Posse de Bolsonaro. Foto de Jonas Pereira. |
Por José Tirésias
É natural o antagonismo entre imprensa e governo. E isso diz um pouco sobre as ambiguidades do site com nome derivado. São forças com papéis diferentes em um sistema político. Mas os espaços nunca são claramente delimitados.
Isso é o bê-a-bá.
Assim, sempre se estabelece um jogo de poder, cujo ingrediente complicador da atualidade são as tais "redes sociais".
Não me lembro de um governo, desde quando comecei a acompanhar a vida política, nem li sobre isso em livros de histórias...Não posso mencionar um governo que tenha sido favorável à imprensa. Por vezes, ela é reprimida, hostilizada; por vezes, comprada.
O atual governo e muitos de seus seguidores repetem o velho discurso de que a imprensa é inimiga das transformações em curso e está mancomunada com o 'ancien régime'. E avisa que pode se comunicar diretamente com a população, o que deixaria o jornalismo sem função.
Como tudo na história humana, parece que em um determinado momento o que é "novo" vai engolir tudo o que é "velho" e estabelecer uma supremacia sem precedentes. Mas os sistemas humanos são cíclicos e tendem a acomodações, já que a mudanças constante é de índole revolucionária e, portanto, insustentável por prazos muito longos, como prova a história.
O atual governo é reformista - não revolucionário, apesar de um certo conjunto de declarações e atos. Não é impossível que a imprensa como a conhecemos encolha. Na verdade, isso tem se dado, mas o que é mais notável é a segmentação por meio de processos que se fundem com os das novas possibilidades midiáticas. Em 2013, houve quem acreditasse que a Mídia Ninja tinha substituído a mídia convencional. Esta soube, em parte se recompor. Ainda que menor, está muito mais qualificada do que os Ninjas, que permanecem no seu amadorismo.
Da mesma fora, acreditou-se que os novos atores políticos "horizontais, sem lideranças, bla bla blá" tinham vindo para varrer de cena os políticos tradicionais. Nada disso. É claro que ficou algo da ação fluida da mobilização em rede, mas tudo em benefício do que é mais tradicional com cara de moderninho.
Vamos passar por reformas de corte conservador. Até onde essa tendência se sustentar em mundo com seus ciclos muito curtos.
O momento não é de pluralismo. Sopram outros ventos, de um outro quadrante ideológico, que se diz não ideológico para dissimular sua ideologia. Jornalistas com suas ideologias têm atuado em regimes de todos os tipos desde que existe imprensa. Há até aquela frase que atribuem a Roberto Marinho em conversa com um militar: "deixe que dos meus comunistas cuido eu".
Essencial sempre será defender a liberdade de imprensa e combater a ideia de que agora ninguém mais precisa de jornalismo porque temos as redes sociais, onde macaquear e palrar é a tônica. Imprensa apura e se responsabilizar pelo que apura e publica. Por mais respeitável que seja a opinião de cada cidadão, ficar empoleirado no Facebook ou no Whatsapp repetindo memes não contribui para a construção de um julgamento político capaz de orientar a trajetória de um país rumo a um desenvolvimento em sentido amplo.
Essa deve ser uma das batalhas fundamentais do jornalismo. Mostrar que é insubstituível, na essência, embora possa encontrar formatos novos. O arremedo de informação e opinião deve ser constantemente confrontado com visão objetiva, de um lado, e argumentação fundamentada, do outro, esteja o jornalista em seu domínio propriamente dito, ou junto à massa das redes sociais.
Sem saudade do "ancien régime" nem adesão ao "new establishment", já que a situação do "antiestablshiment" apenas prepara o advento de um novo, o jornalista tem de procurar ser justo e crítico. De modo a sobreviver a esta e às próximas ondas ideológicas.
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