor da UFG e PUC-Goiás Luiz Signates, o professor do Instituto de Teologia de Santa Catarina Domingos Nandi e o escritor e colunista do Diário Catarinense Fábio Brüggmann. A produção do "Jornalismo em Debate" está em contato com outros especialistas e jornalistas para também participarem do debate.

O programa vai ao ar a partir das 16h desta terça-feira, com uma hora e meia de duração. É transmitido pela Rádio Ponto UFSC - www.radio.ufsc.br - e em rede pela Rádio Joinville Cultural 105.1 FM. Os ouvintes podem interagir enviando perguntas e questionamentos para o e-mail jornalismoemdebateufsc@gmail.com ou pelo twitter @radioponto.

Neste semestre, “Jornalismo em Debate” passa a ser transmitido mensalmente, produzido por estudantes do Curso de Jornalismo da UFSC, orientados pela professora Valci Zuculoto. O programa, mediado pelo professor Áureo Moraes, integra a Cátedra FENAJ/UFSC de Jornalismo para a Cidadania, uma parceria entre o Curso de Jornalismo da Universidade e a Federação Nacional dos Jornalistas, com o apoio do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC).

Desde a estreia, em abril de 2011, foram discutidos temas como jornalismo internacional, corrupção no futebol, crise econômica mundial, coberturas sobre educação, de tragédias como a do Realengo, de questões do gênero feminino, da homofobia, da função das redes sociais, entre outros assuntos que estão na pauta diária da imprensa.

No site da Rádio Ponto (www.radio.ufsc.br) é possível baixar e ouvir todas as edições anteriores de “Jornalismo em Debate”. E não esqueçam: os ouvintes e internautas podem participar, antes e durante o programa, encaminhando perguntas pelo e-mail: jornalismoemdebateufsc@gmail.com ou pelo twitter @radioponto.

Mais sobre os convidados desta edição:


  • Chico Sant’Anna: jornalista da TV Senado, com mestrado pela Universidade de Brasília e doutorado sobre as mídias das fontes na Universidade de Rennes – 1, na França.
  • Luiz Signates: professor do Mestrado em Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUG-GO). É coordenador dos Núcleos de Pesquisa em Comunicação, Cidadania e Política da UFG e Comunicação e Cidadania da PUC-Goiás.
  • Domingos Nandi: professor do Instituto de Teologia de Santa Catarina, com mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade Pontifício Salesiana e doutorado na mesma área pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Atua nas áreas de liturgia e novas tecnologias de comunicação.
  • Fábio Brüggmann: Escritor, editor e roteirista, natural de Lages, produz a coluna “Penso” do Caderno de Cultura do Diário Catarinense, veiculada aos sábados, debatendo os principais assuntos da semana


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Canais da Band também podem ser comprados pelo pastor Valdemiro Santiago

Do Câmara em Pauta


O líder religioso Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, conhecido nas redes sociais por chorar para pedir dinheiro aos fiéis, pode tornar-se proprietário de duas redes de TV. Segundo informações da Folha de S.Paulo, o “diplomata” estaria finalizando com as Organizações Martinez a compra da rede CNT de televisão, por cerca de R$ 500 milhões. A CNT possui atualmente, entre emissoras próprias, retransmissoras e afiliadas, 48 praças que levam o seu sinal pelo país.

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Desde o ano passado, o Apóstolo está negociando a compra de Rede 21, do Grupo Bandeirantes, de quem aluga 22 horas diárias já há cinco anos. O novo contrato envolvendo o arrendamento do canal e, mais adiante, a compra com abatimento do valor já investido na emissora, num negócio em torno dos R$ 700 milhões. Os dirigentes da Band, da CNT e da Igreja Mundial não quiseram comentar o assunto.

Trízimo de emergência – Ano passado, o Apóstolo chorou afirmando que tinha uma dívida de cerca de R$ 30 milhões com o aluguel de horários nas grades de TV da Band, Rede TV e CNT. Com o novo investimento, Valdemiro foi para a TV pedir aos fiéis uma “doação emergencial” e quer que pelo menos 100 mil pessoas ajudem a Mundial com uma doação de R$ 200 cada. Isso sem contar com o “trízimo”, que é a doação de 30% do salário à igreja, para pagar 10% para o Pai, 10% para o Filho e 10% para o Espírito Santo.

Pelo andar da carruagem, a venda de mercadorias como as meias ungidas ou a redinha da prosperidade que custam R$153,00 cada, ou o martelinho sagrado pela pechincha de R$ 1.000, continua não indo muito bem...

Concessão – Vale sempre lembrar que as concessões de emissão de rádio e TV são públicas, apesar dos concessionários agirem como proprietários, inclusive alugando horário, como é o caso da Igreja Mundial e de outras igrejas. O sistema de radiodifusão deveria ser controlado e regulado pelo Ministério das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mas na realidade isso não acontece.

A "concessão" é – ou deveria ser – temporária e é entregue às emissoras, através de processos de licitação. Para concorrer, a empresa deve ter no mínimo 70% do capital nas mãos de acionistas brasileiros e respeitar o limite de controle de até dez estações em todo o país, sendo no máximo duas por estado e cinco em VHF, sem contar as retransmissoras. Uma comissão do Ministério das Comunicações analisa a proposta de programação e a condição técnica e financeira e quem tiver a melhor média de pontos fica com o direito de explorar determinado canal por um período pré-definido e, ao final dele, passa por uma nova análise e caso o ministério, constate que uma emissora fez uso do canal para fins diferentes dos que se esperava dela, pode se recusar a renovar a concessão. Nada disso ocorre, já que na prática a renovação é automática.

