Por Laurindo Leal Filho, publicado originalmente em Brasil Popular
Além da qualidade da imagem e de uma possível interatividade,
outra vantagem da TV digital, que está chegando ao Brasil, é a multiplicação de
canais. Na frequência em que, pelo sistema atual analógico, trafega uma
programação, no digital podem ser vistos quatro ou até oito programas
diferentes.
E mais, o número de canais abertos que no analógico chega no
máximo a três dezenas, no digital passará de cem. Todos abertos, sem nenhum
custo extra ao telespectador.
Essa nova televisão vai ser implantada no país com o
desligamento gradativo do sistema analógico, o que começa a acontecer, em forma
de teste, no próximo dia 29 de novembro na cidade de Rio Verde, em Goiás.
No ano que vem inicia-se o desligamento nos grandes centros
urbanos: Distrito Federal, 3 de abril; São Paulo, 15 de maio; Belo Horizonte,
26 de junho; Goiânia, 28 de agosto e Rio de Janeiro, 27 de novembro. A
expectativa é de que até 31 de dezembro de 2018 a TV analógica tenha sido
substituída pela digital em todo o país.
Cabe agora perguntar: que novidades trarão esses canais? Veremos
programas inteligentes, inovadores capazes de elevar os níveis de percepção do
mundo por parte dos telespectadores ou teremos mais do mesmo, ou seja a
indigência atual mostrada pelas emissoras comerciais?
Com relação as comerciais as perspectivas não são das melhores.
Nada indica qualquer mudança por iniciativa própria e a tendência é a
manutenção dessa política de nivelar por baixo o nível de suas programações e
de, ao mesmo tempo, colocar no ar noticiários sempre alheios aos interesses
mais gerais da sociedade. Sem uma legislação moderna que regulamente esse tipo
de serviço é ilusório esperar qualquer mudança no quadro atual.
A alternativa é apostar nas emissoras públicas dando a elas
condições de se tornarem efetivamente alternativas ao modelo comercial. Nesse
sentido um passo importante foi o acordo firmando no último dia 1º de setembro
entre o Secretário de Comunicação da Presidência da República, os ministros da
Educação, Saúde, Cultura, Comunicações e o presidente da Empresa Brasil de
Comunicação (EBC) para implementar os quatro canais já previstos no decreto que
criou a TV Digital (Canal do Executivo, da Cidadania, da Educação e da Cultura)
e ainda a migração para a TV aberta da TV Escola e do Canal Saúde.
Hoje, o Executivo já tem o seu canal, a NBR, que é acessível
apenas em sinal fechado ou através das antenas parabólicas. Se tiver sua
programação remodelada, como quer o ministro Edinho Silva, da Comunicação
Social, o canal poderá torna-se uma alternativa importante à carga noticiosa
contraria ao governo imposta diariamente pela mídia comercial.
No momento atual, o canal do Executivo é imprescindível para
garantir a liberdade de expressão no país, na medida em que possa fazer
circular informações sonegadas pelos grupos privados. É inconcebível que
governos populares sejam obrigados a se dirigir à sociedade através de veículos
particulares controlados por grupos que lhe são politicamente antagônicos. Ao
canal do Executivo cabe preencher essa lacuna informativa hoje existente.
O fato da TV Escola e do Canal Saúde serem hoje restritos a quem
tem TV por assinatura ou uma antena parabólica a eles direcionada revela a
quebra de um princípio básico da comunicação pública que é o de ser acessível a
toda a população. Com a ida desses canais para o sinal digital aberto essa
deficiência será corrigida.
Poderemos ter em breve em todos os domicílios brasileiros
produções de alta qualidade, como as que são produzidas por esses canais. No
caso da educação, a TV Escola tem tudo para ser o nosso Canal Encuentro, gerido
pelo Ministério da Educação da Argentina e transmitido com grande sucesso em
sinal aberto naquele país.
São passos importantes para a consolidação de um sistema
nacional de televisão pública que tanta falta nos faz. No entanto outros
passos, ainda mais arrojados, precisam ser dados. Um deles é fazer com
que a TV Brasil também passe a operar uma multiprogramação com novos canais no
ar, possibilidade aberta com a chegada da TV digital e que não pode ser
desprezada pela principal TV pública brasileira.
Além do canal atual, com uma programação generalista, a emissora
deveria contar, pelo menos, com um canal noticioso 24 horas no ar e outro
totalmente voltado para o público infantil, hoje abandonado pela TVs
comerciais. Sem esquecer a necessidade da expansão urgente da TV Brasil
internacional com programações em espanhol e inglês, como já faz por exemplo a
TV russa, entre tantas outras.
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