sexta-feira, 8 de março de 2013

Jornalismo, cada vez mais, uma profissão das mulheres


A presença feminina na cobertura do Congresso Nacional
já é historicamente majoritária. Foto: Agência Senado

Em 1986, elas representavam 35,24%  dos profissionais contratados por este segmento.
Em 2007, elas já representavam 53,49%.

Por Chico Sant’Anna

Os ícones do jornalismo brasileiro ainda são, em sua grande maioria, homens. De Hipólito da Costa, passando por Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Assis Cheateaubriand, Samuel Wainer e, mais recentemente, Joelmir Betting, Heitor Cony e Joel da Silveira, dentre tantos outros, quase todos os referenciais ainda são masculinos.
Há muito, contudo, a profissão de Jornalista foi, como dizem os técnicos, feminizada. Em bom português, significa dizer que há mais mulheres do que homens trabalhando na coleta, tratamento e disseminação de informações para os jornalistas. Seja nas redações tradicionais,seja nas estruturas de comunicação institucional, o que eu denomino jornalistas das fontes.
“Sem falsa modéstia, eles perceberam em pouco tempo nossa perspicácia, determinação e disciplina” escreveu, em 2000, a então chefe de redação da revista Isto É, em Brasília, Sonia Filgueiras, em um depoimento publicado no livro Elas fazem a Notícia, editado pelo Sindicato dos Jornalistas do DF, com apoio da Unesco e da Federação Internacional dos Jornalistas – FIJ,  da publicação coordenada pelos jornalistas Edgard Tavares, Romário Schettino, Miguel Ribeiro e pelo autor deste artigo.
A presença feminina nas redações e assessorias de imprensa vem num crescendo histórico importante. Ao longo dos dezenove anos (1986-2004) por mim pesquisados para minha tese de doutorado, a participação média dos jornalistas do sexo masculino foi de 58% dos empregos. Mas o mercado de trabalho experimentou um claro processo de feminização.
Se em 1986, pelos dados do Ministério do Trabalho, elas representavam 35,24% da categoria – ou seja, para, aproximadamente seis homens jornalistas existiam pouco mais de três mulheres -, em 2004, elas conseguiram superar as estatísticas masculinas: 52.49% de mulheres comandavam a notícia no Brasil.
Em 2007, último dado que disponho, o gênero, demonstrando a crescente presença nas redações, já representava 53,49%. Desta forma, o plantel praticamente dobrou desde o início da década de 1980.
Ao contrário do que muita gente pensa, as mídias eletrônicas, TV e Rádio, são percentualmente as que menos empregam mulheres. Apesar da visibilidade televisiva e da linha estética das redes de televisão brasileira, que priorizam ê beleza e a juventude, o segmento ainda é um reduto masculino. No rádio e na TV as mulheres jornalistas apresentam, a partir de 2000, queda no espaço ocupado. Entretanto, ai também já se percebe uma mudança permanente. Em 2004, as mulheres representavam 39.23% e, em 2007, 42,25%. Não tenho os dados de 2012, mas não seria surpresa se o quadro já tenha se invertido.
É na imprensa escrita, que existe um maior equilíbrio de gêneros nas redações. E neste setor estaria ocorrendo um processo inverso, ou seja, a masculinização das redações. Pelos dados oficiais, em 2004, as jornalistas ocupavam quase a metade do plantel: 46,89%. Três anos depois, a presença delas havia se reduzido para 45,44%.
A maior presença feminina acontece no ramo das assessorias de imprensa e da comunicação institucional, o qual é responsável pela contratação de seis entre cada dez jornalistas no Brasil. Em 1986, elas representavam 38,96% dos profissionais contratados por este segmento. Em 2004, já eram absoluta maioria: 58,42% mas ai a estabilização é mais visível, em 2007, elas representavam 58,82%.
Uma maior presença feminina no segmento de jornalistas das fontes pode ser atribuída ao perfil dos empregos. Tradicionalmente, é neste segmento, que há uma rotina de trabalho mais adequada às normas trabalhistas, tais como jornada de trabalho regular, inexistência de plantões em fins de semana e feriados, horários de trabalho em períodos diurnos e sem extensão da jornada, os chamados pescoções, conforme o jargão profissional. Para a mulher, que normalmente tem uma dupla jornada de trabalho – casa e emprego – são condições mais favoráveis do que a turbulência das redações.
Independente dos motivos que levam uma maior presença das mulheres no segmento de comunicação institucional, os dados nos levam a concluir que a meta tendência de feminização do jornalismo brasileiro é fortemente impulsionada pelas estruturas de comunicação existentes fora das redações tradicionais.,
Todos esses dados alcançam no máximo o ano de 2007. Passados oito anos, certamente os percentuais já são outros, mas dificilmente foi revertido o processo de feminização da profissão. Estudos acadêmicos e científicos buscam identificar se o majoritário olhar feminino sobre os fatos alterou o perfil informativo. Para Sônia Filgueiras, as mulheres abriram espaço em decorrência do perfil de curiosidade e do perfeccionismo ao produzir o jornalismo. A colunista da Folha de São Paulo, na mesma publicação do Sindicato dos Jornalistas, ressaltou que a opinião pública considera a mulher mais confiável e honesta, firme e responsável.
Os motivos podem ser muitos, inclusive até o salarial, pois pesquisas demonstram que o salário feminino no meio jornalístico é menor do que o masculino, o que revela que se as mulheres conseguiram espaço no setor, não conseguiram, de todo, eliminar as discriminações entre gêneros. Mas o certo é que hoje, como salientou Sônia Filgueiras, “estamos próximos de um equilíbrio saudável, civilizado, entre homens e mulheres”, na busca da notícia.

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