quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O papel da imprensa alternativa na realidade nacional. Entrevista a Raimundo Pereira

Por  FC Leite Filho, publicado originalmente no Café na Política

O Café na Política foi ouvir Raimundo Pereira, um dos ícones da imprensa alternativa, então chamada imprensa nanica. Este movimento, surgido em plena ditadura, produziu fenômenos editoriais como o Pasquim (que chegou a 220 mil exemplares), a Opinião. o Movimento, Binômio, Versus, Coorjornal, que faziam franca concorrência aos jornalões.
Eram tempos difíceis, porque, na época, não existia sequer o fax, para não falar da força descomunal da internet.
Os jornais tinham de ser distribuídos – vendidos e mantidos financeiramente, na imensidão de nosso território. Funcionava na base da articulação de uma militância – mais jornalística que política -, que chegava a reunir, como no caso do jornal Movimento, 285 pessoas, entre jornalistas, administradores e representantes, espalhados pelos diversos Estados da Federação.

Veja também a vídeo entrevista com Kiko Nogueira do Diário do Centro do Mundo

Nesta entrevista a FC Leite Filho, Raimundo Pereira, hoje aos 76 anos e revelando muito vigor e entusiasmo, conta a história desse movimento e de seu novo projeto de reunir uma nova equipe de 40 jornalistas, intelectuais e militantes para fazer uma nova experiência do tipo, agora tendo a internet como instrumento principal. Raimundo acredita na força atual dos blogs, sites e redes sociais que estão enfrentando o golpe, inclusive com manifestações de rua, as quais já começam a assustar o novo regime neoliberal. Ele pondera, contudo, que é preciso dar um rumo a esse movimento mais ou menos disperso.

Confira no vídeo a entrevista de Raimundo Pereira  Café na Política

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Memória: Governo põe à venda prédio onde funcionou Rádio Nacional no Rio