Por essas e outras, este Portal defende a Democratização das Comunicações e a regulação da atividade, além de apoiar a medida da presidente Dilma Rousseff, que pretende acabar com o aluguel dos horários, o que significa um primeiro passo. Vale ainda lembrar que a concessão é pública e o estado é laico e isso deveria ser observado na hora de "doar" os direitos de emissão de Rádio e TV. 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Televisão: Pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial, compra Rede CNT

Da Exame.com

Fundada no Paraná, emissora de TV tem sinal transmitido por 48 praças no Brasil, inclusive para a Capital Federal, em UHF.


O pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, é o novo dono da rede de TV CNT. A informação é do blog Radar, de Veja, assinado pelo colunista Lauro Jardim. Com o negócio, Valdemiro passa a ter um canal na TV aberta, a exemplo de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Record.
Procuradas por EXAME.com, tanto a CNT quanto a Igreja Mundial não tiveram representantes localizados. Ontem, a Folha de S. Paulo havia publicado que Valdemiro estaria prestes a finalizar a transação, avaliada em 500 milhões de reais.
Ainda segundo a Folha, a Rede 21, do Grupo Bandeirantes, também estaria no radar do líder religioso, em um negócio avaliado em 700 milhões de reais. Para concretizar os investimentos, Valdemiro teria pedido uma "doação emergencial" aos fiéis pela TV, informou o jornal.
Emissora paranaense
Com sede em Curitiba, no Paraná, a rede CNT, sigla para Companhia Nacional de Televisão, surgiu das cinzas da emissora OM. Comandada pelo empresário José Carlos Martinez, a OM nasceu em 92 com a benção do governo, antes do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Com o tempo, a empresa acabou atolando-se em dívidas. Para se reeguer, teve metade das ações vendidas ao ministro da Agricultura do governo Fernando Henrique, José Eduardo de Andrade Vieira, então dono do banco Bamerindus.
O controle voltou à família Martinez em 96. De lá para cá, a emissora chegou a ter apresentadores como Marília Gabriela, Adriane Galisteu e Luciano Huck na programação.
Atualmente, uma generosa fatia da sua grade já era vendida à Igreja Mundial. A CNT conta com sucursais em São Paulo, Rio de Janeiro, Londrina, Salvador e Brasília, e tem seu sinal transmitido por 48 praças no país.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A farra do arrendamento de horários nas televisões pelos pastores evangelicos

Por Marcelo Delfino, publicado anteriormente naTribuna da Imprensa e no Notícias da Bahia



Até hoje o Brasil não teve um governo tão bom que não tivesse defeitos nem tão ruim que não tivesse algum mérito, por menor que fosse. Pois eis que a presidenta Dilma Rousseff acaba de conceber o que é até agora a obra-prima de seu mandato (esqueçam o PAC): a proposta do fim da farra dos arrendamentos de horários e de canais de rádio e de TV.
De acordo com a proposta a ser colocada em breve em consulta pública, os radiodifusores ficarão proibidos de alugar ou arrendar toda ou parte da grade das emissoras. Os que quiserem ceder parte da grade da programação terão que comprar produções independentes ou fazer parcerias, sem serem pagos pelo horário. A princípio, os que operam canais comerciais poderão vender espaço publicitário, como fazem hoje.
A história dessa proposta de Dilma Rousseff surgiu, ironicamente, nas páginas da ultraoposicionista Folha de São Paulo. O texto completo da Folha foi publicado no blogue Replicante. A Folha repercutiu ontem os comentários sobre a notícia que o jornal deu no domingo. Endereços como o Vcfaz.net publicaram comentários a respeito.
Pela repercussão, a linha de frente contrária ao projeto já foi ocupada por quem seria mais óbvio: pela fauna e flora do pós-pentecostalismo nacional responsável por toda sorte de pregações de heresias mirabolantes, dinheiristas e/ou neoliberais. Uns caras que alugam parte da grade de emissoras como Rede TV!, Band, CNT, Mix TV, NGT, TV Gazeta, Canal 21 de São Paulo e inúmeros outros canais de TV e canais de rádio. Os programas deles sairiam do ar rapidinho. Mesmo a Rede Record do bispo Edir Macedo não poderia mais alugar horários para a Igreja Universal, podendo no máximo comprar programas (exaurindo seus recursos) ou ceder espaço gratuitamente.
A mudança também tiraria do ar programas de outros tipos que alugam horários em vários desses canais e ainda em outros como Rede Vida (que tem programas classistas, infomerciais, televendas e até programas da Federação Paulista de Futebol), TV Século 21 (que aluga horários para o Polishop) e TV Aparecida (que também aluga para o Polishop).
A já citada NGT perderia sua grade quase toda, composta de programas que vão de programas evangélicos, candomblecistas, umbandistas, sindicais de esquerda (produções da TVT) até um programa de heavy metal chamado Stay Heavy. Eu aceitaria deixar de ter esse programa na NGT se for pra varrer também a picaretagem nacional da TV brasileira. A lei tem que ser a mesma para todos.
Só posso falar do rádio da cidade cuja história radiofônica conheço com uma razoável profundidade: o Rio de Janeiro. Aqui, teríamos o fim da farra dos arrendamentos. De cara, rodariam rádios como Manchete AM 760, Mundial AM 1180 (essa do Sistema Globo de Rádio, integralmente arrendada pela IMPD), a frequência da Nova Brasil FM 89,5 arrendada pela Rádio Globo, Alvorada FM 95,7 (arrendada pela SulAmérica Paradiso), Imprensa FM 102,1 (arrendada por uma afiliada da Mix FM), Antena 1 FM 103,7 (arrendada pela Nativa FM) e FM 104,5 (arrendada pela IURD). E ainda há as rádios que alugam horários para locatários diversos, notadamente Metropolitana AM 1090 e Bandeirantes AM 1360.
A dúvida que resta é se Dilma Rousseff levará ou não essa proposta adiante, até a aplicação prática. Para isso, terá que enfrentar a constelação de líderes protestantes de sua base de apoio. Acredito que, nessa causa, Dilma Rousseff mereça os parabéns e o apoio da gente de bem deste país. Pelo menos enquanto não voltar atrás…

