FALÊNCIA TOTAL DA PROFISSÃO.
Tem razão Pilar Del Rio, jornalista, tradutora e presidente da
Fundação José Sarmago, de Lisboa, ao destacar, em entrevista ao Correio Braziliense, que os jornalistas
se transformaram em militantes das empresas em que trabalham.
Defendem seus interesses, os interesses nos quais estão
engajados, não nos dos seus leitores. Perfeito.
No Brasil, as empresas de mídia viraram propagandistas dos
especuladores, comprando, acriticamente, a sua causa, deixando de ligar para o
interesse público. Os jornalistas engajaram nessa campanha a serviço do capital
especulativo que se empenha na tarefa de destruir qualquer orientação econômica
que tenha por fim o interesse nacionalista.
O jogo do poder midiático, totalmente, voltado para divulgação
dos produtos mentirosos fabricados pelos especuladores.
A manipulação é evidente, estendendo-se para as empresas
classificadoras de crédito do país, para tentar sua desclassificação mediante argumentos
invertidos em relação à causa dos problemas econômicos. Fogem os jornalistas da
fonte geradora de déficit, de dívida e de inflação, no momento atual da crise
mundial, que é a política monetária expansionista americana e as incertezas que
ela produz, nas economias emergentes, dependentes, historicamente, de poupança
externa, favorecendo, ainda mais, o movimento especulativo. Enfim, não cumpre o
jornalismo investigativo a sua verdadeira função, porque os jornalistas não
estão a serviço do exercício da liberdade da profissão, mas do interesse do
mercado financeiro especulador.
Prepararam o campo, vociferando os argumentos dos
especuladores, para que, na próxima quarta feira, o BC, envolvido pelos
banqueiros, puxe para cima mais uma vez a taxa de juro, já em patamar
elevadíssimo, para combater a inflação, quando nas economias desenvolvidas, o
juro está na casa dos zero ou negativo, para tentar salvar o capitalismo.
Viraram militante dessa causa. Alienaram-se de si mesmos. Lamentável.
Viúva do grande José Saramago (ela não gosta de ser tratada
assim), Pilar Del Rio vê o jornalismo atual totalmente deturpado em sua
essência objetiva, manipulado pelo dinheiro, inviável para tornar o jornalista
como ser realizado plenamente na profissão, dada a impossibilidade de exercitar
a liberdade. Um ser cindido, parcial, portanto, esquizofrênico.
Esse papo de que o jornalismo, pelo menos o que se pratica na
grande mídia brasileira, representa os dois lados da notícia é conversa fiada. Veja
a cobertura jornalística da economia, do mercado financeiro, já na primeira
semana de 2014. Tudo parcial.
Os jornalistas, em geral, salvo honrosas exceções, compram, a
preço super-faturado, as versões dos especuladores, para explicarem aos
leitores o aumento ou a redução da inflação, o comportamento da dívida pública
governamental, as oscilações do câmbio, dos investimentos etc e tal.
Sabendo que na economia monetária os fatos, invariavelmente,
são determinados pelas expectativas que interessam ao capital, essencialmente,
especulativo, os/as repórteres de economia, no Brasil, jamais colocam em
questão aquilo que passou a orientar a produção dos fatos econômicos no Brasil
– ou seja, as pesquisas e análises feitas pelo próprio mercado financeiro.
Militante especulador
Semanalmente, 100 analistas, i.e., especuladores,
exclusivamente, do mercado financeiro, são consultados pelo Banco Central, para
falarem e especularem sobre as expectativas quanto ao comportamento dos preços,
da taxa de juro, do câmbio, dos investimentos etc. Primeira pergunta óbvia: por
que apenas os analistas ligados aos banqueiros são ouvidos? É um escândalo
descarado, minha gente.
Na primeira semana do novo ano, a Pesquisa Focus, essa que
escuta, apenas, os especuladores, apurou que o mercado prevê queda do PIB para
1,95% em 2014. 2013 havia terminado com os consultados pela Focus estimando
crescimento de 2%, inclusive, prevendo um ano melhor do que o anterior.
