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sábado, 27 de março de 2010

Cinema: APBA ataca único canal que divulga audiovisual nacional

Por Carlo Lopes, do Jornal Hora do Povo

Os produtores independentes de audiovisual têm muitos problemas a enfrentar. O primeiro deles, evidentemente, é o virtual monopólio estrangeiro na área, com canais de televisão que só veiculam audiovisuais de fora do país. No entanto, a Associação das Produtoras Brasileiras de Audiovisual (APBA) resolveu atacar o único canal nacional onde o audiovisual independente é divulgado, o Canal Brasil.
Segundo o presidente da entidade, Jorge Moreno, em carta ao ministro da Cultura, Juca Ferreira, ao presidente da Ancine, Manoel Rangel, e a alguns outros patriotas de mesma cepa, o Canal Brasil “durante os três últimos meses de 2009 cometeu duas diferentes infrações ao mesmo tempo, a exibição de produção própria e também de produção estrangeira”.
Em sua resposta, enviada ao Tele.Sintese, o Canal Brasil lembrou que há 11 anos vem “’empunhando a bandeira da produção brasileira independente, através de 24 horas diárias de programação’, exibiu mais de 2.800 filmes de curta, media e longa metragens e cerca de 7.500 horas de programação produzida por mais de 150 produtores brasileiros independentes, além de ter recuperado mais de 600 títulos, hoje, revitalizados e exibidos por outras televisões públicas e privadas do país”.
O que é inteiramente verdade. E, conclui a equipe do Canal Brasil:

“… gostaríamos de ressaltar que o Canal Brasil adquire e produz o seu conteúdo integralmente no país, sem gozar de nenhum dos incentivos fiscais que hoje privilegiam os diversos canais estrangeiros que ocupam a nossa televisão com uma programação produzida no exterior, com custos amortizados pela distribuição internacional intensiva”.

A “produção própria” que a APBA considera uma “infração” é constituída pelos filmes do produtor Luiz Carlos Barreto, um dos criadores do Canal Brasil (os outros são Roberto Farias, Paulo Mendonça e Anibal Massaíni Neto).
Barreto, que fotografou e co-produziu “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, e foi co-autor do roteiro de “Assalto ao Trem Pagador”, produziu, entre outros, “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, “A Grande Cidade”, “Bye, Bye, Brasil”, “Garrincha, Alegria do Povo”, “Memórias do Cárcere”, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, “O Quatrilho”. Mas, segundo se depreende das palavras do presidente da APBA, estes filmes e outros dos 50 filmes de Barreto, deveriam ser proscritos do Canal, isto é, da TV por assinatura.

Quanto à exibição de “produção estrangeira”, isso se refere a alguns excelentes filmes argentinos e a “Estado de Sítio”, talvez o melhor filme de Costa Gavras, pelo Canal Brasil. Parece até que são os filmes argentinos que estão monopolizando o espaço na televisão... Sobre o filme de Costa Gavras, o Canal Brasil esclarece que foi uma promoção do próprio Ministério da Cultura, “na Mostra ‘Um Certo Olhar Francês no Brasil’, composta por 12 clássicos do cinema francês, em homenagem ao Ano da França no Brasil. A iniciativa foi custeada pelo canal, sem nenhum tipo de patrocínio”.

Moreno diz que, pela lei, “as operadoras de TV a cabo oferecerão, obrigatoriamente, pelo menos um canal exclusivo de programação (….) de produção independente”.

A lei, a que se refere o presidente da APBA, é a lei do cabo elaborada pelo governo Fernando Henrique (lei nº 8.977/95). No entanto, Moreno, quando era presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, e a APBA apoiaram a substituição dessa lei, comemorando a aprovação na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara do Projeto de Lei nº 29/97 (PL 29), originalmente de autoria do deputado Paulo Bornhausen, que estabelece a propriedade irrestrita do capital estrangeiro sobre a TV por assinatura – basicamente legalizando a pilhagem da NET pela Embratel/Telmex e da TVA pela Telefónica. Segundo disse um representante da APBA na época da votação, o PL 29 “é o que é mais possível para viabilizar essa mudança de paradigma na televisão por assinatura, especialmente para a produção independente, que vai ter um espaço que até hoje não tinha garantido”.

