As redes sociais permanecem como
um mundo de penumbra, onde nem sempre é possível identificar autores e seus
propagadores. É um mundo sem impressão digital. Não sabemos de fato quem está
teclando e não há regras claras sobre o seu uso.
Por Márcia Turcato, jornalista
A máxima “informação
é poder” foi atualizada para “desinformação é poder”. A desinformação é uma estratégia global e
concorre com a ética na informação. A desinformação integra o arcabouço das
convicções ideológicas e para combatê-la um importante passo a ser dado é
deixar de chamá-la de fake news. Uma notícia, por definição, não é falsa, ela
foi apurada com ética por um jornalista profissional. Falsas são as narrativas
publicadas em portais que, embora pareçam ser sítios de notícia, publicam
conteúdo sem responsabilidade social com o objetivo de prejudicar a capacidade
de avaliação da audiência.
Conhecidas como fake
news, as versões distorcidas da informação se apropriam de algum traço de
realidade de forma a conferir credibilidade às teses de grupos de ideologia
indefensável. A desinformação imita o
jornalismo na forma, mas não nos procedimentos. São criados personagens e
inventados fatos para construir mentiras estratégicas para que pareçam
verídicas e ganhem impulso nas redes sociais e, com isso, conquistar a simpatia
de cidadãos de boa fé. Os algoritmos são uma armadilha da web.
Em alguns casos, o
discurso não é alterado mas é feita edição das imagens, modificando a
velocidade dos frames, ou o áudio da gravação, para que o protagonista aparente
estar alterado e perca credibilidade junto a plateia. Outra face da manipulação
tecnológica que precisamos enfrentar.
Embora já exista um
esboço de controle, as redes sociais permanecem como um mundo de penumbra, onde
nem sempre é possível identificar autores e seus propagadores. É um mundo sem
impressão digital. Não sabemos de fato quem está teclando e não há regras
claras sobre o seu uso. No entanto, é preciso reconhecer a importância da
comunicação digital na sociedade e a popularização, a baixo custo, da produção
de conteúdo que ela proporciona.
Apesar disso, a falta
de transparência da rede, por exemplo, originou o caso Cambridge Analytica,
onde o direcionamento da publicidade -de forma ilícita- junto aos consumidores
de conteúdo, interferiu no resultado das eleições dos Estados Unidos. Ou,
ainda, a manipulação das informações na Grã-Bretanha, que resultou na Brexti e,
mais recentemente, a desinformação intencional durante o processo eleitoral de
2018 no Brasil, massivamente reproduzida nas redes sociais orgânicas ou
robotizadas.
Fato semelhante
ocorre com a publicidade em geral, direcionada nas redes sociais, de produtos,
serviços e de ideologia. Publicidade que é feita sob a forma de informação,
enganando a audiência. Todas essas situações, embora distintas no formato, têm
semelhança na origem: valem-se da estratégia da desinformação ou da sonegação
da informação. A sonegação da informação tem sido adotada por instituições
públicas, especialmente no Brasil, apesar da existência da Lei de Acesso à
Informação.
O caso mais recente,
ainda em construção, será dado pelo Facebook. O fundador da plataforma, Mark
Zuckerberg, anunciou a criação do Facebook News, uma aba no portal onde serão
publicadas informações selecionadas pelo próprio FB e que privilegiam a mídia
local. Parece uma iniciativa honesta, mas o que é mídia local? Precisamos de
uma nova definição para mídia local diante do crescimento de portais ditos de
notícia mas que não seguem os preceitos da construção da informação e
proliferaram no Brasil a partir de 2018, na onda conservadora impulsionada pela
estratégia da desinformação.
Proposta
Diante desses fatos,
sugiro a formação de um grupo temático que discuta o que é informação,
identifique as estratégias de desinformação em circulação no Brasil, suas conexões
no mundo da web, e atue para encontrar caminhos que exponham essa rede global
da desinformação como uma ferramenta de manipulação ideológica. Para isso é
fundamental discutir os temas relacionados a desinformação, regulação do uso
das redes sociais, informação e poder, desinformação e governabilidade,
informação e ética e deepweb (web profunda, que não pode ser acessada por
mecanismos de buscas).
A Comunidade Europeia
avançou muito nessa área e criou mecanismos que buscam identificar e minimizar
os efeitos da desinformação na sociedade. Algumas dessas estratégias podem ser
debatidas e adotadas.
A criação de uma
frente em defesa da informação, com foco na “desinformação”, pode abrir o
debate e propor uma agenda pública que analise os seguintes aspectos:
- No período eleitoral, ter um comitê que monitore a circulação de informação falsa junto ao TSE com força para retirar a informação do ar em até 24 h.
- Penalizar portais que divulguem informações falsas.
- Reunir com as agências de publicidade para discutir sobre conteúdos direcionados.
- Reunir com os veículos de comunicação social para orientar sobre transparência.
- Melhorar a capacidade das instituições brasileiras para identificar e denunciar casos de desinformação.
- Criar um sistema de alerta rápido de combate à desinformação.
- Incentivo a criação de grupos de checagem da informação.
- Mobilizar o setor privado sobre os prejuízos da desinformação.
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