segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Opinião: Propaganda nos governos tucanos

Por José Dirceu, publicado originalmente no Blog do Noblat em 21.09.2012

Está se tornando uma marca comum aos governos tucanos os altíssimos gastos realizados com publicidade, ao que parece, investimentos tidos como prioridade para os Estados e prefeituras que administram, em detrimento de recursos destinados a áreas problemáticas como Saúde, Educação e Segurança, mobilidade urbana.

Segundo divulgação recente do jornal Folha de S. Paulo, entre 2007 e 2011, o governo do Estado de São Paulo gastou R$ 608,9 milhões com publicidade. Para efeito de comparação, esse montante corresponde a 30% do que gastou o Governo Federal no mesmo período e seis vezes o investimento da Secretaria da Cultura em 2011!

E não é apenas o exagero do valor das verbas destinadas à publicidade o que chama a atenção. O jornal revelou também que a principal agência que atende o governo do Estado desde 2007, a Lua Propaganda, tem como sócio o publicitário Rodrigo Gonzalez, filho de Luiz Gonzalez, marqueteiro responsável pelas campanhas eleitorais de Geraldo Alckmin e José Serra, inclusive pela atual campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo.

A Lua Propaganda responde ainda pela publicidade da Dersa (empresa rodoviária controlada pelo governo do Estado) e do Nota Fiscal Paulista, programa vitrine dos tucanos em São Paulo.

Em 2009, sob o governo estadual de Serra, os gastos com publicidade somaram R$ 173 milhões em anúncios, quase o triplo do empregado em 2007, início de sua gestão.

Porém, o auge do esbanjamento foi em 2010, ano em que Serra realizou sua campanha derrotada à Presidência da República: R$ 17,6 milhões por mês. Em 2011, primeiro ano do atual mandato de Alckmin, o gasto anual caiu 55% em relação a 2010, mas ainda 17% maior do que em 2007.

Mas o descalabro das verbas gastas com publicidade pelos governos do PSDB não se restringe a São Paulo. Em junho deste ano, o governo de Minas Gerais, de Antonio Anastasia, gastou R$ 4,5 milhões de recursos da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig) com a campanha  Minério com mais Justiça, destinada a defender a revisão dos royalties de minério.

A campanha durou dois meses, com peças publicitárias veiculadas em diversos meios de comunicação, inclusive inserções em redes de TV aberta e a cabo.

Causa estranhamento a alocação de tal quantia em uma única ação publicitária, quando, todos sabem, o governador mineiro vive reclamando da falta de recursos e da suposta falta de investimentos federais no Estado.

Já a atual gestão tucana do governador do Paraná, Beto Richa, reservou R$ 143,5 milhões para gastos em comunicação e publicidade somente para este ano. O valor destinado à área de Comunicação Social, R$ 52,1 milhões, multiplicou quase cinco vezes em relação ao que foi gasto pela pasta em 2011, R$ 11,6 milhões.

No Diário Oficial do Estado, Richa justificou os gastos afirmando que o governo pretendia  "resgatar a confiança da população no governo do Paraná e aumentar a autoestima dos paranaenses em relação ao seu Estado".

Será que para atingir esse objetivo não seria muito mais produtivo investir em Educação, Cultura, Saúde e resolver objetivamente os problemas que afetam não só a confiança, mas também a dignidade da população?

Da publicidade governista em São Paulo, não surpreende, mas também não deixa de ser relevante o fato de que apenas uma emissora a Globo tenha recebido R$ 210 milhões, ou 49,5% de total aplicado em TV entre 2007 e 2011, e o correspondente a 34,5% da verba total, mesmo com sua audiência em declínio: caiu de 41% em 2007 para 38% em 2011.

A distribuição da veiculação feita em mídia impressa também não causa surpresas: Estadão, Folha e Veja foram os maiores agraciados com a publicidade tucana no período.

Vale lembrar que, em julho deste ano, o PSDB apresentou uma representação à Procuradoria Geral Eleitoral (PGE) pedindo a investigação de patrocínios de empresas públicas a sítios e blogues cujos conteúdos considera ofensivos à oposição.

Em um evidente atentado à liberdade de expressão, o partido tentou intimidar empresas estatais e governos que anunciam em veículos sem ligações com os mesmos oligopólios midiáticos que tanto têm se beneficiado dos recursos publicitários de suas administrações.

Não é preciso muito esforço para entender o que os governos tucanos, especialmente em São Paulo, pretendem maquiar com tanta propaganda: a má administração em seus governos, incapazes de apresentar políticas e projetos para atender as reais necessidades da população.

Assim, nessa lógica perversa, levam ao pé da letra a máxima de que  "a propaganda é a alma do negócio", investindo alto para mostrar aquilo que deveriam ter feito e não fizeram.

As opiniões aqui expresssas são de responsabilidade de seu autor

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