Se vivo estivesse, Leonel Brizola completaria, no dia 22/1/2013, 91 anos. O então presidente nacional do PDT e ex-governador do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul morreu no dia 21 de junho de 2004, aos 82 anos, vítima de uma infecção pulmonar.
Em março do mesmo ano,
o destino me reservou a sorte de ser o ultimo jornalista a fazer uma grande
entrevista para televisão com ele.
Foram três dias de chá de espera e após muita
insistência no telefone para que ele não cancelasse uma gravação pré-agendada
há semanas, por Bruno Marini de Castro, que segurava a produção na retaguarda. Ele me recebeu com a equipe da TV Senado na portaria do prédio onde
morava em Copacabana. Fomos para o prédio já com as malas prontas para em em seguida pegar o avião no Santos Dumont. Aquele
era o nosso último dia no Rio de Janeiro. Já havíamos remarcado a passagem
diversas vezes. Na verdade, o dead line dado pela TV havia vencido na véspera.
Mas decidimos ficar mais aquele dia por uma questão de compromisso com o
material a ser produzido. O depoimento de Brizol era fundamental para o que pretendíamos fazer. Já nem havia mais diárias, a locação do carro havia estourado, mas a equipe decidiu
pagar a última noite de hotel com dinheiro do próprio bolso.
Brizola não me deixou subir ao apartamento.
Ele desceu no elevador e perguntou o que queríamos. A entrevista deveria ter um
tratamento estético, plástico, diferenciado, com uma luz bonita, um fundo que lembrasse a temática que tratávamos. mas o
repórter-cinematográfico Marcos Feijó, acompanhado do auxiliar José Zenildo,
não teve a mímima chance de produzir algo diferenciado naquele local: a portaria do prédio dele.
A porta
externa da portaria era de vidro blindex e jogava uma luz azulada no minúsculo
espaço que tínhamos com Brizola. Para piorar, ao fundo, do lado direito do ex-governador, havia a porta do elevador que não se cansava de abrir e fechar. Mas era gravar
daquele jeito ou não gravar nada. Como não é possível falar de Brasil do século XX sem incluir Leonel deMoura Brizola e não sabíamos se teríamos outra oportunidade a saída era mandar ver ali mesmo. O destino
nos mostrou que estávamos certos.
E foi assim: ele, sentado na cadeira do porteiro do prédio, e eu, no case
que embala a câmera, conversamos por horas. Ressabiado pelo tratamento que
historicamente recebeu da mídia nacional, se mostrou, no início, bem desconfiado.
Lembro-me que disse: “olha guri, vou lhe dar uma chance, pode perguntar o que
você quiser, sem medo. Eu não me incomodo.”
A pauta com ele se destinava a colher
depoimentos para dois documentários da série Senado Documento, da TV Senado:
"1964 - 40 anos depois", dirigido por mim e Cesar Mendes, e
"Getulio do Brasil", também comandado por mim e Deraldo Goulart. O
Golpe Militar completaria dali a poucos dias 40 anos de sua realização e, agosto daquele mesmo ano marcaria o 50º
aniversário do suicídio de Getúlio Vargas.
Gravamos com Brizola num domingo de sol, com a
praia de Copacabana explodindo de calor a poucos metros. A entrevista foi
interrompida por um vizinho surfista que desceu do elevador com a sua prancha, por
senhoras que iam caminhar com seus cachorrinhos e até pelo caminhão de gás, que
no Rio de Janeiro passa com umas musiquetas chatas e estridentes. Mas eu não
poderia perder aquela gravação e todos estes incômodos foram ignorados. O
pensamento de Brizola era bem mais forte do que qualquer perda de qualidade
sonora ou estética.
A conversa começou com Getúlio Vargas, passou
pela Rede da Legalidade, Jango, regime militar e terminou com Lula, que naquele
momento estava na metade do seu primeiro mandato.
Com seu falecimento, uns 90 dias depois, um
terceiro documentário foi, por mim editado, veio à tona. Foi feito a
toque-de-caixa. Peguei o material bruto entrei numa ilha de edição e fiquei lá
manhã, tarde e noite uns três dias. Brizola morreu na noite de uma segunda-feira, a
notícia veio a público na terça. No sábado, "Leonel Brizola, um
legalista" ia ao ar para todo o Brasil graças, a um "esforço dereportagem" como se diz no jargão profissional.
O vídeo é, praticamente, a íntegra da
entrevista com Brizola, que não mediu a língua: fala sobre a Rede da
Legalidade, a movimento de manutenção da ordem jurídica, que previa garantir a
posse de João Goulart após a renúncia do presidente Janio Quadros. Jânio Quadros também é
lembrado pelo ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. O regime
militar, anistia, Brizola falou de falou de tudo.
Conversar com Brizola foi uma aula de política
e de história do Brasil. Uma aula de como as pessoas que acreditam num ideal e
lutam para que ele se materialize podem contribuir para transformar a realidade
de uma nação, de um povo.
O especial "Leonel Brizola, um legalista" tem perto de uma hora e
está disponível na página da TV Senado. São dois blocos. Para ver o documentário, clique aqui para acessar o primeiro bloco. A íntegra deste programa foi transcrita pelo
Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos - Cebela e editado no periódico
científico Comunicação & Política.
Os documentários "Getulio do Brasil"
e "1964 = 40 anos depois" estão na página da TV Senado -
www.senado.gov.br/tv e podem ser copiados ou visualizados na internet.
Como dito antes, eles fazem parte da série
Senado Documento e são bem longos, quase três horas. Originalmente, eles estão
em três blocos, mas na internet, "1964
= 40 anos depois" está dividido em nove blocos. Para ver na internet, clique aqui. Depois, é só ir abrindo os demais.
"Getúlio
do Brasil" faz um reexame dos momentos que antecederam o suicídio de Getúlio
Vargas e mergulha nos bastidores do atentado de Toneleros, contra o jornalista
e político Carlos Lacerda, 19 dias antes da morte do presidente. O documentário
tem locações em Porto Alegre e São Borja (RS), em Brasília e no Rio de Janeiro,
com gravações no Palácio do Catete.
Na internet, ele está dividido em
cinco blocos e pode ser visualizado aqui ou, se preferir copiar acesse por meio deste enlace.
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