Do Estadão Conteúdo
Aos 80 anos, completados nesta segunda-feira, 12, a Rádio Nacional, principal veículo de comunicação brasileiro nas décadas de 40 e 50 do século passado, recebeu uma má notícia: o prédio onde funcionou até quatro anos atrás, A Noite, na Praça Mauá, será vendido e seu auditório histórico, por onde passaram todos os grandes nomes da chamada era de ouro do rádio, não deverá ser preservado.
Inicialmente, o edifício foi sede do jornal “A Noite”, que em tempos bem anteriores a internet fazia a função de noticiar o que acontecia no final dos dias. Devido à força do nome do veículo de comunicação, o nome original da construção caiu em desuso.
A estrutura de 22 andares e uma altura de 102 metros – o que corresponde a 30 andares de um edifício atual – foi calculada por Emílio Henrique Baumgart, engenheiro que posteriormente se tornou responsável pelo Ministério da Educação e Cultura. Até os anos 1930, foi considerado o prédio mais alto da América Latina, até ser ultrapassado pelo Martinelli, que fica em São Paulo e foi inaugurado em 1934.
Pertencente ao governo federal, o edifício A Noite, primeiro arranha-céu da América Latina, foi inaugurado em 1929 e está vazio. Com o processo de revitalização da zona portuária e a derrubada do Elevado Perimetral, a construção, passou a destoar da paisagem, que inclui a vista livre para a Baía de Guanabara, o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu do Amanhã e o Boulevard Olímpico.
A Rádio Nacional, hoje abrigada no prédio da TV Brasil, na Lapa, ocupava quatro dos andares do edifício e o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi), os outros 18. A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) está preparando o edital de alienação, a ser lançado em novembro. A ideia é fazer permuta com outro prédio, que abrigará os funcionários do Inpi, atualmente instalado em imóvel alugado. O A Noite viraria então um hotel, um prédio comercial ou residencial. “A preservação do patrimônio histórico é uma das prioridades, mas os encargos do comprador ainda não foram definidos”, informou, em nota ao Estado, a SPU.
Não há indicativo de que o edital trará como cláusula a manutenção dos três antigos estúdios e do auditório, reformados entre 2003 e 2004, ao custo de R$ 2,5 milhões, e reabertos com a presença de artistas da Era do Rádio. Por ali já passaram os cantores Francisco Alves (1898-1952), Sílvio Caldas (1908-1998), Cauby Peixoto (1931-2016), Marlene (1922-2014) e Emilinha Borba (1923-2005). “O emblemático edifício A Noite, hoje sem utilização, será alienado a um empreendedor privado”, informou a SPU
A companhia americana Tishman Speyer, dona de prédios icônicos de Nova York como o Rockefeller Center e o Chrysler, é um dos possíveis interessados. O edifício foi avaliado em 2015 em R$ 137 milhões.
Crime. Com fachada e foyer em estilo art déco, o prédio foi projetado pelo francês Joseph Gire, o mesmo arquiteto do Hotel Copacabana Palace, e foi um dos principais mirantes da cidade. Está em mal estado de conservação há anos – o Inpi não dispõe de verba para reformá-lo na totalidade -, o que ficou mais evidente com a reabertura da praça, há um ano, e com a movimentação maior na região, tomada por milhões de pessoas no período da Olimpíada, em agosto, e agora na Paraolimpíada.
O aspecto atual da edificação de 87 anos não é bom. Ainda bastante alto em comparação com outros edifícios da zona portuária, o arranha-céu está cercado por tapumes de madeira amparados em estacas de ferro cobertas de ferrugem. O contraste com a nova Praça Mauá é nítido.
“A prefeitura conversa com o governo federal desde 2010 sobre a necessidade de resolver o problema do prédio. O auditório está sem uso, e tenho medo de que a exigência de manter o espaço da rádio trave o empreendimento. Isso tem de ser tratado com bom senso. É preciso ver o que é melhor para a cidade”, disse Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp).
Já os defensores da memória da rádio temem a destruição de sua memória. “É mais um absurdo que comprova a falta de interesse do poder público pela cultura. É um crime de lesa-memória que um dia a história vai condenar”, disse o compositor Edino Krieger, que fez arranjos para orquestras da rádio nos anos 1960 e segue seu ouvinte. “Podiam pelo menos colocar uma placa. É muita história ali para ser jogada fora”, afirmou o sambista Tantinho da Mangueira, que se apresentou ali nos anos 50, ainda garoto.
“Além do auditório e do estúdio de radioteatro, ainda estão lá o piano do Radamés Gnattali (1906-1988) e a cabine telefônica que recebia ligações diretas do presidente Getúlio Vargas. Se a preservação desses andares não estiver contemplada no edital, vão destruir tudo”, teme o engenheiro Luiz Murilo Tobias, vice-presidente do Instituto Funjor, que trabalha pela preservação da memória artística brasileira e faz campanha no Facebook pela causa da Rádio Nacional.
Repórter Esso. A rádio foi estatizada por Getúlio em 1937. Em 1940, estreou a primeira radionovela do País, Em Busca da Felicidade. Dali para a frente, pertencer ao elenco da rádio se transformou no sonho de todo artista. Radialistas e atores como Paulo Gracindo (1911-1995), Mário Lago (1911-2005) e César de Alencar (1917-1990) tornaram-se nacionalmente conhecidos a partir do sucesso da Nacional. Em 1941, a Nacional poria no ar o Repórter Esso, que viria a ser o noticiário mais acompanhado pelos brasileiros. A decadência chegaria a partir dos anos 1960, com a popularização da televisão.

EBC: Parlamentares tentam reverter estragos da MP de Temer

Por Samuel Possebon, publicado originalmente no Telaviva News

Parlamentares aproveitam oportunidades de apresentar emendas à Medida Provisória 744/2016 para mexer em recursos e na programação da EBC


Os deputados e senadores da oposição (PT, PDT e PC do B) foram os responsáveis pela maior parte das emendas tentando reverter os efeitos da Medida Provisória 744/2016 sobre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O prazo final de emendas foi nesta quinta, 8, e foram apresentadas um total de 42 emendas, quase todas da oposição e com conteúdos parecidos.

