quinta-feira, 4 de junho de 2015

Entrevista a Nelson Breve: "É preciso criar a cultura da inovação na EBC"

Por Romário Schettino, publicado originalmente no Jornal do Romário

Em três anos e seis meses à frente da presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o jornalista Nelson Breve iniciou a reestruturação da empresa mas ainda não conseguiu decolar na audiência.
Para ele, a EBC é uma empresa em construção e isso levará tempo. Ele compara com os 80 anos da BBC britânica para se consolar. Nelson investiu pesado no planejamento estratégico e na formação dos profissionais.
Ele anuncia a instalação, no dia 25 de setembro, do Centro Roquete Pinto de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação em Comunicação Pública, em parceria com a Unesco. "Com esse Centro vamos experimentar e criar a cultura da inovação dentro da empresa. Não só na área da criação, mas também na área administrativa", afirma.

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Sobre esses assuntos e outros, como a chegada do sistema digital, cortes no orçamento e ética na profissão, Nelson Breve falou ao Jornal do Romário o seguinte:

JR – A ideia original à época da criação da EBC é que ela se tornasse uma empresa pública, diferente da estatal. Mas o problema principal sempre foi o da sustentação financeira. Enquanto esse formato não chega o jeito foi submetê-la ao Orçamento da União. Como ficaram os recursos da EBC depois dos cortes?
NB – Independência financeira é a melhor forma e tem que se almejada, nós estamos trabalhando nesse sentido, não com a velocidade que eu esperava, mas conseguimos dar um passo importante com a liberação de parte da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública, estabelecida pela Lei 11.652/2008. Ganhamos a ação na primeira instância [proposta pelo Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil) que questiona a constitucionalidade da lei] e tem entrado mais dinheiro.
Para 2015 tínhamos previstos R$ 627,5 milhões, incluindo os R$ 177,9 milhões que viriam da Contribuição. Mas o governo contingenciou R$ 92,9 milhões porque o valor total da Contribuição não era garantido. Logo, ficamos com apenas R$ 534,6 milhões, dos quais R$ 283,6 milhões são para pagamento de pessoal e benefícios. Sobram, então, R$ 251 milhões para custeio e investimentos.
A dificuldade é que estamos gastando o dinheiro da fonte contribuição e menos da fonte do Tesouro. Está havendo uma substituição e não um acréscimo.
JR – Mas e os cortes?
NB – A gente ainda não sabe porque os 17,8% de recursos cortados da Presidência da República ainda não foram distribuídos entre os diversos órgãos. Esses recursos destinados aos investimentos são insuficientes se você levar em conta que nos últimos três anos, saímos de R$ 100 milhões/ano para R$ 20 milhões/ano.
Os avanços tecnológicos depreciam em média 20% ao ano. Os equipamentos que adquirimos há cinco anos estão dois terços depreciados e não conseguimos renovar o que é necessário. Se eu esperar chegar no final, sem um certo padrão de investimento nas substituições teremos graves problemas, já que o avanço tecnológico anda muito rápido.
JR – Quanto arrecada a Diretoria de Serviços da empresa?
NB –Nós separamos essa Diretoria em Serviços e Negócios a pedido do ex-ministro Thomas Traumann.Quem cuidava do contrato com a Secretaria de Comunicação (Secom) era a Diretoria de Serviços, lá eles reclamavam que não estava funcionando e nós reclamando que não estávamos captando dentro das metas estabelecidas.
Embora tenhamos captado mais de R$ 100 milhões em 2013, no passado conseguimos algo em torno de R$ 90 milhões por ter sido ano eleitoral e a legislação não permite investimentos do governo nessa área. Recebemos R$ 20 milhões com a publicidade legal, R$ 50 milhões no contrato com a Secom para alimentar o funcionamento da TV NBr, produzir a Voz do Brasil e manter a cobertura da Presidenta com transmissões ao vivo em qualquer lugar do Brasil e do mundo, mais a mídia impressa que ela recebe onde quer que ela esteja. Cerca de R$ 20 milhões com captação de publicidade e apoio cultural, mas perdemos com o clipping de mídia impressa.
Os jornais que utilizávamos para fazer o clipping recuaram e tivemos menos conteúdos para oferecer. Por isso, repactuamos alguns contratos e perdem os outros como os do Senado e da Câmara. Agora os jornais estão voltando porque estão precisando de dinheiro. Fechamos com o Globo, com a Folha, estamos fechando como Estadão. Falta ainda o Valor Econômico.  
