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sábado, 22 de outubro de 2016

Minas Gerais tem a sua "bancada parlamentar do rádio"​

Em 64  anos, rádio de Minas Gerais "elege" 24 parlamentares


Por Carlos Eduardo Cherem, publicado originalmente no portal UOL

Uma das rádios mais populares entre os mineiros, a rádio Itatiaia tem ajudado a alavancar a carreira política de vários profissionais que participam ou participaram de sua programação. Já são 24 os integrantes da "bancada da rádio" ao longo dos seus 64 anos de história.

Os dois últimos foram Álvaro Damião (PSB), repórter de esporte, e Catatau da Itatiaia (PSDC), comentarista sobre direitos do consumidor, que foram eleitos vereadores em Belo Horizonte no início do mês.Uma das rádios mais populares entre os mineiros, a rádio Itatiaia tem ajudado a alavancar a carreira política de vários profissionais que participam ou participaram de sua programação. Já são 24 os integrantes da "bancada da rádio" ao longo dos seus 64 anos de história.
Além dos novos vereadores, há atualmente o apresentador João Vítor Xavier (PSDB) e locutor esportivo Mário Henrique Caixa (PV) que são deputados estaduais, e o apresentador de programa policial Laudívio Carvalho (SD), que é deputado federal.
Fundada em 1952, já foram 12 profissionais de comunicação eleitos para a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, outros seis eleitos para Assembleia Legislativa de Minas, três para a Câmara Federal e um para a Câmara Municipal e Assembleia.
Junia Marise, por exemplo, além de vereadora, foi deputada estadual e federal, senadora e vice-governadora de Minas Gerais. E um dos mais conhecidos integrantes políticos da rádio é o jornalista Hélio Costa (PMDB), que foi deputado federal por dois mandatos, senador e ministro das Comunicações. Costa também se candidatou ao governo em 2010, mas acabou perdendo para o senador Antonio Anastasia (PSDB)
 "A rádio (Itatiaia) não incentiva, nem coloca obstáculos", afirma o proprietário da Itatiaia Emanuel Carneiro. "É direito do profissional participar do processo democrático", diz o radialista.
 Para Carneiro, o fato de diversos nomes da rádio ter sido eleito revela a "intimidade" com que os locutores têm com a população de Belo Horizonte. "A atenção que damos, em toda a programação, sobretudo no jornalismo e esporte, à opinião das pessoas, faz com que tenhamos intimidade com a população", diz o executivo.

Essa relação de "intimidade" com o ouvinte, na avaliação de Carneiro, é reforçada pela possibilidade de opinião dos comentaristas nos programas, e pelo fato de os repórteres estarem sempre nas ruas da capital mineira.

As paróquias do município
"Eles (os repórteres e locutores) vão para as paróquias, vão para as feiras, acompanham os casos de polícia. Eles trabalham nas ruas, não ficam na redação. Isso reforça a relação com a população, estão sempre presentes aos fatos. Isso faz diferença entre ter ou não ter penetração", diz Carneiro.

"Não vejo problema nenhum, deles serem candidatos. Se voltam (para a rádio) ou não, se forem eleitos, é decisão de cada um".

"Quase todos que se candidataram e perderam (a eleição), voltaram para a rádio. Alguns que vencem a eleição, às vezes não voltam por causa do acúmulo de atividades. Porém, se quiser voltar, pode voltar", afirma o executivo.

"Faz parte do jogo democrático".
O deputado federal Laudívio Carvalho (SD) explica que, embora não consiga manter o programa diário "Itatiaia Patrulha", às 17h, que tinha na rádio, após sua eleição em 2014, com as atividades legislativas que teve de assumir, ele continua participando de diversos programas da Itatiaia, sempre que pode.

"Mantenho contato com as pessoas, através da rádio, isso é muito importante. Participo direto dos programas, sempre emitindo a minha opinião", afirma o deputado.

"Meu voto é de opinião. Meu voto é de quem ouviu durante 35 anos a minha opinião, sobretudo sobre segurança, na Itatiaia", diz Carvalho.