O deputado e ex-ministro das Comunicações de Dilma Rousseff, André Figueiredo (PT/CE) e o senado Humberto Costa (PT/PE) foram os que mais apresentaram emendas, a maior parte no sentido de reinstituir as funções do Conselho Curador, dar mandato fixo ao diretor presidente e restabelecer os mecanismos de governança alterados pela MP 744. Houve, contudo, propostas da oposição que transcenderam a volta da estrutura original da EBC.
Senador Humberto Costa (PT/PE) apresenta emenda derrubando os principais artigos da MP, incluindo os que acabam com o Conselho Curador e com o mandato fixo da presidência.
Costa propõe uma emenda com o detalhamento do uso dos recursos destinados à radiodifusão pública, hoje previstos no artigo 32 da Lei 11.652/2008 (a Lei da EBC). O senador propõe a criação do Fundo Nacional da Comunicação Pública – FNCP, que contará com recursos da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP, inclusive os já arrecadados), mais dotações orçamentárias, recursos de convênio entre outras fontes. A CFRP é uma contribuição que vem dos recursos pagos pelas empresas de telecomunicações ao Fistel. Hoje ela é contestada na Justiça pelas empresas de telecomunicações e a maior parte dos recursos é depositada em juízo.
A proposta do senador já traz a distribuição percentual detalhada desses recursos entre os diferentes entes da  Rede Nacional da Comunicação Pública previstas na Lei da EBC, emissoras de radiodifusão comunitária,  associações comunitárias responsáveis por programação transmitida no Canal da Cidadania (regulamentado pelo antigo Ministério das Comunicações), entes ou órgãos públicos responsáveis por faixas de programação no Canal da Cidadania, canais de acesso condicionado de natureza comunitária ou universitária e emissoras públicas, educativas e culturais, vinculadas aos governos estaduais, que terão a maior parte dos recursos, a serem distribuídos por meio de repasses diretor e editais, sob supervisão de um comitê gestor também a ser criado. Além disso, a Contribuição para Financiamento da Radiodifusão pública também vai, em percentuais iguais (de 3%), para a TV NBR, TV Escola, Canal da Cultura, Canal da Saúde, TV Senado, TV Câmara e TV Justiça, com foco sobretudo na digitalização da rede.
Já o deputado André Figueiredo também busca garantir na programação da EBC cotas para programação regional (10%) e de produção independente (30%).
Além disso, o deputado propõe emenda que passa a remeter a indicação dos diretores à Lei 13.303/2016, que dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública einclui uma série de condicionantes para a ocupação de cargos em conselhos e na direção executiva de empresas estatais, além de propor o crivo do Senado para a indicação do presidente.
O Deputado Marco Maia (PT/RS) quer que a EBC fique responsável pela distribuição da verba publicitária da administração Federal.
O Senador José Pimentel (PT/CE) sugere não reinstituir o Conselho Curador, mas criar um conselho consultivo, com funções similares às que havia para o conselho curador, mas de caráter meramente consultivo e opinativo, precisando ser endossadas pelo Conselho de Administração. Já esta instância  passaria a acomodar os  representantes do Senado e um da Câmara que estavam no conselho curador. A ideia de colocar integrantes do Senado e da Câmara no conselho de administração da EBC também aparece nas emendas dos deputados da situação José Carlos Aleluia (DEM/BA).
Pela situação, o Senador Cristovam Buarque (PPS/DF), que já havia proposto uma emenda para obrigar à EBC divulgar informações sobre crianças desaparecidas, também propõe mudar a Lei da EBC para incluir a obrigação de alerta sobre candidatos ficha-suja.
Vários parlamentares da situação e oposição trazem proposta semelhante à do senador Lindbergh Faria (PT/RJ), que submetem a indicação do presidente da EBC ao Senado.

domingo, 11 de setembro de 2016

Dez concursos federais agitam o mercado para Jornalistas

Nesse período de poucas oportunidades de trabalho, uma opção são os concursos públicos. Não há tanta fartura de vagas quanto em anos anteriores, quando o poder público passou a substituir mão de obra terceirizada por servidores efetivos, mas ainda existem várias opções Brasil afora.
É bom lembrar que todos exigem graduação em Jornalismo, ou seja, tem que ter diploma, e registro profissional. Se você é recém-formado e ainda não obteve seu registro profissional, procure a Delegacia Regional do Ministério do Trabalho ou o Sindicato dos Jornalistas Profissionais mais próximo para dar encaminhamento ao processo de obtenção do documento que habilita o exercício profissional.