JR – Isso se refere à Diretoria de Serviços. E quanto à de Negócios, como é que está funcionando?
NB – Com o licenciamento de programas, publicidade legal, captação via Lei Rouanet, todo potencial de fontes de recursos externos. Um novo negócio, no entanto, pode ser executado pela área de serviço.
Como não tenho equipe operacional, já recusei contratos como os da TV Legislativa do DF, da Câmara Municipal de São Paulo e vários outros. Enquanto nós não viabilizarmos a modalidade de credenciamento, que já conseguimos junto ao Tribunal de Contas da União. Está aprovado, em tese, o regime simplificado, mas o TCU ainda não devolveu definitivamente a minuta corrigida.
Nossa programação não vende comerciais, mas conceitos. Eu gostaria de fechar mais negócios na captação de apoio cultural, mas eu não estou nessa área, quem cuida é o Gustavo Pinho, Superintendente de Negócios, Marketing e Comunicação.
JR – Voltando aqui na questão dos recursos da Contribuição. Quanto representou isso no seu orçamento?
NB – Esse dinheiro chega anualmente em março. O recurso entra na composição do orçamento da União. Como disse, estavam previstos R$ 177 milhões, mas na verdade chegaram apenas R$ 144 milhões.
Espero que o corte não saia dos R$ 85 milhões que sobraram, mas sim dos R$ 144 milhões já garantidos. É uma questão a ser negociada ainda junto à Presidência.
JR – Bem, com tantas idas e vindas você nem sabe quanto será o seu orçamento para este ano?
NB – Esse é um problema a ser resolvido, mas é importante lembrar que se as empresas da Telecom desistirem da ação judicial nós já temos depositado em juízo R$ 1,7 bilhão. Esse dinheiro tende a vir para nós quando a sentença for transitada em julgado em segunda instância, que ainda nem tem relator.
Espero que consigamos um acordo com os empresários do setor para que eles desistam da ação e a gente possa fazer a migração do analógico para o digital, já que são eles que vão operar a transição.
JR –A EBC tem acesso aos índices de audiência do Ibope para orientar sua programação? Quais são esses índices para os diversos veículos (rádios e TV)?
NB – Os índices de audiência da televisão nós temos de seis praças: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Porto Alegre. Nós ensaiamos uma elevação com a melhoria de nossos sinais em digital, mas no ano passado tivemos problemas com a defasagem tecnológica e com a manutenção dos equipamentos.
No Rio de Janeiro perdemos muita audiência por conta de problema com os transmissores e com o retransmissor da Baixada Fluminense. Em Brasília, que vinha aumentando bastante, também caiu. O fato é que, mesmo assim, temos programas com audiência acima do traço em diversas praças. A medição do Ibope pega todos os tipos de transmissão aberta, parabólica e na TV por assinatura. O Ibope diz apenas que tantos domicílios estão ligados na TV Brasil. Em Porto Alegre, depois que melhoramos a imagem o Ibope aumentou. Então, há uma relação direta entre audiência e qualidade da imagem.
Como exemplo, no futebol, série C, o jogo Guarani x Tupi superou 0,50% de audiência média em 4 praças: 0,90% em Recife; 0,82% em Salvador; 0,61% em Porto Alegre e 0,60% de média no Distrito Federal.
Outro tipo de audiência é o infantil Escola Pra Cachorro, que superou 1,00% de audiência média em 2 praças: 1,29% no Distrito Federal e 1,08% em Recife. Em outras duas, superou 0,50% em Salvador e 0,97% em Porto Alegre. Outro infantil, Escola Pra Cachorro é coprodução brasileira e canadense. 
No geral, em Salvador perdemos audiência. Em Recife deixamos a audiência bem boa na época da série C do campeonato de futebol, mas a universidade de lá, com quem temos parceria, também tem dificuldade de investimento e essa situação não ajuda.
Em Brasília ainda tem o problema das emissoras comerciais que estão operando numa potência mais elevada afetando a nossa transmissão. Houve até um embate entre a SBT e a Record que tiveram que chegar a um acordo para operar na mesma potência.
JR- E com relação às rádios?
NB - São sete emissoras de rádio: Nacional Brasília FM, Nacional BSB AM, Nacional Rio AM, Nacional Alto Solimões, Nacional Amazonas, MEC Rio FM e MEC Rio AM. Dentre essas, a MEC FM do Rio e a Nacional FM de Brasília são as que têm melhor desempenho. O Ibope aponta que a MEC FM tem 2.100 ouvintes/dia e a NACIONAL FM Brasília tem 2.578 ouvintes/dia em média no mês. As outras são bem mais fracas, variando de 886 a 68 ouvintes/dia no mês, em média.