"Me enterrem com meu radinho ligado na Itatiaia"
A professora da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), Nair Prata, diretora da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação) e vice-presidente da Associação Brasileira de História da Mídia, conta que Juvenal Rosalvo Bispo, 87, morador de Belo Horizonte, poucas horas antes de morrer em 2008, teve frustrado seu último pedido em vida: ter um rádio na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) no hospital onde estava internado para ouvir a programação da Itatiaia.  O filho dele tentou, mas não conseguiu entrar com o aparelho "escondido" no hospital.

No dia seguinte, em 11 de novembro de 2008, o jornalismo da rádio Itatiaia deu ampla cobertura ao enterro de Bispo no Cemitério da Paz, em Belo Horizonte.

"O filho, com a concordância da viúva e de outros parentes, colocou no caixão, junto ao corpo do pai, um rádio ligado na Itatiaia, com pilhas novas", diz a professora.

"A Itatiaia representa Belo Horizonte. Representa Minas Gerais. Não há qualquer outro órgão de imprensa no Estado que tenha essa condição", afirma Prata.

A especialista explica que não é somente a audiência da rádio na região metropolitana de Belo Horizonte que, segundo ela, a Itatiaia tem o primeiro lugar há décadas (com 94% da audiência na programação esportiva), que explica o sucesso dos seus locutores nas urnas.

Prata lembra que Belo Horizonte não é sede de nenhuma das grandes redes de televisão, que estão concentradas no eixo Rio-São Paulo e isso incomoda a população. "A última emissora genuinamente mineira, com forte programação local e de jornalismo, a TV Itacolomi, acabou no fim da década de 1970, causando grande comoção na população, que se sentiu órfã", diz.

Assim, explica a professora, quando a Itacolomi acabou, a rádio Itatiaia soube assumir o papel de "representar" a população, identificando-se como defensora dos interesses de Minas Gerais.

"O slogan da TV Itacolomi era "a TV de Minas". A Itatiaia adotou o slogan "a rádio de Minas" e soube incorporar muito bem esse papel de representante dos interesses da cidade, dos moradores", afirma.

"Mas não é só isso", diz a especialista. "O fato de ter duas redações, de jornalismo e de esportes, funcionando 24 horas por dia, com diversas equipes de repórteres na rua, mantendo uma cobertura ágil e de qualidade das notícias locais, sustenta também o prestígio da Itatiaia que é alguma coisa inabalável, pelo menos até hoje", afirma.

"Qualquer líder político, empresário, sindicalista, morador de rua, dona de casa, motorista de táxi que vá falar com a cidade, o faz pela Itatiaia", afirma Prata.

"Os locutores, apresentadores e repórteres da rádio, por tudo isso, são bastante conhecidos e prestigiados. E alguns deles se candidatam e conseguem ser eleitos. Outros não. Há também muitos que se candidatam, mas perdem a eleição", diz a pesquisadora.

A bancada da rádio Itatiaia em 64 anos

1. Alberto Rodrigues – vereador

2. Aldair Pinto – vereador

3. Álvaro Damião – vereador

4. Antônio Roberto – deputado federal

5. Catatau da Itatiaia – vereador

6. Dênio Moreira – deputado estadual

7. Dirceu Pereira – deputado estadual

8. Edson Andrade – vereador

9. Eduardo Lima – vereador

10. Eli Diniz – vereador

11. Fernando Sasso – vereador

12. Hélio Costa – deputado federal, senador e ministro

13. João Vítor Xavier – vereador e deputado estadual

14. José Lino Souza Barros – vereador

15. Junia Marise – vereadora, deputada estadual e federal, senadora e vice-governadora

16. Laudívio Carvalho – deputado federal

17. Mário Henrique Caixa – deputado estadual

18. Mário de Oliveira – deputado federal

19. Nelson Carvalho – deputado estadual

20. Olavo Leite Kafunga Bastos – vereador

21. Tancredo Naves – deputado estadual

22. Vilibaldo Alves – vereador

23. Wânia Carvalho – vereadora

24. Wellington de Castro – deputado estadual

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