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domingo, 27 de julho de 2014

Opinião: Rússia, Venezuela, Argentina e Irã rompem hegemonia midiática‏

Por FC Leite Filho, publicado originalmente no blog, Café com Política

O esforço de reportagem da televisão Russia Today (rt.com) para contestar a insistência da mídia ocidental em responsabilizar o presidente Vladimir Putin pela queda do voo MH17 da Malasya Airlines, na Ucrânia, matando 298 pessoas, já produziu um recuo americano. Washington acabou tendo de descartar o envolvimento direto dos russos na tragédia e atribuiu a responsabilidade a um equívoco dos separatistas pró-russos que atuam na área sinistrada. No Brasil, a revista Veja chegou a publicar a capa de sua edição da semana passada encimada pelo título “A CULPA DE PUTIN”.
Por sua vez, a Telesur, o canal multi-estatal (Venezuela, Cuba, Argentina, Bolívia, Uruguai e Equador) volta a ser destaque, com o lançamento ontem de sua multiplataforma em inglês destinada aos Estados Unidos, Europa, Oriente Médio e Ásia, com enfoque nas guerras da Síria e Ucrânia  e da matança de Israel na Palestina.
Como se sabe, a Telesur já havia desmoralizado, com uma cobertura de primeira linha, a versão americana de que não tinha ocorrido um golpe militar em Honduras, em 2010. Suas câmeras mostraram como o presidente Mel Zelaya foi retirado de sua casa, no meio da noite, de pijana, e colocado por um grupo de policiais em um avião militar que o deixou sozinho na pista do aeroporto da Costa Rica. Ultimamente, o chamado canal  do sul,  já vinha desfazendo manipulações da mídia ocidental, através dos correspondentes próprios despachados para a Líbia e a Síria.
Num âmbito ainda mais continental, a TV Pública da Argentina alcançou uma audiência superior a 49% de audiência nos principais jogos da Copa do Mundo no Brasil e sustenta um programa diário, o 678, também com rating considerável, denunciando a campanha de desestabilização que movem os grande grupos de comunicação privado Clarín e La Nación contra a presidenta Cristina Kirchner. Além da TV Pública, o governo implantou o sistema de TV Digital com uma meta de atingir 40 canais de alcance nacional, dos quais já estão funcionando o Encuentro, destinado a questões culturais, Cinema, Patatá (infantil), Esportes e Ciência e Tecnologia.
Finalmente, o Irã, com a sua Press TV, em inglês e árabe, e a Hispantv, em espanhol, também vem trabalhando há mais de cinco anos neste olhar alternativo das notícias, através de informativos sustentados por uma rede de correspondentes espalhados nas principais capitais, inclusive da América Latina. Todos esses serviços informativos são acessíveis pela internet e redes sociais, inclusive com transmissão streaming (direta) em canais de vídeo, como o Youtube, o que aumenta ainda mais sua penetração, sobretudo depois da habilitação dos celulares, hoje responsáveis por cerca de 40% de todo o acesso digital.
Opção em inglês – Com sede em Caracas, a Telesur entrou ontem no ar com uma multiplataforma em inglês (já vinha há nove anos transmitindo em espanhol) e que, em breve incluirá o árabe e o mandarim. Para isso, a plataforma utiliza uma equipe de jornalistas, intelectuais, cientistas políticos, artistas e jovens bandas musicais. Entre os jornalistas, figuram Tariq Ali, célebre ativista paquistanês residente há muitos anos em Londres e que passará a responder pela cobertura na Europa, e Jorge Gestoso (ex-expoente da CNN en Español), que ficará a cargo das notícias geradas a partir de Washington, além do pensador Noam Chomsky (veja vídeo).
A ação destas plataformas multimídias de Moscou, Caracas e Buenos Aires , que incluem serviços de TV aberta, cabo, internet e streaming (Youtube e outros serviços de direto de vídeo), permitem deduzir que a comunicação alternativa começa a se tornar uma realidade e que se pode estar próximo o equilíbrio do noticiário,. Este até aqui  fixava a versão dos fatos a partir da ótica dos Estados Unidos e da Europa, sem levar em conta o resto do mundo, incluindo a Rússia, a China, a Índia e América Latina, com população muito maior do que o chamado mundo ocidental.
