Por Aylê-Salassié F. Quintão* e Alexandre Q.F Quintão**
A nossa velha República não tem como dar
resposta a este desafio que, no Japão, pertence ao mundo dos
mangás, animes e otakus, porque não os leva a sério. Para os brasileiros, tecnologicamente
ainda no cueiro, são perturbadoras, entretanto, as virtudes e as competências
das tecnologias dessa quinta geração (5G) que está
vindo por aí, propondo a troca de softs, conexões digitais
inovadoras e a instalação de novas redes digitais.
O modelo é comandado pela mega fabricante
chinesa Huawei que, por aqui, já detém o controle da
Nextel e da Sercomtel, está presente em 65% da rede Vivo, 60% da OI, 55% da
Claro e 45% da TIM (Wiziack,2021). Os Estados Unidos questionam o papel da
empresa chinesa, e o Brasil, seguindo ainda a linha de Trump, transita
refratário pelo ambiente, mas já cogitando de uma concorrência internacional
para atualização e instalação de novas redes. Briga de “cachorro grande”: a
China é o maior parceiro comercial do Brasil.
Em uma partida de Shogi, um jogo de xadrez
japonês, entre um aluno e seu professor, o mestre pergunta: Shikamaru, se esse
jogo fosse como a nossa vida, nossa vila, e acontecesse no contexto que
vivemos, quem seria o Rei? Shikamaru é considerado um dos ninjas mais
inteligentes do país do Fogo. Com o menor esforço, busca
resolver problemas da maneira lógica, e ser o mais objetivo possível, responde:
Ora, é o Hokage (o “presidente”).
O professor contesta: Numa primeira vista, parece
mesmo o Hokage. Se por algum motivo, o Hokage é deposto do cargo ou se o rei
morre, outro “Hokage’’ entra no trono e o jogo recomeça. Então é preciso
proteger o rei pois, se for capturado o jogo acaba. Mas, quem é o rei, então?
Do lado de cá do Japão, na nossa República, o chefe
maior é o Presidente que, ao ter a pretensão de ser a resposta de Asuma, ele se
torna um plutocrata, um ditador, ou reinará como o Reizinho (The
Little King, de Otto Soglow), um dos mais hilariantes personagens dos quadrinhos do
século passado, que gostava de se comunicar com gestos pantomímicos. Reinou por quarenta
anos amparado pelos jornais e revistas conservadores. Imaginação fértil,
desafiava o protocolo e a realidade ao seu redor. Tinha família, conselho de
ministros, exército, corte e súditos. A única figura que ali destoava era ele
mesmo, o o rei, pouco afeito às convenções e às liturgias. Vivia criando
situações embaraçosas.
São fábulas que ajudam hoje a compreender a
realidade brasileira. O cidadão se aborrece e se diante de tantos reizinhos e
visionários contando diferentes versões. A História mostra que o socialismo não
deu certo por eleger como virtuosa a classe operária, ignorando os problemas
ainda maiores que ela gera. O capitalismo, se perdeu ao produzir uma enorme exclusão social. O diálogo
democrático entre os dois tende a não vingar porque são confrontos recheados de
vícios retóricos, estigmas, fetiches e maldades com sentidos pré determinados,
cujos ônus caem sempre sobre a sociedade, sem que alguém seja responsabilizado
criminalmente.
Restam os reformistas conciliadores, temerosos
das soluções violentas, propondo reformas políticas, ajustes nos sistemas de saúde, de educação, de
humanização da cadeia produtiva, da propriedade da terra, etc. Tudo tende,
entretanto, a ser apenas representado, como se fora
mesmo um mangá capitaneado pelo jogo dos três poderes. Eles parecem um
cemitério, onde toda a história se encerra e se enterra. Deve ser por isso que
a maioria veste-se de preto.
A história brasileira teve tempo e algumas
oportunidades para passar por rupturas definitivas. Nada vingou, porque o
sistema se ampara em uma estrutura social e mental canonizada por falsos
profetas e enganosas interpretações. Foram tão bem configuradas
ao longo da História que a tecnologia as disseca com rapidez e as deglute com
facilidade. Na Austrália, o Google já controla 95% das buscas. O mundo atual,
em processo distópico, está começando a ficar mesmo sob o controle das grandes
plataformas digitais, modelos e ferramentas conectados dentro de um
ambiente e que interagem entre si, buscando, criando valores e
encripitando-os. Nossos arquivos
pessoais, de empresas e governos vão sendo codificados, ininteligivelmente, por
essas plataformas inclinadas a retomar o caminho do mundo em
direção a paradigmas culturais novos.
A tecnologia, sucedendo a si
mesmo constantemente (1G,2G,3G, 4G, 5G), começa aos poucos a controlar o
espetáculo social. Uma empresa estrangeira controla no Serviço de processamento
(Serpro) do ministério da Fazenda o auxílio emergencial e as contas públicas. Agora chega aí, também de mansinho, uma
tentação tão indigna quanto as atitudes do reizinho, que é o controle da
inteligência nos centro de pesquisa e nas salas de aula digitais.
O impaciente Shikamaru, vê o mestre Assuma mal
no leito de morte, e não resiste: “Quem é afinal o rei? Fala, quem é?”. O mestre responde: “Ele não nasceu ainda”. As virtudes
desta geração estão se apagando à espera da próxima.
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*Jornalista e professor; ** Fisioterapeuta, pós-graduado em
gerenciamento estratégico de projetos.
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