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terça-feira, 6 de junho de 2017

Livro analisa o isolamento e o preconceito em torno da Lepra no Brasil

Por Daniela Arbex

Praga e isolamento perpétuo cercam uma simples palavra que designa uma doença por todos temida: a lepra. Durante milênios, o leproso foi isolado da sociedade, abandonado para ser morto em florestas e cavernas, deteriorado a tal ponto que simplesmente olhá-lo era considerado mau agouro. 
Vinda da Ásia e do Oriente Médio, a doença penetrou na Europa devido às conquistas de Alexandre, o Grande, e às jornadas orientais das cruzadas pró-cristianismo. A discriminação e o medo sempre a cercaram. 
No Brasil, a lepra chegou marcada por todos os antecedentes negativos e não teve destino diferente. A cura da doença surgiu nos anos 1940, mas o isolamento compulsório em leprosários prosseguiu até 1986. 
Os resultados do preconceito se firmaram na sociedade a ponto de, mesmo curados, os ex-leprosos carregarem o estigma para todo o sempre. Libertos, continuaram presos às dificuldades. Até hoje buscam familiares que ficaram perdidos por causa dos anos de isolamento social. 
São profissionalmente rejeitados e ainda temidos por muita gente não saber que a lepra — denominada “hanseníase” a partir dos anos 1960 — é uma doença como outra qualquer, com tratamento e cura. Em uma conversa com Artur Custódio, coordenador do Morhan (Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase), a repórter Manuela Castro, da TV Brasil, descobriu realidades tristes dos doentes e dos antigos leprosários, que funcionavam como verdadeiras cidades autônomas, cercadas e isoladas do resto do mundo. 
Essas descobertas foram divulgadas no programa Caminhos da Reportagem, no episódio “Hanseníase, a história que o Brasil não conhece”, que foi agraciado com o prêmio Jornalista Tropical e com a Menção Honrosa do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Município do Rio de Janeiro. 
A partir do programa, Manuela idealizou este livro, que traz, com fartas ilustrações e depoimentos ora comoventes ora alarmantes, toda a realidade das famílias desintegradas, das práticas desumanas e do preconceito que insiste em condenar os ex-internos ao isolamento social que já sofriam na Idade Média e nos tempos bíblicos.
Esses depoimentos, os inúmeros dados históricos e as reações dos doentes, que ainda sofrem com o estigma arraigado na sociedade, configuram um documento da maior importância, escrito com fluência e de fácil compreensão para todos os leitores. O poder de impacto dessa leitura poderá exercer efeitos bastante benéficos e esclarecedores sobre esse grande mal.
 
Leprosos expulsos da cidade de Bauru (SP), acampados
na beira da estrada, no início do século XX
Holocausto brasileiro
 
O medo envolve esta praga a partir do nome: lepra. Para vencê-lo, foi necessário vencer a palavra, substituindo-a por “hanseníase” no Brasil a partir dos anos 1960. Palavra que carrega um significado de pavor e isolamento inumano desde milênios, atravessando a Bíblia, a história do Oriente Médio, da Ásia e da Europa, atingindo indiferentemente reis e pobres da mais baixa classe, ela abriga uma doença que passou a ter cura nos anos 1940. Mas o Brasil, com seu atraso científico e social, ignorou ou subestimou isso. O pavor brasileiro se espalhou facilmente entre as políticas de saúde, os médicos interessados apenas em lucro, a ignorância, a pobreza, as regiões desassistidas e as famílias em pânico. Conheça esse contexto e depoimentos alarmantes acerca de uma realidade ainda presente no país, neste livro documento da repórter Manuela Castro. É outra das muitas pragas que o Brasil ainda não venceu.

A Autora

Manuela Castro é apresentadora e repórter da TV Brasil desde 2008. Com experiência em coberturas especiais no Brasil e no mundo, recebeu diversos prêmios com o programa Caminhos da Reportagem. Além de duas premiações com o episódio “Hanseníase, a história que o Brasil não conhece”, também foi agraciada com os prêmios Sebrae de Jornalismo, Ministério do Meio Ambiente e CNBB de Comunicação.
 
 
“Quando o silêncio e o preconceito se unem o resultado é a chaga do esquecimento. Neste livro, Manuela Castro dá visibilidade ao drama de brasileiros que foram condenados à exclusão por causa da hanseníase, doença que atravessou a vida de milhares de pessoas, criando um abismo entre elas e suas famílias. Ao resgatar o drama dos leprosários no Brasil, a jornalista desvenda uma realidade surpreendente, na qual o mal não é a doença, mas a forma de a sociedade lidar com ela.”  

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