O Huka-Huka – que se assemelha à luta greco-romana - testa a virilidade dos jovens guerreiros. Foto foi censurada pelo facebook. Foto de Orlando Brito |
Por Chico Sant'Anna
Para o facebook, imagens de tradições
indígenas brasileiras se equiparam à pornografia. A nota Flechas Cibernéticas,
veiculada na edição passada do Brasília Capital, foi ilustrada na versão
digital da coluna Brasília, por Chico Sant’Anna com uma foto do conceituado fotógrafo
Orlando Brito, retratando o Huka-Huka, durante os festejos do Quarup, na região
do Xingu.
Milenarmente, é por meio do Huka-Huka – que
se assemelha à luta greco-romana - que a virilidade dos jovens guerreiros é
testada. Eles trajam apenas, uma tanga – não muito diferente das usadas pelos
lutadores do sumô japonês. Compartilhada na rede social, os algoritmos
utilizados pelo facebook bloquearam a veiculação da nota por considerar que ela
”viola os padrões de nudez e atividade sexual”.
Facebook avaliou que a foto atentava aos padrões comunitários de nudez e atividade sexual |
Um pedido de reexame foi formulado e o
facebook destacou um membro de sua equipe para a tarefa, mesmo com a análise
personalizada, foi mantida a censura das imagens dos indígenas: pois, na visão
do perito, “não segue os padrões de nudez e atividade sexual e ninguém mais pode
ver esta publicação.” Sentenciou o censor.
É curiosa a eficiência do facebook que é
capaz de censurar em frações de segundos a imagem de um índio com tanga, mas
não consegue identificar os emissores de fake news, que no Brasil, Estados
Unidos e outros países se multiplicam em períodos eleitorais.
Esse episódio, mais do que demonstrar
ignorância por parte das máquinas e dos homens do facebook, demonstra o perigo
em que a sociedade se depara quanto à garantia do livre fluxo de informações e
imagens.
Hoje é a silhueta de um índio que é
censurada por uma empresa, cujos propósitos políticos e econômicos quase
ninguém sabe. E amanhã? O que os algoritmos ou quem estiver por de trás deles
irão bloquear? A liberdade de expressão está consignada na maioria das constituições
das nações e também na Carta dos Direitos Humanos da ONU que acaba de completar
70 anos. Quando é que impérios econômicos, como esse do senhor Mark Zuckberg,
serão mais transparentes e mais respeitosos com os direitos de cada um de seus
usuários?
Não são os índios e suas tradições que promovem a prostituição no Brasil, inclusive de menores de ambos os sexos, a droga e o crime organizado.
ResponderExcluirE se a nudez fosse considerado uma impropriedade como em séculos passados, em que mostrar uma meia perna de mulher já era escândalo, deveria a censura tirar das bancas e dos mercados todas as revistas pornográficas que se vendem nas bancas, mesmo com envoltórios plástios.
Mais um pouco e também foógrafos de animais podem ser punidos, porque os animais sequer usam tangas.
Haja hipocrisia xenófoba.
Tania J.Faillace