sábado, 19 de maio de 2012

Record perde R$ 100 mi e divide Igreja Universal

Record perde R$ 100 mi e divide Igreja UniversalPREJUÍZO PROJETADO PARA ESTE ANO SE SOMA A PERDAS DE R$ 60 MILHÕES EM 2011; CORRENTE DA IGREJA UNIVERSAL DEFENDE FIM DE GASTOS COM JORNALISMO E ENTRETENIMENTO PARA FORMAR GRADE AINDA MAIS RELIGIOSA; DIRETOR ARTÍSTICO HONORILTON GONÇALVES É CONTRA; DE QUE LADO EDIR MACEDO VAI FICAR?Foto: Montagem/247

Da Brasil 247 – A julgar pelas projeções de forte prejuízo financeiro na sua TV Record, as preces por lucro do líder da Igreja Universal, Edir Macedo, ou não estão sendo feitas, ou vêm sendo em vão. Informação da coluna Radar, do jornalista Lauro Jardim, dá conta de que o 'bispo' foi comunicado sobre uma perda projetada em R$ 100 milhões para a emissora em 2012. O buraco  é 66% maior que o aberto no ano passado,  quando a Record entrou no vermelho em R$ 60 milhões. E isso com a Igreja tendo injetado cerca de R$ 500 milhões por meio da compra de horários noturnos para a transmissão de programas religiosos.
O pagamento de US$ 60 milhões pelo direito de transmitir com exclusividade as Olimpíadas de Londres pesou no resultado negativo da emissora, assim como o envio de cerca de 300 profissionais à capital britânica para a cobertura.
Acredita-se que o prejuízo deve reativar a luta interna existente na Igreja em torno da administração da Record. Uma corrente defende que a emissora assuma uma programação ainda mais religiosa, retrocedendo em relação a programas de entretenimento e cunho jornalístico. Sustentam que os gastos são altos. Essa corrente tende a se fortalecer nesse momento em que, além do prejuízo, a Record amarga uma de suas piores fases em relação à audiência. No horário nobre, a emissora do 'bispo' perdeu 12% de audiência em abril comparado com o mesmo período do ano passado.
A manutenção da atual grade de programação é defendida pelo grupo que tem como líder o atual diretor artístico, Honorilton Gonçalves. Para ele, a Record deve continuar investindo numa guerra direta contra a Rede Globo, apesar dos custos a serem enfrentados.
Entre as duas alas, Macedo, agora, tem novos elementos para pensar no que fazer. Mais precisamente, 100 milhões de reais em elementos.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Templos eletrônicos: Os espertalhões da fé

Por Luiz Cláudio Cunha, publicado originalmente no Sul21 e no Observatório da Imprensa

Incapaz de vender a alma ao diabo, a Rede Bandeirantes acaba de revender seu santo horário da noite para o pastor R.R. Soares, o líder da Igreja Internacional da Graça de Deus. O seu Show da Fé de 20 minutos, que começava religiosamente às 21h, agora vai durar uma hora inteira, a partir das 20h30.

Não se sabe ainda quanto custou esse novo e triplicado milagre, mas pelo contrato antigo o bom pastor já pagava R$ 5 milhões mensais à Band. O vil metal falou mais alto para a TV de Johnny Saad, que anunciava a devolução do horário nobre da noite a seriados consagrados, como o 24 Horas, para concorrer com as novelas da Globo e as séries do SBT, todas com melhor audiência.

A novidade escangalhou os planos do argentino Diego Guebel, que assumiu a direção artística da Band em outubro passado com a promessa de recuperar o espaço nobre e caro da noite para atrações mais mundanas do que a prosopopeia de Soares. A bíblica derrota de Guebel na Band é apenas outro indício da onda avassaladora do dinheiro que afoga a TV brasileira deste Brasil cínico que finge ser laico e imune à força econômica da religião e seus falsos profetas. Os canais de rádio e TV são concessões públicas, supostamente alheias aos credos e seitas religiosas que transformaram estúdios, igrejas, templos e estádios em púlpitos eletrônicos cada vez mais invasivos e escancarados.

Não existe ninguém no governo ou no Congresso brasileiros com coragem para frear essa flagrante ilegalidade, sancionada por verbas, dízimos, patrocínios e uma farta hipocrisia. A irrestrita capitulação aos padres e pastores que lideram milhões de fiéis (e eleitores) ficou escancarada na última eleição presidencial, em 2010, quando os dois principais candidatos com raízes na esquerda – Dilma Rousseff e José Serra – sucumbiram vergonhosamente à chantagem das correntes mais atrasadas das igrejas, frequentando missas e cultos com o gestual mal ensaiado de pios devotos que não sabiam nem metade da missa, nem qualquer salmo dos evangelhos. Encenaram um constrangedor teatro de conversão medida para não ofender o eleitor mais ortodoxo. Para não perder votos, Dilma e Serra caíram na armadilha do falso debate religioso sobre o aborto – um tema que um e outro, por mera consciência política ou formação acadêmica, sabem que nos países mais evoluídos não passa de um grave e secular problema de saúde pública.