Qual seria o resultado de uma consulta feita junto a 100 empresários,
os homens da produção, os que lidam com o que mais lhes interessa, isto é, o
mercado consumidor? E mais, que diriam, se consultados, 100 consumidores de
diversas faixas de renda, quanto as suas expectativas para o ano que se inicia?
São, apenas, os especuladores os agentes fundamentais do
processo econômico ou são os que manipulam este a seu favor? Não seria mais
lógico consultar os agentes da produção e do consumo, os, realmente, ligados à
economia real, e não os que, visceralmente, são produtores da economia virtual,
conduzida por profissionais que estabelecem modelos matemáticos para determinar
ficcionalmente o desenrolar dos fatos em seu benefício, é claro?
Não teriam que pegar a opinião dos três agentes, dar a eles
peso relativo, fundamentalmente, diferenciado, quanto a sua importância, para o
desenvolvimento econômico, dividir por três, de modo a apurar uma média
aproximada o mais possível da realidade?
O que fazem os jornalistas?
Não fazem, simplesmente, jornalismo, não cuidam de dar
cumprimento à promessa que fizeram, para pegar o canudo nas universidades. Não
escutam os dois lados, engolem a verdade do mercado financeiro. São, desse
modo, como bem disse Pilar Del Rio, puros militantes do mercado financeiro.
Transformaram-se em terroristas guerrilheiros a serviço dos
especuladores, para multiplicarem os ganhos destes, impondo ao povo tremendos
prejuízos, quanto mais se alienam do espírito crítico, que deve ser a matéria
prima do jornalista.
Se há, tão somente, uma “verdade” disponível, veiculada pelo
jornalismo acrítico, aquela que interessa aos 100 especuladores consultados
semanalmente pelo BC de Tombini, é claro que, por indução manipuladora, os
demais agentes da economia se comportarão de acordo com as expectativas
arranjadas pelos profissionais da especulação por meio dos seus modelos
matemáticos abstratos.
Se a Focus diz que o PIB vai cair de 2%, 2,5% (como chegam a
estimar outros analistas mais isentos) para 1,95%, os investidores,
evidentemente, ajustarão as suas estimativas a essas expectativas. O empresário
vai ficar com medo de investir, o consumidor, de consumir, e assim por diante. Em
face da previsão de que tudo vai cair, o empreendedor, temeroso de que sua taxa
de lucro desabará, puxará para cima os preços, para manter constante sua
lucratividade etc.
Esse é, principalmente, o jogo que favorece os monopólios e os
oligopólios.
Os preços subindo, por sua vez, precisam do corretivo dos
juros para não fazer explodirem as tensões inflacionárias, dizem os
especuladores, como se não fosse a subida do juro a responsável pela alta dos
preços. PIB baixo e inflação alta chamam a atenção das agências classificadoras
de risco, que passam a prever, com segurança, cortes nas notas da economia
brasileira, levantando a possibilidade de os juros subirem mais ainda etc.
Não há, no noticiário econômico, nenhuma avaliação crítica
desse movimento, que obedece à lógica dos interesses da acumulação do capital
especulativo, no processo de financeirização da economia, que marca,
essencialmente, a face do capitalismo atual em todo o mundo, rendido pela
especulação. Os especuladores não merecem o olhar crítico do poder midiático.
Por exemplo, na primeira semana do ano, os grandes bancos,
sabendo que o dólar será o alvo essencial da especulação, em 2014, em
decorrência da ansiedade que domina a política monetária conduzida pelo Banco
Central dos Estados Unidos, criaram um novo instrumento para bombar, ainda
mais, a especulação com a moeda americana.
Trata-se do Certificado de Operações Estruturadas (COE),
capital arregimentado pelos especuladores na formação de fundo de ativos, cujo
montante não recolherá depósito compulsório junto ao BC, como se faz com a
massa de depósitos nos bancos.
Quem se beneficiará com isso?
Claro, a oligarquia financeira, que vai faturar com o
movimento especulativo feito em cima do dólar por eles mesmos, os
especuladores.
Qual o efeito disso na produção e no consumo, na economia
real, por força da manipulação da economia virtual?