Na agenda de oportunidades federais, um dos grandes responsáveis pela realização de concursos para Jornalistas é a Ebserh – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, empresa estatal responsável por administrar os hospitais universitários federais em todo o Brasil.
A empresa lançou quatro editais para a contratação de jornalistas (poderia ser um único edital oferecendo as quatro vagas). Os profissionais selecionados irão trabalhar no Estado do Rio, no Hospital Universitário da Unirio e no Hospital Universitário da UFF. As outras duas vagas são em Florianópolis, no Hospital Universitário da UFSC, e em Cajazeiras, Paraíba, no Hospital Universitário da UFCG.
Para todas as quatro vagas, independentemente da localidade, o salário será de R$ 3.381,12, para uma jornada de 25 horas de trabalho semanais. O regime de contrato é celetista.
Para mais informações sobre prazo de inscrições e data da prova, clique no enlace correspondente ao local de trabalho:



Institutos Federais
Os institutos federais de ensino, também criado nos últimos anos, são responsáveis pela seleção de Jornalistas profissionais em três estados.
As inscrições estão abertas para o Instituto Federal Mato Grosso, localizado na cidade Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, para o Instituto Federal Sul de Minas, localizado na cidade de Pouso Alegre, e Instituto Federal de Minas Gerais,  localizado na cidade de Governador Valadares, ambas em Minas Gerais, e para o Instituto Federal Fluminense, localizado na cidade de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio.
O salário de Mato Grosso é de R$ 4.692,77, para uma carga horária semanal de  40 horas. Nos demais institutos, o salário é menor, R$ 3.868,21, para uma jornada semanal de 25 horas. Em todos os casos, há adicional de especialização variando em função da formação acadêmica do aprovado. O regime de contratação é o RJU.
Para mais informações sobre prazo de inscrições e data da prova, clique no enlace correspondente ao local de trabalho:
Universidades

Duas universidades federais também selecionam jornalistas: UFPA – Universidade Federal do Pará e UFBA – Universidade Federal da Bahia. O salário em ambos os casos é de R$ 3.868,21. No Pará a jornada é de 40 horas e na Bahia de 25. O regime de contratação é o RJU do servidor público federal.

Para mais informações sobre prazo de inscrições e data da prova, clique no enlace correspondente ao local de trabalho:



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O papel dos blogs jornalísticos na realidade nacional. Entrevista nº1

Por  FC Leite Filho, publicado originalmente no Café na Política

O blog Café na Política, inaugurou uma série de entrevistas focadas no papel dos blogs jornalísticos na internet. O blog Chico Sant'Anna e a InfoCom traz aqui o material produzido pelo jornalista Leite Filho.

Em meio à tempestade política do impeachment de Dilma, os blogs jornalísticos, muitos deles produzidos quase que artesanalmente, se converteram em preciosas fontes do noticiário.
Sem os efeitos especiais e o espetáculo de cores e de tecnologia dos conglomerados, os blogs acabaram botando a mídia a reboque, em muitos aspectos. Eles chegaram na frente com muitos fatos novos, a maioria deles encobertos, por razões empresariais ou políticas. É uma prova de que se pode fazer jornalismo sério e independente, sem cair no golpismo e no jogo do poder econômico.

diariodocentrodomundo.com.br, o DCM, de Paulo e Kiko Nogueira, o conversaafiada.com.br, de Paulo Henrique Amorim, de Fernando Brito, o jornalggn.com.br, de Luis Nassif, o brasil247.com.br, de Leonardo Attuch, e o cartamaior.com.br, de Joaquim Palhares, são alguns dos exemplos de sites e blogs que começam a deixar na rabeira os jornalões, revistões e até a TV Globo.

Para começar a série sobre os blogs políticos, foi entrevistado o Kiko Nogueira, que me contou a história de como o Diário do Centro do Mundo atingiu a marca mensal dos três milhões de acessos e os furos que deu na grande mídia. Um desses furos é a entrevista televisada com Mírian Dutra (sim, o DCM utiliza muito a TVWeb), depois que a ex-namorada de FHC resolveu abrir a boca sobre um dos escândalos mais ocultados na República. 

Com sistema próprio de autofinanciamento, nos quais utiliza a propaganda programada da internet e o sistema de vaquinha eletrônica, o crowdfunding, Kiko diz que o DCM pôde pagar a viagem do repórter Joaquim de Carvalho a  Barcelona, na Espanha, onde Mírian vive numa espécie de desterro dourado, pago pela Globo e o próprio FHC. Daí nasceu o primeiro vídeo-documentário do DCM, cujas principais cenas exibimos neste especial do Café na Política.

