terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Livro: Atentado ao presidente Prudente de Morais é o foco do jornalista Jorge Oliveira

Para contar essa história, Jorge Oliveira vasculhou os alfarrábios da República, investigou e resgatou documentos durante cinco anos e concluiu que o complô para matar o Prudente de Morais começou em Alagoas, quando Marcellino foi recrutado pelo Exército e transferido para o Rio de Janeiro com a missão de eliminar o presidente. 


Em tempos eleitorais no Brasil e diante da iniciativa de se reabrir a investigação sobre o atentado ao presidente Jair Bolsonaro, um outro atentado presidencial ganha as páginas da literatura. No seu oitavo livro, o jornalista e cineasta Jorge Oliveira brinda os seus leitores agora com uma história esquecida nas gavetas empoeiradas dos museus brasileiros.

Com o seu novo livro Conspiração, o autor resgata uma história que que esteve sepultada há quase dois séculos: o atentado contra Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República, perpetrado pelo soldado Marcellino Bispo de Mello, e planejado pelos militares jacobinos do Exército, aliados do marechal Floriano Peixoto, alagoano, segundo presidente da República. 

Ao investir contra Prudente de Morais, que se defendia dos golpes com a cartola, a arma do recruta falhou e, com um punhal, ele matou o ministro da Guerra da Guerra, Carlos Machado de Bittencourt, e feriu Luiz Mendes de Moraes, chefe da Casa Militar, e Cunha Moraes, ajudante de ordens do presidente, numa das cenas sangrentas jamais vistas no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

Para contar essa história, Jorge Oliveira vasculhou os alfarrábios da República, investigou e resgatou documentos durante cinco anos e concluiu que o complô para matar o Prudente de Morais começou em Alagoas, quando Marcellino foi recrutado pelo Exército e transferido para o Rio de Janeiro com a missão de eliminar o presidente. 

Três meses depois, os próprios militares encarregaram-se da queima de arquivo: Marcellino apareceu enforcado dentro do Arsenal de Guerra com um lençol, morte semelhante a do jornalista Vladimir Herzog durante a ditadura militar em 1975. Nas investigações que fez, o autor desmascara a versão de suicídio e prova, com documentos, que Marcellino foi eliminado dentro da cela quando estava imobilizado com algemas nas pernas.

Para tornar a história mais palatável, o autor se transporta para o final do século XIX, época do atentado, para trabalhar como repórter da Gazeta de Notícia. No jornal, ao lado de Machado de Assis e Olavo Bilac, Jorge Oliveira narra a história como a vivesse a no dia-a-dia do movimento tenso da redação de um dos jornais do mais antigos do país, que sobreviveu até o final século XX.

Conspiração é leitura indispensável para quem quer conhecer a maior conspiração do Brasil feita por militares e políticos para derrubar um presidente da república à bala na Praça XV, no Rio de Janeiro, e substitui-lo pelo vice, o baiano Manuel Victorino Pereira, florianista, simpático aos militares, também envolvido no complô. O atentado ocorreu durante uma solenidade festiva no Centro do Rio em homenagem aos soldados que regressavam da Bahia vitoriosos com a morte do beato Antônio Conselheiro.

Apresentação

Coube ao professor de História da UFAL e vice-reitor do Centro Universitário – Cesmac  apresentar Conspiração. 

Confira abaixo o que disse o historiador 

Já disse e redisse que gosto muito dos expoentes surrealistas como André Breton, Magritte e Salvador Dali que cunharam a frase “o belo e a surpresa” ou “a surpresa é o belo”. Jorge Oliveira, em mais uma obra, nos faz pensar na expressão dos vanguardistas da arte moderna.

Pensar que ele estava satisfeito, após tantas obras de sucesso, tantas vitórias, prêmios, com temas interessantes que conquistaram o público. Ledo engano! vem esse cabra da peste ousado a nos brindar com outra produção. A nos contar uma história apaixonante, onde hipótese e realidade se cruzam num trabalho que leva o leitor a se interessar pela narrativa do princípio ao fim.

Para mim a História é uma realidade viva, com personagens humanos complexos, que falam, sentem e agem como se estivessem juntos a nós. E novamente aparece Jorge Oliveira  a desmentir os teóricos da História engessada, como uma lápide de cemitério gravada anos depois. Estática. Parada. A História é também um teatro de dúvidas, mistérios a espera de esclarecimentos, cheia de interrogações que perduram as vezes por anos e séculos.

Como podem os historiadores medianos, no rol dos quais me incluo, competir com um jornalista que faz história com inovação e extraordinária competência em suas produções? Desta feita ele vai buscar nos turbulentos momentos da república nascente brasileira, um episódio que nada fica a dever de situações contemporâneas da chamada teoria da conspiração. Um episódio tenebroso, uma tentativa de assassinar o Presidente da República onde morreu ao tentar salvá-lo, o seu Ministro da Guerra, nas comemorações da horripilante Campanha de Canudos, realizada na Praça XV, no Rio de Janeiro.

Prudente de Morais foi o primeiro presidente civil, após os seus antecessores, Deodoro e Floriano, ambos militares, marechais e nascidos aqui no País das Alagoas. Uma era tempestuosa, de sucessivas crises políticas, institucionais, guerra civil, onde o novo regime ainda não tinha se firmado. Grupos políticos disputavam o poder junto com os militares. Um soldado alagoano de nome Marcellino Bispo de Mello, participava do desfile, foi o autor do atentado frustrado. Imediatamente preso e posto a ferros numa prisão militar da capital da República. O Arsenal de Guerra. E, da mesma forma que no século XX tivemos ocorrências semelhantes, casos Delmiro, Gregório, e mais recentemente Herzog e Manuel Fiel  que guardam semelhanças, mas tem um viés diferente. Essas mortes dentro das prisões apagam vestígios dos mandantes e das verdadeiras razões das conspiratas. E cômodo os verdadeiros responsáveis dormirão tranquilos o sono da impunidade.

Mestre José Honório Rodrigues dizia que a trajetória da História exige sempre revisão dos acontecimentos quando deixam margens a dúvidas. A obra de Jorge Oliveira preenche uma lacuna e ganha o vigor da veemência conhecida do autor. Gostei também de seus comparativos com outros acontecimentos semelhantes. Ele certamente fará do livro mais um roteiro para suas apreciadas produções cinematográficas. Jorge Oliveira presta também um serviço a História com seu faro de investigação e atende aos desafios árduos e sempre fragmentário trabalho dos historiadores.

O autor

Jorge Oliveira, é jornalista e cineasta, trabalhou em grandes redações de jornais no país depois que deixou Alagoas, em 1969. Vencedor de dois prêmios Esso de Jornalismo, além de outros prêmios. Hoje, dedica-se também  à produção de documentários e ao marketing político. Seu filme Perdão, Mister Fielganhou 14 prêmios em festivais no Brasil e no exterior. Em 2013, foi homenageado no Brazilian Endowment for the arts em Nova York com a exibição dos seus documentários.

Onde encontrar o livro:

Conspiração está sendo vendido na Amazon.com.br, Submarino, Lojas Americanas, Nova Livraria, na Rua Iris Alagoense, 438, Farol, tel: (Zap) 99973.3879, em Maceió, e com Sebastião Medeiros, na Livraria digital Quilombada, tel: (Zap) 98155.9787. 

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