A submissão das instâncias do Estado secular ao poder cada vez maior das igrejas pode ser medida pela intrusão cada vez mais descarada da fé nos meios eletrônicos do Brasil, que deturpam a concessão pública pelo proselitismo religioso vetado pela Constituição. A igreja católica brasileira agrupa hoje mais de 200 rádios e quase 50 emissoras de TV, contra 80 rádios e quase 280 emissoras de TV de oito braços do crescente ramo evangélico. É um domínio que se fortalece cada vez mais, embora adaptando seu perfil para fórmulas mais agressivas e despudoradas de avanço sobre o bolso das populações mais pobres, mais desesperadas, menos instruídas.

Comer ou dormir

Em agosto de 2011, a Fundação Getúlio Vargas divulgou o Novo Mapa das Religiões, um denso estudo realizado pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, com base em 200 mil entrevistas formuladas pelo IBGE em 2009 a partir de sua Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). O trabalho mostrou que o Brasil deixará de ser a maior nação católica do mundo nos próximos 20 anos, mantida a queda progressiva que sofre a Igreja no país. Ela representava 83,24% da população em 1991 e caiu para 68,43% em 2009. “As mudanças que antes ocorriam em 100 anos agora acontecem em 10. Se esta perda de 1% de católicos por ano continuar, a Igreja católica terá em 20 anos menos da metade da população brasileira”, destacou o coordenador da pesquisa, Marcelo Côrtes Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV.

A economia é um forte indutor desta transformação, diz Neri. Ele lembra que as chamadas “décadas perdidas” de 1980 e 1990 foram demarcadas pela queda do catolicismo em contraste com a ascensão dos grupos evangélicos, especialmente seus ramos mais belicosos e vorazes – os neopentecostais. O período de 2003 a 2009, compreendido entre duas graves crises econômicas, observa uma segunda explosão evangélica, passando de 17,9% para 20,2%. A primeira explosão, ainda maior, ocorreu nas últimas seis décadas do século 20, quando os evangélicos aumentaram seu rebanho em sete vezes: passaram de 2,6% em 1940 para 15,4% em 2000.

A FGV foi buscar no alemão Max Weber (1864-1920), o pai da moderna sociologia, o fundamento teórico que explica o avanço arrebatador dos evangélicos, a partir de sua obra mais conhecida – A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, publicada em 1904-05. Ali, Weber explica o maior desenvolvimento capitalista nos países protestantes no século 19 e a maior proporção desses fiéis entre empresários e trabalhadores mais qualificados. “A tese de Weber era que o estilo de vida católico jogava para outra vida a conquista da felicidade. A culpa católica inibiria a acumulação de capital e a lógica da dívida de trabalho, motores fundamentais do desenvolvimento capitalista”, escreve Neri.

Weber repetia um ditado da época: “Entre bem comer ou bem dormir, há que escolher. O protestante quer comer bem, enquanto o católico quer dormir sossegado”. O pensador alemão constrói seu texto em cima de máximas do inventor e calvinista americano Benjamin Franklin (1706-1790), um dos líderes da Independência dos Estados Unidos, que dizia que “tempo é dinheiro” e “dinheiro gera mais dinheiro”. Era uma notável conversão justamente aos argumentos opostos que levaram ao grande cisma do cristianismo, no início do século 16, quando um atrevido padre agostiniano alemão, Martinho Lutero, pregou nos portões da igreja de Wittenberg as suas 95 teses que desafiavam a autoridade do papa e quebravam a hegemonia de Roma sobre o mundo cristão. Na época, Lutero denunciava justamente o que seria o âmago da Reforma Protestante: o desvio do caminho de fé da igreja primitiva para o atalho da corrupção, da indulgência, da simonia e da luxúria de papas e cardeais rodeados de amantes e concubinas, antecessores lascivos dos bispos e padres que comem criancinhas.

Teologia do bolso

Lutero e sua radical volta às origens, estimulando o protesto aos desvios éticos de Roma e o retorno à palavra original dos evangelhos, geraram os dois termos que identificam os segmentos mais prósperos da dissidência cristã: os protestantes e os evangélicos, onde brilha sua facção mais agressiva e endinheirada – o pentecostalismo, que hoje abriga no mundo cerca de 600 milhões de seguidores, pulverizados em 11 mil seitas e subgrupos. Ali viceja sua parcela mais faustosa: a corrente neopentecostal, a que pertencem o abonado bispo R.R. Soares e seus parceiros mais ricos, os também bispos Edir Macedo, Silas Malafaia e Valdemiro Santiago, cada um chefiando sua própria seita, sempre na condição suprema de “apóstolos”. Todos mostram uma devoção especial pela alma e pelo bolso de seus seguidores, a quem não se acanham de pedir contribuições financeiras a que, recatadamente, chamam de “oferta”.

Para não atormentar ainda mais a vida de sua aflita freguesia, os quatro chefes religiosos tratam de facilitar ao máximo as ofertas financeiras. Na tela da TV de seus animados cultos, sempre se oferece o número das contas bancárias, a bandeira dos cartões de crédito ou o telefone para informações extras que permitam a oferta, rápida e facilitada. Nenhum deles fica ruborizado pela insistência do pedido de ajuda, porque todos são pios devotos da “Teologia da Prosperidade”, uma doutrina pecuniária que faria o velho Lutero engolir cada uma das 95 teses que vomitou contra a cupidez da velha Roma.

