Da agência de notícias da UFMG
No cenário configurado pelas
manifestações políticas que se espalharam pelo Brasil ao longo das últimas
semanas, as redes sociais e outras mídias colaborativas têm sido fundamentais
na tarefa de assegurar ao público outro tipo de acesso às informações sobre os
protestos. Isso porque a transmissão feita pelos veículos tradicionais,
detentores da maior audiência, é superficial e carregada de interesses.
Essa
é a opinião compartilhada pelos professores da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da UFMG Carlos D’Andrea e Joana Ziller, que participaram de
debate sobre o tema na semana passada, na Fafich.
“Na
cobertura tradicional, o processo produtivo é massivo, pois há a necessidade de
estar sempre no ar, ainda que não haja nada de interessante ou enriquecedor a
ser divulgado. Além disso, as rotinas são frágeis e as coberturas ruins. Na
maioria dos sites convencionais, inexiste a revisão do conteúdo; o editor só vê
o texto quando já foi para a rede”, argumenta D’Andrea.
Para
Joana Ziller, os meios tradicionais camuflam uma opinião moralista. “A TV
mostra um embate entre polícia e manifestantes, quando na verdade se trata de
um massacre imposto pelas autoridades. Recria-se uma paisagem na qual as
manifestações são criadouros de vândalos. Fala-se de demanda difusa ou mesmo de
luta sem causas, em vez de retratar a multiplicidade de reivindicações”,
exemplifica.
A
professora também observa que as ações pacíficas perdem foco para as violentas
na mídia convencional, embora as últimas sejam absolutamente minoritárias. “Não
convém à grande mídia divulgar quando tudo corre bem”, reflete.
Nas
palavras de D’Andrea, nessa "batalha comunicacional", a
superexposição da violência tem o intuito de deslegitimar os protestos. “Muitas
vozes políticas que influenciam os meios de comunicação aproveitam-se do
cenário de conflitos e fazem com que as impressões sobre o movimento caminhem
para uma direção oposta, conforme seus interesses”, argumenta.
Liberdade
de expressão absoluta
Além
dos dois professores, o debate contou com a participação de representantes
dessa mídia que constitui um movimento conhecido pela sigla Ninja – Narrativas
Independentes, Jornalismo e Ação.
A
PósTV é uma das principais experiências protagonizadas pela mídia Ninja. Trata-se
de um projeto de emissora livre, criado em São Paulo, que utiliza a tecnologia
do streaming (transmissão de vídeo pela internet) para fazer frente à mídia
tradicional.
“Ao
contrário das TVs comerciais, a PósTV baseia-se na liberdade de expressão
absoluta, já que não temos anunciantes nem padrinhos”, explica o jornalista
Rafael Vilela, presente ao debate.
A
emissora promove debates em estúdio e nas ruas. “Como estamos na internet e
sempre ao vivo, a interatividade contribui para o sucesso da iniciativa. Os
telespectadores mandam comentários e perguntas e, às vezes, participam do papo
via skype”, descreve.
Telespectadora
da emissora alternativa, Joana Ziller relata episódios que acompanhou durante a
cobertura das manifestações em Belo Horizonte no dia 26 de junho. “A PósTV
mostrou quando um membro da Guarda Municipal adentrou o galpão de uma empresa
invadida por manifestantes. Por recomendação de um elemento desse grupo, o
guarda foi poupado de qualquer violência. Em outro momento, os radicais
interromperam o ataque a um pequeno comércio, atendendo à súplica da
proprietária. Isso a mídia tradicional não mostra, porque interessa a ela
apenas estabelecer a ‘dicotomia emburrecedora’ entre vândalos e não vândalos”,
analisa.
Sucesso
instantâneo
Mais
de 90 mil usuários do Facebook recebem atualizações da comunidade virtual BHnas Ruas . Trata-se
de cobertura interativa das manifestações que ocorrem na capital mineira
organizada por estudantes de Comunicação Social e outros colaboradores. Para o
aluno de jornalismo da UFMG Gustavo Magalhães, o "Caçamba", um dos
criadores da página, a rápida popularização do veículo foi surpreendente.
“Criamos
um meio somente para reunir as informações que circulavam entre os estudantes.
Mas a ideia se propagou de maneira tão vultosa que ficou até difícil
administrar”, comenta ele. O perfil foi criado em 16 de junho e no dia seguinte
seus idealizadores já estavam nas ruas cobrindo a segunda manifestação de rua
da atual leva de protestos em Belo Horizonte.
Segundo
"Caçamba", o grupo de internautas que dinamiza o BH nas Ruas conta
com muito mais colaboradores do que os veículos tradicionais entre os que
acompanham a situação pela rede e os que vão atrás das notícias in loco,
no seio das manifestações. “Durante os protestos, chegou a 400 o número de
colaboradores que nos enviaram informações, dicas e fotos de todas as partes da
cidade”, descreve.
Embora
a linguagem e identidade visual da página guardem semelhanças com veículos
consolidados – a ponto de a BH nas Ruas já ter sido cogitada como um
"braço" da Rede Globo –, "Caçamba" conta que a experiência
ainda é incipiente e sem estrutura. “Certa vez, fiquei fora do ar porque a
bateria do equipamento esgotou. O público ficou preocupado, temeroso de que
algo havia me acontecido”, relata.
“Caçamba”
admite que a ficha ainda não caiu. “Somos um simulacro dos meios tradicionais,
sem experiência e know-how suficientes. Confesso que estou tentando entender
esse fenômeno”, afirma o estudante.
Conheço a dona deste pequeno estabelecimento, através de uma prima.
ResponderExcluirA loja dela fica ao lado de uma concessionária de automóveis e ela implorou chorando aos bandidos e nenhum policial, ou bombeiro - a concessionári estava em chamas- quis atend~e-la em socorro, pois todo o quarteirão podia ir pros ares.
Se interessar meu e-mail é alljorn@gmail.com.
bom dia!