Nenhum questionamento ocorreu na grande mídia, no momento do
lançamento dessa denominada NOTA ESTRUTURADA, que, imediatamente, levantou
milhões e milhões de reais para especular com a moeda americana.
Qual a relação desse movimento especulativo na formação dos
preços?
Não se investiga, jornalisticamente, isso. Ele influencia
decisivamente ou não no processo inflacionário? Aumenta ou não a dívida
pública? Bombeia ou não o déficit público?
É mais do que evidente que essa NOTA ESTRUTURADA faz parte do
chamado SISTEMA DA DÍVIDA, responsável por elevar o endividamento público sem
que haja nenhuma contrapartida em termos de empréstimo que seja destinado à
produção, ao consumo, capaz de gerar, no movimento da economia real, aumento de
arrecadação, com a qual são impulsionados os investimentos.
É pura especulação, geração de riqueza fictícia a partir do
próprio dinheiro, sem nenhum aumento das forças produtivas.
O negócio dos especuladores é esse aí, minha gente.
A dívida está, há muito tempo, na economia monetária, sendo
produzida, somente, pelo movimento especulativo, e não mais pelo movimento da
produção real, da qual faz parte como instrumento necessário e, até, positivo.
Hoje, a dívida, no embalo da especulação, somente, bombeia o
endividamento governamental que eleva o risco que puxa o juro que eleva o déficit
que aumenta a inflação etc, etc, etc.
Não seria mais do que necessário, nesse ambiente especulativo,
que fosse feita uma AUDITORIA SOBERANA dessa dívida, conforme determina a
própria Constituição brasileira, no artigo 26 das Disposições Constitucionais
Transitórias, para que a sociedade seja devidamente informada sobre o que é
legal e ilegal na sua composição, a fim de adotar posição crítica sobre esse
processo especulativo, danoso para o presente e o futuro do País?
Mas, o que se vê é, justamente, o contrário.
São, segundo o poder midiático, controlado pelos banqueiros,
os gastos do governo, expressos no ORÇAMENTO NÃO FINANCEIRO da União, os
culpados pelo aumento do déficit público, e não as despesas relacionadas ao
ORÇAMENTO FINANCEIRO.
O primeiro diz respeito aos interesses da sociedade em matéria
de educação, saúde, segurança, transporte, infraestrutura etc. Estas despesas
são sistematicamente contingenciadas, para que sobre sempre mais para servir à
dívida. Já as verbas públicas alocadas no ORÇAMENTO FINANCEIRO, que se ligam
aos interesses dos especuladores e agiotas, não podem sofrer nenhum tipo de
contingenciamento.
A primazia total da política econômica está determinada a
partir da própria Constituição, em cláusula pétrea, conforme determina o artigo
166, parágrafo terceiro, item II, letra b.
Da Bancocracia Agiota
Dois pesos e duas medidas.
Onde está o jornalismo independente que não investiga essa
questão fundamental para o povo brasileiro? Tem que cortar obrigatoriamente
gastos públicos cujos resultados sejam traduzidos em investimentos que retornam
em forma de impostos, como são as destinações dos empréstimos realizados pelos
bancos públicos, nos programas do PAC, duramente atacados pelos banqueiros
privados, mas não devem sofrer nenhum constrangimento as despesas para servir
aos especuladores, que não dão nenhum retorno social.
Nessa linha, a economia nacional, em 2014, do ponto de vista
do mercado financeiro, especulativo, será um fracasso, mas e do ponto de vista
da sociedade, das forças produtivas, que convivem com a mais baixa taxa de
desemprego da história brasileira, como será o ano?
Como as pesquisas ouvem somente um lado e a mídia se pauta por
esse lado, exclusivamente, o jeito é esperar pela voz do povo nas urnas em
outubro.
Poderá ou não pintar surpresas?
Quem está nervosinho com essa eventual surpresa, os
manipuladores ou os manipulados? Até outubro, os militantes do mercado
financeiro estarão fazendo o seu serviço sujo, o anti-jornalismo, que interessa
aos manipuladores, inconformados com uma orientação nacionalista para a
economia, que tente, de alguma forma, mudar o status quo gerado pela
bancocracia tupiniquim.
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