JR – Ou seja, a audiência é baixa em todo lugar. A TV Brasil está sendo transmitida pelo sinal aberto analógico em quais praças? No resto do país tem quantas educativas e culturais estaduais são conveniadas?
NB – No sistema analógico temos Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e São Luiz. Em digital, temos Brasília, São Paulo e Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e Florianópolis. Parcerias no digital: Natal, Salvador e Sergipe. Parceiros analógicos: TVEs do Rio Grande do Sul, Paraná, Brasil Pantanal (MS), Rede Minas, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Acre, Alagoas, Ceará, Pará, Piauí, Amazonas e Tocantins.
Com universidades também existem algumas. Muitas dessas conveniadas têm programação local. Minas e Ceará, por exemplo, produzem muito. Em outras praças têm apenas um jornal local e o resto da programação é nossa, isso varia em cada caso.
JR - Quando sair o sinal digitalizado haverá garantia de espaço para a TV Brasil? A EBC está participando da criação do Canal Cidadania e do Canal da Educação no Ministério das Comunicações?
NB – Da criação não, que isso é atribuição dos ministérios da Educação e da Cultura. As prefeituras sim participam, o processo foi descentralizado para os municípios no caso do Canal Cidadania. O que nós esperamos é que os espaços sejam disponibilizados para que a gente possa operar de forma compartilhada, a mesma antena e um operador único.
Investir em tempos de vacas magras será sempre um problema quando a população está pedindo mais saúde, mais educação, segurança. Mas dentro do governo está crescendo o entendimento de que é preciso ter um sistema público de radiodifusão para que a sociedade receba conteúdos mais adequados, plurais. Se haverá recursos para transformar essas ideias em projetos, vamos saber nos próximos dois meses. Estamos discutindo o Plano Plurianual de investimentos com os ministérios das Comunicações, Educação, Cultura, Saúde e Desenvolvimento Social.
Estamos trabalhando muito fortemente para a expansão da rede. No PPA anterior nós colocamos o operador e rede, mas ficamos sem dinheiro. Nós mostramos para o governo que a TV digital pode ajudar muito na difusão dos programas do governo de forma de interativa.
A ideia é implantar o Brasil 4D, que eu acho ser o Pátria Educadora. É transformar o sistema digital no eixo do desenvolvimento com democracia e diversidade. A comunicação digital, interativa, é o desenvolvimento do capitalismo cognitivo, que organiza e disponibiliza o conhecimento, como diz o sócio-economista francês Iann Boutang.
JR - Está garantido que a EBC terá acesso ao sinal digitalizado, uma vez implantado definitivamente?
NB – Se tiver dinheiro, sim, só falta canal para nós em Campinas. Lá é possível que a gente utilize em VHF, pois já é possível em UHF. O VHF cobre uma área muito maior. Canais 7, 9, 11, 13 e 143 são VHF, a partir do 15 é digital UHF. O sistema analógico será apagado quando entrar o digital. Será interessante todos operarem no VHF mas é preciso que todos tenham uma antena híbrida, para que o telespectador não fique trocando de antena. Com a híbrida, a transmissão alterna automaticamente as frequências UHF e VHF.
A EBC tem preferência onde tiver um novo canal disponível, antes de ele ir para o plano básico. Mas aqueles que já estão ocupados, só a Justiça tiraria. Em Brasília todos os canais já estão ocupados, inclusive pela TV Brasil e pela NBr.
JR - Vamos falar do Conselho Curador. As nomeações dos novos conselheiros escolhidos no ano passado já ocorreram? Se não, isso impede o seu funcionamento? Tem fundamento a alegação de que o governo adiou as nomeações porque queria uma conselheira que não foi a escolhida?
NB - O Conselho funciona normalmente porque há um dispositivo na legislação que diz que enquanto os novos conselheiros não forem nomeados os atuais continuam exercendo o mandato. Desconheço qualquer motivo para o atraso nas nomeações. Isso é normal nos governos, veja por exemplo a nomeação do novo ministro para o Supremo Tribunal Federal. Isso acontece, não há nada em relação a insatisfação com as escolhas.
JR - Qual o papel do Conselho Curador e da Ouvidoria da EBC? Essas instâncias estão cumprindo o seu papel institucional como deveriam?
