Em matéria de comunicação pública, a esquerda brasileira,
nos últimos doze anos de governo petista, dormiu no ponto. Acreditou que, no
poder, seria tratada, pelo poder midiático neoliberal, de forma diferenciada em
comparação com os partidos tradicionais, serviçais do conservadorismo, da
preservação do status quo que
eterniza a desigualdade social.
O petismo tem compromisso com a história. A chegada de Lula
em 2003 ao centro do comando político nacional representou movimento histórico
que mudou correlação de forças políticas no Brasil. Até então, os trabalhadores
jamais tiveram em tal posição. Eram, isto sim, tratados com massa de manobra,
bucha de canhão, para organizar o movimento para as forças conservadoras.
Ao chegar ao poder o PT, imediatamente, adotou políticas
sociais distributivistas de renda por força do próprio movimento social que o
levou ao poder. Movimento dialético. Pela primeira vez, os miseráveis tiveram
garantidos, como política pública, três pratos de comida por dia. Acabou a
fome. A miséria está sendo eliminada. Por isso, o capitalismo tupiniquim
não se sucumbiu à crise mundial.
O PT deu a ele mercado interno seguro e os empresários
correram atrás dos consumidores. Os pobres estão cada vez mais dentro do
orçamento da União, querendo mais recursos para saúde, educação, transporte,
segurança, infraestrutura. O salário mínimo é reajustado com a inflação mais um
plus de ganho real. Os programas sociais garantem a estabilidade social contra
a instabilidade social. Acirram-se as contradições de classe, porque os pobres
e remediados querem mais quanto mais percebem que podem alcançar o que têm
direito no contexto de um poder republicano onde o direito de consumo é
estabelecido constitucionalmente.
Mas, falta uma coisa fundamental: a comunicação dessas
conquistas. O que adianta a galinha botar o ovo, mas não anunciá-lo,
cacarejando. O PT não cacarejou. Não cuidou de adotar uma política de
comunicação democrática, para anunciar as conquistas sociais democráticas. Essa
tarefa ficou por conta do poder midiático oligopolizado, cujos patrões são os
poderes financeiros e econômicos internacionais.
Evidentemente, estas
são forças contrárias ao avanço dos pobres no orçamento. Do total do OGU de
2014, de R$ 2,83 trilhões, 44,02% destinam ao pagamento de juros e amortizações
da dívida. Somente as migalhas, relativamente, falando, vão para o povo, que,
ainda, assim, melhorou ee vida nos últimos doze anos. O governo quer legalmente
mudar as metas da Lei de Diretrizes Orçamentárias, porque o cumprimento delas,
no contexto do status quo conservador tornou-se impossível em razão do avanço
da consciência social por mais direitos às forças populares.
A oposição trata essa conquista, esse direito, como rombo
orçamentário etc. Como se o avanço social fosse uma ilegalidade política. A
razão de a presidenta Dilma Rousseff ter ganhado a eleição por margem
apertadíssima para uma oposição vendilhão da pátria se explica porque os
petistas e seus aliados não se ligaram na comunicação pública ampla, deixando-se
dominar, amplamente, pelo oligopólio antidemocrático neoliberal. Sem
comunicação, não há solução. Ou como dizia Chacrinha, quem não se comunica se
trumbica. O PT não se trumbicou dessa vez por milagre. Da próxima, não tem
salvação, se nada fizer, como não se fez até agora, no campo da comunicação
pública, proporcionando expansão das rádios, tevês e imprensa comunitária etc.
Nas eleições recentes, viu-se como o governo possui enorme dificuldade
para informar adequadamente sobre todas as suas próprias realizações. Até
militantes do PT, muitas vezes, registram desconhecimento sobre obras e
programas de governo, consequentemente, têm dificuldade de defendê-los. As
forças conservadoras, sim, possuem uma comunicação destrutiva organizada e
conseguiu confundir boa parte do eleitorado que, mesmo beneficiado pela
distribuição de renda, pelo crescimento do trabalho formal e pelos programas
sociais, aceitava a tese marota da alternância de poder, porque, argumentava,
“um partido não pode ficar muito tempo no poder, tem que mudar”.
Mas, transformar uma sociedade com monstruosas injustiças sociais
acumuladas, que ainda tem marcas do escravagismo, não é tarefa para um curto
período, especialmente em se tratando de governo que não conta com
maioria de esquerda no Congresso. Mais difícil ainda se este governo é sem
comunicação. O PT não organizou mídia própria para defender as conquistas de
Lula e Dilma dos ataques conservadores. TVs e Rádios públicas, comunitárias e
universitárias continuam fragilizadas, sem sustentação e baixa audiência. No
entanto, o governo pratica uma política de sustentação financeira de toda a
logística da mídia conservadora, especialmente da Rede Globo que, em 10 anos,
recebeu 5 bilhões de reais em publicidade oficial. Desperdício de recursos públicos,
mau uso, altíssimo custo social e político negativo.
Ao contrário, na Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia, além do
fortalecimento, expansão e qualificação da rádio e tvs públicas,
investiu-se pesado em jornais populares impressos, com distribuição militante e
comercial massivas, a preços módicos ou gratuitamente, que fazem a disputa
ideológica com a direita. Há vigorosa expansão do parque gráfico e da
leitura de jornal e livros. Aqui, mesmo alertado, o prefeito Haddad não usou,
até a agora, a prerrogativa que lhe dá a lei (12485) para ter um canal de
tv a cabo na maior cidade do país, sem precisar mudar a Constituição. Organizar
um poderoso jornal cooperativo popular, impresso e digital, também não exige
mudanças na Constituição, para o que não há maioria. Medidas que exigem apenas
decisão política, como houve ao se fundar a Cut, o PT. Como tiveram as forças
de esquerda nos países vizinhos.
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