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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Meio rádio se destaca durante o apagão

Por Por Aline Bellatti Küller e Lena Castellón, do M&M Online

Veículos formaram redes de informação com ouvintes. Jovem Pan criou a vinheta "Durante o apagão, o rádio não apaga"

Em pesquisa recente divulgada pelo Vox Populi (leia mais aqui), o meio rádio se saiu na frente no quesito credibilidade. Com o apagão - que afetou 18 estados brasileiros na noite da terça-feira 10 e início desta quarta-feira, 11 -, sua importância voltou a ser ressaltada e sua imagem, fortalecida. Emissoras como Jovem Pan, Eldorado e Bandeirantes acionaram seus geradores e equipes de profissionais para manter o público informado. E também foram abastecidos por ele, em um movimento que formou uma grande rede, acessada por muitos enquanto TVs e computadores, em sua maioria, ficaram desconectados.
As emissoras ouvidas pela reportagem foram unânimes em afirmar que é em situações como essa - de grande impacto para a população, que exige agilidade na informação e abre espaço para a manifestação das pessoas - que o rádio mostra seu poder e reforça sua marca de ser um veículo de comunicação instantânea e responsável por prestação de serviços.Durante o noticiário, a Jovem Pan utilizou uma vinheta, criada na hora, ressaltando a importância do meio. "Durante o apagão, o rádio não apaga" foi o que se ouviu entre uma informação e outra.
A Jovem Pan mobilizou toda a sua equipe e unificou sua transmissão do AM com a da FM, atualizando seus ouvintes em tempo real e realizando um trabalho em conjunto com o público. Para Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, diretor da Jovem Pan, a base da audiência da rádio é medida pela repercussão: "O rádio é a maior companheiro do homem. Tudo parou, mas o rádio continuou lá".

Interação

Ronald Gimenez, editor-chefe da rádio SulAmérica Trânsito, disse que, pelo modelo de atuação da emissora, a interação com os ouvintes já é bastante intensa. Com o blecaute, essa relação se fortaleceu. Prestando informação a todo instante - as equipes já estavam na rua quando o problema começou -, as primeiras notícias foram direcionadas aos cenários mais localizados. Ou seja, os bairros.
Mas a rádio convocou os ouvintes a relatar suas experiências e sondar amigos e parentes de outros lugares. Em pouco tempo conseguiu-se a dimensão do problema. "Fomos ampliando os contatos até que chegou um e-mail dizendo que também havia apagão no Paraguai", recorda.
No horário em que o blecaute surgiu, a equipe contava com seis profissionais. Porém a informação ganhou poder multiplicador devido à participação da audiência. E ela, a audiência, se manteve ativa. Gimenez aponta que, no dia do "alagamento de São Paulo" (08 de setembro deste ano), o portal de voz da SulAmérica Trânsito registrou cerca de 8 mil minutos de gravações.
Os números do apagão mostram que foram feitas aproximadamente 6 mil minutos de gravações entre as 22h da terça-feira e 3h da quarta-feira. Mais: desse horário até o meio-dia desta quarta-feira, 11, foram somados 3 mil minutos de gravações.

Dez anos depois

André Luiz Costa, diretor de jornalismo da BandNews FM - presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Curitiba e Campinas (SP) - lembra que, do primeiro grande apagão (em 1999) para o atual, passaram-se dez anos, tempo em que houve grande avanço tecnológico. Isso, entretanto, não tirou a força do rádio. "Quem tinha rádio de pilha, tinha informação. É um meio de acesso amplo e móvel", comenta.
Em sua opinião, os novos meios complementaram os serviços do rádio. "Enquanto duraram baterias de celulares e laptops, as notícias chegaram para a gente. Tivemos uma participação forte do público, com SMS e e-mails. Fizemos apuração com o ouvinte, criando com isso uma rede. E coordenamos essa apuração", afirma.
A BandNews teve um problema técnico de sintonia logo nos primeiros minutos do apagão, fruto exatamente da interrupção de energia. "Todo mundo sofreu um pouco", emenda Costa.
Ainda pelo grupo, a rádio Bandeirantes também contou com a agilidade de sua equipe para manter a população bem informada. "O apagão comprometeu outras mídias. Com a atuação que teve, o rádio ganhou muito mais força", acredita José Carlos Carboni, diretor de jornalismo.
Ele acrescenta que o meio se evidencia também porque traz relatos emocionantes. "O ouvinte percebe que tem alguém respirando do outro lado", diz. Carboni divide a cobertura em dois momentos: o primeiro foi o da tomada de consciência do fato, com notícias sobre o trânsito e sobre outros efeitos bairro a bairro. Enquanto isso, a equipe de produção corria atrás de informações com autoridades. E esse se tornou o segundo momento importante: o da consolidação das notícias."
O grande papel do rádio é relatar, abranger o maior número possível de vozes e formar uma cadeia de informações, com a participação de várias pessoas", argumenta. Para Carboni, o rádio é mais ágil porque depende basicamente do áudio - não precisa subir nenhum arquivo para a internet, por exemplo. Além disso, ele salienta, o meio agrega outras mídias a sua cobertura. "O rádio é um veículo que existe há muitos anos e mostra que se complementa com as demais mídias. Não é superior, nem inferior. Mas nessas horas se apresenta fortalecido".

Mídias integradas

Outras emissoras destacaram a integração das mídias. Na CBN, o uso das linhas telefônicas ficou restrito aos repórteres. Os ouvintes entravam em contato pelo blog, SMS e principalmente pelo Twitter, que, segundo Zallo Comucci, gerente executivo da CBN, registrou um aumento de mensagens entre 200% e 300% em comparação com os dias normais. A emissora contou com mais de 40 profissionais na redação e nas ruas de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, mandando informação e registrando o apagão.
Filomena Salemme, editora-chefe da rádio Eldorado, também salientou o papel colaborativo do público, por meio do Twitter, telefone e SMS, totalizando mais de mil participações, o que representa um aumento de 70% em relação ao dia-a-dia da rádio. O serviço de mensagem de texto, lançado na segunda-feira 9 foi uma das principais novidades, com mais de 700 registros.
A emissora interrompeu sua programação às 22h13 e começou a prestação de serviço com a participação de toda sua equipe (formada por 40 profissionais). Entraram também no ar opiniões de especialistas, representantes do governo e do ouvinte repórter, um recurso muito utilizado no cotidiano pela Eldorado, no qual o público é, ao mesmo tempo, o informado e o informante, criando uma rede de solidariedade.

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