NB – O Conselho vem cumprindo seu papel, o projeto está em construção. Segundo Ignácio Ramonet a comunicação pública nasceu tardia, muito depois da comunicação privada. Esse projeto EBC vai levar 30 anos para ser consolidado. Faz parte do processo de amadurecimento. A BBC tem 80 anos.
Nós somos muito novos nessa área. À medida que vamos aprendendo é natural que o Conselho zele pelos princípios estatutários. A mesma coisa com relação à Ouvidoria. Ela ouve a sociedade, analisa as críticas à programação com base nos princípios e objetivos da lei, faz sua crítica interna e apresenta seus relatórios ao Conselho Curador, que por sua também faz sua análise.
JR - Já houve alguma mudança efetiva a partir do trabalho da Ouvidoria ou do Conselho?
NB – A questão dos programas religiosos. Nós estamos com novos programas com base nos debates do Conselho Curador. O Comitê da Diversidade Religiosa, que o Conselho criou, ainda não concluiu a conversa que deveria ter com os antigos programas. Eu estou aguardando, até para assinar novos contratos, se for o caso.
JR - É verdade que há uma espécie de terceirização da gestão com dirigentes de ONGs e Coletivos ocupando cargos de direção ou de confiança dentro da empresa?
NB - Eu não sei de quem poderia estar ocupando cargos com incompatibilidade. O que sei é que há um a lei de conflito de interesses. Se existe e se está havendo conflito é preciso levar à Comissão de Ética Interna da EBC ou para a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, dependendo do grau do cargo que ocupa. Se alguém acha que tem isso é importante que faça a denúncia à Comissão de Ética. O empregado tem que saber que quando ele tem qualquer vínculo desse ele precisa fazer consulta à Comissão de Ética da empresa, que é integrada à Controladoria Geral da União, ou à Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
JR - O desenho empresarial da EBC, que controla a TV Brasil, que é pública, e a NBr, que estatal, é viável?
NB – O grande problema é como comunicar isso para a sociedade, que ainda não entende o que é a comunicação pública. É preciso explicar. A sociedade, ou parte dela, acha que a comunicação comercial já faz isso e não é verdade. Confunde-se muito o que seja a comunicação governamental com a comunicação pública.
Quando foi feita a Constituição de 1988 acabou-se por inventar esse conceito do formato compartilhado: público, privado e estatal. O estatal tem que ser público, o que deveria ter sido definido é o que é governamental e o que é público. O governo tem a obrigação de fazer a sua comunicação sem filtro, diretamente. A comunicação pública é plural, não pode ser apenas o ponto de vista do governo.
A comunicação comercial faz isso também, em alguns casos sim, mas tem ali por traz os seus interesses econômicos e empresariais. Se chegarmos algum dia que esse sistema compartilhado seja possível, equilibrado, pode até funcionar. Aqui na EBC nós estabelecemos um muro, quem trabalha para a TV Brasil não trabalha para a NBr.
Há uma separação de corpos, a área de serviços cuida dessa relação com o governo e a área de negócios cuida das outras funções com o público externo, está bem separado.
Ainda não é o melhor modelo, se se separasse ficava mais fácil explicar para a sociedade. A lei não permitiu que se fizesse uma subsidiária, talvez fosse o melhor caminho.
JR - A TV Brasil, há poucos dias, apresentou uma boa reportagem sobre mobilidade urbana e, depois do Repórter Brasil, um ótimo documentário sobre o Marechal Rondon. Esses programas não são divulgados pela Rádio Nacional FM, por exemplo, que tem audiência qualificada em Brasília. Por que a EBC não tem marketing cruzado? Os filmes, documentários e reportagens especiais tinham que ser divulgados intensamente na rádio Nacional, você não acha?
NB –  Esse é um problema que é recorrente. Quando a gente cobra, aparecem as chamadas. Depois vai diminuindo e acaba. Essa é uma empresa que estava verticalizada em feudos conforme as plataformas, sendo que plataforma web praticamente nem existia. Existiam duas, a plataforma televisão e a rádio. Elas quase não se falavam, eram autônomas. Criamos, em decorrência do planejamento estratégico de reestruturação, uma Superintendência Executiva de Novas Mídias, para fazer a integração.
Estamos, assim, saindo de uma estrutura vertical para a horizontal. Temos agora a produção jornalística e a artística, a área de empacotamento e programação e a área de distribuição, e estamos procurando integrar todas elas.
