Por Carolina Salles, Fernanda Favorito e Júlio Mahfus,
publicado anteriormente em JusBrasil.
É óbvio que as questões ambientais, em especial a sua preservação, não interessam ao capitalismo brasileiro.
O Brasil sofreu no último ano dois
grandes desastres: um político e um ambiental.
Ambos geraram uma lama tóxica
que talvez só o tempo seja capaz apagar. Falamos sobre a crise do governo Dilma
e o desastre em Mariana, com o rompimento da barragem da empresa San Marco.
Mas
vejam como um apagou o outro dos noticiários, deixando um prejuízo ambiental
fantástico e pessoas impunes aos delitos praticados.
O rompimento da barragem de
rejeitos é o maior da história mundial. Destruiu inteiramente o distrito de
Bento Rodrigues. No entanto, o que assusta é o ineditismo numérico: seriam
necessários quase seis bilhões de dólares para recuperar a área.
Mas por que
este assunto não interessa a população?
O que efetivamente está por trás de
tudo isso?
É óbvio que as questões ambientais
e em especial a sua preservação, não interessam ao capitalismo brasileiro. Ao
contrário. Existe uma sistemática tentativa de minimizar todas as regras
protetivas, alegando-se sempre, que o desenvolvimento econômico não acontece em
muitas regiões, em decorrência destas regras.
Este discurso acaba sendo
internalizado pela população. Os temas ambientais estão longe da política e dos
noticiários. E a própria pulação não consegue visualizar que os recursos
naturais são finitos. A questão da água é um grande exemplo disso. Continuamos
a desperdiçar, como se nossos mananciais e nossas reservas fossem capazes de
durar séculos, quando na verdade, durará apenas algumas década.
A tragédia de Mariana tende a cair
no esquecimento, enquanto o cenário político brasileiro estiver turbulento e
especialmente, impregnado com políticos que vêem no viés economicista a única
saída para as crises que o próprio capitalismo impõe. Cabe, portanto a nós,
ficarmos relembrando. Não apenas para recuperar, mas para que novos desastres
não aconteçam.
O tema do meio ambiente, precisa
ser melhor compreendido no jornalismo. Não pode e nem deve ficar adstrito à cobertura dos desastres e, muito menos, simplificá-lo em simples tabelas
matemáticas.
É fundamental que seja investigativo e esclarecedor, a fim de
oportunizar que a população compreenda a necessidade premente de se apropriar
desta questão.
Mais do que isso, a educação
ambiental precisa estar presente no cotidiano do brasileiro. É necessário que
essa preocupação venha do berço, mas também nas escolas e que a mídia reforce a
necessidade deste diálogo.
Não podemos nos lembrar do meio ambiente apenas em
um dia especial, como por exemplo, o dia do meio ambiente ou achar que fazemos
nossa parte apagando as luzes de casa por uma hora, na chamada Hora do Planeta
e nos outros dias, deixar as luzes de casa acessas sem necessidade, utilizar a
água sem se preocupar que ela é um recurso finito.
O debate deve ser mais profundo do
que apenas o anúncio em um único dia e deve acontecer diariamente.
Nem mesmo no
dia da água, que foi celebrado, no último 22 de março, a tragédia de Mariana
foi lembrada. O Rio Doce foi devastado e esquecido no meio da lama da Samarco e
da Vale, cujo nome não é mencionado em mais nenhuma notícia.
Aliás, nem a
Samarco é mais mencionada, ninguém cobra a dívida que esta tem com a população,
com todas as espécies mortas e com a biodiversidade vitimada.
À mídia interessa apenas o que traz
retorno imediato e não apenas de audiência, mas para seus interesses escusos e
questionáveis. Vemos incontáveis reportagens sobre política, muitas apoiando as
ilegalidades cometidas durantes as investigações da Operação Lava Jato, tudo em
nome de um jornalismo que de imparcial não tem nada ou quase nada.
Queremos sim, que todos paguem a
sua conta e somente as que, de fato, lhes cabem. Não queremos que um único
partido seja culpado enquanto os demais não são sequer investigados. É a
seletividade da mídia que incomoda e a sua falta de memória também.
A tragédia
de Mariana não figura mais em nenhum noticiário, mesmo sendo a maior de todas,
nunca o meio ambiente brasileiro foi atacado desse jeito, mas a indignação
acabou, a Samarco, aos poucos, se livra da conta e de suas responsabilidades,
de reparar os danos ambientais causados e ninguém parece se importar realmente.
*Carolina Salles, graduada em Direito, Mestre em Direito
Ambiental e Ativista Animal
Fernanda Favorito, graduanda em Direito, Mestre em
Hospitalidade e Pós - graduada em Gestão Empresarial
Júlio Mahfus, graduado em Direito, Professor
Universitário e ex- Procurador Geral de Cachoeira do Sul
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