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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Boechat, o mascote da noite


Por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Quando a noite desce a sabedoria emerge. A escuridão é o momento da revelação. Estamos falando do acidente que tirou a vida do jornalista Ricardo Boechat, da Rede Bandeirantes, aos 66 anos . É de impressionar a extensão da sua popularidade, representada por um grande número de seguidores em todo o Brasil.  Poucos haviam percebido. Era ainda dia.
Nascido na Argentina e criado por aqui, depois de conviver , na condição de repórter e comentarista, com diversos públicos  dos jornais, da televisão e do rádio,  Boechat terminou captando a alma do brasileiro: o espírito nacional levemente irônico, sua graça,  as angústias tragicômicas e a provincialidade diante das modernidades latentes..
Temido pelos transgressores do mundo político, era amado pelo cidadão comum. A escuridão de sua morte desnudou o reconhecimento da sabedoria que o acompanhava no relacionamento com a população. Todos o assistiam e, um grande número de ouvintes e telespectadores seguiam quase paradigmaticamente  suas críticas e observações de estilo descontraído, mas veementes.
No rádio, então, era imbatível. Sua comunicação com a população fluía, leve e solta . Sabedoria e bom senso competiam, sim, com a comunicação nas redes sociais. Não mentia . O riso irônico refletia a sensação de indignação e impotência do cidadão .Ele e José Simão, com um “Me engana que gosto”,  gargalhavam, sem constrangimentos nem censura, ante declarações ou iniciativas públicas protelatórias ou mentirosas amplamente veiculadas 
Boechat carregava a sabedoria do homem comum. Era invejável a facilidade com que manejava o discurso jornalístico, que, por ser crítico, não deve e não pode subestimar jamais o sentido da autonomia existencial do indivíduo e o esforço do homem pela sobrevivência. Sua morte traz mais uma luz para os sombrios espaços da redação e dos estúdios.

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