A ideia nasceu, evidentemente, no coração do capitalismo, os Estados Unidos, no início do século 20. O pai dessa fé sonante é o americano Essek William Kenyon (1867-1948), um evangelista de origem metodista nascido em Saratoga, Estado de Nova York. Descobriu o milagre do rádio e plantou ali a sua Igreja no Ar, a ancestral eletrônica dos R.R.Soares e Malafaias da vida. Espalhou então aos quatro ventos o lema que explica as benesses divinas da fartura: “O que eu confesso, eu possuo”.

Kenyon passou o bastão da prosperidade para um conterrâneo, Kenneth Erwin Hagin (1917-2003), um jovem texano com deficiência cardíaca, que caiu de cama quando adolescente. Garantiu ter ido e voltado ao inferno e ao céu não uma, nem duas, mas três (três!) vezes. Com este desempenho singular, até para campeões de esportes radicais, o jovem naturalmente converteu-se. Dizendo-se ungido para ser mestre e profeta, Hagin garantia ter tido oito (oito!) visões de Cristo na década de 1950, além de acumular alguns passeios extracorpóreos. Tudo isso acrescido pela divina revelação de que os verdadeiros fiéis deviam gozar de uma excelente saúde financeira e que o caminho da fortuna passava, inevitavelmente, pela prosperidade de seus profetas aqui na Terra. Foi sopa no mel, e a teologia da prosperidade conquistou corações e mentes – e bolsos.

Na conta do santo

A primeira semente deste ostensivo neopentecostalismo brotou no Brasil com a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada em 1977 pelo bispo Edir Macedo. Três anos depois, o pastor R.R. Soares, casado com Magdalena, irmã de Macedo, saiu do ninho da Universal para fundar sua própria igreja, a Internacional da Graça de Deus, que acaba de alugar a tela do horário nobre da Band graças ao verbo divino e a verba milionária do pastor. Uma década depois, o bispo Macedo, ainda mais próspero do que o cunhado, comprou a sua própria rede de TV, a Record, hoje a segunda maior audiência do país (4,7 pontos) no horário nobre das noites de dezembro passado, embora ainda distante da Globo (13,8).

Os televangelistas brasileiros aparentemente compõem um paraíso na terra e no ar rico em mirra, incenso e ouro, muito ouro. Há tempos, quatro grupos evangélicos rondam o empresário Sílvio Santos, que topa tudo por dinheiro, na esperança de amealhar o espaço das madrugadas do SBT por módicos R$ 20 milhões mensais. Em 2009, o próprio Edir Macedo alvejou sua maior concorrente: ofertou R$ 545 milhões para alugar o espaço das madrugadas da Rede Globo para a sua Igreja. A Globo piscou, não respondeu, e o bispo voltou à carga em agosto passado, disposto a mover céus e terras. Nada feito.

A contabilidade desses pastores, pelo jeito, oscila entre o inferno e o paraíso. O bispo que oferecia milhões para comprar um naco do maior concorrente era o mesmo dono da igreja que fazia um descarado apelo em seu blog, em abril passado, para que os fieis juntassem alguns trocados para ajudá-lo a pagar a conta salgada de seu site. Coisa miúda, apenas R$ 107.622 mensais, que o pobre bispo diz gastar com despesas mundanas como hospedagem do servidor, salário dos funcionários, água, luz e gastos administrativos da manutenção do site. “Se o Espírito Santo lhe tocar, nos ajude a carregar essa responsabilidade”, escreveu o bispo, implorando por uma doação mínima de R$ 20.

O espírito santo, aparentemente, tocou a Rede Globo. A emissora dos Marinho odeia o bispo Macedo, mas adora os evangélicos. Na véspera do Natal de 2011, em 18 de dezembro, a maior rede desta vasta nação católica rasgou o hábito e transmitiu o seu primeiro evento evangélico, gravado uma semana antes no Aterro do Flamengo, no Rio. O público presente, apenas 20 mil pessoas, foi uma heresia para as ambições bíblicas da Globo, mas a fiel audiência na telinha na tarde do domingo seguinte foi uma bênção divina. Ao longo dos 75 minutos do programa, condensado de quase oito horas de gravação ao vivo (entre 14h e 21h30), apresentaram-se nove artistas no “Festival Promessas 2011”, sob o comando do astro global Serginho Groisman. Um dos mais festejados foi o cantor Regis Danese, 39 anos, que vendeu um milhão de cópias com um único disco gospel, “Compromisso”, o único a conquistar o primeiro lugar em rádios e TVs seculares do país e que lhe garantiu a indicação para o prêmio Grammy Latino em 2009.

A conversão da Globo

Antes desse sucesso, Danese já era consagrado como artista do “Só Pra Contrariar”, um grupo de pagode que ainda ostenta o 27º lugar do ranking brasileiro, com 8 milhões de discos vendidos. Apesar disso, com problemas no casamento, converteu-se ao protestantismo no início do século. Salvou o matrimônio com Kelly, sua parceira musical, e engordou ainda mais o bolso. O álbum “Compromisso”, que conquistou o “Disco de Diamante” pela venda de 500 mil cópias em apenas quatro meses de 2008, traz o seu maior sucesso, “Faz um Milagre em Mim”. O jornalista Tom Phillips, do diário britânico The Guardian, anotou que, logo após sua triunfal apresentação no festival da Globo, Danese foi indagado na entrevista coletiva sobre os fundamentos deste milagre musical: “O senhor escutou a voz de Deus? O que ele disse?”, perguntavam-lhe. O ex-pagodeiro explicava e, embevecido, o isento repórter da revista Nova Jerusalémressoava a cada resposta: “Amém. Louvado seja o Senhor!”