A explosão dos blogs como fonte de notícias:

Entrevista com Kiko Nogueira

sábado, 3 de setembro de 2016

Temer e Maia dão fim a EBC enquanto emissora pública

Por Chico Sant'Anna


A vingança é um prato que se come frio, diz o dito popular.
Mas a mesma sabedoria popular lembra que o apressado come cru.
Bastou ser consumado o impeachment da presidente Dilma Roussef, para que Michel Temer voltasse a atacar de cheio à Empresa Brasileira de Comunicação – EBC, considerada por ele um antro de petistas.
Quando assumiu interinamente a presidência da República, em junho, um dos primeiros atos foi afastar o comando da EBC. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, Temer teve que recuar e reinvestir na presidência da estatal Ricardo Melo, nomeado ainda na gestão Dilma Roussef. O cargo dele é vinculado a um mandato especifico de quatro anos e, antes disso, só o Conselho Curador poderia exonerá-lo e em face de uma falta grave.
Consumado o impeachment, o Planalto virou novamente seus canhões contra a EBC. Foram editados uma medida provisória, alterando a lei 11.652/2008 de fundação da EBC, e dois decretos. De uma só tacada, esses atos consumaram o fim de um sistema público de comunicação no Brasil. A empresa deixou de ser pública para ser estatal, a sociedade civil, que se fazia representar por meio do Conselho Curador, foi cassada e um novo presidente, Laerte Rimoli, foi nomeado.
É o mesmo jornalista que o vice-presidente no exercício da presidência da República havia indicado, em junho, pra comandar a empresa e que fora afastado pelo STF.
Michel Temer nem esperou sua volta da China. Diante da pressa, coube ao deputado Ricardo Maia – DEM, no exercício da presidência, deixar as suas digitais nas três pás de cal sobre a EBC. Na prática, a EBC retorna ao perfil do que foi a Radiobrás idealizada pelos militares: uma voz monolítica do governo.
Presidente da EBC, Ricardo Melo (à esquerda) retorna à empresa após
a edição extraordinária do Diário Oficial que revogou sua exoneração.
Provavelmente, Temer e seus assessores devem ter entendido que extinguindo o Conselho Curador, o mandato do presidente da EBC estaria fragilizado e passível de uma exoneração. Não demorou muito para que o Planalto lembrasse de que Ricardo Melo havia voltado ao cargo por força de uma decisão liminar do STF e que só com uma nova posição da suprema corte ele poderia sair de lá. Diante disso, a Imprensa Nacional teve que rodar uma edição extraordinária do Diário Oficial, revogando a exoneração de Melo e cancelando a nomeação de Rimoli.
Mas o estrago maior foi mantido.

Diário Oficial trouxe Medida Provisória que
extingue Conselho Curador da EBC.
A participação da sociedade civil no controle da aplicação dos princípios do sistema público de radiodifusão, respeitando-se a pluralidade da sociedade brasileira, conforme previa a legislação aprovada pelo Congresso Nacional, não mais existe. O Conselho Curador, que era a principal instância de participação da sociedade civil, foi extinto. Desde a sua criação, o Conselho, formado por 14 representantes da sociedade selecionados após editais públicos, já teve representantes de diferentes origens: do advogado Cláudio Lembo e do economista Luiz Gonzaga Beluzo, ao rapper MV Bill e o musicista Wagner Tiso. Além de acadêmicos e pesquisadores em Comunicação, tais como o pesquisador Venicio Lima, dentre outros.
A EBC passa a ser comandada diretamente pela presidência da República. Segundo a Medida Provisória, a Diretoria Executiva da empresa será composta por um diretor-presidente, um diretor-geral e quatro diretores, sendo que todos os membros serão nomeados e exonerados pelo presidente da República. Contará com um conselho administrativo formado por representantes de quatro ministérios, além do seu presidente que será designado pela Casa Civil. Doravante, esse conselho administrativo terá a missão de definir alinha editorial, o foco jornalístico e o perfil dos conteúdos culturais da EBC, que reúne a TV Brasil, a NBR, o Canal Brasil Internacional, a Agência Brasil de Notícias e as emissoras da Rádio Nacional e MEC.
Decreto define que um conselho com representantes
dos ministérios irá dirigir a EBC.
A notícia pegou muita gente de surpresa. O Diário Oficial, datado de 2/9, que trouxe os decretos e a MP, circulou por volta das duas horas da manhã. Não houve nenhuma comunicação prévia ao titular do comando da EBC.
Para Edvaldo Cuaio, membro do Conselho de Administração, na condição de representante dos empregados da empresa, as novas regras ferem até mesmo a recém-aprovada Lei das Estatais. 
Para ele, o temor é que um absolutismo editorial irá prevalecer doravante. Era esse conselho que garantia a independência editorial e de programação em relação ao governo federal. “A pluralidade informativa deixará de existir e o foco editorial será não mais a cobertura noticiosa do Brasil, mas sim do poder Executivo” – afirma Cuaio.