Este papel alternativo chegou a ser ensaiado pela Rede Al Jazeera, do Catar, que, no início de suas transmissões, em 1996, oferecia uma visão mais consentânea do mundo árabe, mas depois foi arrastada pelos americanos, que têm naquele país sua maior base militar no Oriente Médio. Sua versão  preponderante não difere muito da de Washington e da União Europeia, como se fora uma CNN, BBC ou France24.
A função das estatais Russia Today,  Telesur, TV Pública Argentina e Press TV, assumem grande importância, na medida que o mundo deixa de ser unipolar, com domínio exclusivo dos Estados Unidos, para transformar-se em multipolar, ou seja, com vários polos de poder, como a China, a Rússia, e a América Latina, dotados territórios ricos em energia e recursos minerais e sobretudo água potável abundante, condições de que carece o chamado primeiro mundo.
A realidade desse novo cenário internacional ficou evidente na recente reunião dos BRICS, bloco de países constituído pelo Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, realizou entre si nos dias 14 e 16 de julho, em Brasília e Fortaleza, e com os chefes de Estado dos 12 países da América do Sul, que formam a UNASUL – União das Nações Sul-Americanas.
As discussões foram produtivas e resultaram na constituição do Novo Bando de Desenvolvimento e do Fundo de Reserva de Emergência de 100 bilhões de dólares para atender a projetos dos paeises membros e associados dos BRICS, além de projetos para a constituição de uma rede de internet própria, de modo a evitar a atual centralização nos Estados Unidos, e de redes de instrumentos de mídia capazes de fazer frente aos congolmerados privados de comunicação que sufocam e desmoralizam os seus governos.
Com efeito, a manipulação midiática mostrou seu lado mais despótico e lesivo à soberania desses países emergentes na cobertura, tanto da queda do avião da Malásia na Ucrânia, quanto da última invasão e massacre da Palestina, por parte do governo de Israel, este com total respaldo americano e europeu. O caso do vôo MH17 merece uma apreciação específica. Antes, no comando de uma ofensiva midiática internacional, envolvendo o próprio presidente Barak Obama e o secretário de Estado John Kerry, os meios de comunicação ocidentais procuraram impingir a noção de que a Rússia e seu presidente Vladimir Putin eram os únicos culpados, sem dar qualquer espaço para a versão dos acusados ou mesmo do benefício da dúvida.
Tampouco mostrou qualquer prova de suas afirmações, a não ser vídeos grosseiramente manipulados pelo governo pró-ocidental da Ucrânia e que foram desmentidos. Assim tinha ocorrido com a invasão do Iraque, da Líbia e da Síria, como aliás sempre se comportou a chamada mídia hegemônica, quando não havia vozes alternativas para apresentar a verdade factual.
Recorde-se que o secretário Kerry chegou a dizer que os americanos tinham imagens comprovando a derrubada do avião por um míssil soviético terra-ar manobrado por militantes pró-russos. Cadê as imagens autênticas? Nunca apareceram.
O trabalho insistente da rt.com, que já se transformou numa das redes internacionais a cabo de grande audiência, só suplantada pela BBC nos Estados Unidos, e já tendo alcançado um bilhão de acessos no Youtube parece estar eendendo frutos . É que ela vem alardeando a insuficiência de provas da narrativa dos americanos e ainda a possibilidade de que a tragédia do MH17 tenha sido fruto de uma provocação da Ucrânia com o fim de desmoralizar a Rússia. O fato acabou levando Washington a engolir os fatos como eles realmente podem ter ocorrido, a julgar pelas hesitações ultimamente demonstradas pelos porta-vozes do Departamento de Estado. (Veja vídeo em inglês)  Tanto é assim que o Departamento de Estado, além de, agora, descartar a participação de Putin e do Kremlim no abatimento do vôo malaio,  vem alegando, em tom mais moderado, que a ação contra o MH17 pode ter sido produto de um equívoco no manuseio do míssil dos separatistas pró-Rússia.
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Um comentário:

Unknown disse...

Realmente a visão do que aconteceu com o voo MH17, agora tem uma ramificação maior, tem outros lados! A RT, assim como demais outras mídias alternativas, estão quebrando paradigmas e mostrando aos governos, a população e às próprias mídias que é possível questionar e duvidar dos fatos.