A genuflexão da Globo não representa uma súbita conversão da emissora ao credo evangélico da música: “A Globo não é um canal católico, e sim secular e republicano. Apenas documentamos um festival gospel por sua crescente importância na vida cultural do Brasil”, esquivou-se Luiz Gleizer, diretor da TV, ao jornalista britânico que ecoou o festival sob uma manchete embalada pela típica ironia inglesa: “O gospel começa a dar o tom no Brasil, a casa da bossa nova”.

Os profetas da Globo não sabem entoar um único salmo, mas como os apóstolos eletrônicos da concorrência também têm um ouvido afinado pelo doce tilintar das moedas do templo. Isso não é contado nem no confessionário, mas os querubins globais sussurram nos corredores da “Vênus Platinada” que os direitos de comercialização e os espaços publicitários do festival renderam à Globo algo entre R$ 35 milhões a R$ 55 milhões, o suficiente para remir muitos pecados, dúvidas e dívidas, aqui na terra e lá no céu. O grupo é dono da gravadora Som Livre e de um catálogo religioso onde brilham ídolos como o padre católico Fábio de Melo, que já vendeu quase 2 milhões de CDs pelo selo global.

O olho cúpido e republicano da Globo está mirando um mercado de música gospel que o The Guardianestima em R$ 1,5 bilhão, um paraíso econômico onde se irmanam crentes, artistas, emissoras laicas, pastores, espertalhões, vigaristas e políticos de todas as crenças, devotos todos do santo dinheiro que cai do céu diretamente em seus bolsos. O fluminense Arolde de Oliveira, deputado federal pelo PSD – aquele diabólico partido nascido da costela do prefeito Gilberto Kassab e que garante não pertencer nem ao paraíso, nem ao inferno, nem ao purgatório –, é dono da rádio 93 FM e do Grupo MK Music, que ele jura ser o maior selo de música gospel do continente. “Mais de 60 milhões de brasileiros estão direta ou indiretamente ligados à Igreja Evangélica”, lembra o deputado Oliveira. A Globo, como se vê, tem a inspiração divina e o ouvido apurado.

O festival “Promessas” abriu as portas de uma terra prometida para os profetas globais. No domingo gospel, a audiência da Globo subiu aos céus, dando-lhe a indulgência de miraculosos 13 pontos no Ibope (cada ponto representa 58 mil aparelhos ligados), bem mais do que os 7 humildes pontos habituais do horário. O pastor Silas Malafaia, inimigo da Universal do bispo Macedo, aproveitou e tripudiou no seu site: “A Record não acreditou nos evangélicos, a Globo acreditou e arrebentou na audiência! Enquanto a Record fala mal dos cantores e da igreja, a Globo abre espaço para o louvor e adoração a Deus”. E arrematou com um desajeitado elogio que deve ter sobressaltado as almas globais: “Quando os que deveriam abrir as portas fecham, Deus usa os ímpios para glorificá-lo”. Iluminada pela santa promessa do Ibope, a ímpia Rede Globo prepara mais três edições do sucesso gospel para 2012 – duas versões regionais e uma nacional, evitando cuidadosamente o Rio de Janeiro, que já padece a praga de um congestionamento evangélico todo santo ano.

O golpe do martelinho

Valdemiro Santiago é outro desgarrado da Universal. Depois de ser considerado um virtual sucessor de Edir Macedo, brigou com ele e saiu para fundar em 1998 a sua seita, a Igreja Mundial do Poder de Deus. Começou com 16 membros e hoje o apóstolo Valdemiro chefia mais de dois mil templos, alguns na África e em Portugal, e um jornal mensal, Fé Mundial, com tiragem de 500 mil exemplares – além de um maçante trololó diário de 22 horas na Rede 21, uma subsidiária da Rede Bandeirantes, que administra as duas horas restantes.

Sua marca registrada é um chapéu de boiadeiro, o que reforça sua imagem de astro sertanejo, que costuma ganhar espaço até no Jornal Nacional da Globo, uma devota do divisionismo que Valdemiro poderia provocar nas legiões de seu arqui-inimigo Edir Macedo. Quando enfrenta problemas de caixa, Valdemiro confia no santo gogó. Em 2010, chorou diante das câmeras de TV ao convocar 150 mil fiéis para ofertarem R$ 153, o número de peixes de um alegado milagre de Cristo. Faturou cerca de R$ 23 milhões.

Empolgado, o bispo sertanejo imaginou outra forma esperta de arrecadar dinheiro fácil, mas desta vez sem choro. Criou a campanha do “Martelinho da Justiça”, um pequeno, baratinho malho de madeira capaz de quebrar mandingas, maus-olhados e “as pedras que atravessam os seus caminhos”. A clava fajuta de Valdemiro, que despertaria a inveja do grande Thor, devia ser canonizada como a mais cara do mundo: cada oferta pelo martelinho tinha o mínimo de R$ 1 mil e Valdemiro esperava que 10 mil de seus seguidores o abençoassem com a compra do mimo, o que rechearia seu chapelão com R$ 10 milhões.

No reclame da Igreja Mundial na TV, o pastor de português trôpego, voz rouca, terno e gravata mostrava a certeza das favas divinas e muito bem calculadas: “Ainda hoje ou amanhã, na primeira hora, você vai até a agência bancária e faz esta “ofertinha” de R$ 1 mil. Depois, mandaremos o martelinho pelo correio”. Para esse milagre acontecer, bastava ao crente fazer o depósito nas contas indicadas na tela e disponíveis no Banco do Brasil, Bradesco ou Caixa Econômica Federal. “De preferência no BB, como o nosso apóstolo tem nos orientado”, aconselhava o pastor, com ar compungido.

