Por Carlos Alberto Vittorio
O título do livro difere muito do seu conteúdo. A intenção
do jornalista baiano Valter Xeu era, originalmente, festejar a história do
“Pátria Latina” que começou como um jornal impresso e, seguindo os trilhos da
modernidade – ou a fatalidade da maioria dos impressos –, virtualizou-se nesta
era digital. Se ele consegue isto? Consegue, sim. Mas nesse caminho de contação
da vida do Pátria Latina, Xeo nos guia pelas ruas de Havana, nos conduz com
maestria pela história dos bares, restaurantes e hotéis habaneros a ponto de
nos sentirmos lá.
São experiências vívidas que temos ao passear com Valter Xeu
ao longo do Malecón, o calçadão que se tornou o símbolo da cidade sem deixar de
protegê-la das ondas provocadas pelos ciclones e tempestades caribenhas.
Histórias como as dos astros norte-americanos que frequentavam (e se
embriagavam) nos restaurantes que também
eram frequentados pelos mafiosos que saiam dos Estados Unidos para gerenciar
seus negócios em Cuba.
Valter Xeu transita com facilidade pelos pontos de Havana e aproveita
para contar histórias das dezenas e dezenas de amigos e colegas de labuta que
levou para conhecer a ilha de Fidel. E é a partir dessas histórias que ele
relata a nascença, a gênese do Pátria Latina, uma ideia semeada na sua cabeça e
na cabeça de dois outros jornalistas que o acompanhavam por Fidel Castro
durante uma entrevista que, no caso de Fidel, durou quase uma noite inteira.
Nesse livro, o jornalista que saiu de Feira de Santana, na
Bahia, pra correr o mundo sem falar outra língua que não a sua, conta também
outras histórias e defende suas bandeiras com leveza feroz como um Quixote do
século 21.
Perambulando pela Rússia, pelo Irã, a paixão desse baiano
cosmopolita só não comporta os Estados Unidos, alvo constante de suas críticas.
Xeu defende países e povos como se defendesse a própria casa. É a sua ‘raison
d’être’. Mas isso não faz dele um “esquerdopata” indigesto. Muito pelo
contrário. Ele é provocativo e faz pensar.
Neste “A culpa é de Fidel” Xeu compila várias entrevistas
extremamente interessantes, alguns artigos instigantes assinados por ele e por
outros jornalistas e publicados no Pátria Latina. O livro respira política mas
traz passagens românticas envolvendo o próprio autor como o caso da cubana que
o trocou por um guapo espanhol ou a paixão que lhe rendeu uma filha caribenha.
Traz também trechos hilariantes como o da ocasião em que ele decidiu presentear
alguns amigos cubanos com a legítima farinha copioba que o sertão da Bahia
generosamente produz e quase acaba preso no aeroporto José Marti.
Este é um livro incomum resultado das mais de cinquenta
viagens do seu autor cruzando o Atlântico em direção a Cuba, ao Irã, à Rússia,
à Coreia do Norte ou mesmo à África da sua ancestralidade e vale a pena ser
lido de cabeça leve e coração tranquilo.
O livro de Valter Xeu é assim bem como ele:
pleno, cheio de altos e baixos porém generosamente humano, generosamente
político, generosamente gentil.
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