A Diretoria de Programação tem a programação de rádio, de TV e de web. Portanto, ela é que deveria estar fazendo o cruzamento. No jornalismo estamos integrando a Agência de Notícias com o Portal e depois com as rádios. Estamos pensando em transformar a Nacional AM em uma rádio só de notícias, ou criar uma rádio de notícias apenas na internet. E depois vem a integração do telejornalismo. Hoje estamos estruturados para fazer telejornal, não telejornalismo. Telejornal é o empacotamento do noticiário. O telejornalismo é área de produção.
O mundo mudou, mas a EBC foi originada em cima de duas estruturas rígidas, tanto a da Radiobrás quanto a da Fundação Roquete Pinto, isso leva tempo para mudar. Os feudos são, às vezes, impenetráveis. Os programas são pré-gravados e é difícil encaixar uma chamada para a TV.
JR - Bem, produzir chamadas não é nada complicado. Mas vamos falar sobre o Repórter Brasil Noite, que passa às 21h, após o Jornal Nacional. Os dois têm um formato muito parecido, um apresentador e uma apresentadora, chamadas, notícias cobertas, repórteres com a mesma entonação. Esse horário é o melhor? A duração de quase uma hora é adequada?
NB - Muitas dessas perguntas poderiam ser feitas para os diretores geral, de programação ou diretora de jornalismo. Eu cuido da estratégia e do desenvolvimento corporativo. Eu delego e cobro do diretor geral, mas vou respondê-las.
O direcionamento que dou pode até não ser executado. Eu quero audiência, quero prêmios, quero prestígio e o resto fica com o diretor geral. Se ele não executar o que espero que seja feito pode ser substituído, com a concordância da Presidência da República, que nomeia, e do Conselho Administrativo.
Eu discordo da crítica de que o jornal é muito longo, parece cansativo porque os outros jornais, que são feitos da mesma forma, foram criados para ter meia hora. Mas eu posso ter um jornal mais longo com o assunto quente do dia contando com a colaboração de meus parceiros nos Estados, com entrevistados e debates mais profundos. Eu regionalizo o debate nacional nos locais para onde estou transmitindo o Repórter Brasil.
Quando eu tomei posse pedi criatividade e ousadia, mas acho que elas avançaram pouco em algumas áreas. As limitações técnicas e de pessoal são naturais, precisamos formar as pessoas.
No dia 25 de setembro, dia do aniversário de 131 anos do Roquete Pinto, vamos inaugurar, em parceria com a Unesco, o Centro Roque Pinto de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação em Comunicação Pública. Com esse Centro vamos experimentar e criar a cultura da inovação dentro da empresa. Não só na área da criação, vale também para a área administrativa.
JR - Mas a mudança do horário do jornal faz parte desse debate?
NB - Estamos discutindo e é possível que a gente traga o jornal para mais cedo. A dúvida é se devemos competir com o Jornal Nacional. Eu acho que tem que competir mesmo.
JR - Os assuntos do dia são os mesmos. O telespectador que já viu o Jornal da Band, o JN, não vai para um terceiro jornal para ver as mesmas notícias. Se fosse um jornal com coberturas diferenciadas talvez pudesse ser mais atrativo.
NB -O nosso telejornal é o que tem os maiores índices de audiência dentro da nossa programação. Os programas infantis, o Caminhos da Reportagem, que é referência hoje, e o Repórter Brasil, são os carros chefes da programação. E é isso mesmo o que deve ser a comunicação pública.
JR - Faz parte da missão do jornalismo da EBC não defender os pontos de vista do governo nem da oposição. A ideia seria a busca da imparcialidade? Existe imparcialidade?
NB - Eu te asseguro que ela existe. O que existe também é que as pessoas cometem erros. Nós temos um orientador que é nosso Manual de Jornalismo, diferente dos manuais de redação. Lá estão todas as orientações, os princípios que precisam ser seguidos, fora os princípios previstos na nossa Lei de criação. Jornalismo de mais ninguém está previsto em lei, o nosso está, porque fala em pluralidade, equidade etc.
Nosso manual foi bem construído, inspirou-se em parte no manual do jornal espanhol El País e busca a definição do que é jornalismo. É isso que vai fazer a gente ter credibilidade e ser referência.
O Centro de Pesquisas Roquete Pinto vai proporcionar a formação de uma doutrina jornalística, junto com o que será feito na nossa área de educação corporativa para capacitar, qualificar as pessoas que estão aqui.