A atrevida igreja de Valdemiro já vendeu garrafinhas Pet de 400 ml com “água ungida”, entregues por “ofertas” de R$ 100, R$ 200 ou até R$ 1.000, prometendo resultados espantosos: “Uma única gota dessa água será o suficiente para mudar a história de sua vida, para lhe abençoar de uma forma poderosa”, jurava o santo homem, escoltado por outros oito pastores calados e sisudos, todos de gravata e terno escuro. Se usassem óculos pretos iria parecer uma paródia do CQC, sem a divina graça do programa humorístico da Band que sucede o show religioso do pastor R.R. Soares nas noites da segunda-feira.

O trovão homofóbico

O bizarro merchandising da Mundial tem produzido bons resultados, pelo menos para as finanças da igreja de Valdemiro. No primeiro dia de 2012 ele inaugurou em Guarulhos, SP, a “Cidade Mundial”, um megatemplo de 240 mil metros quadrados e capacidade para acolher 150 mil fieis da Igreja Mundial do Poder de Deu – mais de duas vezes a lotação prevista do Itaquerão (68 mil lugares), o estádio que o Corinthians está construindo para a Copa do Mundo de 2014. Para erigir o templo, Valdemiro viu a igreja aumentar seus gastos mensais em R$ 30 milhões, prova de que o martelinho e a garrafinha são realmente miraculosos.

O pastor Silas Malafaia, chefe supremo da AVEC, sigla da associação que mantém a Igreja Vitória em Cristo, é a voz mais trovejante desse abusado mercado da fé ancorado nos fundamentos pétreos da Teologia da Prosperidade. Embora tenha os mesmos instrumentos de redenção econômica de Edir Macedo, Malafaia é um inimigo mortal do dono da Universal. Divergiram até na eleição presidencial de 2010: ele primeiro apoiou Marina Silva, depois fulminou sua opção pelo plebiscito no debate sobre o aborto (“cristão não tergiversa nesse tema”), e acabou fazendo campanha por Serra, adversário de Dilma, apoiada justamente pelo rival bispo Macedo. Malafaia é figura fácil no Congresso Nacional, em Brasília, onde veste a armadura de sua santa cruzada contra a proposta de lei que combate a homofobia: “O projeto [que garante a livre orientação sexual] é a primeira porta para a pedofilia”, reza, com a fúria dos justos. Numa entrevista a uma revista religiosa, crucificou como “idiotas” todos os pastores que, ao contrário dele, não apostam suas fichas, martelinhos e garrafinhas na Teologia da Prosperidade.

Ele não poupa a garganta e fala muito: quase todo santo dia, Malafaia se esparrama por cinco horas de programas variados em redes nacionais como CNT, Rede TV, Boas Novas e Bandeirantes e ocupa os sábados de emissoras regionais em outros 15 Estados. Seu programa se espalha pelos Estados Unidos e Canadá e, desde meados de 2010, Malafaia atinge 142 milhões de lares em 127 países da África, Ásia, Oriente e Médio e Europa, com o apoio da americana Inspiration Network, que faz a dublagem para o inglês.

Para tornar mais veraz sua pregação, às vezes importa dos Estados Unidos especialistas nesta riqueza material. No ano passado, junto com o pastor americano Mike Murdock, Malafaia lançou o projeto do “Clube de 1 Milhão de Almas”. Alma, sabem os televangelistas, custa caro. Ele pretendia arrebanhar um milhão de crentes para sua grei e seus programas de TV, mediante a “oferta” (voluntária, claro) de R$ 1 mil – ou seja, um martelinho de madeira, pelo generoso chapéu do bispo Valdemiro. Na conta do lápis, uma bolada plena de R$ 1 bilhão, capaz de pagar mais do que cinco Mega-Senas da Virada, que bateu em R$ 177 milhões no réveillon de 2011. Os ofertantes ganhariam o livro 1001 Chaves da Sabedoria, do pastor Murdock, e um certificado do clube milionário, em todos os sentidos.

Para inspirar o seu rebanho, Malafaia teve a feliz ideia de colocar um contador de acessos na página da igreja para que todos acompanhassem a adesão em catadupa do milhão de almas. Algo deu errado, ou o martelinho não funcionou. Lançado em abril do ano passado, o contador da igreja Vitória em Cristo virou uma estátua de sal, como a mulher de Lot em Gênesis (19,26) e estagnou num número pífio: miseráveis 58.875 almas era a contagem de quinta-feira (5/1). Um inferno de faturamento que não chegou a R$ 60 milhões, muito distante do paraíso do R$ 1 bilhão arquitetado pelo diabólico Malafaia. Faltam portanto ainda 941.125 almas para Malafaia inaugurar, sob as trombetas de Jericó, o seu clube milionário. Haja martelinho!

O supermercado da fé

O bravo Malafaia não desiste facilmente. Em 2009 ele lançou a campanha de uma Bíblia por módicos R$ 900, pouco menos que um martelinho. Era a tarifa da Bíblia da Batalha Espiritual e Vitória Financeira, sacada genial de outro gênio da prosperidade, o pastor americano Morris Cerullo. Desta vez, a garrafinha deve ter funcionado, pois antes do final do ano ele viajou à Flórida, nos Estados Unidos, e lá viu se materializar, em nome da Vitória em Cristo, um jato executivo Cessna quase novo, modelo Citation Excel, pela bagatela de 12 milhões – de dólares!