Comunicação Pública

Para a primeira presidente da EBC, jornalista Tereza Cruvinel, “acabou-se a comunicação publica no Brasil”.
A EBC é agora reduzida à condição de agência de comunicação e proselitismo governamental, como era a antiga Radiobrás. Agora, sim, ela estará subordinada ao controle editorial pelo governo, ao loteamento político-partidário, ao fisiologismo e ao empreguismo. Se o Congresso Nacional aprovar tais alterações, estará sepultando o esforço de todos os que se empenharam na realização do artigo 223 da Constituição Federal, implantando um sistema público de comunicação independente e controlado pela sociedade, garantidor da pluralidade e da complementaridade aos serviços privados e estatais – diz em nota Cruvinel.
Para Cruvinel, a TV Brasil, as rádios e a Agência Brasil, geridos pela EBC, não poderão mais ser chamados de canais públicos. “Doravante, serão canais governamentais. Finalmente, o conteúdo ‘chapa branca’, tão denunciado pelas mídias privadas e adversários do projeto, e nunca confirmado nestes últimos oito anos, prevalecerá nos veículos da EBC.”

Membros do Conselho Curador da EBC perderam seus
mandatos com a MP de Temer. Foto de Chico Sant'Anna.
Conselho Curador

Integrantes do Conselho Curador, agora extinto, estavam em Brasília para uma de suas reuniões regulares, mas nem puderam cumprir com suas obrigações, pois não foram facultadas as instalações da EBC para a reunião oficial. Diante da inusitada decisão, soltaram uma nota reforçando a importância daquela instância e lembrando que as balizas editoriais e de conteúdo da EBC não foram uma decisão deste ou daquele governo, mas sim da sociedade. Pois, foi o Conselho Curador quem solicitou a elaboração de todos os manuais, instâncias e normas internas relacionadas à produção de conteúdos na EBC. As deliberações do Conselho tinham a capacidade de corrigir desvios de rotas eventualmente cometidos pela direção da empresa.

Intercom

O grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) - principal fórum de pesquisa do país dedicado à mídia radiofônica e integrado por pesquisadores, professores universitários e pós-graduandos de Comunicação Social de todo o país, se manifestou contra a MP 744/2016 do governo Temer. O grupo entende que a EBC é um referencial não somente para a construção do sistema público de Comunicação, previsto na Constituição Federal, bem como para toda a radiodifusão brasileira.
Movimentos Sociais e organizações sindicais protestaram à porta da EBC
contra as mudanças impostas pelo governo Temer. Foto de Chico Sant'Anna.
Em nota, externam a indignação com a extinção do Conselho Curador da empresa, decisão que, em termos práticos, acaba com o caráter público da EBC. Destacam, ainda, que a medida provisória lançada pelo governo de Michel Temer, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), foi tomada sem nenhuma forma de consulta à sociedade. “Vai, portanto, contra tudo que se lutou ao longo das duas décadas de regime de exceção e retoma práticas sorrateiras de exclusão do cidadão e de seus representantes do debate a respeito da comunicação de massa.
A palavra final agora sobre os rumos da EBC estará nas mãos do Congresso Nacional, que terá 120 dias para apreciar a MP da EBC. Movimentos sociais e organizações sindicais de trabalhadores em Comunicação, alguns dos quais se reuniram dia 2/9 em protesto na porta da EBC em Brasília, já planejam suas estratégias para atuar no Legislativo e também no Judiciário.
A direção executiva da EBC nomeada pelo governo Temer, procurada por esse blog e instada a comentar as mudanças não retornou o contato

Morre Cristiano Menezes, ex diretor das rádios Nacional e Cultura do DF

Da Agência Brasil

Morreu dia, 1/9, no Rio, aos 67 anos, o radialista, jornalista, produtor e poeta Cristiano Ottoni de Menezes, que foi por dez anos, entre 2003 e 2013, diretor da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e gerente regional das emissoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na cidade. Ele estava internado na Casa de Saúde São José, no Humaitá, para tratamento de um câncer no fígado, em consequência do qual veio a falecer.