É preciso compreender que quanto melhor o jornalista menos cidadão ele é. O contrato que ele faz com a sociedade exige que ele forneça todas as informações para que as pessoas formem o seu próprio juízo. O interesse de classe de um determinado jornalista é diferente do de um outro cidadão. O militante, e eu não sou contra qualquer tipo de militância, prejudica o exercício profissional se ele deixa a sua militância contaminar o seu trabalho jornalístico, qualquer que seja ela.
JR - O Brasil tem alguma chance de um dia chegar ao nível de excelência de uma BBC? Quais os caminhos para nos aproximarmos da emissora da Inglaterra?
NB -Como princípio sim, como modelo não. O Reino Unido é um Estado muito menor que o nosso. Acho que a Public Broadcasting Service (PBS), dos Estados Unidos, é o mais adequado. O ideal seria misturar a BBC, a PBS e a NPR, National Public Radio. também dos EUA. O jornalismo da PBS é bom, mas o da NPR é muito melhor, até mesmo que o da BBC. Se juntarmos isso, seremos referência no mundo como comunicação pública. A NPR é ágil, toca em todos os pontos, não poupa ninguém, nem persegue ninguém.
JR - Eles são autosustentáveis?
NB -Não são, eles têm recursos públicos também. Nos EUA existe um sistema que permite que as pessoas doem dinheiro de herança para sustentar esse tipo de atividade pública. Existem fundações que apoiam e têm muitos fundos para isso, mas tem complemento de recursos do Tesouro da União, dos municípios e dos Estados.
JR - TV Internacional vai bem?
NB -Ela está funcionando, mas a TV Internacional não pode ser entendida como apenas um projeto da comunicação pública, ela tem que ser entendida como um projeto do Estado brasileiro para vender a imagem do Brasil no exterior. Se não houver recursos adicionais para isso, vai ficar do jeito que está. Ela é vista em 65 países e temos alguns problemas de direitos autorais que nos impedem de passar no exterior, mas a maior parte é a mesma programação da TV Brasil. Alguns programas são feitos especialmente para a TV Internacional.
JR - Você é candidato a ser reconduzido à presidência da EBC, em outubro?
NB - Não, é uma decisão que já tomei, um mandato é o suficiente para mim. Aliás, o Congresso está acabando com a reeleição, né? Eu acho que é preciso mudar para oxigenar, tanto para preservar a saúde, o convívio familiar de quem está na função, quanto para a empresa que precisa dinamismo para seguir o que já foi construído e fazer avançar, mexendo em áreas que às vezes ficaram abandonadas. Não há candidato à vista, se me consultarem posso indicar bons nomes, mas quem vai decidir é a presidenta Dilma Rousseff e o ministro Edinho, da Secom.
JR - Quais são os seus planos para o futuro?
NB - Tenho um projeto que carrego comigo antes de vir para cá, que é ser roteirista de séries para TV. Interrompi essa ideia ao ser indicado pela ex-presidenta Tereza Cruvinel para assumir a presidência da EBC. Antes disso, cheguei a ser assessor da Diretoria e Superintendente de Comunicação Multimídia. Eu gosto muito desse modelo de séries televisivas, é uma área que caiu no gosto popular no mundo inteiro. Outra área interessante são esses realities shows de culinárias, são uma febre. Não sei se terei talento para tudo isso, mas vou investir nessa área e me profissionalizar.
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Quem é Nelson Breve?
O jornalista Nelson Breve é diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) desde novembro de 2011. Formado pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), iniciou a carreira profissional há 20 anos, como redator e repórter do Diário do Grande ABC, de Santo André (SP).
Antes de concluir o curso, trabalhou por quase sete anos no Banco Bradesco S/A, onde chegou a exercer a função de analista de gestão das agências e diretorias das regiões Norte e Centro-Oeste, no Departamento de Gerência Geral.
Atuou como repórter no Diário do Povo, de Campinas (SP), e nas rádios Eldorado, de São Paulo (SP), e CBN, de Brasília (DF). Entre 1997 e 2002, foi repórter de economia e política da Agência Estado, acompanhando diariamente o Congresso Nacional por mais de quatro anos. Também trabalhou no Jornal do Brasil e na Agência Carta Maior, onde coordenou a instalação do escritório de Brasília.
Em 2005, foi gerente da Assessoria de Imprensa da Unidade de Comunicação Social da Confederação Nacional da Indústria (Unicom-CNI) e assessor de imprensa do ex-deputado José Dirceu.
Trabalhou como secretário de Imprensa da Presidência da República, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Franklin Martins.Antes de assumir a Presidência da EBC, trabalhou na Empresa como assessor de Diretoria e superintendente de Comunicação Multimídia.

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