Se alguém tiver alguma restrição a Bíblia, martelinho ou garrafinha, nem assim terá qualquer constrangimento para auxiliar o empreendimento celestial de Malafaia. Na sua página na internet, o bom pastor dá a boa notícia de que todos podem participar de sua jornada, tornando-se seu “Parceiro Ministerial”, um programa de fidelidade da Igreja que arrecada fundos para manter seus programas de TV. A porta está aberta a “qualquer pessoa que receba de Deus a visão de abençoar vidas, proclamando o Evangelho por meio das mensagens do pastor Malafaia”, explica o dono do site e da igreja. Dependendo do tamanho da carteira, seu título de parceiro também cresce: o “Especial” paga R$ 15 mensais, o “Fiel” doa R$ 30 e o “Gideão” entra na cota de sacrifício do martelinho: R$ 1 mil mensais, com direito a um exemplar por mês da revista Fiel, livros, Bíblias e um cartão para 10% de descontos nos produtos da Editora Central Gospel comprados pelo telemarketing, “desde que não esteja em promoção”.

Virar parceiro do pastor é fácil, pagar é muito mais. A organização abençoada de Malafaia trabalha com o ganhoso instrumental financeiro de uma grande loja de departamentos, como convém a este éden da prosperidade. A igreja Vitória em Cristo opera, sem preconceitos, com cartões Visa, Master, Diners, Amex ou Hipercard e tem contas abertas, sem discriminação, com o Banco do Brasil, HSBC, Bradesco ou Itaú, além de trabalhar com boletos bancários ou cheques nominais. Malafaia aceita boletos antecipados para o ano todo, mas nenhuma contribuição abaixo de R$ 15. Acima, pode.

Abobrinhas e beterraba

Agora, esse mundo dourado de riquezas, promessas, ofertas, obras e fartura vai ganhar outro e inesperado púlpito: um espaço de brilho, luzes e discussões mundanas, terrenas, insinuantes, quase lascivas. Começa na terça-feira (10/1) a 12º edição do Big Brother Brasil, o reality show da Globo que arrebata o país por 12 semanas no seu jogo canalha de perfídias, traições, intrigas e sensualidade explícitas, onde garotas curvilíneas e garotos musculoso, todos transbordantes de hormônios e carentes de neurônios, desfilam suas abobrinhas em diálogos patetas e reflexões idiotas. O jornalista Eugênio Bucci, professor de Ética Jornalística da Escola de Comunicações e Artes da USP, tatuou o BBB como “o mais deseducativo programa da TV brasileira, onde a fama justifica qualquer humilhação”.

Na TV, onde nada se cria e tudo se copia, a Record também tem sua versão BBB, A Fazenda, com mais roupa e a mesma dose intragável de papo imbecil. A personal trainer Joana, a vencedora da versão 4 daFazenda, que acabou em outubro passado, arrebatou R$ 2 milhões após encontrar uma beterraba premiada, entre outros sofisticados desafios intelectuais.

Apesar dessa crônica indigência, mais de 130 mil jovens brasileiros se inscreveram para o BBB12, ao longo de sete meses, filtrados em seletivas regionais em 10 capitais. É uma febre televisiva que pode parar até a maior cidade brasileira, São Paulo, onde chega a bater em 40% do Ibope, o que significa quase dez milhões de telespectadores, metade da população da Grande SP.

A vencedora do BBB de 2011, a modelo paulista Maria Helena, 27 anos, de São Bernardo do Campo, faturou um cheque de R$ 1,5 milhão ganhando o voto por telefone de 51 milhões de pessoas. Se fosse candidata a presidente em 2010, Maria Helena, capa da edição de junho de 2011 da revista Playboy, teria derrotado José Serra por mais de sete milhões de votos e perderia para Dilma Rousseff por menos de cinco milhões.

Boninho, o diretor do BBB, apimentou a receita em 2012, para horror do pastor Malafaia, infiltrando quatro homossexuais entre os doze sarados concorrentes. “Três dos quatro gays são mulheres”, adiantou o lúbrico Boninho no seu tuíter. Ele não disse, mas o programa de 2012 terá também a atração extra de duas evangélicas, a assistente comercial mineira Kelly, 28 anos, e a zootécnica baiana Jakeline, 22. O empresário Danilo Leal, 45 anos, pai de Jakeline, acha que a filha vai resistir bem ao paredão impiedoso do BBB, apesar de evangélica: “Ela não é recatada. Espero que Jakeline aproveite bem seus 15 minutos de fama e faça o pé de meia”, reza o empresário, dando sua sanção paternal para o que der e vier.

Não se sabe ainda o tamanho do fio-dental que as duas evangélicas vão exibir na casa mais vigiada do Brasil, nem o salmo que irão recitar debaixo do edredom, cercadas por tantas câmeras indiscretas. Não deixa de ser simbólico que, cinco séculos após ser cravado nos portões da igreja de Wittenberg, o credo rigorosamente puritano e austero fundado pelo cisma de Luterano infiltre duas crentes assanhadas e iconoclastas no cenário conspícuo do programa mais ímpio da maior rede brasileira de TV aberta. A explicação, certamente, não está nas páginas lambidas da Bíblia dos templos e igrejas desta terra supostamente laica, mas nas cédulas louvadas do dinheiro ungido pela graça divina e pela licença dos homens neste país tropical, que Jorge Ben resumiu como “abençoado por Deus e bonito por natureza”.

A louvação ecumênica ao dinheiro pintado pela hipocrisia de todos os credos esclarece, em parte, a progressiva invasão destes templos cada vez mais eletrônicos, escancarados por vendilhões cada vez mais acessíveis a espertalhões cada vez mais abusados no assalto à boa fé de sempre dos desesperados.

O velho evangelista Kenyon, profeta dessa cínica doutrina da prosperidade, poderia traduzir este Armagedom moral com o mantra invertido da religião de resultado que inventou: o que eu possuo, não confesso.