Nascido e criado em Botafogo, Cristiano estudou em dois colégios católicos tradicionais, o São Bento e o Santo Inácio, e cursou durante dois anos a Faculdade de Direito Cândido Mendes, mas não chegou a se formar. Antes de trabalhar em rádio, jornal e televisão, foi ator na peça A Dança da Lebre Celeste, dirigida por Mossa Ossa e encenada nos teatros Ipanema, no Rio, e Oficina, em São Paulo.
Como radialista e produtor trabalhou, na década de 1970, na Rádio Roquette Pinto, no Rio, onde criou e apresentou  o programa Panos e Molambos, voltado para a revelação de novos talentos na música, poesia, teatro e cinema. Mais tarde, mudou-se para Brasília, onde foi repórter da TV Tupi, do jornal Correio Braziliense e apresentador da TV Brasília, além de produtor e programador musical da Rádio Nacional FM. Nos anos 90, dirigiu a Rádio Cultura FM, emissora do governo do Distrito Federal.

De volta ao Rio, trabalhou em outras emissoras de rádio, antes de assumir a direção da Nacional, na época vinculada à extinta Radiobrás. No exercício do cargo, esteve à frente da reforma dos estúdios da emissora e da reabertura do antigo e tradicional auditório, ocorrida em 2004, com as presenças do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de dezenas de artistas dos anos dourados da emissora, como Marlene, Emilinha Borba e Cauby Peixoto.

Ainda na Nacional, criou e apresentou o programa Época de Ouro, realizado ao vivo no auditório, com os músicos do conjunto regional de choro fundado em 1964 por Jacob do Bandolim. Produtor e integrante do Época de Ouro, juntamente com seu pai, Jorginho do Pandeiro, da formação original do grupo, o percussionista Celsinho Silva ressaltou a importância de Cristiano para a revitalização da Nacional. “Ele trouxe de volta os programas ao vivo, com plateia, para a rádio”, disse.

Como poeta, Cristiano Menezes participou de dezenas de récitais, teve poemas publicados em suplementos literários e na antologia República dos Poetas (Editora Museu da República, 2005). Em 2014, lançou o livro de poesias Guardanapos (Editora 7Letras), com prefácio do poeta Xico Chaves.


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Livro analisa as mediações entre o rádio e as mídias sociais

Acaba de ser publicado o novo livro do pesquisador Marcelo Kischinhevsky, Rádio e mídias sociais: Mediações e interações radiofônicas em plataformas digitais de comunicação (Ed. Mauad X).

O trabalho sistematiza resultados de pesquisa sobre a reconfiguração da indústria da radiodifusão diante da convergência midiática, desenvolvida ao longo dos últimos cinco anos junto ao Curso de Jornalismo e ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom) da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ),

O livro aborda o rádio como um meio de comunicação expandido, que extrapola as transmissões em ondas hertzianas e transborda para as mídias sociais, o celular, a TV por assinatura, sites de jornais, portais de música. 

Um meio em que não apenas a escuta se dá em múltiplos dispositivos, ambientes e temporalidades, mas também a produção, a edição e a veiculação de conteúdos ocorrem com agilidade crescente e muitas vezes sem fronteiras. Discute ainda como o rádio hertziano é cada vez mais desafiado por novos atores do entorno digital (os chamados serviços de rádio social), ainda que permaneça relevante no novo ecossistema midiático.

Sobre o autor

Marcelo Kischinhevsky coordena o AudioLab (Laboratório de Áudio) e lidera o Grupo de Pesquisa Mediações e Interações Radiofônicas, certificado pelo CNPq.

Lançamento
O lançamento oficial acontece no Rio de Janeiro, dia 14/9, às 19h, na Livraria Blooks (Praia de Botafogo, 316. Haverá também , no Rio de Janeiro). Haverá um pré-lançamento porocasião do Congresso da Intercom, que acontece em São Paulo, .

Abraços sonoros,