Portanto, o capital estrangeiro é que vai garantir espaço para a produção nacional independente... Mas não sabíamos que essa “mudança de paradigma” implicava em atacar o único canal brasileiro onde há espaço para a produção nacional independente. Será que o novo “paradigma” proíbe a existência de canais brasileiros que veiculam a produção nacional, para que só os estrangeiros possam acolhê-la? E logo agora, que o PL 29 está sendo reduzido, com o fim de alguns adereços, ao que sempre foi - mera legalização de um assalto à propriedade da TV por assinatura?

sábado, 2 de janeiro de 2010

SUPER 8 – TAMANHO TAMBÉM É DOCUMENTO estreia dia 4/1 no Canal Brasil

Série dirigida por Clovis Molinari Jr. resgata imagens raras dos anos 70 e 80 gravadas no formato Super-8

Resgatar um estilo cinematográfico praticamente esquecido do grande público é a proposta do diretor Clovis Molinari Jr. em “Super-8 – Tamanho Também é Documento”, que estreia no dia 4 de janeiro, à meia-noite, no Canal Brasil. Em 13 episódios, a série mostra imagens raras e inéditas de filmes gravados em Super-8, formato cinematográfico que surgiu em meados dos anos 60 e inspirou cineastas como Quentin Tarantino, Roman Polanski, Pedro Almodóvar, Ivan Cardoso e Glauber Rocha.

O programa traz uma seleção de produções do final dos anos 1970 e a metade dos 80, período de grande agitação cultural, ditadura militar e guerra fria. Os filmes gravados no formato Super-8 se popularizaram entre as famílias brasileiras por possibilitarem gravações amadoras de baixo custo e boa qualidade, mas logo começaram a fazer sucesso entre cineastas, estudantes e artistas plásticos interessados em fazer um cinema underground, fora do circuito comercial das salas de exibição. O Super-8 funcionou como uma válvula alternativa para quem teve que enfrentar a repressão e a censura que marcaram esse período.

De 1.800 minutos de super-8 convertidos para vídeo, foram produzidos 13 episódios, cada um com duração de 25 minutos. Reunidos em episódios temáticos, o programa debate questões como a história do formato, os cinemas doméstico, político e experimental, além de mostrar obras de diretores brasileiros praticamente desconhecidos do grande público. De filmagens domésticas às imagens captadas nas ruas (imagens de protestos, conflitos com a polícia e eventos importantes do processo de redemocratização); do documentário à ficção, da banalidade do dia-a-dia aos momentos que entraram para a História, cada episódio traz filmagens nunca exibidas na televisão brasileira.

Há preciosidades como um desenho animado feito diretamente na película, como fazia o pioneiro MacLaren, escocês radicado no Canadá. Outro episódio é dedicado a Jessie Jane, guerreira que foi mantida por uma década encarcerada no presídio Talavera Bruce nos anos de chumbo. Com a filha e o marido, Jessie é mostrada em um raro filme super-8 em sua cela feito clandestinamente. É um tipo de filme doméstico muito diferente do lar-doce-lar do cinema caseiro das famílias de classe média. O filme é um exemplo do quanto o super-8 foi importante nos anos 70 para revelar as condições de vida e de resistência ao totalitarismo, algo jamais mostrado pelo cinema profissional que vivia sob forte censura. Outro flme é o velório do cineasta Glauber Rocha, repetindo a experiência desenvolvida pelo cineasta baiano em "Di-Glauber", sobre o caixão do pintor Di Cavalcanti. O filme "A Degola Fatal" é parte do episódio sobre Glauber Rocha, que tem ainda uma apresentação da filha Ava Rocha em show no Tempo Glauber, uma demonstração de que o espírito Glauberiano permanece vivo. A derrubada do histórico prédio na UNE na Praia do Flamengo é outro registro único exibido no programa. Há ainda a apresentação de filmes de cineastas nacionais que produziram obras singulares em super-8, como Jorge Mourão, José Araripe Jr., Rudi Santos, Edilson Plá e Maurício Lissovsky.

Clovis Molinari Jr. conta que a ideia para a atração surgiu quando ficou responsável pela guarda de um grande arquivo de filmes do formato super-8 no Arquivo Nacional. “Espero que o programa ajude a entender um tipo de cinema e a sua época; revelar filmes que até hoje estão desconhecidos do grande público, e que apareçam cineastas e anônimos que nunca tiveram a chance de mostrar suas gravações”.